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Livro 1º - EPÍSTOLA DE BARNABÉ
Encontrada nos manuscritos no século passado, no Sinaítico, por Tischendorf, em 1859, e no
Gerusolemitano, por Bryennios, em 1875, esta carta não nos fornece o nome de seu autor, nem a data
e o local de composição.
Foi Clemente de Alexandria quem deu origem à tradição que atribui a autoria desta carta a Barnabé,
companheiro e colaborador de São Paulo. Em Stromates 5,63,1-6 e no fragmento Hypotyposes
mencionado por Eusébio em História Eclesiástica II,1,4, Clemente diz: “A Tiago, o Justo, a João e a
Pedro, o Senhor, após sua ressurreição, transmitiu a gnose, estes a transmitiram aos outros apóstolos e
os outros apóstolos aos 70, dos quais um era Barnabé”. A identificação desta carta com o colaborador
de São Paulo foi adotada, em seguida, por Orígenes e o argumento aduzido se deve a que a carta fora
encontrada entre os escritos do Novo Testamento, nos manuscritos Sinaíticos. Este argumento é
responsável, também, pela inclusão da carta entre os livros canônicos, inspirados, por parte de
Clemente e Orígenes... Contudo, Eusébio e Jerônimo não aceitam este argumento e excluem a carta
dentre os livros inspirados.
O ponto de partida para fixação da data da composição desta obra são os capítulos IV e XVI. (...) A
carta teria sido escrita durante o período de reconstrução do templo, se pudermos dizer que 16,4 se
refere, conforme querem Harnack e Lietzmann, a este fato. Tudo leva a crer que esta é a hipótese mais
provável. De fato, evocando Isaías, o autor diz: "Eis que aqueles que destruiram esse templo, eles
mesmos o edificarão". E prossegue: "E o que está se realizando, pois, por causa da guerra deles, o
templo foi destruído pelos inimigos. E agora os mesmos servos dos inimigos o reconstruirão". Este "é
o que está se realizando" e o "agora" dão a impressão de que o autor está bem informado e é
contemporâneo aos acontecimentos. Este escrito estaria datado, portanto, em torno dos anos 134-135.
A obra está dividida em duas partes bem distintas e muito desiguais. A primeira parte, correspondem
os capítulos 2 a 16. O cap. 1 é uma introdução e o cap. 17 se constitui na conclusão desta primeira
parte. A segunda parte, correspondem os caps. 18-21. A 1ª parte é doutrinária, dogmática. A 2ª,
utilizando a imagem dos "Dois caminhos", transmite ensinamento moral.
EPÍSTOLA DE BARNABÉ
Introdução
CAPÍTULO 1
Saudação
Filhos e filhas, eu vos saúdo na paz, em nome do Senhor que nos amou.
A fé dos destinatários Grandes e ricos são os decretos de Deus a vosso respeito. Acima de tudo, eu me
alegro imensamente pelos vossos espíritos felizes e gloriosos, pois dele recebestes a semente plantada
em vós mesmos, a graça do dom espiritual. Por isso, eu me alegro mais na esperança de me salvar,
porque verdadeiramente vejo em vós que o Espírito da fonte abundante do Senhor foi derramado
sobre vós. Em vosso caso, foi isso que me chamou a atenção ao vê-los, o que eu tanto desejava.
Intenções do autor
Estou convencido e intimamente persuadido disso, porque conversei muito convosco. O Senhor
caminhou comigo no caminho da justiça e eu também me sinto impulsionado a amar-vos mais do que
à minha própria vida, pois a fé e o amor que habitam em vós são grandes e fundados sobre a esperança
da vida dele. Pensei que, se eu me preocupasse em participar-vos aquilo que recebi, eu teria
recompensa por ter servido a espíritos como os vossos. Esforcei-me então para vos enviar estas poucas
linhas, para que, além de vossa fé, tenhais também o conhecimento perfeito. Os ensinamentos do
Senhor são três: a esperança da vida, começo e fim da nossa fé; a justiça, começo e fim do julgamento;
o amor, testemunho pleno da alegria e contentamento das obras realizadas na justiça. Com efeito, por
meio dos profetas, o Senhor nos fez conhecer o passado e o presente, e nos fez saborear
antecipadamente o futuro. Vendo que uma e outra coisa se realizam conforme ele falou, devemos
progredir no seu temor, de maneira mais rica e mais elevada. 8 Quanto a mim, não é como mestre,
mas como um de vós, que vos preparei umas poucas coisas. Através delas, vocês se alegrarão nas
circunstâncias presentes.
EPÍSTOLA DE BARNABÉ
Parte I - Doutrinária/Dogmática
CAPÍTULO 2
O culto que Deus quer
Introdução
Como os dias são maus e é aquele que exerce o poder, devemos, para o nosso próprio bem, procurar
as decisões do Senhor. Os auxiliares da nossa fé são o temor e a perseverança, e nossos companheiros
de luta são a paciência e o autocontrole. Se essas virtudes permanecem puras diante do Senhor, a
sabedoria, a inteligência, a ciência e o conhecimento virão regozijar-se com elas.
Os sacrifícios
De fato, foi-nos mostrado, mediante todos os profetas, que Deus não tem necessidade de sacrifícios,
nem de holocaustos, e nem de ofertas. Em certa ocasião, ele diz: "Que me importa a multidão de
vossos sacrifícios?" diz o Senhor. "Estou farto dos holocaustos de carneiros e da gordura de cordeiros
não sangue de touros e de bodes, e nem que venhais vos apresentar diante de mim. Quem pediu essas
coisas de vossas mãos? Não continueis a pisar em meu átrio. Se ofereceis flor de farinha, é em vão;
vosso incenso para mim é abominação. Não suporto vossas neomênias e vossos sábados." Ele rejeitou
essas coisas, para que a lei nova de nosso Senhor Jesus Cristo, que é sem o jugo da necessidade, não
precise de oferta preparada por homens. Ele ainda lhes disse: "Por acaso, ordenei a vossos pais, ao
saírem do Egito, que me oferecessem holocaustos? Pelo contrário, eis o que lhes ordenei: Que
nenhum de vós guarde em seu coração rancor contra o próximo e que não ame o juramento falso."
Devemos, portanto, compreender, pois não somos sem inteligência, o desígnio de nosso Pai em sua
bondade, pois ele se dirige a nós, desejando que procuremos o modo de nos aproximar dele, sem nos
extraviar, como aqueles homens. Eis, portanto, o que ele nos diz: "O sacrifício para Deus é um
coração contrito; o perfume de suave odor para o Senhor é o coração que glorifica o seu Criador."
Irmãos, devemos, portanto, cuidar de nossa salvação, para que o maligno não introduza em nós o erro,
e nos atire, como pedra de funda, para longe da nossa vida.
CAPÍTULO 3
O jejum
A respeito disso, falou-lhes ainda, "Com que finalidade jejuais para mim", diz o Senhor, "como se
ouve hoje aos gritos a vossa voz? Não é esse jejum que escolhi", diz o Senhor, "não o homem que
humilha a si mesmo. Nem quando dobrais vosso pescoço como um círculo, nem quando vos cobris de
pano de saco e cinza, não chameis isso de jejum agradável." Para nós, porém, ele diz: "Eis o jejum que
eu escolhi", diz o Senhor: "Desata todas as amarras da injustiça; desfaz as cordas dos contratos
iníquos; envia os oprimidos em liberdade; rasga toda escritura injusta; reparte teu pão com os
famintos; se vês alguém nu, veste-o; conduz para a tua casa os desabrigados; se vês algum pobre, não
o desprezes; não te afastes dos membros de tua família. Então tua luz romperá pela manhã, tuas vestes
rapidamente resplandecerão, a justiça irá à tua frente e a glória de Deus te envolverá. Então outra vez
gritarás, e Deus te ouvirá. Ao falar, ele te dirá: Eis-me aqui! Isso, se renunciares a tecer amarras, a
levantar a mão, a murmurar, e se deres de coração o teu pão ao faminto e tiveres compaixão da pessoa
necessitada." Por isso, irmãos, o paciente (Deus), prevendo que o povo, que ele preparou através do
seu Amado, acreditaria com simplicidade, nos antecipou todas essas coisas, para que nós, como
prosélitos, não nos arrebentássemos contra a lei deles.
CAPÍTULO 4
Vigilância
Exortação geral
É preciso, portanto, que examinemos com grande atenção a situação presente, para procurar o que nos
pode salvar. Fujamos, pois, radicalmente de todas as obras iníquas, para que as obras iníquas jamais se
apoderem de nós. Odiemos o erro do mundo presente, para que sejamos amados no mundo futuro.
Não demos à nossa alma a liberdade, de modo que ela não tenha poder de correr com os maus e
pecadores, a fim de que não nos tornemos semelhantes a eles.
Iminência do fim
O máximo do escândalo se aproxima, conforme está escrito, como diz Henoc . Com efeito, é por isso
que o Senhor abreviou os tempos e os dias, a fim de que seu Amado chegue mais depressa à herança.
Assim diz o profeta: "Dez reis reinarão sobre a terra e, depois disso, surgirá um pequeno rei que
humilhará três reis de uma só vez." Sobre isso, Daniel diz algo semelhante: "Vi a quarta besta,
maligna, forte e mais terrível do que todas as bestas do mar. Dela brotaram dez chifres, e desses saiu
um pequeno chifre, como broto. Este, de uma só vez, humilhou três dos chifres grandes." Deveis,
portanto, compreender.
A Aliança tem exigências
Além disso, peço- vos insistentemente, eu que sou um e vós e vos amo a todos e a cada um em
particular mais do que a .mim mesmo: tomai cuidado para não ficardes como certas- pessoas, que
acumulam pecados, dizendo que a Aliança está garantida para nós. Claro que era é nossa. Eles (os
judeus) a perderam definitivamente, embora Moisés já a tivesse recebido. De fato, a Escritura diz:
"Moisés jejuou na montanha durante quarenta dias e quarenta noites, e depois recebeu do Senhor a
Aliança, as tábuas de pedra escritas pelo dedo da mão do Senhor." Eles, porém, a perderam, por se
terem voltado para os ídolos. Com efeito, assim disse o Senhor: "Moisés, Moisés, desce depressa, pois
teu povo pecou, aqueles que fizeste sair da terra do Egito." Moisés compreendeu, e jogou as duas
tábuas de suas mãos. A Aliança deles foi rompida, para que a de Jesus, o Amado, fosse selada em
nossos corações pela esperança da fé que nele temos. Querendo escrever muitas coisas, não como
mestre, mas como convém a quem ama, não deixando perder nada do que possuímos, apliquei-me a
escrever, como vosso humilde servidor. Estejamos atentos nestes últimos dias! Nada adiantará todo o
tempo de nossa vida e de nossa fé, se agora, neste tempo de impiedade e na iminência dos escândalos,
não resistirmos, como convém a filhos de Deus. A fim de que a Treva não se infiltre em nós e às
escondidas, fujamos de toda vaidade e odiemos completamente as obras do mau caminho. Não vos
isoleis, dobrando-vos sobre vós mesmos, como se já estivésseis justificados, mas reuni-vos, para
procurar juntos o vosso bem comum. De fato, a Escritura diz: "Ai daqueles que se crêem inteligentes e
que são sábios diante de si mesmos!" Tornemo-nos espirituais, tornemo-nos um templo perfeito para
Deus. Quanto nos for possível, apliquemo-nos ao temor de Deus e combatamos para observar seus
mandamentos, a fim de nos alegrarmos em suas disposições. O Senhor julgará o mundo com
imparcialidade; cada um receberá segundo o que fez. Se for bom, sua justiça o precederá; se for mau,
diante dele irá o salário do mal. 13. Tomemos cuidado para não ficarmos tranqüilos como chamados,
adormecendo sobre nossos pecados, de modo que o príncipe do mal se apodere de nós e nos afaste do
reino do Senhor. Meus irmãos, compreendei ainda o seguinte: quando vedes que, depois de tantos
sinais e prodígios acontecidos em Israel, assim mesmo eles foram abandonados, tomemos cuidado,
como está escrito, para que não sejamos encontrados "muitos chamados, mas poucos escolhidos."
CAPÍTULO 5
Sofrimento do Senhor
O Senhor sofreu para purificar-nos de nossos pecados
O Senhor suportou entregar sua própria carne à destruição, para que fôssemos purificados pelo perdão
dos pecados, isto é, pela aspersão feita com seu sangue. A respeito dele, a Escritura diz o seguinte
sobre Israel e sobre nós: "Ele foi ferido por causa de nossas iniqüidades e maltratado por causa de
nossos pecados, e nós fomos curados por sua chaga. Foi conduzido como ovelha ao matadouro e,
como cordeiro, ficou mudo diante do tosquiador."
Responsabilidade do homem
Precisamos, portanto, multiplicar nossos agradeci mentos ao Senhor, porque ele nos fez conhecer as
coisas passadas, tornou-nos sábios no presente e não estamos sem inteligência para as coisas futuras.
A Escritura diz: "Não se estendem injustamente as redes para os pássaros." Isso quer dizer que, com
razão, se perderá o homem que, tendo conhecimento do caminho da justiça, toma entretanto o
caminho das trevas.
O Senhor sofreu para cumprir a promessa
Ainda o seguinte, meus irmãos: "Se o Senhor suportou sofrer por nós, embora fosse o Senhor do
mundo inteiro, a quem Deus disse desde a criação do mundo: ‘Façamos o homem à nossa imagem e
semelhança', como pode ele suportar sofrer pela mão dos homens? Aprendei. Os profetas, que tinham
a graça dele, profetizaram a seu respeito. E ele afim de destruir a morte e mostrar a ressurreição dos
mortos, teve que se encarnar e sofrer, afim de cumprir a promessa feita aos pais e preparar para si o
povo novo e demonstrar, durante sua estada na terra, que era ele mesmo que julgaria, depois de ter
realizado a ressurreição.
O Senhor sofreu na carne para que os pecadores pudessem vê-lo
Por fim, embora ele tivesse ensinado a Israel e realizado tão grandes prodígios e sinais, eles não foram
levados por sua pregação a amá-lo acima de tudo. Porém, quando ele escolheu seus próprios
apóstolos, que iriam anunciar o seu Evangelho, homens cujo pecado ultrapassava a medida, foi para
mostrar que ele não tinha vindo chamar os justos, e sim os pecadores. Então ele manifestou que era
Filho de Deus. Com efeito, se não se tivesse encarnado, como os homens poderiam ter sido salvos ao
vê-lo, uma vez que eles não podem levantar os olhos para olhar de frente os raios do sol, que todavia
um dia deixará de existir e que é tão-somente obra de suas mãos?
O Senhor sofreu para levar ao máximo o pecado de Israel
Se o Filho de Deus se encarnou, foi para levar ao máximo os pecados daqueles que tinham perseguido
mortalmente os profetas dele. E por isso que ele suportou. De fato, Deus diz que é deles que vem a
ferida de sua carne: "Quando ferirem o seu pastor, então as ovelhas do rebanho perecerão." Foi ele,
porém, que quis sofrer desse modo. Com efeito, era preciso que ele sofresse sobre o madeiro, pois o
profeta diz a seu respeito: "Poupa à minha vida à espada." E "transpassa com cravo a minha carne,
porque uma assembléia de malfeitores se levantou contra mim." E diz ainda: "Eis que ofereci minhas
costas aos açoites e minha face para as bofetadas. Contudo, mantive o meu rosto como pedra dura."
CAPÍTULO 6
Vitória pascal
O que diz ele, quando cumpriu o mandamento? "Quem é que me julga? Coloque-se diante de mim.
Ou quem quer ser declarado justo diante de mim? Que se aproxime do servo do Senhor. Ai de vós!
Porque todos vós envelhecereis como veste e a traça vos roerá." E o profeta continua, uma vez que ele
foi colocado como sólida pedra para esmagar: "Eis que colocarei nos alicerces de Sião uma pedra de
grande valor, escolhida, angular e preciosa." O que diz em seguida? "Aquele que nela crer, viverá para
sempre." Será que a nossa esperança está numa pedra? De modo nenhum. Mas foi o Senhor que
tornou forte a sua carne. Com efeito, ele diz: "Ele me tornou como pedra dura". O profeta continua:
"A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a cabeça de ângulo." E diz ainda: "Este é o dia
grande e maravilhoso que o Senhor fez."
A paixão
Eu, humilde servo do amor, vos escrevo com simplicidade, para que compreendais. O que diz ainda o
profeta? "Uma assembléia de malfeitores me rodeou. Eles me cercaram como abelhas ao favo." E
"sobre minhas vestes tiraram sortes." E como era na sua carne que ele devia revelar-se e sofrer, sua
paixão foi revelada de antemão. De fato, o profeta diz a respeito de Israel: "Ai da vida deles! Pois
conceberam um desejo mau contra si mesmos, dizendo: Amarremos o justo, porque ele nos
incomoda."
Nova criação
Que lhes diz Moisés, outro profeta? "Eis o que diz o Senhor Deus: Entrai na terra boa, que o Senhor
prometeu a Abraão, Isaac e Jacó. Tomai posse dessa terra, onde correm leite e mel." 0 que diz a
sabedoria? Aprendei: "Ponde vossa esperança em Jesus, que deve revelar-se a vós na carne." Com
efeito, o homem é terra que sofre, pois é da terra que Adão foi plasmado. Que significa: "Na terra boa,
terra onde correm leite e mel"? Bendito seja nosso Senhor, irmãos, pois ele pôs em nós a sabedoria e o
entendimento de seus segredos. Pois o profeta diz: "Quem poderá compreender uma parábola do
Senhor, a não ser o sábio que conhece e ama o seu Senhor?" Depois de nos ter renovado com o perdão
dos pecados, ele fez de nós um novo ser, de modo que tenhamos alma de criança, como se ele nos
tivesse plasmado novamente. De fato, a Escritura fala a nosso respeito, quando ele diz ao Filho:
"Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que eles dominem sobre os animais da terra, as
aves do céu e os peixes do mar." E, vendo que nós éramos boa criação, o Senhor disse: "Crescei,
multiplicaivos e enchei a terra." Foi isso que ele disse ao Filho. Vou agora te mostrar como ele fala de
nós. Ele realizou segunda criação nos últimos tempos. O Senhor diz: "Eis que faço as últimas coisas
como as primeiras." Nesse sentido, assim falou o profeta: "Entrai na terra onde correm leite e mel, e
dominai-a." Eis-nos, portanto, criados de novo, conforme o que ele diz ainda por outro profeta: "Eis",
diz o Senhor, "que arrancarei deles" -isto é, daqueles que o Espírito do Senhor via de antemão-"os
corações de pedra, e implantarei neles corações de carne." De fato, é na carne que ele devia
manifestar-se e habitar em nós. Com efeito, meus irmãos, nossos corações assim habitados formam
um templo santo para o Senhor. E o Senhor diz ainda: "Como me apresentarei diante do Senhor e
serei glorificado?" Ele diz: "Celebrar-te- ei na assembléia de meus irmãos e cantarei teus louvores em
meio à assembléia dos santos." Portanto, somos nós que ele fez entrar na terra boa. E o que significam
o "leite" e o "mel"? E porque a criança é nutrida primeiro com o mel e depois com o leite. Igualmente
nós, alimentados pela fé na promessa e na palavra, vivemos dominando a terra. Ora, ele tinha dito
antes: "Que eles cresçam, se multipliquem e dominem os peixes." E quem pode hoje dominar as feras,
ou os peixes, ou os pássaros do céu? Devemos compreender que dominar implica poder, a fim de que
aquele que ordena possa dominar. Se hoje não é assim, ele nos disse o tempo: Quando formos
perfeitos para sermos herdeiros da aliança do Senhor.
CAPÍTULO 7
Jejum e o bode expiatório
Compreendei, portanto, filhos da alegria, que o bom Senhor nos revelou tudo de antemão, para que
saibamos a quem constantemente celebrar com ação de graças. Se o Filho de Deus, que é Senhor e
julgará os vivos e os mortos, sofreu para nos dar a vida por meio de seus ferimentos, acreditamos que
o Filho de Deus não podia sofrer, a não ser por causa de nós. Além disso, já crucificado, deram-lhe a
beber vinagre e fel. Escutai como os sacerdotes do templo se expressaram sobre isso. O mandamento
escrito dizia: "Quem não jejuar no dia do jejum, será condenado à morte." O Senhor deu esse
mandamento, porque também ele devia oferecer a si próprio pelos nossos pecados, como receptáculo
do Espírito, em sacrifício, a fim de que fosse cumprida a prefiguração manifestada em Isaac, oferecido
sobre o altar. O que diz ele por meio do profeta? "Que comam, durante o jejum, do bode oferecido por
todos os pecados." Notai bem: "E que todos os sacerdotes, e somente eles, comam as vísceras não
lavadas com vinagre." Por que isso? "Porque vós me fareis beber fel com vinagre, a mim que ofereci
minha carne pelos pecados do meu novo povo. Somente vós comereis, enquanto o povo jejuará e se
flagelará com pano de saco e cinza." Isso era para mostrar que ele deveria sofrer na mão deles. Como
ele ordenou? Prestai atenção: "Tomai dois bodes bonitos e iguais, e oferecei-os em sacrifício. Que o
sacerdote tome o primeiro como holocausto pelos pecados." E o que farão com o outro? Ele diz: "O
outro é maldito." Notai como a figura de Jesus é manifestada. "Cuspi todos nele, transpassai-o, coroai
sua cabeça com lã escarlate e, desse modo, seja expulso para o deserto." Feito isso, aquele que leva o
bode o conduz ao deserto, tira-lhe a lã e a coloca sobre um arbusto chamado sarça, cujos frutos
costumamos comer quando nos encontramos no campo. Somente os frutos da sarça são doces. O que
significa isso? Prestai atenção: "O primeiro bode sobre o altar, o outro é maldito". Justamente o
maldito é que é coroado. É que eles o verão, naquele dia, trazendo sobre sua carne o manto escarlate, e
dirão: "Não é este que outrora crucificamos, depois de o ter desprezado, transpassado e cuspido? Na
verdade, era este que então se dizia Filho de Deus." Qual a sua semelhança com aquele? São bodes
"semelhantes", "belos", iguais, para que quando o virem então vir, fiquem espantados com a
semelhança do bode. Eis, portanto, a figura de Jesus que devia sofrer. E por que se coloca a lã no meio
dos espinhos? É uma figura de Jesus proposta para a Igreja: porque os espinhos são terríveis, aquele
que quer pegar a lã escarlate deve sofrer muito, e deve apossar-se dela através da dor. Ele diz: "Dessa
forma, aqueles que desejam ver-me e alcançar o meu Reino devem passar por tribulações e
sofrimentos, para se apossar de mim."
CAPÍTULO 8
Sacrifício da novilha
E que figura pensais que representa o mandamento dado a Israel: os homens que têm pecados
consumados ofereçam a novilha, a imolem e, depois queimem? Além disso, as crianças deviam
recolher as cinzas, colocá-las nos vasos, enrolar a lã escarlate num pedaço de madeira - de novo aqui a
imagem da cruz e a lã escarlate - e o hissopo. E assim, as crianças deviam aspergir todos os membros
do povo, para que ficassem purificados dos pecados. Reconhecei como ele vos fala com simplicidade:
a novilha é Jesus; os pecadores que a oferecem são aqueles que o conduziram para ser imolado. Basta
com esses homens! Basta com a glória dos pecadores! As crianças que fazem a aspersão são aqueles
que nos anunciaram a remissão dos pecados e a purificação do coração. A eles foi conferida a
autoridade de anunciar o Evangelho, e são doze para testemunhar às tribos, pois as tribos de Israel
eram doze. E por que são três crianças que fazem a aspersão? Para testemunhar Abraão, Isaac e Jacó,
que são grandes diante de Deus. E a lã sobre o madeiro? Ela significa que o Reino de Jesus está sobre
o madeiro e os que nele esperam viverão para sempre. Contudo, por que se põem juntos a lã e o
hissopo? Porque no seu Reino haverá dias maus e poluídos, durante os quais seremos salvos. Com
efeito, é pelo respingo poluído do hissopo que se cura aquele cuja carne está doente. E por isso que
esses acontecimentos são tão claros para nós, mas para eles tão obscuros, pois eles não ouviram a voz
do Senhor.
CAPÍTULO 9
A verdadeira circuncisão
Circuncisão do ouvido
De fato, é dos ouvidos que ele fala ainda, quando diz que circuncidou nossos ouvidos e nossos
corações. O Senhor diz por meio do profeta: "Obedeceram-me com os ouvidos." E diz ainda: "Os que
estão longe escutarão com o ouvido e conhecerão o que eu fiz". E mais: "Circuncidai vossos ouvidos,
diz o Senhor." E diz também: "Escuta, Israel, eis o que diz o Senhor teu Deus: Quem deseja viver para
sempre? Que ele escute com o ouvido a voz do meu servo." E diz ainda: "Escuta, ó céu; dá ouvidos, ó
terra, pois o Senhor falou isso como testemunho." E diz mais: "Escutai a palavra do Senhor, príncipes
deste povo." E diz ainda: "Filhos, escutai a voz que grita no deserto." Ele, portanto, circuncidou nossos
ouvidos, para que escutemos a palavra e creiamos.
Circuncisão do coração
Contudo, a circuncisão, na qual eles depositavam confiança, foi rejeitada. De fato, ele dissera que a
circuncisão não devia ser da carne, mas eles transgrediram, porque um anjo mau os enganou. Todavia,
ele lhes diz: "Assim fala o Senhor vosso Deus" - é aí que encontro o mandamento -: "Não semeeis
entre os espinhos, mas circuncidai-vos para o vosso Senhor." E o que diz ele? "Circuncidai a maldade
do vosso coração." E diz ainda: "Eis, diz o Senhor, que todas as nações têm o prepúcio incircunciso,
mas este povo tem o coração incircunciso."
Circuncisão de Abraão
Vós, porém, direis: "O povo recebeu a circuncisão como selo." Contudo, todos os sírios, os árabes e
todos os sacerdotes dos ídolos também têm a circuncisão. Pertencem também eles à sua aliança? Até
os egípcios praticam a circuncisão! Filhos do amor, aprendei mais particularmente estas coisas:
Abraão, praticando por primeiro a circuncisão, circuncidava porque o Espírito dirigia profeticamente
seu olhar para Jesus, dando-lhe o conhecimento das três letras. Com efeito, ele diz: "E Abraão
circuncidou entre os homens de sua casa trezentos e dezoito homens." Qual é, portanto, o
conhecimento que lhe foi dado? Notai que ele menciona em primeiro lugar os dezoito e depois,
fazendo distinção, os trezentos. Dezoito se escreve: I, que vale dez, e H, que representa oito. Tens aí:
IH(sous) = Jesus. E como a cruz em forma de T devia trazer a graça, ele menciona também trezentos
(= T). Portanto, ele designa claramente Jesus pelas duas primeiras letras e a cruz pela terceira. Quem
depositou em nós o dom do seu ensinamento sabe bem disto: Ninguém recebeu de mim ensinamento
mais digno de fé. Sei, porém, que vós sois dignos.
CAPÍTULO 10
Significado espiritual das prescrições alimentares
Primeira formulação
Moisés disse: "Não comereis porco, nem águia, nem gavião, nem corvo, nem peixe algum que não
tenha escamas". Porque ele tinha em mente três ensinamentos. Por fim, ele diz a eles no
Deuteronômio: "Exporei a esse povo as minhas decisões." A proibição de comer não é, portanto,
mandamento de Deus, pois Moisés falava simbolicamente. Eis o significado do que ele diz sobre o
"porco". Não te ligarás a esses homens que se assemelham aos porcos; isto é, que quando vivem na
abundância, se esquecem do Senhor; mas na necessidade reconhecem o Senhor. Assim é o porco:
enquanto está comendo, ele não conhece seu dono; mas quando está com fome, ele grunhe e, uma vez
tendo comido, volta a se calar. Ele diz: "Também não comerás a águia, nem o gavião, nem o milhafre,
nem o corvo." Isto é: não te ligarás, imitando-os, a esses homens que não sabem ganhar o alimento por
meio do trabalho e do suor, mas que, em sua injustiça, arrebatam o bem alheio. Andam com ar
inocente, mas espionam e observam a quem vão despojar por ambição. Eles são como essas aves, as
únicas que não providenciam o alimento por si próprias, mas se empoleiram ociosamente, procurando
a ocasião de se alimentar da carne dos outros. São verdadeiros flagelos por sua crueldade. Ele
continua: "Não comerás moreia, nem polvo, nem molusco." Isto é: não te assemelharás, ligando-te a
esses homens que são radicalmente ímpios e já estão condenados à morte. O mesmo acontece com
esses peixes: são os únicos amaldiçoados, que nadam nas profundezas, sem subirem como os outros;
permanecem no fundo da terra, habitando o abismo.
Segunda formulação
Também "não comerás a lebre." Por que razão? Isso quer dizer: não serás pederasta, nem imitarás
aqueles que são assim. Porque a lebre, a cada ano, multiplica seu ânus. Ela tem tantos orifícios quanto
o número de seus anos. Também "não comerás a hiena". Isso quer dizer: não serás nem adúltero, nem
homossexual, e não te Assemelharás àqueles que são assim. Por que razão? Porque esse animal muda
de sexo todos os anos e torna se ora macho, ora fêmea. EIe odiou também "a doninha". Muito bem!
Não serás como aqueles que cometem, como se diz, iniqüidade com a boca por depravação, nem te
ligarás a esses depravados que cometem iniqüidade com sua boca. De fato, esse mal se concebe pela
boca. Moisés, tendo recebido tríplice ensinamento sobre os alimentos, usou linguagem simbólica.
Eles, porém, o entenderam sobre os alimentos materiais, por causa do desejo carnal.
Davi confirma o ensinamento
Davi recebeu o conhecimento desse mesmo ensinamento tríplice. Ele fala de forma semelhante: "Feliz
o homem que não vai ao conselho dos ímpios", como os peixes que se movem nas trevas para o
fundo; "e que não pára no caminho dos pecadores", como aqueles que aparentam temer ao Senhor,
mas pecam como o porco; "e que não se assentou na cátedra da pestilência", como as aves que se
postam para a rapina. Aí tendes perfeitamente o que se refere à comida.
Conclusão
Moisés, porém, disse: "Comei de todo animal que tem o casco fendido e que rumina." O que ele quer
dizer? Que (tal animal), quando recebe a comida, conhece aquele que o alimenta, e quando repousa,
parece que se alegra com ele. Disse-o bem, considerando o mandamento. Que quer ele dizer?
Vinculai-vos àqueles que temem o Senhor, que meditam no coração sobre o sentido exato da palavra
que receberam, que ensinam e observam as decisões do Senhor, que sabem que a meditação é alegre
exercício e que ruminam a palavra do Senhor. O que significa o "casco fendido"? É que o justo
caminha neste mundo e espera o mundo santo. Vede como Moisés legislou bem! Mas, para eles,
como é possível compreenderem ou entenderem essas coisas? Nós, tendo compreendido exatamente
os mandamentos, os exprimimos como o Senhor desejou. Por isso, ele circuncidou nossos ouvi dos e
nossos corações, para compreendermos essas coisas.
CAPÍTULO 11
Profecias do Batismo e da Cruz
A água
Pesquisemos se o Senhor teve intenção de falar antecipadamente sobre a água e sobre a cruz. Quanto à
água, está escrito que Israel não teria recebido o batismo que leva à remissão dos pecados, mas que
eles próprios teriam constituído um. Com efeito, diz o profeta: "Pasma, ó céu, e que a terra trema
ainda mais! Pois este povo cometeu mal duplo: eles me abandonaram, a mim que sou a fonte viva da
água, e cavaram para si mesmos uma cisterna de morte. Por acaso, o Sinai, minha montanha santa, é
rocha deserta? Vós sereis como os passarinhos que voam, quando se lhes tira o ninho." E o profeta diz
ainda: "Eu marcharei à tua frente, aplainarei as montanhas, quebrarei as portas de bronze,
despedaçarei as trancas de ferro, e te darei tesouros secretos, escondidos, invisíveis, a fim de que
saibam que eu sou o Senhor Deus. Tu habitarás numa caverna alta de rocha sólida, onde a água não
falta nunca. Vereis o rei em sua glória e vossa alma meditará no temor do Senhor."
A água e o madeiro
EIe diz ainda por meio de outro profeta: "Quem assim age, será como a árvore plantada junto à
corrente d'água, e que dá seu fruto no tempo certo. Sua folhagem não cairá; e tudo o que ele fizer terá
sucesso. Não são assim os ímpios, não são assim. Eles são, antes, como a poeira que o vento espalha
na face da terra. E por isso que os ímpios não se levantarão no julgamento, nem os pecadores no
conselho dos justos. Pois o Senhor conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios
perecerá." Notai que ele designa ao mesmo tempo a água e a cruz. Com efeito, ele quer dizer: "Felizes
aqueles que, tendo lançado sua esperança na cruz, desceram para a água. Pois ele diz que o salário
vem "no tempo certo". Então, diz ele, eu retribuirei. Mas para hoje, ele diz: "Sua folhagem não cairá."
Isso significa que toda palavra de fé e amor que sair da vossa boca será para muitos causa de
conversão e de esperança. E outro profeta diz ainda: "E a terra de Jacó era celebrada mais do que
qualquer outra terra." Isso quer dizer que ele glorifica o vaso do seu Espírito. O que diz ele a seguir?
"Havia um rio que corria, vindo da direita, e árvores esplêndidas hauriam dele seu crescimento.
Qualquer pessoa que delas comer, viverá eternamente." Isso significa que descemos para a água
carregados de pecados e poluição, mas subimos dela para dar frutos em nosso coração, tendo no
Espírito o temor e a esperança em Jesus. "Quem comer deles viverá eternamente", quer dizer: quem
escutar, quando tais palavras são ditas, e crer nelas, viverá eternamente.
CAPÍTULO 12
O madeiro
Da mesma forma, é sobre a cruz que ele fala por meio de outro profeta: "Quando tais coisas se
cumprirão? Diz o Senhor: Quando um madeiro for estendido no chão e depois novamente levantado, e
quando o sangue gotejar do madeiro." Eis que se fala de novo da cruz e daquele que seria crucificado.
Ele ainda fala a Moisés, quando Israel é atacado pelos povos estrangeiros, para lembrar-lhes, nesse
combate, que era pelos pecados deles que estavam sendo entregues à morte. Falando ao coração de
Moisés, o Espírito lhe fez representar a figura da cruz e de quem sofreria, pois, diz ele, se não
esperarem nele, serão eternamente atacados. Então Moisés amontoou as armas no meio do combate e,
de pé, no lugar mais alto de todos, estendeu os braços, e assim Israel venceu novamente. Em seguida,
cada vez. que os abaixava, os israelitas sucumbiam outra vez. Por quê? Para que soubessem que não
podiam ser salvos, se não confiassem nele. Por meio de outro profeta, ele diz ainda: "O dia inteiro
estendi meus braços para um povo desobediente e que se opõe ao meu justo caminho." Outra vez
ainda, no momento em que Israel sucumbia, Moisés fez prefiguração de Jesus, mostrando que ele
devia sofrer, e justamente aquele que acreditavam estar morto na cruz, haveria de dar a vida. De fato,
o Senhor fez com que todo tipo de serpentes os mordessem, e eles morriam, embora a serpente tenha
sido para Eva o instrumento da desobediência. Ele queria assim convencê-los de que era por causa da
desobediência deles que seriam entregues à tortura da morte. Finalmente, o próprio Moisés tinha
ordenado: "Não tereis, como vosso deus, nenhuma imagem fundida ou esculpida." Mas ele próprio fez
uma serpente de bronze, colocou-a diante de todos, e convocou o povo. Quando se reuniram naquele
lugar, suplicaram a Moisés que intercedesse pela cura deles. Moisés porém, lhes respondeu: "Quando
alguém de vós for mordido, venha até à serpente fixada ao madeiro e creia com confiança. Crendo que
essa serpente, embora morta, possa dar a vida, no mesmo instante será salvo." Assim fizeram eles. Eis
aqui de novo a glória de Jesus, porque tudo está nele e tudo é para ele.
Jesus, Filho de Deus
Que diz ainda Moisés a respeito do profeta Jesus, filho de Nave, dando-lhe esse nome, somente para
que todo o povo ouvisse que o Pai revela todas as coisas em torno de seu Filho Jesus? Enviando-o
para explorar o país, depois de lhe ter dado esse nome, Moisés disse a Jesus, filho de Nave: "Toma em
tuas mãos um livro e escreve o que diz o Senhor: Nos últimos dias, o Filho de Deus arrancará pelas
raízes a casa de Amalec." Mais uma vez, eis que Jesus, manifestado em prefiguração carnal, não filho
de homem, mas Filho de Deus. Porque diriam que o Cristo é filho de Davi, o próprio Davi, temendo e
prevendo o erro dos pecadores, profetiza: "Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita,
até que eu ponha os teus inimigos como estrado para teus pés." Isaías também diz: "O Senhor disse ao
Cristo, meu Senhor: Eu o tomei pela mão direita, para que as nações lhe obedeçam, e eu romperei a
força dos reis." Vede como Davi o chama Senhor, e não filho!
CAPÍTULO 13
A Aliança
Qual povo é o herdeiro?
Vejamos agora qual é o povo que recebe a herança. Se este, ou se o primeiro. E a Aliança, é para nós,
ou para aqueles? Escutai, então, o que diz a Escritura a respeito do povo: "Isaac rezava pela sua
mulher Rebeca, que era estéril, e ela concebeu". Depois: "Rebeca saiu para consultar o Senhor, e o
Senhor lhe disse: Há duas nações em teu seio e dois povos em tuas entranhas. Um povo dominará o
outro, e o mais velho servirá ao mais jovem." Deveis compreender quem é Isaac e quem é Rebeca, e a
quem se referia ao mostrar que este povo é maior do que aquele. Em outra profecia, Jacó se dirige
mais claramente ainda a seu filho José, dizendo: "Eis que o Senhor não me privou de tua presença.
Traze-me teus filhos, para que eu os abençoe." Ele levou Efraim e Manasses, querendo que Manassés,
o mais velho, recebesse a bênção. José o conduziu para a mão direita de seu pai Jacó. No entanto, Jacó
viu em espírito a prefiguração do povo futuro. E o que disse ele? "E Jacó cruzou as mãos, e colocou a
direita sobre a cabeça de Efraim, o segundo e o mais novo, e o abençoou. Então José disse a Jacó:
‘Desvia tua mão direita e colocaa sobre a cabeça de Manassés, pois ele é o meu filho primogénito'.
Então Jacó disse a José: ‘Eu sei, meu filho, eu sei. O mais velho servirá ao mais jovem, e é este que
será abençoado.'" Vede a quem ele se referia ao decidir que este povo seria o primeiro e o herdeiro da
Aliança. Se isso ainda nos é lembrado no caso de Abraão, então nosso conhecimento torna-se
completo. O que é que ele diz então a Abraão, pelo fato de que somente ele tinha acreditado, e foi
estabelecido na justiça? "Abraão, eis que eu te estabeleci como pai de nações que, embora
incircuncisas, acreditam em Deus."
CAPÍTULO 14
A quem Deus dá sua Aliança?
Muito bem. Porém vejamos: Pesquisemos, para ver se ele deu ao povo a Aliança que prometera -
juramento a seus antepassados. Certamente ele a deu, mas eles não foram dignos de recebê-la, por
causa de seus pecados. De fato, o profeta diz: "Moisés jejuou quarenta dias e quarenta noites no monte
Sinai, para receber a Aliança do Senhor com o povo. E Moisés recebeu do Senhor as duas tábuas
escritas em espírito pelo dedo da mão do Senhor. Moisés as tomou, e começou a descer, para levá-las
ao povo. Então disse a Moisés o Senhor: `Moisés, Moisés, apressa-te a descer, pois teu povo, que
fizeste sair da terra do Egito, pecou.' Moisés compreendeu que eles ainda tinham feito para si imagens
de metal fundido. Então ele atirou de suas mãos as tábuas, e as tábuas da Aliança do Senhor se
quebraram." Moisés, portanto, a recebeu, mas eles não foram dignos dela. Aprendei como nós a
recebemos. Moisés a recebeu como servo, mas o próprio Senhor, depois de sofrer por nós, no-la
entregou como povo da herança. Ele apareceu, para que aqueles levassem ao máximo a medida dos
pecados e nós recebêssemos a Aliança mediante o Senhor Jesus, o herdeiro. Jesus foi preparado por
ocasião de sua manifestação, para libertar das trevas nossos corações já consumidos pela morte e
entregues aos desvios da iniqüidade, e para estabelecer conosco uma Aliança com a palavra. De fato,
está escrito que o Pai lhe ordenou libertar-nos das trevas, a fim de preparar para si um povo santo. Diz,
portanto, o profeta: "Eu, o Senhor teu Deus, te chamei na justiça, e te tomarei pela mão e te
fortificarei. Eu te coloquei como Aliança de um povo, como luz das nações, para abrir os olhos dos
cegos, para libertar das cadeias os prisioneiros e da prisão aqueles que estão nas trevas." Sabei,
portanto, de onde fomos libertos! O profeta diz ainda: "Eis que eu te coloquei como luz das nações, a
fim de que sirvas para a salvação, até os confins da terra. Assim diz o Senhor, o Deus que te libertou."
E o profeta diz ainda: "O Espírito do Senhor está sobre mim e, por isso, me ungiu para anunciar aos
pobres o evangelho da graça. Ele me enviou para curar os corações quebrantados, para proclamar aos
prisioneiros a liberdade e aos cegos a vista, para anunciar o ano favorável do Senhor e o dia da
retribuição, para consolar todos os que choram."
CAPÍTULO 15
O Sábado de Deus
Ainda, sobre o sábado, está escrito no Decálogo que Deus o entregou pessoalmente a Moisés sobre o
monte Sinai: "Santificai o sábado do Senhor com mãos puras e coração puro." Em outro lugar, ele diz:
"Se meus filhos guardarem o sábado, então estenderei sobre eles a minha misericórdia." Ele menciona
o sábado no princípio da criação: "Em seis dias, Deus fez as obras de suas mãos e as terminou no
sétimo dia, e nele descansou e o santificou." Prestai atenção, filhos, sobre o que significa: "terminou
no sétimo dia". Isso significa que o Senhor consumará o universo em seis mil anos, pois um dia para
ele significa mil anos. Ele próprio o atesta, dizendo: "Eis que um dia do Senhor será como mil anos."
Portanto, filhos, em "seis dias", que são seis mil anos, o universo será consumado. "E ele descansou
no sétimo dia." Isso quer dizer que seu Filho, quando vier para pôr fim ao tempo do Iníquo, para julgar
os ímpios e mudar o sol, a lua e as estrelas, então ele, de fato, repousará no sétimo dia. Por fim, ele
diz: "Tu o santificarás com mãos puras e coração puro." Contudo, se alguém atualmente pudesse
santificar, de coração puro, esse dia que Deus santificou, então nós nos teríamos enganado
completamente. Porém, se este agora não é o caso, ele o santificará verdadeiramente no repouso,
quando nós formos capazes disso, isto é, quando tivermos sido justificados e tivermos recebido o
objeto da promessa, quando não houver mais iniqüidade, e o Senhor tiver renovado tudo. Então,
poderemos santificá-lo, tendo sido primeiro nós mesmos santificados. Ele finalmente lhes disse: "Não
suporto vossas neomênias e vossos sábados". Vede como ele diz: não são os sábados atuais que me
agradam, mas aquele que eu fiz e no qual, depois de ter levado todas as coisas ao repouso, farei o
início do oitavo dia, isto é, o começo de outro mundo. Eis por que celebramos como festa alegre o
oitavo dia, no qual Jesus ressuscitou dos mortos e, depois de se manifestar, subiu aos céus.
CAPÍTULO 16
O Templo
No que se refere ao templo, eu vos direi ainda como esses infelizes extraviados puseram sua esperança
num edifício, como se fosse a casa de Deus, e não no Deus deles, que os criou. Com efeito, quase
como os pagãos, eles o consagraram no templo. Mas, como fala o Senhor, abolindo-o? Aprendei:
"Quem mediu o céu com o palmo e a terra com a mão? Não fui eu? diz o Senhor: O céu é o meu trono
e a terra é o estrado dos meus pés. Que casa construireis para mim, ou qual será o lugar do meu
repouso?" Vede como era vã a esperança deles. Por fim, ele diz ainda: "Eis! aqueles que destruíram
esse templo, eles mesmos o edificarão." E o que está acontecendo. De fato, por causa da guerra deles,
o templo foi destruído pelos inimigos. E agora, os mesmos servos dos inimigos o reconstruirão. Ele
tinha igualmente revelado que a cidade, o templo e o povo de Israel seriam entregues. Com efeito, a
Escritura diz: "Acontecerá no fim dos dias que o Senhor entregará à destruição as ovelhas do pasto, o
aprisco e a sua torre." E aconteceu conforme o Senhor tinha dito. Indaguemos se existe um templo de
Deus. Sim, existe onde ele mesmo diz que o há de construir e aperfeiçoar. De fato, está escrito:
"Quando a semana estiver terminada, será construído um templo de Deus, com esplendor, sobre o
nome do Senhor." Acho pois que existe um templo. E como ele "será construído sobre o nome do
Senhor"? Aprendei: antes que acreditássemos em Deus, nossos corações eram uma habitação
corruptível e frágil, exatamente como um templo construído por mão humana. Com efeito, estava
cheio de idolatria e era casa de demônios pois todas as nossas ações se opunham a Deus. Contudo,
"ele será construído sobre o nome do Senhor." Estai atentos, para que o templo do Senhor seja
construído "com esplendor". De que modo? Aprendei: recebendo o perdão dos pecados e pondo nossa
esperança no Nome, nós nos tornamos novos, recriados desde o princípio. É por isso que Deus habita
verdadeiramente em nós, tornando-nos sua morada. Como? Pela sua palavra de fé, pelo chamado da
sua promessa, pela sabedoria das suas leis, pelos mandamentos da doutrina, e ele próprio profetizando
em nós, habitando em nós, abrindo para nós a porta do templo, que é a nossa boca, e dando-nos o
arrependimento, ele nos introduz no templo incorruptível. De fato, quem deseja ser salvo não olha
para o homem, mas para aquele que habita nele e fala por meio dele, maravilhado "Neomênias" é o
primeiro dia do mês (lunar), a "lua nova" ou "neomênia", era uma festa celebrada tanto entre os
israelitas como entre os cananeus (cf. Lv 23,24; 1Sm 20,5.24; Is 13; Am 8,5). Como o sábado, a lua
nova (neoménia) interrompia as transações comerciais. de não ter ouvido as palavras daquele que fala
através de uma boca humana, nem de ter desejado ouvi-Ias. Esse é o templo espiritual construído pelo
Senhor.
CAPÍTULO 17
Conclusão
Eu vos expliquei essas coisas com a maior simplicidade possível, e espero não ter deixado nada de
lado. Com efeito, se vos escrevesse sobre o presente ou o futuro, não compreenderíeis, pois isso
permanece em parábolas.
EPÍSTOLA DE BARNABÉ
Parte II – Moral
CAPÍTULO 18
Os Dois Caminhos
Introdução
Sobre esse assunto, chega. Passemos para outro tipo de conhecimento e ensinamento. Existem dois
caminhos de ensinamento e autoridade: o da luz e o das trevas. A diferença entre os dois é grande. De
fato, sobre um estão postados os anjos de Deus, portadores da luz; e sobre o outro, os anjos de satanás.
Um é Senhor de eternidade em eternidade, o outro é príncipe do presente tempo da iniqüidade.
CAPÍTULO 19
O caminho da luz
Este é o caminho da luz: se alguém quer andar no caminho e chegar ao lugar determinado, que se
esforce em suas obras. Eis, portanto, o conhecimento que nos foi dado para andar nesse caminho.
Ama aquele que te criou. Teme aquele que te formou. Glorifica aquele que te resgatou da morte. Sê
simples de coração e rico de espírito. Não te ligues àqueles que andam no caminho da morte. Odeia
tudo o que não é agradável a Deus. Odeia toda hipocrisia.
Não abandones os mandamentos do Senhor. Não te engrandeças a ti mesmo, mas sê humilde em todas
as circunstâncias. Não te arrogues glória. Não planejes o mal contra o teu próximo. Não te entregues à
insolência.
Não pratiques a prostituição, nem o adultério, nem a pederastia. Não divulgues a palavra de Deus
entre pessoas impuras. Não faças diferença entre as pessoas, ao corrigir alguém por sua falta. Sê
manso, tranqüilo, respeitando as palavras que ouviste. Não sejas vingativo para com teu irmão.
Não fiques hesitando sobre o que vai ou não acontecer. Não tomes em vão o nome do Senhor. Ama o
teu próximo mais do que a ti mesmo. Não mates a criança no seio da mãe, nem logo que ela tiver
nascido. Não te descuides de teu filho ou de tua filha. Pelo contrário, dá-lhes instrução desde a
infância no temor do Senhor.
Não cobices os bens do teu próximo. Não sejas avarento, não te juntes de coração com os grandes,
mas conversa com os justos e pobres. Aceita como boas as coisas que te acontecem, sabendo que nada
acontece sem o consentimento de Deus.
Não sejas dúplice no pensar e no falar, porque a duplicidade é armadilha mortal. Sê submisso a teus
senhores, com respeito e reverência, como à imagem de Deus. Não dês ordens com rudeza ao teu
servo ou à tua serva, pois eles esperam no mesmo Deus que tu, para que não percam o temor de Deus,
que está acima de uns e de outros; com efeito, ele não vem chamar a pessoa pela aparência, mas
aqueles que o Espírito preparou.
Compartilha tudo com o teu próximo, e não digas que são coisas tuas. Se estais unidos nas coisas
incorruptíveis, tanto mais nas coisas corruptíveis. Não sejas loquaz, porque a boca é armadilha mortal.
O quanto podes, sê puro com a tua alma.
Não sejas como os que estendem a mão na hora de receber, e a retiram na hora de dar. Ama, como a
pupila do teu olho, todo aquele que te anuncia a palavra de Deus.
Lembra-te noite e dia, do dia do julgamento. A cada dia, procura a companhia dos santos. Empenha-te
com a pregação, exortando e preocupando-te em salvar uma alma pela palavra, ou então em trabalhar
com tuas mãos, para resgatar teus pecados.
Não hesites em dar, nem dês reclamando, pois sabes quem é o verdadeiro remunerador da tua
recompensa. Guarda o que recebeste, sem nada acrescentar ou tirar. Odeia totalmente o mal. Julga de
modo justo.
Não provoques divisão. Pelo contrário, reconcilia aqueles que brigam entre si. Confessa os teus
pecados. Não te apresentes em má consciência para a oração.
CAPÍTULO 20
O caminho da treva
O caminho da treva é tortuoso e cheio de maldições. De fato, em sua totalidade, ele é o caminho da
morte eterna nos tormentos. Nele se encontram as coisas que arruínam a alma dos homens: idolatria,
insolência, altivez do poder, hipocrisia, duplicidade de coração, adultério, homicídio, rapina, orgulho,
transgressão, fraude, maldade, arrogância, feitiçaria, magia, avareza e ausência do temor de Deus.
(São) os que perseguem os bons, odeiam a verdade, amam a mentira, ignoram a recompensa da
justiça, não se ligam ao bem nem ao julgamento justo, não cuidam da viúva e do órfão, não vigiam
para o temor de Deus, mas para o mal, afastam-se da mansidão e da paciência, amam as vaidades,
correm atrás da recompensa, não têm misericórdia para com o pobre, recusam ajudar o oprimido,
difamam facilmente, ignoram o seu Criador, matam crianças, corrompem a imagem de Deus, não se
compadecem do necessitado, não se importam com os atribulados, defendem os ricos, são juízes
injustos com os pobres, e, por fim, são pecadores consumados.
CAPÍTULO 21
Conclusão
É bom, portanto, aprender as sentenças do Senhor, que estão escritas, e a elas conformar o
comportamento. Com efeito, aquele que as pratica será glorificado no Reino de Deus, mas aquele que
escolher o outro (Caminho) perecerá com suas obras. Por isso, existe ressurreição, e por isso existe
retribuição. A vós, que sois superiores, peço que aceitem um conselho da minha benevolência: Tendes
no meio de vós pessoas para com as quais praticar o bem. Não deixem de o fazer. Está próximo o dia,
no qual todas as coisas perecerão com o Maligno. Está próximo o Senhor, justo com a sua retribuição.
Peço-vos ainda: sede bons legisladores para vós mesmos, permanecei fiéis conselheiros para vós
mesmos, afastai de vós toda hipocrisia. O Deus, que reina sobre o mundo inteiro, vos dê sabedoria,
inteligência, ciência, conhecimento de suas decisões, e perseverança. Deixai-vos instruir por Deus,
procurando o que o Senhor quer de vós, e praticai-o, para que vos encontreis no dia do julgamento. Se
vos recordais do bem, lembrai-vos de mim ao meditar sobre essas coisas. Desse modo, meu desejo e
minha vigilância levarão a realizar algum bem. Peço-vos com insistência, como uma graça: enquanto
o belo vaso ainda está convosco, não negligencieis nada das vossas coisas, mas buscai-as
constantemente e cumpri todos os mandamentos, pois eles são dignos. Eis por que me esforcei em vos
escrever, segundo minhas possibilidades. Eu vos saúdo, filhos do amor e da paz. Que o Senhor da
glória e de toda graça esteja com vosso espírito.

Livro 2º - O Concílio de Nicéia

Condenação dos Evangelhos Apócrifos

O Concílio de Nicéia

325 D.C – É realizado o Concílio de Nicéia, atual cidade de Iznik, província de Anatólia (nome que se costuma dar à antiga Ásia Menor), na Turquia asiática. A Turquia é um país euro-asiático, constituído por uma pequena parte européia, a Trácia, e uma grande parte asiática, a Anatólia. Este foi o primeiro Concílio Ecumênico da Igreja, convocado pelo Imperador Flavius Valerius Constantinus (285 - 337 d.C), filho de Constâncio I. Quando seu pai morreu em 306, Constantino passou a exercer autoridade suprema na Bretanha, Gália (atual França) e Espanha. Aos poucos, foi assumindo o controle de todo o Império Romano.
Desde Lúcio Domício Aureliano (270 - 275 d.C ), os Imperadores tinham abandonado a unidade religiosa, com a renúncia de Aureliano a seus "direitos divinos", em 274. Porém, Constantino, estadista sagaz que era, inverteu a política vigente, passando, da perseguição aos cristãos, à promoção do Cristianismo, vislumbrando a oportunidade de relançar, através da Igreja, a unidade religiosa do seu Império. Contudo, durante todo o seu regime, não abriu mão de sua condição de sumo-sacerdote do culto pagão ao "Sol Invictus". Tinha um conhecimento rudimentar da doutrina cristã e suas intervenções em matéria religiosa visavam, a princípio, fortalecer a monarquia do seu governo.
Na verdade, Constantino observara a coragem e determinação dos mártires cristãos durante as perseguições promovidas por Diocleciano, em 303. Sabia que, embora ainda fossem minoritários (10% da população do império), os cristãos se concentravam nos grandes centros urbanos, principalmente em território inimigo. Foi uma jogada de mestre, do ponto de vista estratégico, fazer do Cristianismo a Religião Oficial do Império: Tomando os cristãos sob sua proteção, estabelecia a divisão no campo adversário. Em 325, já como soberano único, convocou mais de 300 bispos ao Concílio de Nicéia. Constantino visava dotar a Igreja de uma doutrina padrão, pois as divisões, dentro da nova religião que nascia, ameaçavam sua autoridade e domínio. Era necessário, portanto, um Concílio para dar nova estrutura aos seus poderes.
E o momento decisivo sobre a doutrina da Trindade ocorreu nesse Concílio. Trezentos Bispos se reúnem para decidir se Cristo era um ser criado (doutrina de Arius) ou não criado, e sim igual e eterno como Deus Seu Pai (doutrina de Atanásio). A igreja acabou rejeitando a idéia ariana de que Jesus era a primeira e mais nobre criatura de Deus, e afirmou que Ele era da mesma "substância" ou "essência" (isto é, a mesma entidade existente) do Pai. Assim, segundo a conclusão desse Concílio, há somente um Deus, não dois; à distância entre Pai e Filho está dentro da unidade divina, e o Filho é Deus no mesmo sentido em que o Pai o é. Dizendo que o Filho e o Pai são "de uma substância", e que o Filho é "gerado" ("único gerado, ou unigênito", João 1. 14,18; 3. 16,18, e notas ao texto da NVI), mas "não feito", o Credo Niceno, estabelece a Divindade do homem da Galiléia, embora essa conclusão não tenha sido unânime. Os Bispos que discordaram, foram simplesmente perseguidos e exilados.
Com a subida da Igreja ao poder, discussões doutrinárias passaram a ser tratada como questões de Estado. E na controvérsia ariana, colocava-se um obstáculo grande à realização da idéia de Constantino de um Império universal que deveria ser alcançado com a uniformidade da adoração divina.
O Concílio foi aberto formalmente a 20 de maio, na estrutura central do palácio imperial, ocupando-se com discussões preparatórias na questão ariana, em que Arius, com alguns seguidores, em especial Eusébio, de Nicomédia; Teógnis, de Nice, e Maris, de Chalcedon, parecem ter sido os principais líderes. Como era costume, os bispos orientais estavam em maioria. Na primeira linha de influência hierárquica estavam três arcebispos: Alexandre, de Alexandria; Eustáquio, de Antioquia e Macário, de Jerusalém, bem como Eusébio, de Nicomédia e Eusébio, de Cesaréia. Entre os bispos encontravam-se Stratofilus, bispo de Pitiunt (Bichvinta, reino de Egrisi). O ocidente enviou não mais de cinco representantes na proporção relativa das províncias: Marcus, da Calábria (Itália); Cecilian, de Cartago (África); Hosius, de Córdova (Espanha); Nicasius, de Dijon (França) e Domnus, de Stridon (Província do Danúbio). Apenas 318 bispos compareceram, o que equivalia a apenas uns 18% de todos os bispos do Império. Dos 318, poucos eram da parte ocidental do domínio de Constantino, tornando a votação, no mínimo, tendenciosa. Assim, tendo os bispos orientais como maioria e a seu favor, Constantino aprovaria com facilidade, tudo aquilo que fosse do seu interesse.
As sessões regulares, no entanto, começaram somente com a chegada do Imperador. Após Constantino ter explicitamente ordenado o curso das negociações, ele confiou o controle dos procedimentos a uma comissão designada por ele mesmo, consistindo provavelmente nos participantes mais proeminentes desse corpo. O Imperador manipulou, pressionou e ameaçou os partícipes do Concílio para garantir que votariam no que ele acreditava, e não em algum consenso a que os bispos chegassem. Dois dos bispos que votaram a favor de Arius foram exilados e os escritos de Arius foram destruídos. Constantino decretou que qualquer um que fosse apanhado com documentos arianistas estaria sujeito à pena de morte.
Mas a decisão da Assembléia não foi unânime, e a influência do imperador era claramente evidente quando diversos bispos de Egito foram expulsos devido à sua oposição ao credo. Na realidade, as decisões de Nicéia foram fruto de uma minoria. Foram mal entendidas e até rejeitadas por muitos que não eram partidários de Ário. Posteriormente, 90 bispos elaboraram outro credo (O "Credo da Dedicação") em, 341, para substituir o de Nicéia. (...) E em 357, um Concílio em Smirna adotou um credo autenticamente ariano.
Portanto, as orientações de Constantino nessa etapa foram decisivas para que o Concílio promulgasse o credo de Nicéia, ou a Divindade de Cristo, em 19 de Junho de 325. E com isso, veio a conseqüente instituição da Santíssima Trindade e a mais discutida, ainda, a instituição do Espírito Santo, o que redundou em interpolações e cortes de textos sagrados, para se adaptar a Bíblia às decisões do conturbado Concílio e outros, como o de Constantinopla, em 38l, cujo objetivo foi confirmar as decisões daquele.
A concepção da Trindade, tão obscura, tão incompreensível, oferecia grande vantagem às pretensões da Igreja. Permitia-lhe fazer de Jesus Cristo um Deus. Conferia a Jesus, que ela chama seu fundador, um prestígio, uma autoridade, cujo esplendor recaia sobre a própria Igreja católica e assegurava o seu poder, exatamente como foi planejado por Constantino. Essa estratégia revela o segredo da adoção trinitária pelo concílio de Nicéia.
Os teólogos justificaram essa doutrina estranha da divinização de Jesus, colocando no Credo a seguinte expressão sobre Jesus Cristo: “Gerado, não criado”. Mas, se foi gerado, Cristo não existia antes de ser gerado pelo Pai. Logo, Ele não é Deus, pois Deus é eterno! Espelhando bem os novos tempos, o Credo de Nicéia não fez qualquer referência aos ensinamentos de Jesus. Faltou nele um "Creio em seus ensinamentos", talvez porque já não interessassem tanto a uma religião agora sócia do poder Imperial Romano.
Mesmo com a adoção do Credo de Nicéia, os problemas continuaram e, em poucos anos, a facção arianista começou a recuperar o controle. Tornaram-se tão poderosos que Constantino os reabilitou e denunciou o grupo de Atanásio. Arius e os bispos que o apoiavam voltaram do exílio. Agora, Atanásio é que foi banido. Quando Constantino morreu (depois de ser batizado por um bispo arianista), seu filho restaurou a filosofia arianista e seus bispos e condenou o grupo de Atanásio.
Nos anos seguintes, a disputa política continuou, até que os arianistas abusaram de seu poder e foram derrubados. A controvérsia político/religiosa causou violência e morte generalizadas. Em 381 d.C, o imperador Teodósio (um trinitarista) convocou um concílio em Constantinopla. Apenas bispos trinitários foram convidados a participar. Cento e cinqüenta bispos compareceram e votaram uma alteração no Credo de Nicéia para incluir o Espírito Santo como parte da divindade. A doutrina da Trindade era agora oficial para a Igreja e também para o Estado. Com a exclusiva participação dos citados bispos, a Trindade foi imposta a todos como "mais uma verdade teológica da igreja". E os bispos, que não apoiaram essa tese, foram expulsos da Igreja e excomungados.
Por volta do século IX, o credo já estava estabelecido na Espanha, França e Alemanha. Tinha levado séculos desde o tempo de Cristo para que a doutrina da Trindade "pegasse". A política do governo e da Igreja foram as razões que levaram a Trindade a existir e se tornar a doutrina oficial da Igreja. Como se pode observar, a doutrina trinitária resultou da mistura de fraude, política, um imperador pagão e facções em guerra que causaram mortes e derramamento de sangue.
As Igrejas Cristãs hoje em dia dizem que Constantino foi o primeiro Imperador Cristão, mas seu "cristianismo" tinha motivação apenas política. É altamente duvidoso que ele realmente aceitasse a Doutrina Cristã. Ele mandou matar um de seus filhos, além de um sobrinho, seu cunhado e possivelmente uma de suas esposas. Ele manteve seu título de alto sacerdote de uma religião pagã até o fim da vida e só foi batizado em seu leito de morte.
OBS: Em 313 d.C., com o grande avanço da "Religião do Carpinteiro", o Imperador Constantino Magno enfrentava problemas com o povo romano e necessitava de uma nova Religião para controlar as massas. Aproveitando-se da grande difusão do Cristianismo, apoderou-se dessa Religião e modificou-a, conforme seus interesses. Alguns anos depois, em 325 D.C, no Concílio de Nicéia, é fundada, oficialmente, a Igreja Católica...
Há que se ressaltar que, "Igreja" na época de Jesus, não era a "Igreja" que entendemos hoje, pois se lermos os Evangelhos duma ponta à outra veremos que a palavra «Igreja», no sentido que hoje lhe damos, nem sequer neles é mencionada exceto por aproximação e apenas três vezes em dois versículos no Evangelho de Mateus (Mt 16, 18 e Mt 18, 17), pois a palavra grega original, usada por Mateus, ekklêsia, significa simplesmente «assembléia de convocados», neste caso a comunidade dos seguidores da doutrina de Jesus, ou a sua reunião num local, geralmente em casas particulares onde se liam as cartas e as mensagens dos apóstolos. Sabemo-lo pelo testemunho de outros textos do Novo Testamento, já que os Evangelhos a esse respeito são omissos. Veja-se, por exemplo, a epístola aos Romanos (16, 5) onde Paulo cita o agrupamento (ekklêsia) que se reunia na residência dum casal de tecelões, Áquila e Priscila, ou a epístola a Filémon (1, 2) onde o mesmo Paulo saúda a ekklêsia que se reunia em casa do dito Filémon; num dos casos, como lemos na epístola de Tiago (2, 2), essa congregação cristã é designada por «sinagoga». Nada disto tem a ver, portanto, com a imponente Igreja católica enquanto instituição formal estruturada e oficializada, sobretudo a partir do Concílio de Nícéia, presidido pelo Imperador Constantino, mais de 300 anos após a morte de Cristo.

Onde termina a IGREJA PRIMITIVA dos Atos dos Apóstolos e começa o Catolicismo Romano?

Quando Roma tornou-se o famoso império mundial, assimilou no seu sistema os deuses e as religiões dos vários países pagãos que dominava. Com certeza, a Babilônia era a fonte do paganismo desses países, o que nos leva a constatar que a religião primitiva da Roma pagã não era outra senão o culto babilônico. No decorrer dos anos, os Líderes da época começaram a atribuir a si mesmos, o poder de "senhores do povo" de Deus, no lugar da Mensagem deixada por Cristo. Na época da Igreja Primitiva, os verdadeiros Cristãos eram jogados aos leões. Bastava se recusar a seguir os falsos ensinamentos e o castigo vinha a galope. O paganismo babilônico imperava a custa de vidas humanas.
No ano 323 d.C, o Imperador Constantino professou conversão ao Cristianismo. As ordens imperiais foram espalhadas por todo o império: As perseguições deveriam cessar! Nesta época, a Igreja começou a receber grandes honrarias e poderes mundanos. Ao invés de ser separada do mundo, ela passou a ser parte ativa do sistema político que governava. Daí em diante, as misturas do paganismo com o Cristianismo foram crescendo, principalmente em Roma, dando origem ao Catolicismo Romano. O Concílio de Nicéia, na Ásia Menor, presidido por Constantino era composto pelos Bispos que eram nomeados pelo Imperador e por outros que eram nomeados por Líderes Religiosos das diversas comunidades. Tal Concílio consagrou oficialmente a designação "Católica" aplicada à Igreja organizada por Constantino: "Creio na igreja una, santa, católica e apostólica". Poderíamos até mesmo dizer que Constantino foi seu primeiro Papa. Como se vê claramente, a Igreja Católica não foi fundada por Pedro e está longe de ser a Igreja primitiva dos Apóstolos ...
Em resumo: Por influência dos imperadores Constantino e Teodósio, o Cristianismo tornou-se a religião oficial do Império Romano e entrou no desvio. Institucionalizou-se; surgiu o profissionalismo religioso; práticas exteriores do paganismo foram assimiladas; criaram-se ritos e rezas, ofícios e oficiantes. Toda uma estrutura teológica foi montada para atender às pretensões absolutistas da casta sacerdotal dominante, que se impunha aos fiéis com a draconiana afirmação: "Fora da Igreja não há salvação".
Além disso, Constantino queria um Império unido e forte, sem dissenções. Para manter o seu domínio sobre os homens e estabelecer a ditadura religiosa, as autoridades eclesiásticas romanas deviam manter a ignorância sobre as filosofias e Escrituras. A mesma Bíblia devia ser diferente. Devia exaltar Deus e os Patriarcas mas, também, um Deus forte, para se opor ao próprio Jeová dos Hebreus, ao Buda, aos poderosos deuses do Olimpio. Era necessário trazer a Divindade Arcaica Oriental, misturada às fábulas com as antigas histórias de Moisés, Elias, Isaías, etc, onde colocaram Jesus, não mais como Messias ou Cristo, mas, maliciosamente, colocaram Jesus parafraseado de divindade no lugar de Jezeu Cristna, a segunda pessoa da trindade arcaica do Hinduísmo.
Nesse quadro de ambições e privilégios, não havia lugar para uma doutrina que exalta a responsabilidade individual e ensina que o nosso futuro está condicionado ao empenho da renovação interior e não à simples adesão e submissão incondicional aos Dogmas de uma Igreja, os quais, para uma perfeita assimilação, era necessário admitir a quintessência da teologia: "Credo quia absurdum", ou seja, "Acredito mesmo que seja absurdo", criada por Tertuliano (155-220), apologista Cristão.
Disso tudo deveria nascer uma religião forte como servia ao império romano. Vieram ainda a ser criados os simbolismos da Sagrada Família e de todos os Santos, mas as verdades do real cânone do Novo Testamento e parte das Sagradas Escrituras deviam ser suprimidas ou ocultadas, inclusive as obras de Sócrates e outras Filosofias contrárias aos interesses da Igreja que nascia.
Esta lógica foi adotada pelas forças clericais mancomunadas com a política romana, que precisava desta religião, forte o bastante, para impor-se aos povos conquistados e reprimidos por Roma, para assegurar-se nas regiões invadidas, onde dominava as terras, mas não o espírito dos povos ocupados. Em troca, o Cristianismo ganhava a Universalidade, pois queria se tornar "A Religião Imperial Católica Apostólica Romana", a Toda Poderosa, que vinha a ser sustentada pela força, ao mesmo tempo que simulava a graça divina, recomendando o arrependimento e perdão, mas que na prática, derrotava seus inimigos a golpes de espada.
Então não era da tolerância pregada pelo Cristianismo que Constantino precisava, mas de uma religião autoritária, rígida, sem evasivas, de longo alcance, com raízes profundas no passado e uma promessa inflexível no futuro, estabelecida mediante poderes, leis e costumes terrenos.
Para isso, Constantino devia adaptar a Religião do Carpiteiro, dando-lhes origens divinas e assim impressionaria mais o povo o qual sabendo que Jesus era reconhecido como o próprio Deus na nova religião que nascia, haveria facilidade de impor a sua estrutura hierárquica, seu regime monárquico imperial, e assim os seus poderes ganhariam amplos limites, quase inatingíveis. 
Quando Constantino morreu, em 337, foi batizado e enterrado na consideração de que ele se tornara um décimo terceiro Apóstolo, e na iconografia eclesiástica veio a ser representado recebendo a coroa das mãos de Deus.

OS LIVROS RETIRADOS DAS SANTAS ESCRITURAS

Os quatro evangelhos canônicos, que se acredita terem sido inspirados pelo Espírito Santo, não eram aceitos como tais no início da Igreja. O bispo de Lyon, Irineu, explica os pitorescos critérios utilizados na escolha dos quatro evangelhos (reparem na fragilidade dos argumentos...): "O evangelho é a coluna da Igreja, a Igreja está espalhada por todo o mundo, o mundo tem quatro regiões, e convém, portanto, que haja também quatro evangelhos. O evangelho é o sopro do vento divino da vida para os homens, e pois, como há quatro ventos cardiais, daí a necessidade de quatro evangelhos. (...) O Verbo criador do Universo reina e brilha sobre os querubins, os querubins têm quatro formas, eis porque o Verbo nos obsequiou com quatro evangelhos”.
As versões sobre como se deu a separação entre os evangelhos canônicos e apócrifos, durante o Concílio de Nicéia no ano 325 D.C, são também singulares. Uma das versões diz que estando os bispos em oração, os evangelhos inspirados foram depositar-se no altar por si só!!! ... Uma outra versão informa que todos os evangelhos foram colocados por sobre o altar, e os apócrifos caíram no chão... Uma terceira versão afirma que o Espírito Santo entrou no recinto do Concílio em forma de pomba, através de uma vidraça (sem quebrá-la), e foi pousando no ombro direito de cada bispo, cochichando nos ouvidos deles os evangelhos inspirados...
A Bíblia como um todo, aliás, não apresentou sempre a forma como é hoje conhecida. Vários textos, chamados hoje de "apócrifos", figuravam anteriormente na Bíblia, em contraposição aos canônicos reconhecidos pela Igreja.

Segundo o Dicionário Aurélio, o termo Apócrifos significa:

"Entre os Católicos, Apócrifos eram os Escritos de assuntos sagrados que não foram incluídos pela Igreja no Cânon das Escrituras autênticas e divinamente inspiradas". (destaque nosso).
Obs - Note que o próprio Dicionário Aurélio registra a expressão: "divinamente inspiradas". Por que será?
Maria Helena de Oliveira Tricca, compiladora da obra Apócrifos, Os Proscritos da Bíblia, diz: "Muitos dos chamados textos apócrifos já fizeram parte da Bíblia, mas ao longo dos sucessivos concílios acabaram sendo eliminados. Houve os que depois viriam a ser beneficiado por uma reconsideração e tornariam a partilhar a Bíblia. Exemplos: O Livro da Sabedoria, atribuído a Salomão, o Eclesiástico ou Sirac, as Odes de Salomão, o Tobit ou Livro de Tobias, o Livro dos Macabeus e outros mais. A maioria ficou definitivamente fora, como o famoso Livro de Enoch, o Livro da Ascensão de Isaías e os Livros III e IV dos Macabeus."
Perguntamos: Quais foram os motivos para excluir esses Livros das Santas Escrituras definitivamente? Será que os "santos padres" daquela época se achavam superiores aos Apóstolos e mártires que vivenciaram de perto os acontecimentos relacionados a Cristo e ao judaísmo? De que poder esses mesmos "santos padres" se revestiam a ponto de afirmarem que alguns Textos Evangélicos não representavam os ensinamentos e a Palavra de Deus?
Visando maiores esclarecimentos, sugerimos, para aqueles que desejam aprofundar-se no assunto, uma leitura dos Livros que tratam com mais detalhe esse tema, os quais podem ser encontrados   no   Site   Submarino:
Existem mais de 60 evangelhos apócrifos, como os de Tomé, de Pedro, de Felipe, de Tiago, dos Hebreus, dos Nazarenos, dos Doze, dos Setenta, etc. Foi um bispo quem escolheu, no século IV, os 27 textos do atual Novo Testamento. Em relação ao Antigo Testamento, o problema só foi definitivamente resolvido no ano de 1546, durante o Concílio de Trento. Depois de muita controvérsia, acalorados debates e até luta física entre os participantes, o Concílio decretou que os livros 1 e 2 de Esdras e a Oração de Manassés sairiam da Bíblia. Em compensação, alguns textos apócrifos foram incorporados aos livros canônicos, como o livro de Judite (acrescido em Ester), os livros do Dragão e do Cântico dos Três Santos Filhos (acrescidos em Daniel) e o livro de Baruque (contendo a Epístola de Jeremias).
Os católicos não foram unânimes quanto a inspiração divina nesses livros. No Concílio de Trento houve luta corporal quando este assunto foi tratado. Lorraine Boetner (in Catolicismo Romano) cita o seguinte: "O papa Gregório, o grande, declarou que primeiro Macabeus, um livro apócrifo, não é canônico. O cardeal Ximenes, em sua Bíblia poliglota, exatamente antes do Concílio de Trento, exclui os apócrifos e sua obra foi aprovada pelo papa Leão X. Será que estes papas se enganaram? Se eles estavam certos, a decisão do Concílio de Trento estava errada. Se eles estavam errados, onde fica a infalibilidade do papa como mestre da doutrina?"
No inicio do cristianismo, os evangelhos eram em número de 315, sendo posteriormente reduzidos para 4, no Concílio de Nicéia. Tal número, indica perfeitamente as várias formas de interpretação local das crenças religiosas da orla mediterrânea, acerca da idéia messiânica lançada pelos sacerdotes judeus. Sem dúvida, este fato deve ter levado Irineu a escrever o seguinte: "Há apenas 4 Evangelhos, nem mais um, nem menos um, e que só pessoas de espírito leviano, os ignorantes e os insolentes é que andam falseando a verdade". Disse isso, mesmo diante dos acontecimentos acima relatados e que eram de conhecimento geral.
Havia então, os Evangelhos dos Naziazenos, dos Judeus, dos Egípcios, dos Ebionistas, o de Pedro, o de Barnabé, entre outros, 03 dos quais foram queimados, restando apenas os 4 “sorteados” e oficializados no Concílio de Nicéia.
Celso, erudito romano, contemporâneo de Irineu, entre os anos 170 e 180 D.C, disse: "Certos fiéis modificaram o primeiro texto dos Evangelhos, três, quatro e mais vezes, para poder assim subtraí-los às refutações".
Foi necessária uma cuidadosa triagem de todos eles, visando retirar as divergências mais acentuadas, sendo adotada a de Hesíquies, de Alexandria; e de Pânfilo, de Cesaréía e a de Luciano, de Antióquia. Mesmo assim, só na de Luciano existem 3.500 passagens redigidas diferentemente. Disso resulta que, mesmo para os Padres da Igreja, os Evangelhos não são fonte segura e original.
Os Evangelhos que trazem a palavra "segundo", que em grego é "cata", não vieram diretamente dos pretensos evangelistas.
A discutível origem dos Evangelhos, explica porque os documentos mais antigos não fazem referência à vida terrena de Jesus.
Não é razoável supor que uma "palavra divina" possa ser alterada assim tão fácil e impunemente por mãos humanas. Que fique na dependência de ser julgada boa ou má por juízes e dignitários eclesiásticos.
Só me foi possível escrever este livro através dos conceitos que pude assimilar da obra Na Luz da Verdade, a Mensagem do Graal de Abdruschin. (Segundo o Dic. Aurélio: Graal – Vaso Santo de esmeralda que segundo a tradição corrente nos romances de cavalaria, teria servido a Cristo na última Ceia, e no qual José de Arimateia haveria recolhido o Sangue que de Cristo jorrou quando o centurião lhe desferiu a lança).
       Como vá vimos no artigo "Qual a importância dos apócrifos?", existem alguns livros escritos antes ou pouco depois de Cristo que tinham como intenção figurar como Escritura Sagrada.
 Mas, pelo Magistério da Igreja e assistência do Espírito Santo, esses livros espúrios foram definitivamente afastados, restando apenas o cânon bíblico que guardamos até hoje. Por esse motivo, muitos desapareceram, outros sobreviveram em uma ou outra comunidade antiga, ou, ainda, em traduções, fragmentos ou citações.
       A seguir, apresentamos uma lista exaustiva de livros apócrifos do Antigo e do Novo  Testamento que, embora longa, provavelmente não esgota todos os livros escritos ou existentes, porém, bem demonstra a quantidade de livros escritos com a intenção de "completar" a Bíblia.
     Incluímos também, ao final, os manuscritos encontrados em Qumran, nas grutas do Mar Morto, que foram escritos ou preservados por uma comunidade que vivia nesse deserto separada dos grupos religiosos da Palestina do tempo de Jesus (Saduceus, Fariseus, Samaritanos, etc.). Esse grupo, denominado Essênio, como podemos ver, considerava o Antigo Testamento como Escritura Sagrada (inclusive os deuterocanônicos), mas tinha como característica própria seguir ainda outros "livros sagrados".

Portanto, temos como apócrifos as seguintes obras:

ANTIGO TESTAMENTO

1. Apocalipse de Adão
2. Apocalipse de Baruc
3. Apocalipse de Moisés
4. Apocalipse de Sidrac
5. As Três Estelas de Seth
6. Ascensão de Isaías
7. Assunção de Moisés
8. Caverna dos Tesouros
9. Epístola de Aristéas
10. Livro dos Jubileus
11. Martírio de Isaías
12. Oráculos Sibilinos
13. Prece de Manassés
14. Primeiro Livro de Adão e Eva
15. Primeiro Livro de Enoque
16. Primeiro Livro de Esdras
17. Quarto Livro dos Macabeus
18. Revelação de Esdras
19. Salmo 151
20. Salmos de Salomão (ou Odes de Salomão)
21. Segundo Livro de Adão e Eva
22. Segundo Livro de Enoque (ou Livro dos Segredos de Enoque)
23. Segundo Livro de Esdras (ou Quarto Livro de Esdras)
24. Segundo Tratado do Grande Seth
25. Terceiro Livro dos Macabeus
26. Testamento de Abraão
27. Testamento dos Doze Patriarcas
28. Vida de Adão e Eva

NOVO TESTAMENTO

1. A Hipostase dos Arcontes
2. (Ágrafos Extra-Evangelhos)
3. (Ágrafos de Origens Diversas)
4. Apocalipse da Virgem
5. Apocalipse de João o Teólogo
6. Apocalipse de Paulo
7. Apocalipse de Pedro
8. Apocalipse de Tomé
9. Atos de André
10. Atos de André e Mateus
11. Atos de Barnabé
12. Atos de Filipe
13. Atos de João
14. Atos de João o Teólogo
15. Atos de Paulo
16. Atos de Paulo e Tecla
17. Atos de Pedro
18. Atos de Pedro e André
19. Atos de Pedro e Paulo
20. Atos de Pedro e os Doze Apóstolos
21. Atos de Tadeu
22. Atos de Tomé
23. Consumação de Tomé
24. Correspondência entre Paulo e Sêneca
25. Declaração de José de Arimatéia
26. Descida de Cristo ao Inferno
27. Discurso de Domingo
28. Ditos de Jesus ao rei Abgaro
29. Ensinamentos de Silvano
30. Ensinamentos do Apóstolo Tadeu
31. Ensinamentos dos Apóstolos
32. Epístola aos Laodicenses
33. Epístola de Herodes a Pôncio Pilatos
34. Epístola de Jesus ao rei Abgaro (2 versões)
35. Epístola de Pedro a Filipe
36. Epístola de Pôncio Pilatos a Herodes
37. Epístola de Pôncio Pilatos ao Imperador
38. Epístola de Tibério a Pôncio Pilatos
39. Epístola do rei Abgaro a Jesus
40. Epístola dos Apóstolos
41. Eugnostos, o Bem-Aventurado
42. Evangelho Apócrifo de João
43. Evangelho Apócrifo de Tiago
44. Evangelho Árabe de Infância
45. Evangelho Armênio de Infância (fragmentos)
46. Evangelho da Verdade
47. Evangelho de Bartolomeu
48. Evangelho de Filipe
49. Evangelho de Marcião
50. Evangelho de Maria Madalena (ou Evangelho de Maria de Betânia)
51. Evangelho de Matias (ou Tradições de Matias)
52. Evangelho de Nicodemos (ou Atos de Pilatos)
53. Evangelho de Pedro
54. Evangelho de Tome o Dídimo
55. Evangelho do Pseudo-Mateus
56. Evangelho do Pseudo-Tomé
57. Evangelho dos Ebionitas (ou Evangelho dos Doze Apóstolos)
58. Evangelho dos Egípcios
59. Evangelho dos Hebreus
60. Evangelho Secreto de Marcos
61. Exegese sobre a Alma
62. Exposições Valentinianas
63. (Fragmentos Evangélicos Conservados em Papiros)
64. (Fragmentos Evangélicos de Textos Coptas)
65. História de José o Carpinteiro
66. Infância do Salvador
67. Julgamento de Pôncio Pilatos
68. Livro de João o Teólogo sobre a Assunção da Virgem Maria
69. Martírio de André
70. Martírio de Bartolomeu
71. Martírio de Mateus
72. Morte de Pôncio Pilatos
73. Natividade de Maria
74. O Pensamento de Norea
75. O Testemunho da Verdade
76. O Trovão, Mente Perfeita
77. Passagem da Bem-Aventurada Virgem Maria
78. "Pistris Sophia" (fragmentos)
79. Prece de Ação de Graças
80. Prece do Apóstolo Paulo
81. Primeiro Apocalipse de Tiago
82. Proto-Evangelho de Tiago
83. Retrato de Jesus
84. Retrato do Salvador
85. Revelação de Estevão
86. Revelação de Paulo
87. Revelação de Pedro
88. Sabedoria de Jesus Cristo
89. Segundo Apocalipse de Tiago
90. Sentença de Pôncio Pilatos contra Jesus
91. Sobre a Origem do Mundo
92. Testemunho sobre o Oitavo e o Nono
93. Tratado sobre a Ressurreição
94. Vingança do Salvador
95. Visão de Paulo

ESCRITOS DE QUMRAN

1. A Nova Jerusalém (5Q15)
2. A Sedutora (4Q184)
3. Antologia Messiânica (4Q175)
4. Bênção de Jacó (4QPBl)
5. Bênçãos (1QSb)
6. Cânticos do Sábio (4Q510-4Q511)
7. Cânticos para o Holocausto do Sábado (4Q400-4Q407/11Q5-11Q6)
8. Comentários sobre a Lei (4Q159/4Q513-4Q514)
9. Comentários sobre Habacuc (1QpHab)
10. Comentários sobre Isaías (4Q161-4Q164)
11. Comentários sobre Miquéias (1Q14)
12. Comentários sobre Naum (4Q169)
13. Comentários sobre Oséias (4Q166-4Q167)
14. Comentários sobre Salmos (4Q171/4Q173)
15. Consolações (4Q176)
16. Eras da Criação (4Q180)
17. Escritos do Pseudo-Daniel (4QpsDan/4Q246)
18. Exortação para Busca da Sabedoria (4Q185)
19. Gênese Apócrifo (1QapGen)
20. Hinos de Ação de Graças (1QH)
21. Horóscopos (4Q186/4QMessAr)
22. Lamentações (4Q179/4Q501)
23. Maldições de Satanás e seus Partidários (4Q286-4Q287/4Q280-4Q282)
24. Melquisedec, o Príncipe Celeste (11QMelq)
25. O Triunfo da Retidão (1Q27)
26. Oração Litúrgica (1Q34/1Q34bis)
27. Orações Diárias (4Q503)
28. Orações para as Festividades (4Q507-4Q509)
29. Os Iníquos e os Santos (4Q181)
30. Os Últimos Dias (4Q174)
31. Palavras das Luzes Celestes (4Q504)
32. Palavras de Moisés (1Q22)
33. Pergaminho de Cobre (3Q15)
34. Pergaminho do Templo (11QT)
35. Prece de Nabonidus (4QprNab)
36. Preceito da Guerra (1QM/4QM)
37. Preceito de Damasco (CD)
38. Preceito do Messianismo (1QSa)
39. Regra da Comunidade (1QS)
40. Rito de Purificação (4Q512)
41. Salmos Apócrifos (11QPsa)
42. Samuel Apócrifo (4Q160)
43. Testamento de Amran (4QAm)

OUTROS ESCRITOS
 1. História do Sábio Ahicar
2. Livro do Pseudo-Filon
  


Livro 3º - DECRETO GELASIANO
Sobre os livros recebidos e os não recebidos

(Decretum Gelasianum)

D.C. 371
Muito se discute sobre a autoria do presente documento: para alguns, seria documento original do papa Dâmaso [366-384], oriundo do Concílio Regional de Roma de 371, já que seu conteúdo se identifica perfeitamente com os dados existentes sobre seu temperamento, pensamento e relacionamento interno e externo; para outros, teria sido redigido pelo papa Gelásio [492-496], em razão da nota acrescentada no início do cap. III, existente em uma recensão mais breve; para outros, ainda, seria obra de algum clérigo, muito provavelmente do início do séc. VI, que teria se servido de outro documento de base, este sim, da lavra de Dâmaso, que conteria o fundamento para os 3 primeiros capítulos.

Seja como for, de particular importância para nós é o capítulo II, que traz a lista completa dos livros que integram o Antigo e Novo Testamento. Repare-se que os livros deuterocanônicos (chamados de "apócrifos" pelos protestantes e, por este motivo, excluídos de suas Bíblia) encontram-se integrados ao cânon sagrado, fazendo eco, talvez (caso considere-se este decreto posterior ao papa Dâmaso), às decisões tomadas pelos concílios regionais de Cartago e Hipona.


I. RELAÇÕES DA SANTÍSSIMA TRINDADE


Aqui começa o Conselho de Roma, no tempo do Papa Dámaso,(Damásio) sobre a explicação da fé.

Foi dito:

1. Primeiramente, deve-se discutir os sete dons do Espírito se encontram em Cristo:

* O espírito da sabedoria: "Cristo, o poder e a sabedoria de Deus".
* O espírito do entendimento: "Darei a vós o entendimento e vos mostrarei o caminho que devem seguir".
* O espírito do conselho: "E seu nome é chamado 'mensageiro do valioso conselho'".
* O espírito das virtudes: conforme acima, "o poder de Deus e a sabedoria de Deus".
* O espírito do conhecimento: "Em razão da eminência do conhecimento do apóstolo de Cristo Jesus".
* O espírito da verdade: "Eu sou o caminho, a vida e a verdade".
* O espírito do temor de Deus: "O temor a Deus é o princípio da sabedoria".

2. Entretanto, a revelação de Cristo é denominada de diversas maneiras:
 * Deus, que é espírito;
* O Verbo, que é Deus;
* O Filho, que é o unigênito do Pai;
* O homem, nascido da Virgem;
* O sacerdote, que ofereceu a si mesmo como sacrifício;
* O pastor, que é o guarda;
* [O alimento do] verme, que ressurgiu dos mortos;
* A montanha, que é forte;
* O caminho, que é reto;
* O refúgio, único que pode conduzir à vida;
* O cordeiro, que foi imolado;
* A pedra, que é angular;
* O mestre, que traz a vida;
* O sol, que dá a luz;
* A verdade, que provém do Pai;
* A vida, da qual é o Criador;
* O pão, cujo valor é inestimável;
* O samaritano, o qual é protetor e misericordioso;
* O Cristo, o Ungido [de Deus];
* Jesus, o Salvador;
* Deus, provindo de Deus;
* O mensageiro, que foi enviado;
* O noivo, que é o mediador;
* O vinho, cujo próprio sangue nos redimiu;
* O leão, que é rei;
* A rocha, que é o fundamento;
* A flor, que foi escolhida;
* O profeta, que revelou o futuro.

3. Quanto ao Espírito Santo, não provém só  do Pai nem só do Filho, mas do Pai e do Filho; por isso está escrito: O que se deleita no mundo, o Espírito do Pai não está nele; e novamente: Quanto a todo aquele que não tenha o Espírito de Cristo, não lhe pertence. Deste modo se entende que o Espírito Santo seja nomeado Como do Pai e do Filho, sendo que o próprio Filho disse no Evangelho que o Espírito Santo procede do pai e por mim Ele é aceite e anunciado.

II. CÂNON DA SAGRADA ESCRITURA

Também foi dito:

Agora verdadeiramente devemos discutir sobre as Divinas Escrituras, quais são aceitas pela Igreja Católica no universo e quais devem ser rejeitadas.

1. Esta é a ordem do Antigo Testamento: Gênese, 1 livro; Êxodo, 1 livro; Levítico, 1 livro; Números, 1 livro; Deuteronômio, 1 livro; Josué, 1 livro; Juízes, 1 livro; Rute, 1 livro; Reis, 4 livros; Crônicas, 2 livros; 150 Salmos, 1 livro; 3 livros de Salomão: Provérbios, 1 livro; Eclesiastes, 1 livro; Cântico dos Cânticos, 1 livro; Outros: Sabedoria, 1 livro; Eclesiástico, 1 livro.

2. Semelhantemente, esta é a ordem dos profetas: Isaías, 1 livro; Jeremias, 1 livro, contendo o Cinoth, isto é, suas lamentações; Ezequiel, 1 livro; Daniel, 1 livro; Oséias, 1 livro; Amós, 1 livro; Miquéias, 1 livro; Joel, 1 livro; Obadias, 1 livro; Jonas, 1 livro; Nahum, 1 livro; Habacuc, 1 livro; Sofonias, 1 livro; Ageu, 1 livro; Zacarias, 1 livro; Malaquias, 1 livro.

3. Semelhantemente, esta é a ordem dos [livros] históricos: Jó, 1 livro; Tobias, 1 livro; Esdras, 2 livros; Ester, 1 livro; Judite, 1 livro; Macabeus, 2 livros.

4. Semelhantemente, esta é a ordem das Escrituras do Novo Testamento, sustentadas e veneradas pela santa e católica Igreja romana: 4 livros dos Evangelhos: segundo Mateus, 1 livro; segundo Marcos, 1 livro; segundo Lucas, 1 livro; segundo João, 1 livro; também os Atos dos Apóstolos, 1 livro; as epístolas do apóstolo Paulo, em número de 14: aos Romanos, 1 epístola; aos Coríntios, 2 epístolas; aos Efésios, 1 epístola; aos Tessalonicenses, 2 epístolas; aos Gálatas, 1 epístola; aos Filipenses, 1 epístola; aos Colossenses, 1 epístola; a Timóteo, 2 epístolas; a Tito, 1 epístola; a Filemon, 1 epístola; aos Hebreus, 1 epístola; também o Apocalipse de João, 1 livro; também as epístolas canônicas, em número de 7: do apóstolo Pedro, 2 epístolas; do apóstolo Tiago, 1 epístola; do apóstolo João, 1 epístola; do outro João, o ancião, 2 epístolas; do apóstolos Judas, o zelota, 1 epístola. Aqui se encerra o cânon do Novo Testamento.

III. PRIMAZIA DA SANTA IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA

Também foi dito:

(Alguns manuscritos, de recensão mais breve, começam este ponto com o seguinte cabeçalho: "Aqui inicia o decreto 'sobre os livros que devem ou não devem ser recebidos', redigido pelo papa Gelásio e 70 dos mais eruditos bispos, reunidos em concílio apostólico na cidade de Roma")

1. Após termos discutido sobre os Escritos dos profetas e as Escrituras evangélicas e apostólicas acima, sobre os quais a Igreja Católica está fundada pela graça de Deus, também achamos necessário dizer, embora a Igreja Católica universalmente esteja difundida sobre todo o mundo, sendo a única noiva de Cristo, que à Santa Igreja romana é dado o primeiro lugar sobre as demais igrejas, não por decisão sinodal, mas sim pela voz do Senhor, nosso Salvador, pois no Evangelho obteve a primazia: "Tu és Pedro" - Ele disse - "e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja e as portas do Inferno não prevalecerão contra ela; e te darei as chaves do Reino dos Céus e tudo o que ligardes sobre a Terra será também ligado no Céu, e tudo o que desligardes sobre a Terra será também desligado no Céu".

2. Somou-se também a presença do bem-aventurado Apóstolo Paulo, o vaso escolhido, que não em oposição como dizem os hereges teimosos, mas ao mesmo tempo e no mesmo dia, foi coroado com uma morte gloriosa junto com Pedro na cidade de Roma, padecendo junto com Pedro na cidade de Roma sob César Nerón; e juntos consagraram para Cristo o Senhor à mencionada Santa Igreja de Roma e deram-lhe preferência com a sua presença e triunfos dignos de veneração ante todas as outras cidades no mundo inteiro.
3. Portanto, primeira é a cátedra da Igreja romana, do apóstolo Pedro, por não haver qualquer mancha, ruga ou qualquer outro [defeito]. Porém, o segundo lugar foi concedido, em nome do bem-aventurado Pedro, a Marcos, seu discípulo e autor do Evangelho, para Alexandria. Ele mesmo escreveu a Palavra da Verdade, no Egito, conforme [ouvira do] apóstolo Pedro; lá foi gloriosamente consumada [sua vida] no martírio. O terceiro lugar é guardado por Antioquia, do bem-aventurado e venerável apóstolo Pedro, que ali viveu antes de vir à Roma e onde pela primeira vez foi ouvido o nome da nova raça: "cristãos".

IV - ESCRITOS QUE PODEM SER RECEBIDOS
  
 E embora nenhum outro fundamento possa estabelecer-se, senão aquele que foi estabelecido, Cristo Jesus, porém, para edificação, depois dos livros do, Velho e do Novo Testamento previamente enumerados de acordo com o cânone, a Santa Igreja Romana não proíbe receber os escritos seguintes:
1. o Concílio de Nicea, constituído por 318 bispos e presidido pelo imperador Constantino o Grande, no qual foi condenado o herege Arrio; o Santo Concílio de Constantinopla, presidido pelo imperador Teodósio o Velho, em que o herege Macedónio se livrou da sua merecida condenação; o Santo Concílio de Êfeso, no qual Nestório foi condenado com o consentimento do bem-aventurado Papa Celestino, presidido por Cirilo de Alexandria no assento do magistrado, e por Arcádio, o bispo enviado de Itália.
O Santo Concílio de Calcedónia, presidido pelo imperador Marciano, e por Anatólio, o bispo de Constantinopla, no qual as hereges Nestoriana e Eutiquiana, juntamente, com Dióscoro e o seus simpatizantes, foram condenados.
2. Mas como também há concílios apoiados até agora pelos Santos Padres, de menor autoridade que estes quatro, nós decretamos que estes devem ser mantidos e recebidos. Em continuação juntamos as obras dos Santos Padres que são recebidos na Igreja Católica:
igualmente, as obras do bem-aventurado bispo Cecílio Cipriano, mártir e bispo de Cartago;
igualmente, as obras do bem-aventurado bispo Gregório Nazianceno;
igualmente, as obras do bem-aventurado Basílio, bispo de Capadocia,;
igualmente, as obras do bem-aventurado João, bispo da Constantinopla,;
igualmente, as obras do bem-aventurado Teófilo, bispo de Alexandria,;
igualmente, as obras do bem-aventurado Círilo, bispo de Alexandria,;
igualmente, as obras do bem-aventurado bispo Hilário Pictaviense;
igualmente, as obras do bem-aventurado Ambrósio, bispo de Milão;
igualmente, as obras do bem-aventurado Augusto, bispo de Hipona;
igualmente, as obras do bem-aventurado sacerdote Jerónimo;
igualmente, as obras do bem-aventurado Próspero, um homem extremamente religioso;
3. igualmente, a epístola do bem-aventurado Papa León (Leão) destinada a Flaviano, bispo de Constantinopla; mas se alguma parte de seu texto for contestada, não sendo aquela que foi recebida por todos desde a antiguidade, seja anátema; igualmente, as obras e todos os tratados dos padres ortodoxos que não se desviaram em nada do [ensino] comum da Santa Igreja Romana, e que nunca se separaram da fé e adoração, mantendo-se em comunhão pela graça de Deus até ao último dia das suas vidas,decretamos que sejam lidos; igualmente, os decretos e epístolas oficiais que os bem-aventurados papas enviaram de Roma, por consideração a vários padres e em diversas épocas, devem ser mantidas com reverência;
4. igualmente, as atas dos Santos Mártires, que receberam a glória pelas suas múltiplas torturas e as suas maravilhosas vitórias de persistência. Que católico duvida que a maioria deles tiveram de suportar agonias com todas as suas forças, e resistiram pela graça de Deus e a ajuda dos restantes? Mas, de acordo com um costume antigo, por precaução não se lêem na  Santa Igreja Romana, porque los nomes de quem as escreveu não são conhecidos com propriedade e não é possível separá-los dos não crentes e idiotas; ou porque o que declaram é de ordem inferior aos eventos ocorridos; por exemplo, as atas de Quirício y Julita, assim como as de Jorge, e os sofrimentos de outros como estes, que parecem ter sido compostas por hereges. Por esta razão, tal como se disse, para no dar pretexto à burla casual, não são lidas na Santa Igreja Romana. No entanto, veneramos em conjunto com a mencionada Igreja a todos os mártires e seus gloriosos sofrimentos, que são mais conhecidos por Deus que pelos homens, com toda a devoção; igualmente, as vidas dos padres Paulo, António e Hilário, assim como todos os eremitas, que são descritas pelo bem-aventurado homem Jerônimo, recebêmo-las com honra; igualmente, as atas do bem-aventurado Silvestre, bispo da cadeira apostólica, que são permitidas ainda que se desconheça o seu autor, já que sabemos que são lidas por muitos católicos inclusive da cidade de Roma, e também pelo uso antigo das gerações, que é imitado pela igreja; igualmente, os escritos sobre a descoberta da cruz, e outras novelas sobre a descoberta da cabeça de João Baptista, que são romances e alguns deles são lidos por católicos; mas quando estes cheguem ás mãos de católicos, deve considerar-se primeiro o que disse o Apóstolo Paulo: Examinai todas as coisas, retendo o que seja bom; igualmente, Rufino, um homem sumamente religioso, que escreveu vários livros sobre as obras eclesiásticas e algumas interpretações das escrituras; contudo, desde que o venerável Jerônimo demonstrou que fez uso de certas liberdades arbitrárias nalguns desses livros, consideramos como aceitáveis aqueles que o bem-aventurado Jerônimo, anteriormente citado, considerava como aceitáveis; e não só os de Rufino, mas também aqueles de qualquer um que seja recordado pelo seu zelo por Deus e criticado pela fé na religião; igualmente, algumas obras de Orígenes, que o bem-aventurado homem Jerônimo não recusou, recebêmo-las para serem lidas, mas dizemos que o restante de sua autoria deve recusar-se; igualmente, a Crônica de Eusébio de Cesaria e os livros da sua História Eclesiástica, já que ainda que haja muitas coisas duvidosas no primeiro livro de sua narração e logo tenha escrito um livro elogiando e desculpando o cismático Orígenes, no entanto, considerando que na sua narração há coisas destacáveis e úteis para a instrução, no diremos a ninguém que devam recusar-se; igualmente, elogiamos Osório, um homem sumamente erudito, que nos escreveu una história muito necessária contra as calúnias dos pagãos e de uma brevidade maravilhosa; igualmente, a obra pascal do venerável homem Sedúlio, que foi escrita com versos heróicos e merece um elogio significativo; igualmente, a incrível e laboriosa obra de Juvêncio, que não desdenhamos, mas que nos assombramos com ela.

LISTA DE APÓCRIFOS
  
V. Os restantes escritos que foram compilados ou reconhecidos pelos hereges ou cismáticos, a Igreja Católica Apostólica Romana não recebe de nenhuma maneira; destes consideramos correto citar alguns que passaram de geração em geração e que são recusados pelos católicos:

Igualmente, lista de livros apócrifos:

1. Lista de livros apócrifos: primeiro, o sínodo de Sirmium, convocado por Constâncio César, filho de Constantino, e moderado pelo prefeito Tauro, que foi, é e sempre será condenado. A viagem em nome do apóstolo Pedro, que é chamado de nono livro de São Clemente: apócrifo. Os atos em nome do apóstolo André: apócrifo. Os atos em nome do apóstolo Tomé: apócrifo. Os atos em nome do apóstolo Pedro: apócrifo. Os atos em nome do apóstolo Filipe: apócrifo. O evangelho em nome de Matias: apócrifo. O evangelho em nome de Barnabé: apócrifo. O evangelho em nome de Tiago Menor: apócrifo. O evangelho em nome do apóstolo Pedro: apócrifo. O evangelho em nome de Tomé, usado pelos maniqueus: apócrifo. Os evangelhos em nome de Bartolomeu: apócrifos. Os evangelhos em nome de André: apócrifos. Os evangelhos falsificados por Luciano: apócrifos. Os evangelhos falsificados por Hesíquio: apócrifos. O livro sobre a infância do Salvador: apócrifo. O livro da natividade do Salvador e de Maria ou "A Parteira": apócrifo. O livro que é chamado de "O Pastor": apócrifo. Todos os livros da pena de Leúcio, discípulo do diabo: apócrifos. O livro chamado de "A Fundação": apócrifo. O livro chamado de "O Tesouro": apócrifo. O livro das filhas de Adão Leptogeneseos: apócrifo. O centão de Cristo incluído com versos de Virgílio: apócrifo. O livro que é chamado "Atos de Tecla e Paulo": apócrifo. O livro que é chamado de "Nepos": apócrifo. Os livros de Provérbios escritos por hereges e assinalados anteriormente com o nome de Santo Sisto: apócrifo. A Revelação dita de Paulo: apócrifo. A Revelação dita de Tomé: apócrifo. A Revelação dita de Estevão: apócrifo. O livro chamado de "Assunção de Santa Maria": apócrifo. O livro chamado de "A Penitência de Adão": apócrifo. O livro sobre Gog, o gigante que após o dilúvio lutou com o dragão, segundo os hereges: apócrifo. O livro chamado "Testamento de Jó": apócrifo. O livro chamado "A Penitência de Orígenes": apócrifo. O livro chamado "A Penitência de São Cipriano": apócrifo. O livro chamado "A Penitência de Jamne e Mambre": apócrifo. O livro chamado "A Fortuna dos Apóstolos": apócrifo. O livro chamado "Lusa dos Apóstolos": apócrifo. O livro chamado "Cânon dos Apóstolos": apócrifo. "O Fisiólogo", escrito por hereges e assinalado com o nome do bem-aventurado Ambrósio: apócrifo. A "História" de Eusébio Pampilo: apócrifo. As obras de Tertuliano: apócrifas. As obras de Lactâncio, também conhecido como Firmiano: apócrifas. As obras de Africano: apócrifas. O opúsculo "Potumiano e Gallo": apócrifo. As obras de Montano, Priscila e Maximila: apócrifas. As obras de Fausto, o maniqueu: apócrifas. As obras de Comodiano: apócrifas. As obras do outro Clemente de Alexandria: apócrifas. As obras de Táscio Cipriano: apócrifas. As obras de Arnóbio: apócrifas. As obras de Ticônio: apócrifas. As obras de Cassiano, sacerdote gaulês: apócrifas. As obras de Vitorino Petavionense: apócrifas. As obras de Fausto Regiense Galliaro: apócrifas. As obras de Frumêncio Cego: apócrifas. A carta de Jesus a Abgaro: apócrifa. A carta de Abgaro a Jesus: apócrifa. A Paixão dos Ciricianos e Julitanos: apócrifa. A Paixão dos Georgianos: apócrifa. Os escritos chamados de "Interdição de Salomão": apócrifos. Todos os filatérios que não provêm dos anjos, como pretendem alguns, mas foram escritos em nome dos piores demônios: apócrifos.

2. Estas e outras obras similares, tais como as de Simão Mago, Nicolau, Cerinto, Marcião, Basílides, Ebion, Paulo de Samósata, Fotino e Bonóso, que sofrem de erros similares, bem como Montano e suas obscenas seguidoras, Apolinário, Valentino Maniqueu, Fausto Africano, Sabélio, Ário, Macedônio, Eunômio, Novato, Sabácio, Calisto, Donato, Eustácio, Joviano, Pelágio, Juliano de Eclanum, Celéstio, Maximiano, Prisciliano da Espanha, Nestório de Constantinopla, Máximo Cínico, Lampécio, Dióscoro, Êutiques, Pedro e o outro Pedro - um desgraçou a Alexandria e o outro, a Antioquia - Acácio de Constantinopla e seus partidários, e ainda todos os discípulos da heresia, dos hereges e dos cismáticos, cujos nomes quase não foram preservados, que ensinaram ou compilaram [o erro], confirmamos que não devem meramente ser rejeitados mas também eliminados de toda a Igreja Católica e Apostólica romana, sendo que os autores e seguidores desses autores devem ser amaldiçoados com a corrente inquebrável do anátema eterno. Fim

Livro 4º - EPÍSTOLA A DIOGNETO
Um pagão culto, desejoso de conhecer melhor a nova religião que se espalhava pelas províncias do
império romano, impressionado pela maneira como os cristãos desprezavam o mundo, a morte e os
deuses pagãos, pelo amor com que se amavam, queria saber: que Deus era aquele em quem
confiavam e que gênero de culto lhe prestavam; de onde vinha aquela raça nova e por que razões
aparecera na história tão tarde.
Foi para responder a estas e outras questões de igual importância que nasceu esta jóia da literatura
cristã primitiva, o escrito que conhecemos como Epístola a Diogneto.
O texto se revela, simultaneamente, como crítica do paganismo e do judaísmo e defesa da
superioridade do cristianismo.
Sobre este documento, infelizmente, não se sabe muita coisa. Elementos importantes que ajudam a
determinar e caracterizar uma obra, tais como autor, data e local de composição, bem como o
destinatário, ficam na sombra. De qualquer maneira trata-se de um documento de primeira grandeza
sobre a vida cristã primitiva que merece ser colocado entre as obras mais brilhantes da literatura cristã.
De acordo com os últimos estudos o destinatário mais provável seria o imperador Adriano, que
exercia a função de arconte em Atenas desde 112 d.C.
Exódio
Excelentíssimo Diogneto,
1. Vejo que te interessas em aprender a religião dos cristãos e que, muito sábia e cuidadosamente te
informaste sobre eles: Qual é esse Deus no qual confiam e como o veneram, para que todos eles
desdenhem o mundo, desprezem a morte, e não considerem os deuses que os gregos reconhecem, nem
observem a crença dos judeus; que tipo de amor é esse que eles têm uns para com os outros; e,
finalmente, por que esta nova estirpe ou gênero de vida apareceu agora e não antes. Aprovo este teu
desejo e peço a Deus, o qual preside tanto o nosso falar como o nosso ouvir, que me conceda dizer de
tal modo que, ao escutar, te tornes melhor; e assim, ao escutares, não se arrependa aquele que falou.
Refutação da idolatria
2. Comecemos. Purificado de todos os preconceitos que se amontoam em sua mente; despojado do teu
hábito enganador, e tornado, pela raiz, homem novo; e estando para escutar, como confessas, uma
doutrina nova, vê não somente com os olhos, mas também com a inteligência, que substância e que
forma possuem os que dizeis que são deuses e assim os considerais; não é verdade que um é pedra,
como a que pisamos; outro é bronze, não melhor que aquele que serve para fazer os utensílios que
usamos; outro é madeira que já está podre; outro ainda é prata, que necessita de alguém que o guarde,
para que não seja roubado; outro é ferro, consumido pela ferrugem; outro de barro, não menos
escolhido que aquele usado para os serviços mais vis? Tudo isso não é de material corruptível? Não
são lavrados com o ferro e o fogo? Não foi o ferreiro que modelou um, o ourives outro e o oleiro
outro? Não é verdade que antes de serem moldados pelos artesãos na forma que agora têm, cada um
deles poderia ser, como agora transformado em outro? E se os mesmos artesãos trabalhassem os
mesmos utensílios do mesmo material que agora vemos, não poderiam transformar-se em deuses
como esses? E, ao contrário, esses que adorais, não poderiam transformar-se, por mãos de homens, em
utensílios semelhantes aos demais? Essas coisas todas não são surdas, cegas, inanimadas, insensíveis,
imóveis? Não apodrecem todas elas? Não são destrutíveis? A essas coisas chamais de deuses, as
servis, as adorais, e terminais sendo semelhante a elas. Depois, odiais os cristãos, porque estes não os
consideram deuses. Contudo, vós que os julgais e imaginais deuses, não os desprezais mais do que
eles? Por acaso não zombais deles e os cobris ainda mais de injúrias, vós que venerais deuses de pedra
e de barro, sem ninguém que os guarde, enquanto fechais à chave, durante a noite, aqueles feitos de
prata e de ouro, e de dia colocais guardas para que não sejam roubados? Com as honras que acreditais
tributar-lhes, se é que eles têm sensibilidade, na verdade os castigais com elas; por outro lado, se são
insensíveis, vós os envergonhais com sacrifícios de sangue e gordura. Caso contrário, que alguém de
vós prove essas coisas e permita que elas lhe sejam feitas. Mas o homem, espontaneamente, não
suportaria tal suplício, porque tem sensibilidade e inteligência; a pedra, porém, suporta tudo, porque é
insensível. Concluindo, eu poderia dizer-te outras coisas sobre o motivo que os cristãos têm para não
se submeterem a esses deuses. Se o que eu disse parece insuficiente para alguém, creio que seja inútil
dizer mais alguma coisa.
Refutação do culto judaico
3. Por outro lado, creio que desejais particularmente saber por que eles não adoram Deus à maneira
dos judeus. Os judeus têm razão quando rejeitam a idolatria, de que falamos antes, e prestam culto a
um só Deus, considerando-o Senhor do universo.Contudo, erram quando lhe prestam um culto
semelhante ao dos pagãos. Assim como os gregos demonstram idiotice, sacrificando a coisas
insensíveis e surdas, eles também, pensando em oferecer coisas a Deus, como se ele tivesse
necessidade delas, realizam algo que é parecido a loucura, e não um ato de culto. “Quem fez o céu e a
terra, e tudo o que neles existe”, e que provê todo aquilo de que necessitamos, não tem necessidade
nenhuma desses bens.Ele próprio fornece as coisas àqueles que acreditam oferece-las a ele. Aqueles
que crêem oferecer-lhe sacrifícios com sangue, gordura e holocaustos, e que o enaltecem com esses
atos, não me parecem diferentes daqueles que tributam reverência a ídolos surdos, que não podem
participar do culto. Os outros imaginam estar dando algo a quem de nada precisa.
O ritualismo judaico
4. Não creio que tenhas necessidade de que eu te informe sobre o escrúpulo deles a respeito de certos
alimentos, a sua superstição sobre os sábados, seu orgulho da circuncisão, seu fingimento com jejuns e
novilúnios, coisas todas ridículas, que não merecem nenhuma consideração. Não será injusto aceitar
algumas das coisas criadas por Deus para uso dos homens como bem criadas e rejeitar outras como
inúteis e supérfluas? Não é sacrílego caluniar a Deus, imaginando que nos proíbe fazer algum bem em
dia de sábado? Não é digno de zombaria orgulhar-se da mutilação do corpo como sinal de eleição,
acreditando, com isso ser particularmente amados por Deus? E o fato de estar em perpétua vigilância
diante dos astros e da lua, para calcular os meses e os dias, e distribuir as disposições de Deus, e
dividir as mudanças das estações conforme seus próprios impulsos, umas para festa e outras para luto?
Quem consideraria isto prova de insensatez e não de religião? Penso que agora tenhas entendido
suficientemente por que os cristãos estão certos em se abster da vaidade e do engano, assim como das
complicadas observâncias e das vanglórias dos judeus. Não creias poder aprender do homem o
mistério de sua própria religião.
Os mistérios cristãos
5. Os cristãos, de fato, não se distinguem dos outros homens, nem por sua terra, nem por sua língua ou
costumes. Com efeito, não moram em cidades próprias, nem falam língua estranha, nem têm algum
modo especial de viver. Sua doutrina não foi inventada por eles, graças ao talento e a especulação de
homens curiosos, nem professam, como outros, algum ensinamento humano. Pelo contrário, vivendo
em casa gregas e bárbaras, conforme a sorte de cada um, e adaptando-se aos costumes do lugar quanto
à roupa, ao alimento e ao resto, testemunham um modo de vida admirável e, sem dúvida, paradoxal.
Vivem na sua pátria, mas como forasteiros; participam de tudo como cristãos e suportam tudo como
estrangeiros.Toda pátria estrangeira é pátria deles, a cada pátria é estrangeira. Casam-se como todos e
geram filhos, mas não abandonam os recém-nascidos. Põe a mesa em comum, mas não o leito; estão
na carne, mas não vivem segundo a carne; moram na terra, mas têm sua cidadania no céu; obedecem
as leis estabelecidas, as com sua vida ultrapassam as leis; amam a todos e são perseguidos por todos;
são desconhecidos e, apesar disso, condenados; são mortos e, deste modo, lhes é dada a vida; são
pobres e enriquecem a muitos; carecem de tudo e tem abundância de tudo; são desprezados e, no
desprezo, tornam-se glorificados; são amaldiçoados e, depois, proclamados justos; são injuriados, e
bendizem; são maltratados, e honram; fazem o bem, e são punidos como malfeitores; são condenados,
e se alegram como se recebessem a vida. Pelos judeus são combatidos como estrangeiros, pelos
gregos são perseguidos, a aqueles que os odeiam não saberiam dizer o motivo do ódio.
A alma do mundo
6. Em poucas palavras, assim como a alma está no corpo, assim estão os cristãos no mundo. A alma
está espalhada por todas as partes do corpo, e os cristãos estão em todas as partes do mundo. A alma
habita no corpo, mas não procede do corpo; os cristãos habitam no mundo, mas não são do mundo.A
alma invisível está contida num corpo visível; os cristãos são vistos no mundo, mas sua religião é
invisível. A carne odeia e combate a alma, embora não tenha recebido nenhuma ofensa dela, porque
esta a impede de gozar dos prazeres; embora não tenha recebido injustiça dos cristãos, o mundo os
odeia, porque estes se opõem aos prazeres. A alma ama a carne e os membros que a odeiam; também
os cristãos amam aqueles que os odeiam. A alma está contida no corpo, mas é ela que sustenta o
corpo; também os cristãos estão no mundo como numa prisão, mas são eles que sustentam o mundo.A
alma imortal habita em uma tenda mortal; também os cristãos habitam como estrangeiros em moradas
que se corrompem, esperando a incorruptibilidade nos céus. Maltratada em comidas e bebidas, a alma
torna-se melhor; também os cristãos, maltratados, a cada dia mais se multiplicam. Tal é o posto que
Deus lhes determinou, e não lhes é lícito dele desertar.
Origem divina do cristianismo
7. De fato, como já disse, não é uma invenção humana que lhes foi transmitida, nem julgam digno
observar com tanto cuidado um pensamento mortal, nem se lhes confiou a administração de mistérios
humanos. Ao contrario, aquele que é verdadeiramente senhor e criador de tudo, o Deus invisível, ele
próprio fez descer do céu, para o meio dos homens, a verdade, a palavra santa e incompreensível, e a
colocou em seus corações. Fez isso, não m,andando para os homens, como alguém poderia imaginar,
algum dos seus servos, ou um anjo, ou algum príncipe daqueles que governam as coisas terrestres, ou
algum dos que são encarregados das administrações dos céus, mas o próprio artífice e criador do
universo; aquele por meio do qual ele criou os céus e através do qual encerrou o mar em seus limites;
aquele cujo mistério todos os elementos guardam fielmente; aquele de cuja mão o sol recebeu as
medidas que deve observar em seu curso cotidiano; aquele a quem a lua obedece, quando lhe manda
luzir durante a noite; aquele a quem obedecem as estrelas que formam o séqüito da lua em seu
percurso; aquele que, finalmente, por meio do qual todo foi ordenado, delimitado e disposto: os céus e
as coisas que existem nos céus, a terra e as coisas que existem na terra, o mar e as coisas que existem
no mar, o fogo, o ar, o abismo, aquilo que está no alto, o que está no profundo e o que está no meio.
Foi esse que Deus enviou. Talvez, como alguém poderia pensar, será que o enviou para que existisse
uma tirania ou para infundir-nos medo e prostração? De modo algum. Ao contrário, enviou-o com
clemência e mansidão, como um rei que envia seu filho. Deus o enviou, e o enviou como homem para
os homens; enviou-o para nos salvar, para persuadir, e não para violentar, pois em Deus não há
violência. Enviou-o para chamar, e não para castigar; enviou-o, finalmente, para amar, e não para
julgar. Ele o enviará para julgar, e quem poderá suportar sua presença? Não vês como os cristãos são
jogados às feras, para que reneguem o Senhor, e não se deixam vencer? Não vês como quanto mais
são castigados com a morte, tanto mais outros se multiplicam? Isso não parece obra humana. Isso
pertence ao poder de Deus e prova a sua presença.
A Encarnação
8. Quem de todos os homens sabia o que é Deus, antes que ele próprio viesse? Quererás aceitar os
discursos vazios e estúpidos dos filósofos, que por certo são dignos de toda fé? Alguns afirmam que
Deus é o fogo - para onde irão estes, chamando-o de deus? - Outros diziam que é água. Outros ainda
que é dos elementos criados por Deus. Não há dúvida de que se alguma dessas afirmações é aceitável,
poderíamos também afirmar que cada uma de todas as criaturas igualmente manifesta Deus. Mas
todas essas coisas são charlatanices e invenções de charlatães. Nenhum homem viu, nem conheceu a
Deus, mas ele próprio se revelou a nós. Revelou-se mediante a fé, unicamente pala qual é concedido
ver a Deus. Deus, Senhor e criador do universo, que fez todas as coisas e as estabeleceu em ordem,
não só se mostrou amigo dos homens, mas também paciente. Ele sempre foi assim, continua sendo, e
o será: clemente, bom, manso e verdadeiro. Somente ele é bom. Tendo concebido grande e inefável
projeto, ele o comunicou somente ao Filho. Enquanto o mantinha no mistério e guardava sua sábia
vontade, parecia que não cuidava de nós, não pensava em nós. Todavia, quando, por meio de seu
Filho amado, revelou e manifesto o que tinha estabelecido desde o princípio, concedeu-nos junto todas
as coisas: não só participar de seu benefícios, mas ver e compreender coisas que nenhum de nós teria
jamais esperado.
A economia divina
9. Quando Deus dispôs todo em si mesmo juntamente com seu Filho, no tempo passado, ele permitiu
que nós, conforme a nossa vontade, nos deixássemos arrastar por nossos impulsos desordenados,
levados por prazeres e concupiscências. Ele não se comprazia com os nossos pecados, mas também os
suportava. Também não aprovava aquele tempo de injustiça, mas preparava o tempo atual de justiça,
para que nos convencêssemos de que naquele tempo, por causa de nossas obras, éramos indignos da
vida, e agora, só pela bondade de Deus, somos dignos dela. Também para que ficasse claro que por
nossas forças era impossível entrar no Reino de Deus, e que somente pelo seu poder nos tornamos
capazes disso. Quando a nossa injustiça chegou ao máximo e ficou claro que a única retribuição que
poderiam esperar era castigo e morte, chegou o tempo que Deus estabelecera para manifestar a sua
bondade e o seu poder. Oh imensa bondade e amor de Deus! Ele não nos odiou, não nos rejeitou, nem
guardou ressentimento contra nós. Pelo contrário, mostrou-se paciente e nos suportou. Com,
misericórdia tomou para si os nossos pecados e enviou o seu Filho para nos resgatar: o santo pelos
ímpios, o inocente pelos maus, o justo pelos injustos, o incorruptível pelos corruptíveis, o imortal
pelos mortais. De fato, que outra coisa poderia cobrir nossos pecados, senão a sua justiça? Por meio de
quem poderíamos ter sido justificados nós, injustos e ímpios, a não ser unicamente pelo Filho de
Deus? Oh doce troca, oh obra insondável, oh inesperados benefícios! A injustiça de muito é reparada
por um só justo, e a justiça de um só torna justos muitos outros. Ele antes nos convenceu da
impotência da nossa natureza para ter a vida; agora mostra-nos o salvador capaz de salvar até mesmo
o impossível Com essas duas coisas, ele quis que confiássemos na sua bondade e considerássemos
nosso sustentador, pai, mestre, conselheiro, médico, inteligência, luz, homem, glória, força, vida, sem
preocupações com a roupa e o alimento.
A essência da nova religião
10. Se também desejas alcançar esta fé, primeiro deves obter o conhecimento do Pai. Deus, com
efeito, amou os homens. Para eles criou o mundo e a eles submeteu todas as coisas que estão sobre a
terra. Deu-lhes a palavra e a razão, e só a eles permitiu contemplá-lo. Formou-os à sua imagem,
enviou-lhes o seu Filho unigênito, anunciou-lhes o reino do céu, e o dará àqueles que o tiverem
amado. Depois de conhece-lo, tens idéia da alegria com que será preenchido? Como não amarás
aquele que tanto te amou? Amando-o, tu te tornarás imitador da sua bondade. Não te maravilhes de
que um homem possa se tornar imitador de Deus. Se Deus quiser, o homem poderá. A felicidade não
está em oprimir o próximo, ou em querer estar pro cima dos mais fracos, ou enriquecer-se e praticar
violência contra os inferiores. Deste modo, ninguém pode imitar a Deus, pois tudo isto está longe de
sua grandeza. Todavia, quem toma para si o peso do próximo, e naquilo que é superior procura
beneficiar o inferior; aquele que dá aos necessitados o que recebeu de Deus, é como Deus para os que
receberam de sua mão, é imitador de Deus. Então, ainda estando na terra, contemplarás porque Deus
reina nos céus. Aí começarás a falar dos mistérios de Deus, amarás e admirarás os que são castigados
por não querer negar a Deus. Condenarás o erro e o engano do mundo, quando realmente conheceres a
vida no céu, quando desprezares esta vida que aqui parece morte, e temeres a morte verdadeira,
reservada àqueles que estão condenados ao fogo eterno, que atormentarás até o fim aqueles que lhe
forem entregues. Se conheceres este fogo, ficarás admirado, e chamarás de felizes aqueles que, com
justiça, suportaram o fogo passageiro.
O discípulo do Verbo
11. Não falo de coisas estranhas, nem busco coisas absurdas. Discípulo dos apóstolos, torno-me agora
mestre das nações e transmito o que me foi entregue para aqueles que se tornaram discípulos dignos
da verdade. De fato quem foi retamente instruído e gerado pelo Verbo amável, não procura aprender
com clareza o que o mesmo Verbo claramente mostrou aos seus discípulos? O Verbo apareceu para
eles, manifestando-se e falando livremente. Os incrédulos não o compreenderam, mas ele guiou os
discípulos que julgou fiéis, e estes conheceram os mistérios do Pai. Deu enviou o Verbo como graça,
para que se manifestasse ao mundo. Desprezado pelo povo, foi anunciado pelos apóstolos a acreditado
pelos pagãos. Desde o princípio e apareceu como novo e era antigo, a agora sempre se torna novo nos
corações dos fiéis. Ele é desde sempre, e hoje é reconhecido como Filho. Por meio dele, a Igreja se
enriquece e a graça se multiplica, difundindo-se nos fiéis. Essa graça inspira a sabedoria, desvela os
mistérios e anuncia os tempos, alegra-se nos fiéis, entrega-se aos que a buscam, sem infringir as regras
da fé nem ultrapassar os limites dos Padres. Celebra-se então o temor da lei, reconhecesse a graça dos
profetas, conserva-se a fé dos evangelhos, guarda-se a tradição dos apóstolos e a graça da Igreja
exulta. Não contristando essa graça, saberás o que o Verbo diz por meio dos que ele quer e quando
quer. Com efeito, quantas coisas fomos levados a vos explicar com zelo pala vontade do Verbo que
no-las inspira! Nós vos comunicamos por amor essas mesmas coisas que nos foram reveladas.
A verdadeira ciência
12. Atendendo e ouvindo com cuidado, conhecereis que coisas Deus prepara para os que o amam com
lealdade. Transformam-se em paraíso de delícias, produzindo em si mesmos uma arvora fértil e
frondosa, ornados com toda a variedade de frutos. Com efeito, neste lugar foi plantada a árvore da
ciência e a arvora da vida; não é a arvora da ciência que mata, e sim a desobediência. Não é sem
sentido que está escrito: No princípio Deus plantou a arvora da ciência da vida no meio do paraíso,
indicando assim a vida por meio da ciência. Contudo, por não tê-la usado de maneira pura, os
primeiros homens ficaram nus por causa da sedução da serpente. De fato, não há vida sem ciência,
nem ciência segura sem verdadeira vida, e por isso as duas árvores foram plantadas uma perto da
outra. Compreendendo essa força e lastimando a ciência que se exercita sobre a vida sem a norma da
verdade, o Apóstolo diz: “A ciência incha; o amor, porém, edifica.” De fato, quem pensa que sabe
alguma coisa sem a verdadeira ciência, testemunhada pela vida, não sabe nada: é enganado pala
serpente, não tendo amado a vida. Aquele, porém, que sabe com temor e procura a vida, planta na
esperança, esperando o fruto. Que a ciência seja coração para ti; a vida seja o Verbo verdadeiramente
compreendido. Levando a arvora dele e produzindo fruto, sempre colherás o que é agradável diante de
Deus, o que a serpente não toca, nem se mistura em engano; nem Eva é corrompida, mas reconhecida
como virgem. A salvação é mostrada, os apóstolos são compreendidos, a Páscoa do Senhor se adianta,
os círios se reúnem, harmoniza-se com o mundo e, instruindo os santos, o Verbo se alegra, pelo qual o
Pai é glorificado. A ele, a glória pelos séculos. Amém.

Livro 5º- EPÍSTOLA AOS LAODICENSES
Paulo, apóstolo não dos homens nem pelos homens, mas por meio de Jesus Cristo, aos irmãos que
estão em Laodicéia:
Graças para vós e paz de Deus Pai e de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Agradeço a Cristo em todas as minhas preces porque permaneceis n'Ele e perseverais em suas obras,
aguardando a promessa do dia do julgamento.
Que não sejais enganados pelas pregações vãs de alguns para que não vos afastem da verdade do
Evangelho que foi por mim proclamado.
Permita Deus, agora, que aqueles que foram enviados por mim para professarem a verdade do
Evangelho lhes possam ser úteis e realizem boas obras para a obtenção da vida eterna.
No momento, minhas cadeias se evidenciam - eu que sofro em Cristo - pelas quais sou feliz e me
alegro.
Isso me serve para a salvação eterna que se efetua por vossas preces e pela ajuda do Espírito Santo,
seja na vida, seja na morte; pois que minha vida está em Cristo e morrer é alegria.
Isto quer Sua misericórdia fazer em vós: que tenhais o mesmo amor e permaneçais unidos.
Portanto, amados, o que ouvistes quando de minha estadia entre vós assim o conservai e agi no
temor de Deus, e tereis em vós a vida para sempre; pois é Deus que opera em vós, e fazei sem
hesitação o que deveis fazer.
E no mais, amados, alegrai-vos em Cristo e tende cuidado com aqueles que procuram lucros
sórdidos.
Possam todos vossos pedidos chegarem a Deus e ficai firmes no sentimento de Cristo.
E fazei o que é puro, verdadeiro, adequado, justo e amável.
O que ouvistes e recebestes guardai no vosso coração e tereis a paz convosco.
Saudai a todos os irmãos com o ósculo santo.
Os irmãos na fé vos saúdam.
A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com vosso espírito.
Cuidai para que esta Epístola seja lida aos Colossenses e que aquela, dos Colossenses, seja lida para
vós.





Livro 6º - Excertos do Evangelho Armênio da Infância

Capítulo 10
FIM DO Evangelho inteiro da Infância, com o auxílio do Deus supremo, segundo o que encontramos no original.
O capítulo X descreve minuciosamente a viagem dos Magos, seu cortejo faustoso e sua chegada a Jerusalém. Herodes chama-os ao seu palácio para que lhe digam quais os propósitos da viagem. Queriam adorar o recém-nascido, dizem eles. Herodes então quer saber mais:
"Quem vos contou o que dizeis e como chegastes a sabê-lo?" Responderam os magos: "Nossos antepassados legaram-nos um testemunho escrito sobre isso, que foi guardado e selado sob o maior segredo. E durante longos anos pais e filhos, de geração em geração, mantiveram viva essa expectativa, até que finalmente essa palavra veio a cumprir-se em nossos dias, como nos foi revelado por Deus numa visão que tivemos de um anjo. Esta é a causa de nos encontrarmos neste lugar, que nos foi indicado pelo Senhor." Tornou Herodes: "Qual a procedência desse testemunho que somente vós conheceis?"
Capítulo 11
Os magos responderam: "Nosso testemunho não procede de homem algum. Ou um desígnio divino referente a uma promessa feita por Deus em favor dos filhos dos homens, e que foi conservado entre nós até o dia de hoje." Disse Herodes: "Onde está esse livro que somente vosso povo possui?" E os magos responderam: "Nenhuma nação, além da nossa, tem notícia direta ou indireta dele. Somente nós possuímos o testemunho escrito. Porque, como sabes, depois que Adão foi expulso do paraíso e depois que Caim matou Abel, o Senhor deu a nosso primeiro pai um filho de consolação chamado Seth, e a ele entregou aquela carta, escrita, assinada e selada por suas próprias mãos. Seth recebeu-a de seu pai e a transmitiu a seus filhos. Estes, por sua vez, transmitiram-na aos seus, e assim se passou de geração em geração. Todos, até Noé, receberam a ordem de conservá-la com todo cuidado. Este patriarca entregou-a a seu filho Sem e os filhos deste a transmitiram aos seus descendentes, que, por sua vez, a entregaram a Abraão. Este a deu a Melquizedeque, rei de Salém e sacerdote do Altíssimo, por meio do qual chegou ao poder do nosso povo nos tempos de Ciro, rei da Pérsia. Nossos pais a depositaram com todas as honras em um, salão especial, e assim chegou até nós, que, graças a este misterioso escrito, de antemão tomamos conhecimento do novo monarca, filho de Israel."
Capítulo 12
E o rei Melkon pegou o livro do Testamento que conservava em sua casa como um precioso legado dos seus antepassados, segundo o que já dissemos, e presenteou-o ao menino, dizendo-lhe: "Aqui tens a carta selada e firmada por tua própria mão que achaste por bem entregar aos nossos superiores para que a guardassem. Toma, pois, este documento que tu mesmo escreveste. Abre-o e lê-o, pois esta em teu nome.
Capítulo 13
E o documento, dirigido a Adão, estava assim encabeçado: "No ano de 6000, no sexto dia da semana, no mesmo dia em que te criei, e à hora sexta, enviarei meu Filho Unigênito, o Verbo divino, que se revestirá da carne da tua descendência e virá a ser filho do Homem. Ele te devolverá a dignidade original através dos terríveis tormentos da sua paixão na cruz. E então tu, ó Adão, unido a mim com alma pura e corpo imortal, serás deificado e poderás, como eu, discernir o bem e o mal."
Capítulo 23
2 Jesus costumava levar jovens até a borda do poço que fornecia água para toda a cidade. E, tirando os cântaros de suas mãos, batia-os uns contra os outros ou contra as pedras e jogava-os depois no fundo do poço. E com isso os aqueles jovens não ousavam entrar em casa com medo dos seus pais. Jesus então compadecia-se vendo-os chorar e lhes dizia: "Não choreis mais, que eu devolverei vossos cântaros". Depois dava ordens aos caudais das águas, e estes arremessavam de volta os cântaros intactos para a superfície. Cada um pegava o seu e voltava ao seu lar contando a todo mundo os milagres de Jesus.
3 Um outro dia, levou-os de novo consigo e fê-los acampar a sombra de uma gigantesca árvore. Então deu ordens para que ela inclinasse seus ramos e subiu e ficou em cima da árvore. Mandou depois que ela se endireitasse, e ele elevou-se, dominando assim toda aquela paisagem. Jesus manteve-se ali uma hora, até que os outros jovens começaram a gritar,dizendo-lhe: "Manda que a árvore se incline para que possamos subir contigo". Jesus assim fez e lhes disse: "Vinde depressa junto a mim". E subiram ao seu lado cheios de gozo. Pouco depois Jesus mandou que a árvore inclinasse de novo seus ramos. E, depois que todos haviam descido, a árvore recuperou sua posição original.
Capítulo 25
7 ...Maria lhe disse: "Meu Filho, como ainda não és mais do que um menino e não uma pessoa mais velha, temo que te aconteça alguma desgraça". Jesus respondeu: "Teus temores, minha mãe, não são de todo razoáveis, pois eu sei muito bem tudo o que deve me acontecer". Maria disse: "Não sintas pena pelo que acabo de dizer-te mas estou rodeada de fantasmas e não sei o que fazer".
Jesus perguntou: "E que pensas fazer comigo?" Maria disse: "E isto o que me preocupa: nos temos empenhado ao máximo para que aprendas durante a tua infância todos os ofícios, e até agora não fizeste nada nesse sentido nem te interessaste por nada. E agora que já estás mais crescidinho, que preferes fazer e como queres passar a tua vida?"
8 Ao ouvir estas palavras, Jesus indignou-se em seu íntimo e disse à mãe: "Falaste muito inconsideradamente. Será que não entendes os sinais e prodígios que faço diante de ti, para que possas ver com teus próprios olhos? Ainda não me acreditas depois de tanto tempo que estou vivendo contigo? Observa meus milagres, considera tudo o que tenho feito e tem paciência durante algum tempo, até que vejas realizadas todas as minhas obras, pois a minha hora ainda não chegou. Enquanto isto, mantém-te fiel a mim". E dizendo isto, Jesus saiu apressadamente de casa.
Capítulo 28
1 Jesus, desejoso de mostrar-se ao mundo, encontra dois soldados rindo. Estes vêem-no sentado tranqüilamente junto a um poço, e um deles lhe diz:
2 ..."Menino, de onde vens? Para onde vais? Como te chamas?" Jesus respondeu: "Se eu te disser, não serás capaz de compreender-me". O soldado perguntou-lhe novamente: "Teu pai e tua mãe ainda vivem?" Jesus respondeu: "Efetivamente: meu Pai vive e é Imortal". O soldado respondeu: "Como? Imortal?" E Jesus disse: "Sim, é Imortal desde o princípio, e a morte não tem poder sobre Ele". Então o soldado disse: "Quem é este que viverá sempre e além dele, já que a morte não tem poder algum, e que teu Pai tem a imortalidade garantida? Jesus respondeu: "Não serias capaz de conhecê-lo nem de ter uma idéia aproximada dele", O soldado disse: "Quem pode vê-lo?" Jesus respondeu: "Ninguém". O soldado perguntou: "Onde está teu Pai?" Jesus respondeu: "No céu, acima da terra". O soldado disse: "E tu, como poderás ir junto dele?" Jesus respondeu: "Já estive ali e ainda agora estou em sua companhia". O soldado respondeu: "Não sou capaz de compreender o que dizes". Jesus disse: "E por isto que é indizível e inexplicável". O soldado perguntou: "Então quem pode entendê-lo?" Jesus respondeu: "Se mo pedires, explicar-te-ei". Então o soldado disse: "Diga-me, Senhor, eu te peço".
A seguir, Jesus lhes conta sua ascendência divina e temporal, no seio de Maria. Os soldados aceitam suas explicações e o Senhor se despede deles, e termina o texto. Fim
  


Livro 6º - Proto Evangelho de Tiago

(Natividade de Maria)

Este livro, apesar de conhecido como o Evangelho de Tiago ou Proto-Evangelho de Tiago, tem sua autoria desconhecida. Publicado em fins do século XVI, não se sabe exatamente ainda qual a época em que foi escrito, mas os maiores estudiosos dos Livros Apócrifos afirmam que é anterior aos Quatro Evangelhos Canônicos, servindo, em muitos aspectos, como base para estes.
O Proto-Evangelho de Tiago conta a vida de Maria, seu nascimento de Ana e Joaquim, considerados estéreis, de como foi sua educação no Templo até a sua puberdade, como se deu a escolha de seu futuro esposo, José, velho, viúvo e pai de seis filhos: Judas, Josetos, Tiago, Simão, Lígia e Lídia. Continua, narrando a concepção e a virgindade, que se manteve após dar à luz o Salvador, numa caverna. Fala da estrela misteriosa e radiante, que guiou os magos até a caverna e da nuvem de luz que pairou sobre o local, na hora em que o Senhor Jesus nascia.
Narra, também, a participação da parteira que testemunhou a virgindade de Maria, após o nascimento do Senhor E cita o testemunho de uma parteira que constatou a virgindade de Maria após dar à luz.
Capítulo 1
1 SEGUNDO NARRAM as memórias das doze tribos de Israel, havia um homem muito rico, de nome Joaquim, que fazia suas oferendas em quantidade dobrada, dizendo: "O que sobra ofereço para todo o povoado, e o devido na expiação de meus pecados será para o Senhor a fim de ganhar-lhe as boas graças."
2 Chegou a grande festa do Senhor, na qual os filhos de Israel devem oferecer seus donativos, e Ruben se pôs à frente de Joaquim dizendo-lhe: "Não te é lícito oferecer tuas dádivas, enquanto não tiveres gerado um rebento em Israel."
3 Joaquim mortificou-se tanto que se dirigiu aos arquivos de Israel com intenção de consultar o censo genealógico e verificar se, porventura, teria sido ele o único que não havia tido posteridade em seu povoado. E, examinando os pergaminhos, constatou que todos os justos haviam gerado descendentes. Lembrou-se, por exemplo, de como ao patriarca Abraão lhe deu o Senhor, em seus derradeiros anos de vida, a Isaac por filho.
4 Joaquim ficou muito atormentado, e não procurou sua mulher e se retirou para o deserto. Ali armou sua tenda e jejuou por quarenta dias e quarenta noites, dizendo a si mesmo: "Não sairei daqui (para minha casa), nem sequer para comer ou beber, até que não me visite o Senhor meu Deus; que minhas preces me sirvam de comida e de bebida."
Capítulo 2
1 E Ana, sua mulher, se lamentava e gemia dolorosamente dizendo: "Chorarei minha viuvez e minha esterilidade."
2 Mas chegou a grande festa do Senhor e lhe disse Judite, sua criada: "Até quando vais humilhar tua alma? Já é chegada a festa maior e não te é lícito entristecer-te. Toma este lenço de cabeça que me foi dado pela dona da tecelagem, já que não posso cingir-me com ele por ser eu de condição servil e levar ele o selo real."
3 E disse Ana: "Afasta-te de mim, pois que não fiz tal coisa e, além do mais, o Senhor já me humilhou em demasia para que eu o use; a não ser que algum malfeitor to haja dado, e tenhas vindo para fazer-me a mim também cúmplice do pecado." Replicou Judite: "Que motivo tenho eu para maldizer-te, se o Senhor já te amaldiçoou não te dando fruto em Israel?"
4 E Ana, ainda que profundamente triste, despiu suas vestes de luto, cingiu-se com o toucado, vestiu suas roupas de bodas e desceu, na hora nona, ao jardim para passear. Ali viu um loureiro, assentou-se à sua sombra e orou ao Senhor, dizendo: "O Deus de nossos pais! Ouve-me e bendize-me da maneira que bendisseste o ventre de Sara, dando-lhe como filho Isaac."
Capítulo 3
1 E, tendo elevado seus olhos aos céus, viu um ninho de passarinhos no loureiro e novamente lamentou-se dizendo: "Ai de mim! Por que nasci e em que hora fui concebida? Vim ao mundo para ser como terra maldita entre os filhos de Israel; estes me cumularam de injúrias e me escorraçaram do templo de Deus.
2 "Ai de mim! A quem me assemelho eu? Não às aves do céu, pois que elas são fecundas em tua presença, Senhor.
"Ai de mim! A quem me pareço eu? Não às bestas da terra, pois que até estes animais irracionais são prolíficos ante teus olhos, Senhor.
3 "Ai de mim! A quem me posso comparar? Nem sequer a estas águas, porque até elas são férteis diante de ti, Senhor.
"Ai de mim A quem me igualo eu? Nem sequer a esta terra, porque ela também é fecunda, dando seus frutos na ocasião própria, e te bendiz a ti, Senhor."
Capítulo 4
1 E eis que se lhe apresentou um anjo de Deus, dizendo-lhe: "Ana, Ana, o Senhor escutou teus rogos: conceberás e darás à luz e de tua prole se falará em todo o mundo." Ana respondeu: "Viva o Senhor meu Deus, que, se chegar a ter algum fruto de bênção, seja menino ou menina, leva-lo-ei como oferenda ao Senhor, e estará a seu serviço todos os dias de sua vida."
2 Então, vieram dois mensageiros com este recado para ela: "Joaquim, teu marido, está de volta com seus rebanhos, pois que um anjo de Deus desceu até ele e lhe disse: 'Joaquim, Joaquim, o Senhor escutou teus rogos; volta, pois, que Ana, tua mulher, vai conceber em seu ventre'."
3 E, tendo saído Joaquim, mandou que seus pastores lhe trouxessem dez ovelhas sem mancha: "E estas, disse, serão para o Senhor"; e doze novilhas de leite: "E estas, disse, serão para os sacerdotes e para o sinédrio"; e, finalmente, cem cabritos para todo o povoado.
4 E, ao chegar Joaquim com seus rebanhos, estava Ana à porta e, ao vê-lo chegar, pôs-se a correr e atirou-se ao seu pescoço dizendo: "Agora vejo que Deus me bendisse copiosa-mente, pois, sendo viúva, deixo de sê-lo e, sendo estéril, vou conceber em meu ventre". E Joaquim repousou naquele primeiro dia em sua casa.
Capítulo 5
1 No dia seguinte, ao ir oferecer suas dádivas ao Senhor, dizia para consigo mesmo: "Saberei se Deus me vai ser favorável se eu chegar a ver o éfode do sacerdote". E, ao oferecer o sacrifício, observou o éfode do sacerdote, quando este se acercava do altar de Deus, e, não encontrando pecado algum em sua consciência, disse: Agora vejo que o Senhor houve por bem perdoar todos os meus pecados". E desceu Joaquim justificado do templo e foi para casa.
2 E o tempo de Ana cumpriu-se, e no nono mês deu à luz. E perguntou à parteira: "A quem dei à luz?" E a parteira respondeu: "Uma menina". Então Ana exclamou: "Minha alma foi enaltecida". E reclinou a menina no berço. Ao fim do tempo marcado pela lei, Ana purificou-se, deu o peito à menina e lhe pôs o nome de Maria.
Capítulo 6
1 Dia a dia a menina se ia robustecendo. Ao chegar aos seis meses, sua mãe deixou-a só no chão, para ver se se sustentava de pé, e ela, depois de andar sete passos, voltou ao regaço de sua mãe. Esta levantou-a, dizendo: "Salve o Senhor! Não andarás mais por este solo, até que te leve ao templo do Senhor". E lhe fez um oratório em sua casa e não consentiu que nenhuma coisa vulgar ou impura passasse por suas mãos. Chamou, além disso, umas donzelas hebréias, todas virgens, para que a entretivessem.
2 Quando a menina completou um ano, Joaquim deu um grande banquete, para o qual convidou os sacerdotes, os escribas, o sinédrio e todo o povo de Israel. E apresentou a menina aos sacerdotes, que a abençoaram com estas palavras: "ó Deus de nossos pais, bendiz esta menina e dá-lhe um nome glorioso e eterno por todas as gerações." Ao que todo o povo respondeu: "Assim seja, assim seja. Amém." Apresentou-a também Joaquim aos príncipes e aos sacerdotes, e estes a abençoaram assim: "ó Deus Altíssimo, põe teus olhos nesta menina e outorga-lhe uma bênção perfeita, dessas que excluem as ulteriores."
3 Sua mãe levou-a ao oratório de sua casa e deu-lhe o peito. Compôs, então, um hino ao Senhor Deus, dizendo: "Entoa-rei um cântico ao Senhor, meu Deus, porque me visitaste, afastaste de mim o opróbrio de meus inimigos e me deste um fruto santo, que é único e múltiplo a seus olhos. Quem dará aos filhos de Ruben a notícia de que Ana está amamentando? Ouvi, ouvi, ó Doze Tribos de Israel: 'Ana está amamentando'."
4 E tendo deixado a menina para que repousasse na câmara onde havia o oratório, saiu e pôs-se a servir os comensais. Estes, uma vez terminada a ceia, saíram regozijando-se e louvando a Deus de Israel.
Capítulo 7
1 Entretanto, os meses iam-se passando para a menina. E, ao fazer ela dois anos, disse Joaquim a Ana: "Levemo-la ao templo do Senhor para cumprir a promessa que fizemos, para que o Senhor não a reclame e nossa oferenda se torne inaceitável a seus olhos." Ana respondeu: "Esperemos, todavia, até que complete três anos, para que a menina não tenha saudades de nós." E Joaquim respondeu: "Esperaremos."
2 Ao chegar aos três anos, disse Joaquim: "Chama as donzelas hebréias que não têm mancha, e que tomem, duas a duas, uma candeia acesa (para que a acompanhem) para que a menina não olhe para trás e seu coração seja cativado por alguma coisa fora do templo de Deus". E assim fizeram enquanto iam subindo ao templo do Senhor. E lá recebeu-a o sacerdote, o qual, depois de tê-la beijado, abençoou-a e exclamou: "O Senhor engrandeceu teu nome diante de todas as gerações, pois que no final dos tempos manifestará em ti sua redenção aos filhos de Israel".
3 Então fê-la sentar-se no terceiro degrau do altar. O Senhor derramou graças sobre amenina, que dançou, cativando toda a casa de Israel.
Capítulo 8
1 Saíram, então, seus pais, cheios de admiração, louvando ao Senhor Deus porque a menina não havia olhado para trás. E Maria permaneceu no templo como uma pombinha, recebendo alimento pelas mãos de um anjo.
2 Mas, ao completar doze anos, os sacerdotes reuniram-se para deliberar, dizendo: "Eis que Maria cumpriu doze anos no templo do Senhor. Que faremos para que ela não chegue a manchar ao santuário?" E disseram ao sumo sacerdote: "Tu que tens o altar a teu cargo, entra e ora por ela, e o que o Senhor te disser, isso será o que haveremos de fazer."
3 E o sumo sacerdote, cingindo-se com o manto das doze sinetas, entrou no "santo dos santos" e orou por ela. Mas eis que um anjo do Senhor apareceu, dizendo-lhe: "Zacarias, Zacarias, sai e reúne a todos os viúvos do povoado. Que cada um venha com um bastão, e o daquele em que o Senhor fizer um sinal singular, deste será ela esposa." Saíram os arautos por toda a região da Judéia e, ao soar a trombeta do Senhor, todos acudiram.
Capítulo 9
1 José, deixando de lado sua acha, uniu-se a eles e, uma vez que se juntaram todos, tomaram cada qual seu bastão e puseram-se a caminho à procura do sumo sacerdote. Este tomou todos os bastões, entrou no templo e se pôs a orar. Terminadas as suas preces tomou de novo o... bastões e os entregou, mas em nenhum deles apareceu sinal algum. Porém, ao pegar José o último, eis que uma pomba saiu dele e se pôs a voar sobre sua cabeça. Então o sacerdote disse: "A ti coube a sorte de receber sob tua custódia a Virgem do Senhor."
2 José replicou: "Tenho filhos e sou velho, enquanto que ela é uma menina; não gosta-ria de ser objeto de zombarias por parte dos filhos do Israel." Então tornou o sacerdote: "Teme ao Senhor teu Deus e tem presente o que fez Ele com Datan, Abiron e Corê; de como abriu-se a terra e foram sepultados por sua rebelião. E teme agora tu também, José, para que não aconteça o mesmo à tua casa."
3 E ele, cheio de temor, recebeu-a sob sua proteção. Depois, disse-lhe: "Tomei-te do templo; deixo-te agora em minha casa e vou continuar minhas construções. Logo volta-rei. O Senhor te guardará."
Capítulo 10
1 Os sacerdotes, então, reuniram-se e concordaram em fazer um véu para o templo do Senhor. E o sacerdote disse: "Chama algumas donzelas sem mancha da tribo de Davi." Os ministros se foram, e, depois de terem procurado, encontraram sete virgens. Então o sacerdote lembrou-se de Maria (aquela jovenzinha que, sendo de estirpe davídica, se conservava imaculada aos olhos de Deus) e os emissários a foram buscar.
2 Depois de as terem introduzido no templo, disse o sacerdote: "Vejamos qual há de bordar o ouro, o amianto, o linho, a seda, o zircão, o escarlate e a verdadeira púrpura." E o escarlate e a verdadeira púrpura couberam a Maria que, tomando-as, se foi para casa. Naquela época, Zacarias ficou mudo, sendo substituído por Samuel até quando pôde falar novamente. Maria tomou em suas mãos o escarlate e se pôs a tecê-lo.
Capítulo 11
1 Certo dia pegou Maria um cântaro e foi enchê-lo de água. Mas eis que ouviu uma voz que lhe dizia: "Deus te salve, cheia de graça, o Senhor está contigo, bendita és entre as mulheres." E ela olhou à sua volta, à direita, à esquerda, para ver de onde vinha aquela voz. E, tremendo, voltou para casa, deixou a ânfora, pegou a púrpura, sentou-se no divã e se pôs a tecê-la.
2 Mas logo um anjo do Senhor apresentou-se diante dela dizendo: "Não temas, Maria, pois alcançaste graça ante o Senhor onipotente e vais conceber por sua palavra." Mas ela, ao ouvi-lo, ficou perplexa e disse consigo mesma: "Deverei eu conceber por virtude de Deus vivo e haverei de dar à luz come as demais mulheres?"
3 Ao que lhe respondeu o anjo: "Não será assim, Maria, pois que a virtude do Senhor te cobrirá com sua sombra; depois, o fruto santo que deverá nascer de ti será chamado Filho do Altíssimo. Chamar-lhe-ás Jesus, pois Ele salvará seu povo de suas iniqüidades." Então, disse Maria: "Eis aqui a escrava do Senhor em sua presença; que isto aconteça a mim conforme sua palavra".
Capítulo 12
1 E, concluído seu trabalho com a púrpura e o escarlate, levou-o ao sacerdote. Este a abençoou dizendo: "Maria, o Senhor enalteceu teu nome e serás bendita entre todas as gerações da terra".
2 Cheia de alegria, Maria foi à casa de sua parenta Isabel. Chamou-a da porta e ao ouvi-la Isabel largou o escarlate, correu para a porta, abriu-a e, ao ver Maria, louvou-a dizendo: "Que fiz eu para que a mãe do meu Senhor venha a minha casa? Pois saiba que o fruto que carrego em meu ventre se pôs a pular dentro de mim, como que para bendizer-te." Mas Maria se havia esquecido dos mistérios que o anjo Gabriel comunicara, e elevou os olhos aos céus e disse: "Quem sou eu, Senhor, para que todas as gerações me bendigam?"
3 E passou três meses em casa de Isabel. E dia a dia seu ventre aumentava e, cheia de temor, pôs-se a caminho de casa e escondia-se dos filhos de Israel. Quando sucederam essas coisas, ela contava dezesseis anos.
Capítulo 13
1 Ao chegar Maria ao sexto mês de gravidez, voltou José de suas construções e, ao entrar em casa, deu-se conta de que ela estava grávida. Então, feriu seu próprio rosto, jogou-se no chão sobre uma manta e chorou amargamente, dizendo: "Como é que me vou apresentar agora diante de meu Senhor? E que oração direi eu agora por esta donzela, pois que a recebi virgem do templo do Senhor e não a soube guardar? Será que a história de Adão se repetiu comigo? Assim como no instante em que ele estava glorificando a Deus veio a serpente e, ao encontrar Eva sozinha, a enganou, o mesmo me aconteceu."
2 E, levantando-se, José chamou Maria e lhe disse: "Predileta como eras de Deus, como foste capaz de fazer isso? Acaso te esqueceste do Senhor teu Deus? Como pudeste vilipendiar tua alma, tu que te criaste no santo dos santos e recebeste ali-mento das mãos de um anjo?"
3 E ela chorou amargamente dizendo: "Sou pura e não conheço varão algum." "De onde, pois, provém, replicou José, o que carregas no seio?" Ao que Maria respondeu: "Pelo Senhor, meu Deus, eu juro que não sei" como aconteceu.
Capítulo 14
1 José, então, encheu-se de temor e retirou-se da presença de Maria e pôs-se a pensar sobre o que faria com ela. Dizia consigo próprio: "Se escondo seu erro, contrario a lei do Senhor; se a denuncio ao povo de Israel, temo que o que aconteceu a ela se deva a uma intervenção dos anjos, e venha eu a entregar à morte uma inocente. Como deverei proceder, pois? Manda-la-ei embora às escondidas." E nisto caiu a noite.
2 Mas eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos dizendo-lhe: "Não temas por esta donzela, pois o que ela carrega em suas entranhas é o fruto do Espírito Santo. Dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, pois que ele há de salvar seu povo dos seus pecados." E, ao despertar, José levantou-se e glorificou a Deus de Israel por haver-lhe concedido tal graça, e continuou guardando Maria.
Capítulo 15
1 Mas, por essa ocasião, veio à casa de José Anás, o escriba, que lhe disse: "Por que não compareceste à nossa reunião?" Respondeu-lhe José: "Estava cansado da caminhada e decidi repousar este primeiro dia." Mas, ao voltar-se, Anás deu-se conta da gravidez de Maria.
2 Então, correu ao sacerdote dizendo-lhe: "Este José, por quem respondes, cometeu uma falta grave." "Que queres dizer com isso?", perguntou o sacerdote. Ao que respondeu Anás: "Pois violou aquela virgem que recebeu do templo de Deus, com fraude de seu casamento e sem manifestá-lo ao povo de Israel." Disse o sacerdote: "E estás certo de que foi José que fez tal coisa?" Replicou Anás: "Envia uma comissão e te certificarás de que a donzela está realmente grávida". Saíram os emissários e a encontraram tal qual havia dito Anás, e por isso a levaram juntamente com José ante o tribunal.
3 E o sacerdote iniciou dizendo: "Maria, como fizeste tal coisa? Que te levou a vilipendiar tua alma e esquecer-te do Senhor teu Deus? Tu que te criaste no santo dos santos, que recebias alimento das mãos de um anjo, que escutaste os hinos e que dançavas na presença de Deus? Como fizeste isso?" E ela se pôs a chorar amarga-mente dizendo: "Juro pelo Senhor meu Deus que estou pura em sua presença e que não conheci varão".
4 Então, o sacerdote dirigiu-se a José dizendo-lhe: "Por que fizeste isso?" Replicou José: "Juro pelo Senhor meu Deus, que me encontro puro com relação a ela." Acrescentou o sacerdote: "Não jures em falso, dize a verdade. Usaste fraudulentamente o matrimônio e não o deste a conhecer ao povo de Israel, e não abaixaste tua cabeça sob a mão poderosa de Deus, por quem sua descendência havia sido bendita." José guardou silêncio.
Capítulo 16
1 "Devolve, pois, continuou o sacerdote, a virgem que recebeste do templo do Senhor." José ficou com os olhos marejados de lágrimas. Mas acrescentou o sacerdote: "Farei com que bebais da água da prova do Senhor e ela vos mostrará, diante de vossos próprios olhos, vossos pecados".
2 E, tomando da água, fez José bebê-la, enviando-o em seguida à montanha; mas voltou são e salvo. Fez o mesmo com Maria, também enviando-a à montanha; mas ela voltou sã e salva. E toda a cidade encheu-se de admiração ao ver que não havia pecado neles.
3 E replicou o sacerdote: "Posto que o Senhor não declarou vosso pecado, tampouco irei condenar-vos". Então despediu-os. E, tomando Maria, José voltou para casa cheio de alegria e louvando a Deus de Israel.
Capítulo 17
1 E veio uma ordem do imperador Augusto para que se fizesse o censo de todos os habitantes de Belém da Judéia. E disse José: "A meus filhos posso recensear, mas que farei desta donzela? Como vou incluí-la no censo? Como minha esposa? Envergonho-me. Como minha filha? Mas já sabem todos os filhos de Israel que não é! Este é o dia do Senhor, que se faça sua vontade."
2 E, selando sua asna, fez com que Maria se acomodasse sobre ela, enquanto um de seus filhos ia à frente puxando o animal pelo cabresto. José os acompanhava. Quando estavam a três milhas de distância (de Belém), José virou-se para Maria e viu que ela estava triste; e disse consigo mesmo: "Deve ser a gravidez que lhe causa incômodo". Mas, ao voltar-se novamente, encontrou-a sorrindo, e lhe disse: "Maria, que acontece, pois que algumas vezes te vejo sorridente e outras triste?" E ela lhe disse: "E que se apresentam dois povos diante de meus olhos; um que chora e se aflige e outro que se alegra e se regozija."
3 E, ao chegar à metade do caminho, disse Maria a José: "Desça-me, porque o fruto de minhas entranhas luta por vir à luz." E ele ajudou-a a apear da asna, dizendo-lhe: "Aonde poderia eu levar-te para resguardar teu pudor, já que estamos em campo aberto?"
Capítulo 18
1 E, encontrando uma caverna, levou-a para dentro e, havendo deixado os seus filhos com ela, foi buscar uma parteira hebréia na região de Belém.
2 E eu, José, encontrei-me andando, mas não podia avançar; ao levantar meus olhos para o espaço, pareceu-me ver como se o ar estivesse estremecido de assombro; e quando fixei a vista no firmamento, o encontrei estático e os pássaros do céu imóveis; ao dirigir meu olhar à terra, vi um recipiente no solo e uns trabalhadores sentados em atitude de comer, com suas mãos na vasilha. Mas os que pareciam comer, na realidade não mastigavam; e os que estavam em atitude de pegar a comida, tampouco a tiravam do prato; e, finalmente, os que pareciam levar os manjares à boca, não o faziam, ao contrário, tinham seus rostos voltados para cima. Também havia umas ovelhas que estavam sendo tangidas, mas não davam um passo (ao contrário, estavam paradas), e o pastor levantou sua destra para bater-lhes (com o cajado), mas parou sua mão no ar. E, ao dirigir meu olhar à corrente do rio, vi como uns cabritinhos punham nela seus focinhos, mas não bebiam. Em uma palavra, todas as coisas estavam afastadas, por uns instantes, de seu curso normal.
Capítulo 19
1 E então uma mulher que descia da montanha me disse: "Aonde vais?" Ao que respondi: "Ando procurando uma parteira hebréia." Ela replicou: "Mas és de Israel?" E respondi: "Sim." "E quem é, acrescentou, a que está dando à luz na caverna?" "E minha esposa", lhe disse eu. Ao que ela replicou: "Então, não é tua mulher?" E eu lhe respondi: "E Maria, a que se criou no templo do Senhor, e ainda que me tivesse sido dada por mulher, não o é, pois que concebeu por virtude do Espírito Santo." E interrogou-lhe (1) a parteira: "Isto é verdade?" José respondeu: "Vem e verás." Então a parteira se pôs a caminho junto com ele.
2 Ao chegar à gruta, pararam, e eis que esta estava sombreada por uma nuvem luminosa. E exclamou a parteira: "Minh'alma foi engrandecida,porque meus olhos viram coisas incríveis, pois que nasceu a salvação para Israel." De repente, a nuvem começou a sair da gruta, e dentro brilhou uma luz tão grande que nossos olhos não podiam resistir. Esta, por um momento, começou a diminuir tanto que deu para ver o menino que estava tomando o peito de sua mãe, Maria. A parteira então deu um grito dizendo: "Grande é para mim o dia de hoje, já que pude ver com meus próprios olhos um novo milagre".
3 E, ao sair a parteira da gruta, veio a seu encontro Salomé. "Salomé, Salomé, exclamou, tenho de te contar uma maravilha nunca vista, e é que uma virgem deu à luz; coisa que, como sabes, não permite a natureza humana." Mas Salomé replicou: "Pelo Senhor, meu Deus, não acreditarei em tal coisa, se não me for dado tocar com os dedos e examinar sua natureza".
Capítulo 20
1 E, havendo entrado a parteira, disse a Maria: "Prepara-te, porque há entre nós uma grande querela em relação a ti." Salomé, pois, introduziu seu dedo em sua natureza, mas, de repente, deu um grito dizendo: "Ai de mim, minha maldade e minha incredulidade é que têm a culpa! Por tentar ao Deus vivo desprende-se de meu corpo minha mão carbonizada."
2 E dobrou os joelhos diante do Senhor, dizendo: "Oh Deus de nossos pais! Lembra-te de mim porque sou descendente de Abraão, Isaac e Jacó, não faças de mim um exemplo para os filhos de Israel; devolve-me curada, porém, aos pobres, pois que tu sabes, Senhor, que em teu nome exercia minhas curas, recebendo de ti meu salário".
3 E apareceu um anjo do céu, dizendo-lhe: "Salomé, Salomé, Deus escutou-te. Aproxima tua mão do menino, toma-o, e haverá para ti alegria e prazer".
4 E acercou-se Salomé e o tomou, dizendo: "Adorar-te-ei porque nasceste para ser o grande Rei de Israel". Então, de repente, sentiu-se curada e saiu em paz da gruta. Nisso ouviu uma voz que dizia: "Salomé, Salomé, não contes as maravilhas que viste até estar o menino em Jerusalém".
Capítulo 21
1 E José dispôs-se a partir para a Judéia. Por essa ocasião sobreveio um grande tumulto em Belém, pois vieram uns magos dizendo: "Aonde está o recém-nascido Rei dos Judeus, pois vimos sua estrela no Oriente e viemos para adorá-lo?"
2 Herodes, ao ouvir isto, perturbou-se, enviou seus emissários aos magos e convocou os príncipes e os sacerdotes fazendo-lhes esta pergunta: "Que está escrito em relação ao Messias? Aonde ele vai nascer?" E eles responderam: "Em Belém da Judéia, segundo rezam as escrituras". Com isto, despachou-os e interrogou os magos com estas palavras: "Qual o sinal que vistes em relação ao nascimento desse rei?" Responderam-lhe os magos: "Vimos um astro muito grande que brilhava entre as demais estrelas e as eclipsava, fazendo-as desaparecer. Nisto soubemos que a Israel havia nascido um rei, e viemos com a intenção de adorá-lo." Então replicou Herodes: "Ide e buscai-o para que também possa eu ir adorá-lo."
3 Naquele instante aquela estrela, que haviam visto no Oriente, voltou novamente a guiá-los até que chegaram à caverna e pousou sobre a entrada dela. Vieram, então, os magos a ter com o Menino e sua Mãe, Maria, e tiraram oferendas de seus cofres: ouro, incenso e mirra.
4 Mas, avisados por um anjo para que não entrassem na Judéia, voltaram a suas terras por outro caminho.
Capítulo 22
1 Ao dar-se conta Herodes de que havia sido enganado pelos magos, encolerizou-se e enviou seus sicários, dando-lhes a missão de assassinar a todos os meninos de menos de dois anos.
2 E quando chegou até Maria a notícia da matança das crianças, encheu-se de temor e, envolvendo seu filho em fraldas, colocou-o numa manje-doura.
3 E quando Isabel inteirou-se de que também buscavam a seu filho João, pegou-o e levou-o a uma montanha e pôs-se a ver onde o haveria de esconder; mas não havia um lugar bom para isso. E, entre soluços, exclamou em voz alta: "O Montanha de Deus, recebe em teu seio a mãe com seu filho" (pois que não podia subir mais alto).
4 E nesse instante abriu a montanha suas entranhas para recebê-los. Acompanhou-os uma grande luz, pois estava com eles um anjo de Deus para guardá-los.
Capítulo 23
1 Mas Herodes prosseguia na busca de João, e enviou seus emissários a Zacarias para que lhe dissessem: "Aonde escondeste teu filho?" Mas ele respondeu desta maneira: "Eu me ocupo do serviço de Deus e me encontro sempre no templo. Não sei onde está meu filho."
2 Os emissários informaram a Herodes tudo o que se passara, e ele encolerizou-se muito, dizendo consigo mesmo: "Deve ser seu filho que vai reinar em Israel". E enviou um outro recado dizendo-lhe: "Diga-nos a verdade sobre onde está teu filho, porque do contrário bem sabes que teu sangue está sob minhas mãos".
3 Mas Zacarias respondeu: "Serei mártir do Senhor" te atreveres a derramar meu sangue, porque minh'alma será recolhida pelo Senhor ao ser segada uma vida inocente no vestíbulo do santuário." E ao romper da aurora foi assassinado Zacarias, sem que os filhos de Israel se dessem conta desse crime.
Capítulo 24
1 E os sacerdotes se reuniram à hora da saudação; mas Zacarias não saiu a seu encontro, como de costume, para abençoá-los. E se puseram a esperá-lo para o saudar na oração e para glorificar o Altíssimo.
2 Ante sua demora, começaram a ter medo; e, tomando ânimo, um deles entrou e viu ao lado do altar sangue coagulado e ouviu uma voz que dizia: "Zacarias foi morto e não se limpará o seu sangue até que chegue o vingador". E, ao ouvir a voz, encheu-se de temor e saiu para informar os sacerdotes.
3 Estes, tomando coragem, entraram e testemunharam o ocorrido. Então, os frisos do templo rangeram e eles rasgaram suas vestes de alto a baixo. Mas não encontraram seu corpo, somente uma poça de sangue coagulado; e, cheios de temor, saíram para informar a todo o povo que Zacarias havia sido assassinado. E correu a notícia em todas as tribos de Israel, que o choraram e guardaram luto por três dias e três noites.
4 E, concluído esse tempo, reuniram-se os sacerdotes para deliberar sobre quem iriam pôr em seu lugar. Recaiu a sorte sobre Simeão, pois, pelo Espírito Santo, havia sido assegurado de que não veria a morte até que lhe fosse dado contemplar o Messias Encarnado.
Capítulo 25
1 E eu, Tiago, que escrevi esta história, ao levantar-se um grande tumulto em Jerusalém por ocasião da morte de Herodes, retirei-me ao deserto até que cessasse o motim, glorificando ao Senhor meu Deus,que me concedeu a graça e a sabedoria necessárias para compor esta narração.
2 Que a graça esteja com todos aqueles que temem a Nosso Senhor Jesus Cristo, para quem deve ser a glória por todos os séculos dos séculos. Amém. Fim



Livro 7º - Livro da Ascenção de Isaías

Capítulo 1
E ACONTECEU que no vigésimo sexto ano do reinado de Ezequias, rei de Judá, o qual mandou chamar Manassés, seu filho.
2 E o mandou chamar na presença de Isaías, filho de Amós,o Profeta, e na presença de Josebe, filho de Isaías, para revelar-lhe as palavras da justiça que o próprio rei havia visto.
3 Sobre os julgamentos eternos e sobre os tormentos do Geena, e sobre o príncipe deste mundo e seus anjos, seus principados e seus poderes.
4 E ainda sobre as palavras de fé do Amado, que ele mesmo havia visto no décimo quinto ano de seu reinado, quando estava enfermo.
5 E ele entregou a Manassés os escritos que o escriba Samans escrevera, e os que Isaías, o filho de Amós, lhe havia entregue, e também aos profetas, para que fossem transcritos e confiados a ele, Ezequias, aquilo que ele mesmo havia visto na casa do rei concernente ao julgamento dos anjos, da destruição deste mundo, da vestimenta dos santos, de sua saída, de sua transformação, e da perseguição e da ascensão do Amado.
6 No vigésimo ano do reinado de Ezequias, Isaías viu palavras desta profecia e entregou a seu filho Josabe enquanto lhe contava, Josab filho de Isaías, mantinha-se em pé diante do rei.
7 E Isaías falou ao rei Ezequias e não somente na presença de Manassés, dizendo "Como Deus vive, e o Espírito que fala por mim vive, o teu filho Manassés desprezará todo as estas palavras e, com suas próprias mãos, torturará o meu corpo.
8 "E Samael Malkira servirá a Manassés e executará todas as suas vontades; e se tornará o discípulo de Belial após ter sido o meu.
9 "E muitos outros em Jerusalém e na Judéia abandonarão a fé verdadeira, e Belial habitará em Manassés, e por suas mãos eu serei dividido ao meio.
10 Ao ouvir estas palavras Ezequias chorou amargamente e rasgou suas vestes, e cobriu sua cabeça de pó, e pôs o seu rosto na terra.
11 Mas Isaías lhe disse: "O conselho de Samael contra Manassés está consumado. Não posso felicitar-te por isso."
12 E naquele dia Ezequias pensou no íntimo em matar a seu filho Manassés.
13 Mas Isaías lhe disse: "O Amado não quer que o teu desígnio se realize, e o propósito de teu coração não se cumprirá: tal é o fim ao qual eu sou destinado, logo possuirei a herança do Amado."
Capítulo 2
1 E aconteceu que, após isto Ezequias morreu, e Manassés tornou-se rei, e logo esqueceu os conselhos e as recomendações de seu pai. E Samael ficou ao lado de Manassés e aderiu a todas as suas vontades.
2E Manassés não serviu ao Deus de seu pai e dedicou-se ao culto de Satanás, de seus anjos e de seus poderes.
3 E perverteu a corte de seu pai e todos aqueles que, na presença de seu pai Ezequias, praticavam as palavras da sabedoria e rendiam homenagem ao verdadeiro Deus.
4 E Manassés devotou o seu coração ao serviço de Belial; por que um anjo, que é chamado de Matanbukus, é o anjo da iniqüidade, o dominador deste mundo. Ora, ele se regozijava com Jerusalém sujeita a Manassés, pois sob sua inspiração houve uma grande apostasia e as iniqüidades aumentavam na cidade.
5 E cresciam as artes mágicas e os encantamentos, os agouros, as adivinhações, as fornicações, os adultérios, a perseguição dos justos por Manassés, Belakira, Tobia o cananeu, por João de Anatot e Zadok o chefe destas obras.
6 Quanto aos demais atos, ei-los escritos no livro dos reis de Judá e Israel.
7 E quando Isaías, filho de Amós, viu a iniqüidade que estava sendo perpetrada em Jerusalém, e o culto a Satanás sujeitava seus habitantes, deixou a cidade e foi morar em Belém de Judá.
8 Mas lá também havia muitas iniqüidades; por isso ele se retirou de Belém e veio estabelecer-se em uma montanha, num lugar solitário.
9 E o profeta Miquéias, o ancião Ananias, Joel, Habacuque, Josabe seu filho, e muitos dos fiéis que acreditavam na ascensão aos céus, se retiraram igualmente das cidades e foram viver na montanha.
10 Todos estes estavam vestidos de saco, e todos eram profetas, não tinham nada consigo e andavam nus, e todos lamentaram com grande lamentação por causa do desregramento de Israel.
11 E não comiam nada a não ser as ervas do campo que colhiam nas montanhas e cozendo-as viviam disto junta-mente com Isaías, o profeta; e viveram por dois anos nas montanhas e nas colinas.
12 Após este período, enquanto estavam no deserto; estava lá um samaritano chamado Belakira, da família de Zedequias, filho de Canaã, falso profeta, e que vivia em Belém. Zedequias, filho de Canaã, era parente de seu pai; fora este Zedequias que, na época de Acab, rei de Israel, havia desviado quatrocentos profetas de Baal e amaldiçoara e até esbofeteara o profeta Miquéias, filho do profeta Amado.
13 Mas ele próprio acabou sendo condenado por Acab, e Miquéias foi posto na prisão com o profeta Zedequias. Encontraram-se lá com Akasiú, filho de Almerém.
14 Elias o Teshbita, da raça de Galaad, amaldiçoou Ahazias e Samaria, e predisse que Ahazias morreria na cama de uma doença causada por uma queda, castigo justo para um príncipe que mandara degolar os profetas do Senhor.
15 E quando os falsos profetas da montanha de Joel que estavam com Ahazias, filho de Acab, da montanha de Joel.
16 E entre outros Ibkira, parente de Zedequias, quando, dizia eu, os falsos profetas ouviram falar de Isaías, persuadiram Ahazias a acreditar no Deus de Akren, de Miquéias e de Belakira.
Capítulo 3
1 E Belakira reconheceu e viu o lugar onde se encontravam Isaías e os profetas que estavam com ele. Pois ele morava na região de Belém e era dedicado a Manassés. E profetizava falsamente em Jerusalém, e muitos o seguiam em Jerusalém, apesar de ser samaritano.
2 E aconteceu que Salmanasar, rei da Assíria, veio e os de Samaria levou cativos, e os dispersou nas províncias da Média e ao longo do grande rio Eufrates.
3 Este (Belakira), quando ainda jovem, fugiu e foi para Jerusalém nos dias de Ezequias, rei de Judá, mas não andou nos caminhos de seu pai, pois temia Ezequias.
4 Foi encontrado falando iniqüidades em Jerusalém nos dias de Ezequias.
5 E um dos servos de Ezequias o acusou, mas ele se retirou para a região de Belém, Onde persuadia a muitos.
6 E Belakira acusou Isaías e aos profetas que estavam com ele, dizendo: "Isaías e aqueles que com ele estavam profetizam contra Jerusalém e contra as cidades de Judá que elas seriam devastadas e (contra os filhos de Judá) Benjamim, e que elas iriam a cativeiro, e também contra ti, ó Majestade, que tu irás (preso) com ganchos e correntes de ferro:
7 No entanto, profetizaram falsamente contra Israel e Judá.
9 Moisés disse: "Ninguém pode ver a Deus e viver". Mas Isaías diz: "Eu vi a Deus, e ainda vivo."
10 Saibas, portanto, ó rei que ele está mentindo. Isaías, ousou chamar Jerusalém de Sodoma e os príncipes de Judá e Jerusalém de Gomorra. E Belakira levantou muitas mentiras contra Isaías e os profetas antes de Manassés.
11 Mas Belial habitou no coração de Manassés e no coração dos príncipes de Judá  e Benjamin e dos eunucos e dos conselheiros do rei.
12 E as palavras de Belakira agradaram (muito) ao rei. E ele enviou [seus guardas] para prender Isaías.
13 Porque Belial estava bastante irritado com Isaías por causa de suas visões e por causa também pelo modo como ele expôs a Samael. E porque através dele a vinda do Amado desde o sétimo céu se tornara conhecida, e Sua transformação, Sua descida entre os homens, como Ele deveria ser transformado (isto é) à semelhança de homem, e a perseguição com a qual ele seria perseguido, como haveria de ser rejeitado, os tormentos que Ele iria sofrer nas mãos dos filhos de Israel, a vinda e o ensino de Seus doze apóstolos, sua crucificação no madeiro na véspera do sábado e que seria crucificado entre dois ímpios, e acerca de sua sepultura.
14 E os doze que estarão com ele serão ofendidos por Sua causa, e serão colocados guardas para vigiar o Seu túmulo.
15 E o anjo da Igreja cristã que estará no céu no fim dos tempos.
16 E o anjo (Gabriel) do Espírito Santo e o arcanjo Miguel descerão do céu e virão no terceiro dia abrir o seu sepulcro.
17 E o Amado assentado nos ombros dos serafins virá e enviará Seus doze apóstolos.
18 E eles anunciarão a todos os povos e a todas as nações a ressurreição do Amado,e aqueles que crerem em Sua cruz serão salvos, e ele subirá novamente ao sétimo céu de onde viera.
19 E muitos dos que crerão nele falarão por intermédio do Espírito Santo.
20 E ocorrerão naqueles dias muitos sinais e maravilhas.
21 E após isto, na véspera de seu [segundo] advento, os discípulos abandonarão a doutrina dos doze apóstolos, sua fé, seu amor e sua pureza.
22 E haverá muitas discussões na véspera de seu último advento.
23 E muitos, naqueles dias, lutarão pelos cargos sem ter a sabedoria que os torne dignos destes.
24 E haverá muitos anciãos iníquos e os pastores oprimirão suas próprias ovelhas; os santos pastores negligenciarão seus deveres mais sagrados.
25 E muitos mudarão a honra de suas nobres vestes de santos pelas vestes daqueles que possuem riquezas. Haverá distinção de pessoas, e muitos procurarão os homens que são amantes deste mundo.
26 Haverá calúnias e vau-glória antes da aproximação do Senhor, e de muitos será retirado o Espírito Santo.
27 E naqueles dias não haverá muitos profetas, a não ser aqui e ali em diferentes lugares, alguns que anunciarão as grandes verdades.
28 Por causa do espírito de erro, fornicação, vanglória, e de avareza que haverá naqueles dias, alguns a quem se chamar servo do Único receberá este Único.
29 E surgirá grande ódio entre os pastores e os anciãos.
30 E a cobiça será o sentimento dominante, pois cada um dirá apenas o lhe for agradável aos seus ouvidos.
31 E não farão caso algum dos profetas que vieram antes de mim, e estas minhas visões também não serão levadas em consideração, pois falarão segundo o impulso de seus corações.
Capítulo 4
1 E agora Ezequias e Josabe, meu filho, estes são os dias do fim do mundo.
2 Após ser consumado, Belial, o grande dominador, o rei deste mundo desde a sua criação, descerá do seu firma-mento sob a forma de um homem, de um rei ímpio, assassino de sua própria mãe, um rei deste mundo.
3 E ele arrancará a planta do meio dos doze apóstolos a qual eles criaram. Dos Doze um cairá em suas mãos.
4 E este dominador na forma deste rei virá com todas as potências deste mundo que farão todas as suas vontades.
5 A seu comando o sol brilhará no meio da noite e a lua aparecerá na décima primeira hora.
6 E tudo o que ele desejar será feito, e falará como se fosse o Amado e dirá: "Eu sou Deus, antes de mim não houve nenhum".
7 E todo homem, neste mundo, acreditará nele.
8 Oferecer-lhe-ão sacrifícios e lhe servirão com cultos de adoração, dizendo: "Este é Deus e além dele não há nenhum outro".
9 E a maioria dos que se reuniram para receber o Amado se voltarão para o seu lado.
10 E o poder dos seus milagres será exercido em cada cidade e região.
11 E em cada cidade será posta uma imagem dele.
12 E o seu domínio será de três anos, sete meses e vinte e sete dias.
13 E quando os fiéis e os santos, em grande número ainda, virem aquele que eles esperam, aquele que foi crucificado. Jesus Cristo, nosso Senhor, quando eu, Isaías, o tiver viste após sua crucificação, após sua ascensão, então só um pequeno número dentre aqueles que nele acreditarem permanecerão fiéis, e os seus servidores fugirão de deserto em deserto aguardando a vinda do Amado.
14 E após [mil] trezentos e trinta e dois dias, o Senhor virá com seus anjos e as santa hostes do sétimo céu; ele virá com a glória do céu, e precipitará no Geena Belial e seus anjos.
15 E dará a paz e o descanso àqueles que encontrar com vida na terra, aos zeloso: servidores de Deus, e o sol se tingirá de vermelho.
16 E todos aqueles que tiverem execrado Belial, fiéis a Jesus e a seu reino e a todos os seus santos, virão junto com Senhor, trajados com os mesmos hábitos que irão usar no sétimo céu; eles descerão a este mundo e o Senhor confirmará aqueles que estiverem em carne com o hábito da santidade e da inocência, e que permaneceram vigilantes ao seu serviço.
17 E em seguida abandonarão o seu invólucro corpóreo e serão revestidos de suas asas celestes.
18 E então a voz do Amado rejeitará com violência este céu e esta terra; as montanhas e as colinas, as árvores e os desertos, e o setentrião e o anjo do sol, e a lua e todos os objetos deste mundo, testemunhas do poder e da manifestação de Belial. E todos os homens ressuscitarão e serão julgados nestes dias. E o Amado fará sair um fogo devorador que consumirá todos os maus, e estes serão como se nunca tivessem sido.
19 E a continuação desta visão se encontra relatada na visão da Babilônia.
20 E a continuação da minha visão sobre o Senhor é consignada em parábolas nas palavras do livro de minhas profecias públicas.
21 Eis aqui o que se refere à descida do Amado aos infernos; ela é contida nesta parte do livro em que o Senhor diz: "Meu Filho será dotado de sabedoria; e eis que tudo isso se encontra escrito nos Salmos, nos Provérbios de Davi, filho de Jessé; nos de Salomão, seu filho; nas palavras de Koreh e de Etan, de Israel; nas de Asaph e nos outros salmos que o anjo do Espírito ditou aos profetas.
22 E nas palavras daqueles cujos nomes não são obscuros; nas palavras de Amós, meu pai; de Micheias, de Joel, de Naum, de Jonas, de Abadias, de Habacuque, de Ageu, de Sofonias, de Zacarias, de Malaquias; nas palavras de José, o Justo, e nas de Daniel.
Capítulo 5
1 É por isso que todas estas visões exaltavam a ira de Belial; ele apoderou-se do coração de Manassés, que cortou o profeta com uma serra para madeira.
2 E enquanto Isaías era assim cortado, Belakira, de pé, o acusava, e todos os falsos profetas, enquanto assistiam ao seu suplício, entregavam-se a uma manifestação de alegria indecente e zombavam dele.
3 E Belakira e Bamkembek.us, diante de Isaías, zombavam dele e regozijavam-se com suas dores.
4 E Belial disse a Isaías: "Confessa que tudo o que disseste é só mentira, e que a conduta de Manassés é boa e reta.
5 "Confessa que a conduta de Belakira e de todos aqueles que estão com ele é boa."
6 E assim lhe falava ele quando a serra começou a penetrar sua carne.
7 Mas Isaías estava transportado em visão e seus olhos estavam abertos, e olhava os espectadores de sua paixão.
8 E Milkiras disse a Isaías: "Confessa o que te direi e eu mudarei o coração daqueles que te perseguem, e farei com que Manassés e os chefes de Judá e o seu povo e toda Jerusalém te adorem."
9 E Isaías respondeu-lhe e disse: "Não sois amaldiçoados em cada uma de vossas palavras, tu, e todos os teus poderosos e todos os teus adeptos?
10 "Pois nada podes contra mim: todo o teu poder se limita a arrancar-me uma vida miserável."
11 E eles agarraram o profeta e serraram Isaías, filho de Amós, com uma serra para madeira.
12 E Manassés e Melakira e os falsos profetas, e os chefes de Israel e o povo todo assistiram ao espetáculo de seu suplício.
13 E antes de realizar o seu sacrifício, ele disse aos profetas que estavam com ele: "Ide para Tiro e Sidon; pois é só para mim que o Senhor preparou o cálice".
14 E Isaías, enquanto a serra penetrava sua carne, não proferiu uma queixa sequer, não derramou uma lágrima; mas só parou de comunicar-se com o Espírito Santo quando o seu corpo ficou serrado pela metade.
15 E essa é a vingança conseguida por Belial sobre Isaías por meio de Belakira e Manassés devido à ira de Samael contra o profeta, desde a época do reinado de Ezequias, rei de Judá, por causa de sua visão e de sua profecia sobre o Amado,
16 e por causa da destruição de Samael, profetizada por Isaías, sob o reinado de Ezequias, pai de Manassés. E este martírio do profeta foi uma inspiração de Satanás.
Capítulo 6
Visão de Isaías, filho de Amós, no vigésimo ano do rei-nado de Ezequias, rei de Judá
1 E Isaías, filho de Amós, veio com Josabe, seu filho, da Galiléia para Jerusalém, encontrar-se com o rei Ezequias.
2 O rei repousava em seu leito; ofereceram um trono ao profeta, mas este recusou sentar-se.
3 E durante o diálogo entre Isaías e Ezequias sobre a fé e a justiça, todos os chefes de Israel, e os eunucos, e os conselheiros do rei estavam sentados; e havia também .
14 E o povo que lá se encontrava com a assembléia dos profetas acreditou que a vida de Isaías tinha-lhe sido subtraída.
15 E a visão do santo profeta não foi deste mundo aqui, mas uma visão do mundo misterioso no qual não é permitido ao homem penetrar.
16 E após ter tido esta visão, Isaías a comunicou a Ezequias e a Josheb, seu filho, e aos outros profetas que vieram ouvi-lo.
17 Mas os governadores e os eunucos e o povo não ouviram o seu relato, exceto Shemma, o escriba de lavakem, e Asaph, o escrivão dos registros públicos, porque eles eram servidores da justiça, e porque o Espírito lhes fora benevolente. E o resto dos oficiais e dos assistentes não o ouviram porque Miquéias e Josheb, filho de Isaías, haviam-no obrigado a sair quando Isaías desfalecera e parecera estar morto.
Capítulo 7
1 E Isaías colocou Ezequias e Josheb seu filho, e Miquéias e os outros profetas a par de sua visão.
2 E aconteceu, disse ele, como eu profetizei, tal como vós ouvistes, que eu vi um anjo radiante de glória; mas uma glória que não se parecia em nada à dos anjos. Ele tinha uma glória e um poder tão grande, que me é impossível dar-lhes a idéia.
3 Eu o vi pegar-me pela mão, e disse: "Quem és tu? Qual o teu nome? E por que caminho far-me-ás subir ao céu?" Pois fora-me dado o poder de conversar com ele.
4 Ele me respondeu: "Depois de ter-te elevado, e depois de ter-te mostrado a visão que eu tenho por missão revelar-te, compreenderás imediatamente quem sou eu; mas não conhecerás o meu nome.
5 "Pois tu deves ainda retornar à tua prisão mortal, mas perceberás o caminho pelo qual te farei subir ao céu; pois é para isso mesmo que fui enviado a ti."
6 Então, regozijava-me em ouvi-lo falar comigo tão amigavelmente.
7 Ele me disse: "Tu te regozijas em ouvir-me falar contigo amigavelmente?" Ele acrescentou: "Aquele que me glorifica, tu o verás, e poderás julgar a bondade e a doçura que ele irá ter para contigo.
8 "E o pai daquele que me glorifica, tu o verás também; pois é para isso que eu fui enviado do sétimo céu para esclarecer-te sobre todas essas coisas."
9 E subimos, o anjo e eu, ao firmamento, e vi Samael e seus poderes; lá estava o reino da carnificina e das obras de Satanás, da disputa e das discórdias.
10 E lá ocorria o que ocorre na terra, pois há uma semelhança perfeita entre o mundo superior e o mundo inferior.
11 E eu disse ao anjo: "Quais são estas disputas?"
12 E ele me respondeu: "Estas disputas existem desde o início do mundo até o dia de hoje; e quanto a esta carnificina, ela só cessará no dia em que vier aquele que tu verás; a sua presença trará a calma a este mundo de dores."
13 E em seguida ele me fez subir do firmamento ao céu.
14 E vi no meio de um trono; e à direita e à esquerda, anjos.
15 E nunca houve criaturas tão perfeitas quanto os anjos que ficavam à direita; e desses anjos muito grande era a glória; e todos cantavam os louvores numa única voz; e o trono ficava no meio deles; e eles o celebravam em seus concertos. E os anjos que estavam à esquerda cantavam após os primeiros; mas suas vozes não se pareciam com as vozes dos anjos da direita, e o seu esplendor era bem diferente.
16 E interroguei o anjo que me conduzia, e disse-lhe: "A quem são dirigidos estes louvores?"
17 E ele me respondeu: "Os louvores são dirigidos à glória do sétimo céu; àquele que ofusca os olhares no mundo dos santos, e ao Amado que me enviou a ti."
18 E ele me fez em seguida subir ao segundo céu; e a altura deste céu era igual à distância da terra ao céu e ao firmamento.
19 E no primeiro céu havia direita e esquerda, e um trono no meio e anjos resplandecentes. As mesmas coisas se encontravam também no segundo; mas aquele que estava sentado no trono do segundo céu possuía uma glória maior que a de todos os outros.
20 Sim, grande era a glória do segundo céu; e o enviado para guiar os teus passos. E te direi a quem deverás adorar no sétimo céu.
21 E prosternei-me para adorar aquele que estava sentado sobre o trono; mas o anjo que me guiava não mo permitiu, e me disse: "Não adores nem o próprio anjo nem o trono daquele que está no sexto céu, donde fui enviado para guiar os teus passos. Eu te direi quem deverás adorar no sétimo céu,
22 "pois, acima de todos os céus e de todos os seus anjos, encontram-se o seu trono, seu habito, sua coroa que poderás contemplar.
23 "E que teu coração se encha de alegria; pois todos aqueles que amam o Altíssimo e o seu Amado subirão aqui após a vida através do anjo do Espírito Santo."
24 E ele, em seguida, me fez subir ao terceiro céu. E lá também vi aqueles que estava à direita e à esquerda, e um trono no meio, e aquele que nele estava sentado; mas nada havia ali que lembrasse o mundo daqui.
25 E eu disse ao anjo que estava comigo: "Mas se o esplendor celeste vai mudando diante dos meus olhos à medida que subo os diferentes graus do céu, e se aqui não há conhecimento nenhum do mundo seria então em vão que estaríamos dando-lhe um nome aqui embaixo?"
26 E ele me respondeu, dizendo: "O nome que se lhe dá não resulta da repugnância que ele inspira; pois nada do que ali acontece é ocultado".
27 Eu quis então saber como se podia, pois, conhecer o que não tinha nome. E ele me respondeu: "Quando te fiz subir ao sétimo céu, donde eu fui enviado para ti, tu logo verás, neste céu, que está acima de todos os outros, que não há nada que possa escapar aos olhares do trono e dos que habitam o céu, nem dos anjos. Tu verás, ao mesmo tempo, que glória daquele que está sentado no trono, que o esplendor dos anjos que ficam à direita à esquerda, que a sua glória digo, é maior, mais brilhante que a de todos os céus inferiores a este".
28 E ele então me fez subir ao quarto céu; e a distância que separa este céu do terceiro é maior que a da terra ao firmamento.
29 E vi mais anjos de pé à direita e à esquerda, e aquele que estava sentado sobre um trono no meio; e cantavam seus louvores.
30 E o esplendor e a glória dos anjos que se encontravam à direita era maior que a dos anjos colocados à esquerda.
31 E a glória daquele que reinava sobre a terra era mais brilhante que a dos anjos colocados à direita, e a glória de uns e outros era superior à dos anjos dos céus inferiores.
32 E ele me fez subir ao quinto céu.
33 E lá também vi que a glória daqueles que estavam de pé à direita e à esquerda, e daquele que estava sentado no trono, era mais brilhante que a glória daqueles que eu vira no quarto céu.
34 E a glória dos que estavam à direita superava a glória dos que estavam à esquerda; ela era de três a quatro vezes maior.
35 E a glória daquele que estava sentado no trono superava de longe a dos anjos da direita.
36 Mas o esplendor, tanto destes quanto daqueles, superava o do quarto céu.
37 E celebrei aquele que não tem nome, e o Todo-Poderoso que habita os céus, e cujo nome é um mistério para todos os mortais, que transmitiu a sua glória de céu em céu, que aumenta o esplendor dos anjos e dá um novo brilho à glória daquele que reina sobre a terra.
Capítulo 8
1 Ora, ele me fez, em seguida, subir no éter do sexto céu, e vi um esplendor que não havia visto no quinto.
2 E os anjos eram envoltos por uma imensa glória.
3 Imensa era a glória daquele que estava sentado no trono.
4 E eu disse ao anjo que me conduzia: "Que estou vendo, ó meu Senhor?"
5 E ele me disse: "Não sou o teu Senhor, mas apenas o teu companheiro."
6 E eu o interrompi e lhe disse: "Teriam os anjos companheiros?"
7 E ele me disse: "Sim, aqueles do sexto céu e do céu superior, onde não há lado esquerdo, nem trono no meio, é lá que habita aquele que não tem nome, e o Amado cujo nome é um mistério que todos os céus não poderiam penetrar.
8 "Pois é o único cuja voz é ouvida em todos os céus e todos os tronos. Consegui que ele me enviasse a ti a fim de te fazer chegar aqui, para contemplares este esplendor.
9 "E eis o Senhor de todos estes céus e de todos estes tronos.
10 "Ainda que ele deva transformar-se até assumir a tua forma para tornar-se semelhante a ti.
11 "Eis por que te digo, a ti, Isaias: Todo homem retornará um dia à sua carne mortal; e ninguém viu, ninguém entendeu o que viste, o que entendeste.
12 "Tu verás agora o que tu serás; tu participarás da herança do Senhor; tu terás uma parte da árvore da qual emana o poder do sexto céu e do éter."
13 E celebrei o meu Senhor em meus louvores, pois eu devia participar de sua herança.
14 E ele acrescentou: "Escuta ainda o que teu companheiro irá dizer-te: Quando com um corpo não próprio subires aqui, graças ao anjo do espírito, pegarás a vestimenta que vires, e quanto às outras, acha-la-ás contadas e guardadas cuidadosamente.
15 "E igualar-te-ás então aos anjos que estão no sétimo céu.
16 E ele me fez subir ao sexto céu; e não havia mais anjos nem à direita nem à esquerda nem trono no meio; todos os anjos, porém, possuíam a mesma forma e igual esplendor.
17 E foi-me permitido juntar a minha voz à deles, e minhas ações de graças a seus cânticos de louvor.
18 E lá se invocava primeiro o Pai, depois o Cristo, seu Amado, e depois o Espírito Santo, e unos eram os corações e as vozes.
19 Mas elas não se pareciam em nada com as dos cinco céus inferiores.
20 E as coisas que se diziam eram bem diferentes. Mais suaves eram as vozes, mais brilhante era a luz.
21 Tão brilhante que a luz que havia visto nos cinco céu me parecia só trevas comparada com aquela que nestes lugares resplandecia.
22 E com o coração cheio de alegria, louvei com os anjos aquele que havia prodigalizado assim a luz àqueles que têm fé em suas promessas.
23 E supliquei ao anjo que me guiava que fizesse que, partir deste momento, eu não mais retornasse ao mundo carnal.
24 Digo-vos, pois, Ezequias e Josabe, meu filho, aqui só há trevas, só escuridão profunda.
25 E o anjo que me conduzia sabia o que eu pensava, e me disse: "Se o teu coração vibrou de alegria à visão destes belos lugares, desta luz admirável, muito mais ele se regozijará quando, chegado ao sétimo céu, puderes ver a luz onde reside o Senhor e seu Amado que me enviou e que o mundo deverá chamar seu Filho.
26 "Pois não se manifestou ainda aquele que deve habita este mundo corruptível, e não se conhecem ainda os hábitos, os tronos, as coroas reservada aos justos e àqueles que terá fé neste Senhor; naquele que deve descer sob vossa forma pois eminente e inefável é a luz que resplandece nestes lugares.
27 "Quanto à tua volta neste mundo e ao teu invólucro carnal, saibas que tuas alegrias ainda não aconteceram.
28 E diante desta notícia eu me entristeci, mas ele me disse: "Não fiques triste!"
Capítulo 9
1 E ele me elevou ao éter do sétimo céu. E ouvi uma voz que dizia: "Subirá o último degraus aquele que habita entre os estrangeiros?" E fui acometido pelo temor e estremecimento.
2 Pois ela falava de mim. Enquanto estava sob o efeito desta comoção, eis que outra voz se fez ouvir, que dizia: "Sim, que seja permitido ao santo profeta Isaías subir até aqui, pois eis o seu hábito".
3 E interroguei o anjo que estava comigo, e disse-lhe: "Quem é aquele que queria impedir-me; quem é aquele que concordou que eu subisse?"
4 E ele me disse: "Aquele que quis te impedir habita acima dos esplendores do sexto céu.
5 "E aquele que obteve para ti a autorização de subir é o Deus teu Senhor, o Senhor Cristo, que no mundo deve chamar-se Jesus; mas ninguém pode compreender este nome misterioso; é preciso abandonar o invólucro carnal e subir aqui."
6 E ele me fez subir ao sétimo céu, e lá vi uma luz admirável e uma multidão inumerável de anjos.
7 E lá vi todos os santos que viveram desde o tempo de Adão.
8 Vi santo Abel e todos os santos.
9 Vi Enoque e todos aqueles que, com ele, despojaram-se de seu hábito de carne; vi-os revestidos de um hábito celeste; eram como anjos, envoltos por um esplendor infinito,
10 No entanto, eles não se encontravam sentados em seus tronos; e não tinham ainda suas coroas brilhantes.
11 E perguntei ao anjo que estava comigo por que é que eles, após terem recebido seus hábitos celestes, não tinham tronos nem coroas.
12 E ele me respondeu: "Eles não têm ainda nem coroas nem tronos; mas verão, conhecerão quais serão seus tronos e suas coroas, quando o Amado houver descido na forma sob a qual tu o verás.
13 "Pois nos últimos tempos o Senhor descerá ao mundo e será chamado o Cristo, quando descer e vir a vossa forma; e se fará carne e será um homem.
14 "E o Deus deste mundo manifestar-se-á através de seu Filho; e deitar-lhe-ão as mãos e, ignorando quem ele é, haverão de dependurá-lo em uma árvore.
15 "E é assim, como poderás ver, que a sua descida neste mundo será ocultada aos céus, para que não saibam quem é ele.
16 "E quando houver escapado ao anjo da morte, ele voltará novamente no terceiro dia, e permanecerá ainda no mundo por quinhentos e quarenta e cinco dias.
17 "E muitos santos então subirão novamente com ele; mas seus espíritos só receberão a vestimenta nupcial após o Senhor ter subido e eles, com ele.
18 "É somente então que eles receberão seus hábitos e seus tronos e suas coroas, quando ele regressar ao sétimo céu."
19 E eu repeti as perguntas que lhe havia feito no terceiro céu.
20 E ele me disse: "Quanto àquilo que acontece no mundo, tudo é como aqui."
21 E enquanto conversava assim com ele, eis que surgiu, entre os anjos do sétimo céu, um anjo mais resplandecente que aquele que do mundo me havia feito subir.
22 E ele me mostrou livros; mas estes livros não eram como os deste mundo; e eu os abri, e eram escritos; mas esta escrita não era deste mundo. E foi-me permitido lê-los. E eis aqui: nestes livros estavam escritos os feitos e as proezas dos filhos de Israel, que tu conheces, ó meu filho Josabe.
23 E eu disse: "Sem dúvida, sabe-se no sétimo céu tudo o que se passa neste mundo aqui".
24 E lá eu vi grande quantidade de vestes, de tronos e de coroas.
25 E disse ao anjo que me guiava: "Para quem são estas vestimentas, estes tronos e estas coroas?"
26 E ele me respondeu: "Estas vestimentas são destinadas àqueles que no mundo acreditarem nas palavras daquele cujo nome eu te disse, aqueles que vão colocar em pratica estas palavras, e que depositarão toda a sua confiança na cruz: é a eles que estas vestimentas são destinadas."
27 E vi alguém cuja glória superava a glória de todos os outros, glória imensa e inefável.
28 E enquanto eu o olhava, todos os santos que eu tinha visto e todos os anjos vieram a ele: Adão, Abel, Seth, e todos os santos dos tempos antigos aproximaram-se e a adoraram, e, em uníssono, cantaram seus louvores, e eu mesmo me juntei a eles, e juntai minha voz às suas vozes.
29 E, de repente, todos os anjos se aproximaram, adoraram-no e o louvaram.
30 E ele se transformou e se tornou parecido a um anjo.
31 E o anjo que me guiava me disse: "Eis aquele que se deve adorar e louvar."
32 E o anjo me disse: "E eis: o Senhor de toda a glória que viste".
33 E enquanto eu conversava com ele, vi outra personagem resplandecente de glória e parecida à primeira; e os santos se aproximaram dela, a adoraram, cantaram seus louvores e eu mesmo me juntei a eles mas a sua glória não se parecia à glória deles.
34 Os anjos se aproximaram então e o adoraram.
35 E vi o Senhor e o segundo anjo; e os outros permaneciam de pé diante deles.
36 E este segundo anjo que eu vi, se encontrava esquerda do meu Senhor. É perguntei àquele que me conduzia quem era ele; e ele me respondeu: "Adora-o; pois é o anjo do Espírito Santo que falou pela tua boca e pela de todos os santos".
37 E os olhos da minha alma foram abertos e vi uma grande glória, e o seu brilho era tão ofuscante que eu não conseguia mais ver nem o anjo que estava comigo, nem todos os anjos que eu tinha observado louvando meu Senhor.
38 No entanto, vi todos os santos contemplando esta glória com amor e arrebatamento.
39 E o meu Senhor aproximou-se de mim, assim como o anjo do Espírito, e me disse: "Vê, foi-te permitido contemplar Deus; e o anjo que está contigo recebeu, graças a ti, o dom da força".
40 E contemplei o que o meu Senhor e o anjo do Espírito adoram; e ambos louvaram a Deus.
41 E de repente todos os santos se aproximaram e juntaram suas adorações.
42 E todos os santos e anjos se aproximaram e adoraram Deus, e todos os anjos continuaram o seu concerto de louvores.
Capítulo 10
1 E ouvi todas as vozes e todos os louvores que ouvira nos seis céus que havia sucessivamente percorrido.
2 E todas estas vozes e todos estes louvores se dirigiam àquele cuja glória me deslumbrara.
3 E ouvia estes louvores e os contemplava.
4 E o Senhor e o anjo do Espírito ouviam e tudo viam.
5 Pois os louvores que subiam dos céus não só eram ouvidos, como podiam também ser vistos.
6 E ouvi o anjo que me conduzia dizer-me: "Eis o Altíssimo, eis aquele que reina acima de todos os mundos, que habita e reside entre os santos, e que deve ser chamado pelo Espírito Santo o Pai do Senhor".
7 E ouvi as palavras do Altíssimo, do Pai do meu Senhor; ele dizia ao Cristo meu Senhor, àquele que deve chamar-se Jesus:
8 "Vai, atravessa todos os céus, desce até o firmamento, até o mundo, até o anjo que foi precipitado nos infernos, mas cuja danação não foi ainda consumada.
9 "E tu assumirás a forma e semelhança daqueles que estão no quinto céu,
10 "e dos anjos do firmamento e até, mas com cautela, dos anjos que estão nos infernos.
11 "E os anjos do mundo ignorarão que tu estás comigo, o Senhor dos sete céus e de seus habitantes, eles ignorarão que tu e eu somos um.
12 "Mas quando eu convocar os angélicos e luminosos habitantes dos céus, quando eu ampliar o sexto céu, após ter julgado e condenado então os principados, os anjos e os deuses deste mundo, após ter condenado o próprio mundo, tu iniciarás o teu reino.
13 "Pois, filhos da mentira, ousaram dizer: Somos deuses, e não há outro além de nós.
14 "E em seguida realizarás a tua ascensão da morada em que habitam os deuses da morte, para o lugar da tua morada, e não sofrerás nenhuma transformação em tua passagem pelos diferentes céus, mas a tua ascensão será gloriosa e resplandecente; e tu virás sentar-te à minha direita.
15 "E então os principados e as potências do mundo irão adorar-te."
16 Tais eram as palavras que pronunciava esta grande glória, dando ordens ao meu Senhor do sétimo céu.
17 E após tê-las ouvido, vi meu Senhor descer do sétimo céu para o sexto.
18 E o anjo que me havia tirado deste mundo estava comigo, e me disse: "Emprega a tua inteligência, Isaías, e olha, tu verás a transformação do Senhor e a sua descida neste mundo".
19 E eu olhei; tão logo o perceberam os anjos, aqueles que pertenciam ao sexto céu uniram suas vozes, e cantaram seus louvores, pois ele não havia sido feito à sua imagem e semelhança. E eles o celebravam em seus concertos, e eu o celebrei com eles.
20 E eu olhei e o vi, quando chegou ao quinto céu, transformar-se à semelhança dos anjos deste quinto céu, e eles não cantaram seus louvores porque pela sua forma se assemelhava a eles.
21 E ele em seguida desceu ao quarto céu, e transformou-se ainda à imagem daqueles que o habitam.
22 E, ao vê-lo, estes anjos não uniram suas vozes para celebrar seus louvores, porque tinha-se tornado semelhante a eles.
23 E vi-o descer ao terceiro céu e assumir a forma dos anjos que o habitam.
24 E aqueles que guardavam as portas do céu pediram-lhes seus passaportes, e o Senhor lhos deu porque eles não o reconheciam; e ao vê-lo, não uniram suas vozes para cantar seus louvores, porque ele se assemelhava a eles.
25 E vi-o descer ao segundo céu, e aqueles que guardavam a porta pediram-lhe ainda seus passaportes, e o Senhor lhos deu.
26 E vi-o tomar a forma do E anjos que habitam este segundo céu, e eles o olharam, mas não cantaram seus louvores porque assemelhava-se a eles.
27 E vi-o descer ao primeiro céu, e lá também ele deu seus passaportes àqueles que guardavam à porta, e tomou a forma dos anjos que se encontravam à esquerda do trono deste céu, e eles não celebraram seus louvores, porque ele se assemelhava a eles.
28 Quanto a mim, ninguém ousou interrogar-me por causa do anjo que me acompanhava.
29 Ele desceu em seguida ao firmamento onde habitava o príncipe do mundo e deu seus passaportes àqueles que se encontravam à esquerda, e cuja forma ele havia tomado, e ele; não cantaram seus louvores mas havia entre eles combate; sangrentos; pois é lá que habita o poder do mal e da discórdia, poder que não deve durar para sempre.
30 E vi-o, finalmente, descer ainda e tomar a forma dos anjos do ar e tornar-se semelhante a um dentre eles.
31 E ele não deu os seus passaportes, pois eles se entregavam a pilhagens e aos impostos extorsivos de toda espécie.
Capítulo 11
1 E após ter visto todas estas coisas, o anjo que conversava comigo e que me acompanhava me disse: "Abre tua inteligência, Isaías, filho de Amós, pois é para o que eu vou te dizer que fui enviado a ti por Deus".
2 E vi uma mulher da raça do profeta Davi, chamada Maria, e ela era virgem e noiva de um homem chamado José, carpinteiro de profissão, e que também era da raça do justo Davi de Belém, na Judéia.
3 E aconteceu que, ao desejar um herdeiro de sua noiva, ele a encontrou grávida. José, o carpinteiro, queria repudiá-la.
4 E o anjo do Espírito aparecia no mundo. E José, após ter tido esta visão, não repudiava Maria, e não revelava a ninguém o que ele sabia.
5 E ele não se aproximava de Maria, mas conservava-a ao seu lado como uma virgem, embora ela estivesse grávida.
6 E ele ficou com ela dois meses.
7 E depois de dois meses, José estava em sua casa, com Maria; estavam sozinhos.
8 E eis que, quando estavam sozinhos, Maria olhava e via uma criança pequenininha, e ela ficou atônita.
9 E após este assombro de Maria, ela se encontrou exatamente como antes de sua gravidez.
10 Como José... José lhe dizia: "Por que estás maravilhada?" Seus olhos estavam abertos e ele via a criança, e louvava a Deus, porque o Senhor se havia tornado a sua herança.
11 E eles ouviam uma voz que dizia: "Não contareis esta visão a ninguém".
12 E os rumores sobre esta criança se espalhavam em Belém e Judá.
13 Uns diziam que a Virgem Maria havia dado à luz depois de dois meses...
14 Muitos outros asseguravam que ela não havia dado à luz, que ela não havia chamado uma parteira, e que não se ouviram os gritos do parto. E a inteligência de todos se apagara a respeito desta criança; sabia-se que ela havia nascido, não se sabia como ela havia nascido.
15 E o pegaram, e com ele vieram para Nazaré, na Galiléia.
16 E eu vi, ó Ezequias, e Josabe, meu filho, e todos vós profetas, com os quais estou conversando neste momento, eu vi tudo que havia sido ocultado de todos os céus, de todos os principados, de todos os deuses deste mundo.
17 E eu o vi em Nazaré no seio da mãe, como uma criancinha e em uma condição humilde e ignorada.
18 Mas, crescendo, ele realizava grandes prodígios e milagres sobre a terra de Israel e em Jerusalém.
19 E os estrangeiros então alimentavam ódio contra ele e açulavam contra ele os filhos de Israel que não sabiam quem ele era; e o entregaram ao rei e o suspenderam numa cruz, e ele desceu para o anjo da morte.
20 Sim, eu o vi em Jerusalém preso a uma cruz.
21 E após o terceiro dia, ele ressuscitava, e ficava ainda por muito tempo sobre a terra.
22 E o anjo que me conduzia me disse: "Abre a tua inteligência, Isaías"; e vi-o efetuar a sua ascensão, após ter confiado uma missão a seus doze discípulos.
23 E eu o contemplei. Ele chegou ao firmamento; mas não mais assumiu a forma daqueles que o habitam, e todos os anjos do firmamento, e o próprio Satanás, se prosternavam diante dele.
24 E uma grande tristeza pairava entre eles; e diziam: "Como é que o nosso Senhor pôde descer entre nós e nós não reconhecemos o seu esplendor, que nos ofusca neste momento, e que o distingue no sexto céu?"
25 E ele subiu ao segundo céu, e não sofreu nenhuma transformação; e todos os anjos que lá estavam, à direita e à esquerda, e o trono colocado no meio.
26 Todos o louvavam e o adoravam, dizendo: "Como pôde o Senhor descer entre nós, sem que o tenhamos reconhecido?"
27 E ele subiu da mesma forma ao terceiro céu, e lá também louvaram-no e adoraram-no.
28 E ocorreu o mesmo no quarto e no quinto céu.
29 E o concerto de louvores foi unânime em toda parte, e ele não sofreu nenhuma transformação ulterior.
30 E os louvores e as adorações recomeçaram quando de sua entrada no sexto céu.
31 E o concerto de todos os céus era unânime.
32 E quando ele chegou ao sétimo céu, todos os santos e todos os anjos redobraram suas aclamações. E eu o vi sentado à direita desta grande glória, cujo esplendor a eu disse que me ofuscara.
33 E eu vi o anjo do Espírito Santo, que estava sentado à esquerda.
34 E o anjo me disse: "Isaías, filho de Amós, eu te protejo, pois são tão grandes as coisas que te foram comunicadas; e tu viste o que não foi dado a nenhum dos filhos dos homens ver.
35 "Ora, tu retornarás ao teu invólucro corpóreo até que teus dias se cumpram; tu voltarás então aqui". Eis o que eu vi.
36 E Isaías contou estas coisas a todos aqueles que estavam diante dele; e eles louvavam Deus. E o profeta dizia ao rei Ezequias: "Afirmo a verdade de tudo aquilo que eu disse.
37 "E o mundo será coroado.
38 "E esta visão toda cumpriu-se na última geração".
39 E Isaías suplicava ao rei que não revelasse ao povo as palavras desta visão, temendo que elas fossem submetidas à perversidade dos homens.
40 "Mas podereis, acrescentou, comunicá-las quando vos for permitido pelo Espírito Santo receber vossos hábitos celestes, vossos tronos e vossas coroas que para vós estão preparados no sétimo céu."
41 E é por causa destas visões e destas profecias que Samael Satanás cortou com uma serra o profeta Isaías, filho de Amós.
42 E Ezequias confiou todas estas coisas a Manassés, no vigésimo sexto ano do seu reinado.
Aqui termina o livro do profeta Isaías e de sua ascensão.
E quanto a ti, Aarão meu pai, da mesma forma que aqui escreveste este livro, assim Deus escreverá o teu nome no livro da vida, sobre as colunas da Jerusalém celeste. Pois, apresentando as palavras de Deus como um transeunte, tu a estimaste acima de todos os tesouros da terra. E agora, porque Deus te deu a graça de desprezar todos os poderes temporais e de amar apenas a pobreza, porque ele te concedeu a força de viver aqui na terra como um estrangeiro e um viajante ao pé do santo sepulcro, ele te prepara em seu reino um trono resplandecente e uma magnífica coroa, assim como ao nosso irmão Mercúrio, tão manso, tão cheio de amor e boa vontade; e o padre Miguel, e todos os irmãos que estão convosco, e que se assemelham aos anjos, Deus os convidará a todos para participar de sua vida e sua paz eterna. E os fará ouvir esta palavra de alegria e felicidade: "Vinde, os abençoados do meu Pai, tomai posse do reino dos céus. Amém, amém e amém".
E quanto a mim, pobre e fraco escritor, lembrai-vos de miro em vossas orações. E tu, meu Senhor, servidor do Cristo, não me censures a imperfeição da minha escrita: esforcei-me ao máximo. Satisfaz por tua vez os meus desejos, concede-me o que deseja o meu coração, uma vestimenta gloriosa, de textura tênue, de tecido fino, e que tenha doze varas de comprimento e quatro de largura. Fim


Livro 9º - Livro dos Segredos de Enoque

Capítulo 1
HAVIA UM SÁBIO, um grande artífice, e o Senhor dedicou-lhe seu amor e o recebeu, a ponto de fazê-lo testemunhar as mais altas moradas dos maiores e mais sábios e imutáveis reinos do Todo-Poderoso, das mais maravilhosas, gloriosas e brilhantes estações de muitos olhos dos servidores do Senhor, e o inacessível trono do Senhor; e os graus e manifestações e hostes incorpóreas e o inefável ministério e a multidão de elementos, e as várias aparições e o canto indizível das hostes dos Querubins, e a luz infinita.
2 Naquele tempo, disse ele, quando completei cento e sessenta e cinco anos, gerei meu filho Matusalém.
3 Depois disso, vivi duzentos anos e, ao todo, minha vida foi de trezentos e sessenta e cinco anos.
4 No primeiro dia do primeiro mês, estava eu sozinho em minha casa descansando no meu leito, quando adormeci.
5 E quando estava adormecido, uma grande tristeza tomou conta de meu coração e chorei durante o sono, e não podia entender que tristeza era aquela, ou o que iria acontecer-me.
6 E então me apareceram dois homens, extraordinariamente grandes, como eu nunca vira antes na terra; suas faces resplandeciam como sol e os seus olhos eram como uma chama, e de seus lábios saía um canto e um fogo, variados, cor violeta na aparência; suas asas eram mais brilhantes que o ouro, suas mãos, mais brancas que a neve.
7 Eles estavam em pé, na cabeceira de meu leito, e puseram-se a chamar-me pelo nome.
8 Acordei e vi claramente aqueles dois homens, de pé, minha frente.
9 E saudei-os e fui tomado de medo, e meu semblante transformou-se pelo terror, e homens disseram:
10 "Tem coragem, Enoque não temas; o Deus eterno nos mandou a ti e, vê! tu hoje deverás subir aos céus conosco, e deverás dizer a teus filhos e aos da tua família tudo o que deverão fazer na casa durante tua ausência na terra, e não os deixes procurar-te até que o Senhor te devolva a eles."
11 E não me demorei em obedecê-los e saí de minha casa, como me foi ordenado, chamei meus filhos Matusalém e Regim e Gaidad e contei-lhe todas as maravilhas que me haviam dito aqueles homens.
Capítulo 2
A instrução: de como Enoque instruiu seus filhos.
Ouvi-me, meus filhos, não sei aonde vou, ou o que será de mim; entretanto, digo-vos: não vos desvieis de Deus para os vaidosos, que não criaram o Céu e a terra, pois que perecerão junto com os que os adoram, e que o Senhor vos torne confiantes em vosso coração, no temor a Ele. E agora, meus filhos, não deixeis que pensem em me buscar, até que O Senhor me devolva a vós".
Capítulo 3
Da assunção de Enoque:
de como os anjos o levaram ao primeiro céu.
Aconteceu que, depois de Enoque ter falado com os filhos, os anjos o levaram em suas asas ao primeiro céu, e o puseram nas nuvens. E aí eu olhei, e olhei outra vez mais para o alto e vi o éter, e eles me puseram no primeiro céu e me mostraram um grande mar maior que o mar da terra.
Capítulo 4
De como os anjos dirigem as estrelas.
Trouxeram até mim os anciãos e os dirigentes das ordens estelares, e mostraram-me duzentos anjos que dirigiam as estrelas e suas funções nos céus, e voaram com suas asas e apareceram todos que navegam.
Capítulo 5
De como os anjos mantêm os depósitos de neve.
E aí olhei para baixo e vi as tesourarias da neve, e os anjos que mantêm seus terríveis depósitos, e vi as nuvens que dali saem e para onde vão elas.
Capítulo 6
O orvalho e o azeite e várias flores.
Eles me mostraram a tesouraria do orvalho, tal qual azeite de oliva, e a sua forma, assim como todas as flores da terra; além disso, os muitos anjos que guardavam a tesouraria dessas coisas, e como fazem para abrir e fechar.
Capítulo 7
De como Enoque foi levado para o segundo céu.
1 E aqueles homens me tomaram e me conduziram ao segundo céu, e me mostraram as trevas, mais escuras que as da terra, e eu vi prisioneiros atados, vigiados, que aguardavam o grande e infinito julgamento, e esses anjos eram escuros, mais escuros que a escuridão da terra, e os faziam chorar incessantemente, o tempo todo.
2 E eu disse aos homens que estavam comigo: "Por que motivo estão eles sendo torturados sem parar?" Eles me responderam: "Estes são os infiéis a Deus, que não obedeceram aos mandamentos de Deus, mas que se aconselharam segundo sua própria vontade, e se foram com seu príncipe que também está acorrentado no quinto céu".
3 Senti muita pena deles, e eles me saudaram e me disseram: "Homem de Deus, ora por nós ao Senhor". E eu lhes respondi: "Quem sou eu, um mortal, para que possa orar aos anjos? Quem sabe para onde vou e o que será de mim? Ou quem rezará por mim?"
Capítulo 8
1 E aqueles homens me tomaram, então, e me conduziram ao terceiro céu, e lá me puseram: e olhei para baixo e vi os produtos daquele lugar, que jamais foram conhecidos.
2 E vi as mais doces árvores floridas e olhei seus frutos e os alimentos que produziam, e todos exalavam as mais doces fragrâncias.
3 E no meio daquelas árvores, a da vida, naquele lugar onde Deus descansa quando vai para o paraíso; e essa árvore é de uma qualidade e fragrância inefáveis, e mais adornada do que qualquer coisa que existe; e de todos os lados é como o ouro e o cinabre e o fogo, e ela tudo cobre e há proveito de todos os frutos.
4 Sua raiz está no jardim no fim da terra.
5 E o paraíso está entre corruptibilidade e a incorruptibilidade.
6 E de suas fontes brotam mel e leite, e de seus jorros saem óleo e vinho, e eles se separam em quatro partes e vão dar no Paraíso Do Éden, entre a corruptibilidade e a incorruptibilidade.
7 E dali elas vão à terra sofrem uma revolução em seu círculo, transformando-se até em outros elementos.
8 E aqui não há árvore; sem frutos, e todo o lugar e abençoado.
9 E há trezentos anjos muito brilhantes que guardam o jardim, e com um incessante, doce canto, e com vozes que nunca silenciam, servem o Senhor todas as horas e todos o dias.
10 E eu disse: "Quão doce é este lugar!" E aqueles homem me disseram:
Capítulo 9
De como mostraram a Enoque o lugar dos justos e dos mansos.
"Este lugar, ó Enoque, é preparado para os justos, o que se abstêm de todas as formas das ofensas que vêm daqueles que exasperam sua alma, que preservam seus olho da iniqüidade e que fazem julgamentos justos, que levam pão aos famintos e cobrem de vestes os nus e levantam os que caíram, que ajudam os órfãos e que andam sem mácula diante do Senhor, e somente a Ele servem. E para estes é preparado este lugar de herança eterna."
Capítulo 10
Aqui eles mostraram a Enoque o lugar terrível e as várias torturas.
1 E aqueles dois homens me tomaram e me conduziram ao Norte, e me mostraram um lugar terrível onde havia todas as maneiras de torturas: trevas e escuridão sufocantes, nenhuma luz havia lá, mas um fogo escuro constantemente ardia no alto. E havia um rio de fogo que corria, e por todo o lugar havia fogo, e por todo lugar havia geada e gelo, sede e tremores, enquanto que as penas eram muito cruéis. Os anjos temíveis e impiedosos portavam armas terríveis e infligiram torturas tenebrosas, e eu disse:
2 "Ai, ai, quão terrível é este lugar!"
3 E aqueles homens me disseram: "Este lugar, ó Enoque, é preparado para os que desonram Deus, que na terra praticam o pecado contra a natureza, que corrompem a criança pela sodomia, feitiçaria demoníaca e encantamentos. E aqueles que apregoam seus feitos maldosos, roubo, mentiras, calúnias, inveja, rancor, fornicação, assassinato, e aqueles que, amaldiçoados, roubam as almas dos homens, que, vendo os pobres, tiram-lhes seus bens; aqueles que, sendo capazes de satisfazer o vazio,deixam os famintos morrer à míngua. sendo capazes de vestir, despem os nus; e aqueles que não conheceram seu criador, e curvaram a cabeça para deuses sem vida, que não podem nem ver nem ouvir, deuses vaidosos, que também moldaram imagens com muito esforço e curvaram-se a obras imundas; para todos estes é preparado este lugar, em meio aos outros lugares, para a herança eterna."
Capítulo 11
Aqui tomaram Enoque e o levaram ao quarto céu, onde está o curso do sol e da lua.
1 Aqueles homens me tomaram e conduziram-me ao quarto céu e me mostraram os sucessivos acontecimentos, e todos os raios da luz do sol e da lua.
2 E eu medi seus movimentos e comparei suas luzes, e vi que a do sol é maior que a da lua.
3 Seu ciclo e suas órbitas, nos quais eles sempre se movimentam, como um vento de uma velocidade maravilhosa, e o dia e a noite têm um rápido trânsito.
4 Sua passagem e seu retorno são acompanhados por quatro grandes estrelas, e cada estrela tem sob seu controle mil outras estrelas, à direita da órbita do sol, e quatro à esquerda, cada uma tendo o controle de mil estrelas, ao todo oito mil, seguindo continuamente com o sol.
5 E de dia, quinze miríades de anjos o assistem e à noite, mil.
6 E seis alados seguem com os anjos diante da órbita do sol em suas chamas flamejantes, e cem anjos acendem o sol.
Capítulo 12
Os muitos e magníficos elementos do sol.
1 E eu olhei e vi outros elementos voadores do sol, cujos nomes são Fênix e Chalkydri, maravilhosos e magníficos, com pés e caudas na forma de leão, cabeça de crocodilo, e sua aparência escarlate é como o arco-íris; seu tamanho é de novecentas medidas, suas asas são como as dos anjos, cada um tem doze, e atendem e acompanham o sol dando calor e orvalho tal como lhes foi ordenado por Deus.
2 Assim, o sol gira e vai, e levanta sob a terra, e seu curso vai embaixo da terra com a luz incessante de seus raios.
Capítulo 13
1 Os anjos tomam Enoque e o põem no leste, nos portais do sol.
Estes homens levaram-me para o leste e me puseram nos portais do sol, para onde o sol se dirige de acordo com a regulamentação das estações e do circuito dos meses do ano todo, e o número de horas do dia e da noite.
2 E vi seis portões abertos, cada um com sessenta e um estádios e um quarto de um estádio, e eu realmente o medi, e entendi o porquê desse tamanho tão grande, através do qual o sol se dirige para o oeste, equilibra-se e se levanta durante todos os meses e torna a voltar aos seis portões de acordo com a sucessão das estações; assim o período de um ano completo termina depois da volta das quatro estações.
Capítulo 14
Levaram Enoque para o oeste.
1 E outra vez aqueles homens conduziram-me às paragens do oeste e me mostraram seis grandes portões, que correspondem aos portões do leste, lado oposto onde o sol se põe de acordo com o número de dias, trezentos e sessenta e cinco e um quarto.
2 Assim, outra vez eleva vai para os portões do oeste e retire sua luz, a grandiosidade de seu brilho, e vai para baixo da terra e enquanto a coroa de seu brilho está no céu com o Senhor guardada por quatrocentos anjos, o sol gira em sua órbita de baixo da terra, e fica sete horas da noite, e passa metade de seu curso debaixo da terra, quando então vem do lado leste na oitava hora da noite, traz sua luz, a coroa do brilho e o sol ardem em chamas mais que o fogo.
Capítulo 15
Os elementos do sol, as Fênix e Chalkydri irromperam em uma canção.
1 Então os elementos do sol, chamados Fênix e Chalkydri, irromperam em um canção; conseqüentemente, cada pássaro bateu suas asas, rejubilando-se por aquele que dá a luz, e irromperam em um cântico ao comando do Senhor.
2 O que dá a luz vem para dar claridade ao mundo todo, e a sentinela da manhã toma forma, que são os raios do sol, e o sol dá terra nasce, e ela recebe o brilho que a ilumina toda, e eles me mostraram os cálculos do caminho do sol.
3 E os portões nos quais ele entra, estes são os grandes portões do cômputo das horas do ano; por essa razão o sol é uma grande criação, cujos circuitos duram vinte e oito anos, para recomeçar do início.
Capítulo 16
Tomaram Enoque outra vez e o puseram ao leste, no curso da lua.
1 Aqueles homens mostraram-me outro curso, o da lua; doze grandes portões, coroados de oeste a leste, pelo qual a lua vai e vem nos tempos usuais.
2 Ela entra no primeiro portão do lado oeste do sol, pelo primeiro portão com trinta e um dias exatamente, pelo segundo portão com trinta e um dias exatamente, pelo terceiro com trinta e um dias exatamente, pelo quarto com trinta e um dias exatamente, pelo quinto com trinta e um dias exatamente, pelo sexto com trinta e um dias exatamente, pelo sétimo com trinta e um dias exatamente, pelo oitavo com trinta e um dias exatamente, pelo nono com trinta e um dias exatamente, pelo décimo com trinta e um dias exatamente, pelo décimo primeiro com trinta e um dias exatamente, pelo décimo segundo com vinte e oito dias exatamente.
3 E ela vai através do portão do oeste na ordem e número do leste, e cumpre os trezentos e sessenta e cinco dias e um quarto do ano solar, enquanto que o ano lunar tem trezentos e cinqüenta e quatro dias, e ficam-lhe faltando doze dias do ciclo solar, que são as fases lunares de um ano.
4 Assim, também, o grande ciclo tem quinhentos e trinta e dois anos.
5 O quarto de um dia é omitido por três anos, e o quarto ano o completa exatamente.
6 Por isso, eles são tirados do céu por três anos e não são adicionados ao número dos dias porque eles acrescentariam dois novos meses a um ano, no sentido de complementação, e tirariam outros dois, no sentido de diminuição.
7 E quando os portões do oeste terminam, ela volta e vai ao leste para a luz, e vai desse modo pelos ciclos celestes dia e noite, mais baixo que todos os ciclos, mais rápido que os ventos dos céus, e espíritos e elementos e anjos voando; cada anjo tem seis asas.
Capítulo 17
Dos cânticos dos anjos, que é impossível descrever.
No meio dos céus eu vi soldados armados, servindo o Senhor, com tímpanos e órgãos, com vozes incessantes, com doces vozes, com doces e incessantes vozes e vários cânticos, que é impossível de descrever, e que assombra qualquer inteligência, de tão magnífico e maravilhoso que é o cântico daqueles anjos, e eu estava encantado ouvindo-o.
Capítulo 18
De como Enoque foi levado ao quinto céu.
1 Os homens levaram-me ao quinto céu e lá me puseram, e vi muitos e incontáveis soldados, chamados Grigori, de aparência humana, e eram maiores que os maiores gigantes e suas faces eram sem viço e o silêncio de suas bocas, perpétuo, e não havia qualquer serviço no quinto céu, e eu disse aos homens que estavam comigo:
2 "Por que eles são tão sem viço e suas faces melancólicas, suas bocas silenciosas, e por que não há serviço neste céu?"
3 Eles me disseram: "Estes são os Grigori, que com seu príncipe Satanail rejeitaram o Senhor da Luz, e atrás deles estão os que são mantidos nas grandes trevas do segundo céu, e três deles foram para a terra vindos do trono do Senhor, para o Ermon, e quebraram seus votos nas encostas da colina do Ermon e viram como eram bonitas as filhas dos homens e tomaram-nas por esposas e sujaram o mundo com suas obras, e durante todo o tempo de sua estada cometeram ilegalidade e promiscuidade, e nasceram gigantes e impressionantes homens grandes e grandes inimizades.
4 E por isso Deus julgou-os com um grande julgamento e eles choraram por seus irmãos e serão punidos no grande dia do Senhor.
5 E eu disse aos Grigori: "Eu vi vossos irmãos e suas obras e seus grandes tormentos, e rezei por eles, mas o Senhor condenou-os a estar embaixo da terra até o céu e a terra se acabarem".
6 E eu disse: "Por que razão esperais, irmãos, e não servis diante da face do Senhor e por que não pusestes vossos serviços diante da face do Senhor, para que o Senhor não se enraivecesse tanto?"
7 E eles ouviram minhas admoestações e falaram para as quatro ordens do céu, e vede! enquanto eu estava com esse dois homens, quatro trombetas soaram juntas bem alto, e os Grigori irromperam em um cântico uníssono, e suas vozes foram até o Senhor cheias de piedade e afeição.
Capítulo 19
De como Enoque foi levado ao sexto céu.
1 E então aqueles homem tomaram-me e me puseram no sexto céu, e lá vi sete grupos de anjos, muito brilhantes e gloriosos, e suas faces brilhavam mais que o sol resplandecendo e não havia diferenças em sua faces, comportamento ou maneira de vestir-se; e eles fazem as ordens e aprendem o movimento das estrelas, a alteração da lua ou a revolução do sol e o bom governo do mundo.
2 E, quando eles vêem coisas ruins, fazem os mandamentos e dão instruções e cânticos doces e altos, e todos são cânticos de louvor.
3 Esses são os arcanjos, que estão acima dos anjos, e eles avaliam toda a vida no céu e na terra e os anjos que estão designados para as estações do ano, os anjos que cuidam dos rios e dos mares, e os que cuidam dos frutos da terra, e os que cuidam de toda a vegetação, dando comida para todos, e os anjos que anotam todas as almas dos homens e todos os seus feitos e todas as suas vidas diante da face do Senhor; em meio deles estão seis Fênix e seis querubins e seis com seis asas, continuamente com uma voz cantante, e não é possível descrever seus cânticos e seu júbilo diante do Senhor, aos pés do Senhor.
Capítulo 20
Então levaram Enoque para o sétimo céu.
1 E aqueles dois homens levaram-me até o sétimo céu, e lá vi uma grande luz e as flamejantes hostes dos grandes arcanjos, milícias incorpóreas, e dominações, ordens e governos, querubins e serafins, tronos e alguns de muitos olhos, nove regimentos, as estações de luz Ioanitas, e tive medo, e comecei a tremer com grande terror, e aqueles homens tomaram-me e me conduziram e me disseram:
2 "Tem coragem, Enoque, não temas", e mostraram-me o Senhor ao longe, sentado em seu trono muito alto. Pois o que haverá no décimo céu, se o Senhor aqui habita?
3 No décimo céu está Deus, na língua hebraica ele é chamado Aravat:
4 E todas as hostes celestes viriam e ficariam nos dez degraus, de acordo com sua posição, e se curvariam ao Senhor e novamente voltariam aos seus lugares em alegria e felicidade, entoando cânticos na luz ilimitada com vozes suaves, servindo-o com glória.
    Capítulo 21
De como os anjos deixaram Enoque ali no fim do sétimo céu e se foram.
1 E os querubins e serafins que estavam perto do trono, os de seis asas e muitos olhos não se afastaram da face do Senhor, fazendo sua vontade e rodeando seu trono, cantando com doces vozes diante da face do Senhor: "Santo, Santo, Santo, Senhor Soberano de Sabaoth, céus e terra estão pleitos de tua glória".
2 Quando vi essas coisas, aqueles homens disseram-me: "Enoque, foi-nos ordenado que viajássemos até aqui contigo", e esses homens se foram e não mais os vi.
3 E fiquei só no fim do sétimo céu e fiquei com medo e caí de face no chão e disse a mim mesmo: "Ai de mim, que será de mim?"
4 E o Senhor enviou-me um de seus gloriosos, o arcanjo Gabriel, e ele me disse: "Tem coragem, Enoque, não temas, levanta-te diante da face do Senhor na eternidade, levanta-te e vem comigo".
5 E eu lhe respondi e disse para mim mesmo: "Meu Senhor, minh'alma saiu de mim pelo terror e pelos tremores", e chamei pelos homens que me haviam conduzido a esse lugar, eu havia confiado neles, e com eles estive diante da face do Senhor.
6 E Gabriel pegou-me como a uma folha que é apanhada pelo vento e colocou-me diante da face do Senhor.
7 E eu vi o oitavo céu, que é chamado na língua hebraica de Muzaloth, o que muda as estações, a seca e a umidade e os doze signos do zodíaco, que estão acima do sétimo céu.
8 E eu vi o nono céu, que é chamado em hebraico Kuchavim, onde estão as casas celestes dos doze signos do zodíaco.
Capítulo 22
1 No décimo céu, Aravoth, vi como era a face do Senhor, como o ferro que arde no fogo e que, ao sair, emite faíscas e queima.
2 Assim vi a face do Senhor, mas a face do Senhor é inefável, maravilhosa e muito sublime e muito terrível.
3 E quem sou eu para falar sobre o inexprimível ser do Senhor e sua magnificente face? E não posso contar a quantidade de suas muitas instruções e várias vozes, o trono do Senhor muito grande, que não foi feito por mãos, nem a quantidade daqueles que o rodeiam hostes de querubins e serafins nem seus cantos incessantes nem sua imutável beleza, e quem pode falar da grandiosidade de sua glória?
4 E devo inclinar-me e reverenciar o Senhor, e o Senhor com seus lábios, disse-me:
5 "Tem coragem, Enoque não temas, levanta-te diante de minha face na eternidade".
6 O arquigeneral Miguel levantou-se e conduziu-me diante da face do Senhor.
7 E o Senhor disse aos seus servos pondo-os à prova: "Deixa que Enoque se ponha diante de minha face na eternidade", e oi gloriosos curvaram-se ante o Senhor e disseram: "Que Enoque vai segundo tua palavra".
8 E o Senhor disse a Miguel: "Vai e despoja Enoque de suas vestes terrestres e ungem com meu doce bálsamo, e veste o com os vestidos de minha glória".
9 E Miguel assim o fez, tal qual o Senhor lhe ordenara. Ele me ungiu, vestiu-me, e o aspecto daquele bálsamo é mais que a grande luz, é como o doce orvalho e seu perfume, suave brilhante como um raio de sol e olhei para mim mesmo, e eu estava como seus gloriosos.
10 E o Senhor convocou um de seus arcanjos chamado Pravuil, mais forte em sabedoria do que qualquer outro arcanjo, que escrevera todas a obras, do Senhor, e o Senhor disse a Pravuil:
11 "Traz aqueles livros de meus depósitos e uma pena de escrita rápida, e dá-os a Enoque e incumbe-o da escolha dos livros."
Capítulo 23
De como Enoque escreveu, como ele escreveu sua maravilhosa jornada e as aparições celestiais, e ele escreveu trezentos e sessenta e seis livros.
1 E ele me falava sobre todas as obras do céu, terra e mar, e todos os elementos, suas passagens e cursos, e o tremendo ruído do trovão, o sol e a lua, os cursos e as mudanças das estrelas, das estações, anos, dias e horas, de como se formam os ventos, o número dos anjos e a formação de seus cânticos, e todas as coisas humanas, a língua de cada cântico e vida humana, os mandamentos, instruções, e os doces cânticos, e todas as coisas que são feitas para serem aprendidas.
2 E Pravuil disse-me: "Todas as coisas que te disse, temo-las por escrito. Senta-te e relaciona todas as almas da humanidade, ainda que muitas delas já tenham nascido, e os lugares preparados para elas na eternidade; pois que todas as almas são preparadas para a eternidade, antes mesmo da formação do mundo".
3 E tudo se repetiu por trinta dias e por trinta noites, e eu escrevi todas as coisas com exatidão, e escrevi trezentos e sessenta e seis livros.
Capítulo 24
Os grandes segredos de Deus, que Deus revelou e contou a Enoque, e falou  lhe face a face.
1 E o Senhor chamou-me e disse-me: "Enoque, senta-te à minha esquerda com Gabriel".
2 E eu curvei-me diante do Senhor, e o Senhor falou-me: "Enoque, amado, tudo que vês já pronto, eu te digo que já era mesmo antes do início, pois que tudo isso eu criei do não-ser, as coisas visíveis do invisível.
3 "Ouve, Enoque, e aceita minhas palavras, pois nem a meus anjos contei meus segredos, e não lhes contei sobre seu surgimento, nem falei-lhes do meu reino infinito nem entenderam meu ato de criação, que hoje conto a ti.
Capítulo 25
Deus conta a Enoque como de trevas tão baixas emergiram o visível e o invisível.
1 "Nas partes mais baixas, ordenei que as coisas visíveis descessem do invisível, e Adoil desceu muito grande, olhei-o e ele tinha um ventre de grande luz.
2 "E eu lhe disse: `Parte-te, Adoil, e deixa que o visível saia de ti.
3 "E ele partiu-se e uma grande luz saiu dele. E eu .estava em meio à grande luz; e como a luz se faz da luz, nasceu uma grande era, e mostrou toda a criação, que eu havia pensado em criar.
4 "E eu vi que era bom.
5 "E dispus para mim um trono e sentei-me nele, e disse para a luz: Vai mais alto e firmaste acima do trono, sê um princípio para as coisas elevadas.
6 "E nada há acima da luz, e aí eu me inclinei e olhei de meu trono.
Capítulo 26
Pela segunda vez Deus chama Archas, pesado e vermelho, para que ele saia do mais baixo.
1 "E eu chamei o mais baixo pela segunda vez e disse: Deixa que Archas saia com força do invisível.
2 "E Archas veio, duro, pesado e muito vermelho.
3 "E eu disse: Abre-te, Archas, e deixa nascer de ti, e ele abriu-se e uma era nasceu, muito grande e muito escura, causando a criação de todas as coisas mais vulgares, e que vi que era bom e disse-lhe:
4 'Vai para baixo e estabelece-te, torna-te base para as coisas vulgares', e aconteceu que ele desceu e fixou-se e tornou-se a base para as coisas vulgares, e abaixo das trevas nada mais há.
Capítulo 27
De como Deus fez a d'água e rodeou-a de luz, e estabeleceu nela sete ilhas.
1 "E ordenei que fosse retirado da luz e das trevas, e disse: Torna-te espesso, e assim foi, e o espalhei com a luz, e ele tornou-se água, e o espalhei nas trevas, abaixo da luz, e tornei as águas sólidas.
"Eu as fiz sem fundo, tendo como base a luz. E criei sete círculos a partir do interior, e tornei a água parecida com o cristal úmido e seco, igual ao vidro e formei um círculo de águas e outros elementos. E mostrei a cada um deles o seu caminho e ordenei o movimento de cada uma das sete estrelas em seu céu, e vi que isto era bom.
2 "Dividi a luz das trevas. E disse para a luz que ela seria dia e as trevas noite, e houve noite e manhã no primeiro dia.
Capítulo 28
A Semana na qual Deus mostrou a Enoque toda a sua sabedoria e poder, durante os sete dias, de como ele criou todas as forças celestiais e terrestres e todas as coisas que se movem, até chegar ao homem.
1 "Tornei então sólido o circulo celeste e ordenei às águas que estavam abaixo do céu, que se juntassem em um mesmo lugar, em um todo, e que o caos se tornasse seco, e assim se fez.
2 "Das ondas criei pedras grandes e sólidas, e da pedra juntei o árido, e chamei o árido terra, e o centro da terra chamei de abismo, ou seja, o sem fundo. Juntei os mares num mesmo lugar, e uni-os com uma cadeia.
3 "E disse ao mar: Vê, donde teus limites eternos, e tu não haverás de libertar-te de tuas partes constituintes.
4 "E assim criei depressa o firmamento. A este dia eu próprio chamei de primeiro criado."
Capítulo 29
Depois veio a noite, e outra vez a manhã, e foi o segundo dia. A Essência Ígnea.
1 "Para todas as hostes celestes imaginei a imagem e a essência do fogo, e meu olhar olhou a pedra muito dura e, do lampejo do meu olhar, o relâmpago recebeu sua natureza maravilhosa, que é tanto fogo na água como água no fogo, a água não apaga o fogo, nem o fogo seca a água, no entanto o relâmpago é mais luminoso do que o sol, mais suave que a água e mais firme do que a pedra.
2 "E da pedra extraí um grande fogo, com o qual criei as ordens de dez hostes de anjos incorpóreos, e suas armas são de fogo e seus trajes, uma chama candente, e ordenei a cada um que se colocasse em sua posição.
De como Satanail foi, com seus anjos, precipitado das alturas
3 "E um dos anjos, tendo saído de sua hierarquia e se desviado para uma hierarquia abaixo da sua, concebeu um pensamento impossível: colocar o seu trono acima das nuvens que se encontram sobre a terra, para que seu poder se igualasse ao meu.
4 "Precipitei-o do alto com seus anjos, e ele pôs-se a voar por cima do abismo, continua-mente.
Capítulo 30
"E então criei todos os céus,e assim se fez o terceiro dia".
1 "No terceiro dia, ordenei à terra que produzisse grandes árvores frutíferas e montanhas e sementes para a semeadura, e implantei o Paraíso e cerquei-o com guardiões armados, como anjos flamejantes, e deste modo criei a renovação.
2 "E veio a noite, e da manhã se fez o quarto dia.
3 "Neste dia ordenei que se fizessem grandes luzeiros nos círculos celestes.
4 "No círculo mais elevado, coloquei a estrela Kruno, no segundo círculo coloquei Afrodite, no terceiro Áries, no quinto Zeus, no sexto Hermes, no sétimo a lua adornada com as estrelas menores.
5 "E no círculo inferior, coloquei o sol para iluminar o dia, e a lua e as estrelas para iluminar a noite.
6 "E para que o sol pudesse deslocar-se de acordo com cada animal do zodíaco, decretei a sucessão de doze meses com seus nomes e duração, seus trovões, suas marcações de tempo e sua seqüência.
7 "E da noite e da manhã se fez o quinto dia.
8 "No quinto dia, ordenei ao mar que produzisse peixes, e criei aves emplumadas de muitas espécies e todos os animais que rastejam sobre a terra, os de quatro patas que andam na terra e criei aqueles animais que levantam vôo, ambos macho e fêmea, e toda alma respirando o espírito da vida.
9 "E da noite e da manhã se fez o sexto dia.
10 "No sexto dia fiz uso da minha sabedoria para criar o homem de sete graus de densidade: um, a sua carne da terra; dois, o seu sangue do orvalho; três, os seus olhos do sol; quatro, seus ossos da pedra; cinco, a sua inteligência da vivacidade dos anjos e da nuvem; seis, suas veias e seu cabelo das plantas da terra; sete, a sua alma do meu sopro e do vento.
11 "E dei-lhe sete naturezas: a carne para a audição, os olhos para a visão, a alma para o olfato, o sangue para o tato, os ossos para a resistência, e a inteligência para a doçura e o regozijo.
12 "Formulei uma máxima adequada: criei o homem da natureza invisível e visível. De ambas provêm sua morte, sua vida e imagem, ele conhece o poder da palavra como algo criado, pequena na grandeza e grande na pequenez. E coloquei na terra um segundo anjo, nobre, grande e glorioso, e o designei como governante na terra para que tivesse a minha sabedoria. E não havia ninguém igual a ele entre todas as criaturas existentes.
13 "Dei-lhe um nome baseado nas quatro partes componentes, do leste, oeste, sul e norte, e designei-lhe quatro estrelas especiais, e o chamei pelo nome de Adão e mostrei-lhe os dois caminhos, o da luz e o das trevas, e disse-lhe:
14 "`Isto é bom e isso é mau, para saber se ele nutre amor ou ódio por mim, para saber quem dentre sua gente me ama.
15 "Pois conheço sua natureza, mas ele próprio não enxergou, portanto, por não tê-la enxergado, ele pecará mais, e eu disse: Além do pecado, que há senão a morte?
16 "Mandei-lhe um sono profundo e ele dormiu. Tirei-lhe uma das costelas, e com ela criei uma mulher para que a morte lhe viesse através desta sua mulher, e tomei sua última palavra e pus-lhe o nome de mãe de todos os viventes, ou seja, Eva.
Capítulo 31
Deus dei a Adão o Paraíso e capacita-o a ver os céus abertos e os anjos entoando a canção da vitória.
1 "Adão irá viver na terra, e eu criei um jardim no éden, ao leste, para que ele pudesse cumprir o testamento e manter a ordem.
2 "Fiz com que os céus se abrissem diante dele para que pudesse ver os anjos cantando o hino da vitória e a luz resplandecente.
3 "Ele permaneceu no paraíso, e o demônio entendeu que eu queria criar outro mundo porque Adão era senhor m terra, para comandá-la e controlá-la.
4 "O demônio é o gênio do mal das regiões inferiores, como um fugitivo, ele criou Sotona a partir dos céus, por ser seu nome Satanail, por isso ele se tornou diferente dos anjos, mas a sua natureza não modificou a sua inteligência quanto ao entendimento do certo e do errado.
5 "E ele entendeu sua condenação e o pecado que cometera, por essa razão, alimentou ressentimentos contra Adão, de tal forma que entrou em seu mundo e seduziu Eva mas não atingiu Adão.
6 "Amaldiçoei a ignorância, mas o que eu havia abençoado anteriormente, isso eu não amaldiçoei, nem amaldiçoei o homem, nem a terra nem as outras criaturas, mas o fruto e as obras ruins do homem.
Capítulo 32
Depois do pecado de Adão, Deus devolve-o à terra "de onde eu o tomei, mas não pretendo destruí-lo nos anos que virão".
1 "Disse-lhe: Tu és terra e à terra da qual te tirei, tu hás de tornar, não te destruirei mas devolver-te-ei de onde te tomei.
2 "'Então, poderei tomar-te de volta na minha segunda vinda'.
3 "E abençoei todas as minhas criaturas, visíveis e invisíveis. E havia cinco horas e meia que Adão estava no paraíso.
4 "Abençoei o sétimo dia, o Sábado, quando descansei de todas as minhas obras.
Capítulo 33
Deus mostra a Enoque a idade deste mundo, sua existência de sete mil anos, e oito mil anos é o fim, nem anos nem meses, nem semanas, nem dias.
1 "E designei o oitavo dia como sendo o primeiro dia criado após a minha obra, e os sete primeiros como sendo ciclos de sete mil, e no início dos oito mil, estipulei um tempo incontável, infinito, não medido por anos, meses, semanas, dias, ou horas.
2 "E agora, Enoque, todas as coisas das quais te falei, tudo que entendeste, tudo que viste das coisas celestes, tudo que viste na terra e todas as coisas que escreveste neste livro pela minha grande sabedoria, todas essas coisas eu idealizei e criei do mais alto ao mais baixo, e aqui não há conselheiro ou herdeiro de minhas criações.
3 "Sou eterno e não criado por mãos e sem mudanças.
4 "Meu pensamento é meu conselheiro, minha sabedoria e minha palavra são feitas, e meus olhos observam todas as coisas como aqui são e como tremem de terror.
5 "Se viro minha face, então todas as coisas serão destruídas.
6 "Por isso usa a tua inteligência, Enoque, conhece aquele que te fala, e cuida dos livros que escreveste.
7 "Dou-te os anjos Samuil e Raguil, aqueles que te trouxeram a mim, e desce à terra, diz a teus filhos todas as coisas que te contei e tudo que viste, do céu mais baixo até o meu trono aqui em cima, e todas as hostes.
8 "Pois criei todas as forças, e nenhuma se opõe ou deixa de se submeter a mim. Todos se submetem à minha autoridade e obedecem ao meu poder, e trabalham sob meu comando.
9 "Dá-lhes os manuscritos e eles irão lê-los e saberão que sou o criador de todas as coisas, e entenderão que não há outro Deus além de mim.
10 "E deixa-os distribuir teus manuscritos, de filho para filho, de geração para geração, de raça para raça.
11 "E dar-te-ei, Enoque, meu mediador, o arquigeneral Miguel, pois os manuscritos de teus pais Adão e Seth, Enos, Caim, Mahaleleel e Jared, teu pai, não serão destruídos até o fim dos tempos.
12 "Revelei a meus anjos Drioch e Marioch como mapeei a terra e ordenei que as gerações fossem preservadas, e que os manuscritos de vossos pais fossem preservados, de forma a não perecerem no dilúvio que eu lançarei sobre os homens.
Capítulo 34
Deus condena os idólatras e fornicadores sodomitas e, por isso, faz recair sobre eles o dilúvio.
1 "Eles rejeitaram meus mandamentos e meu jugo, tornando-se, assim, sementes inúteis, não temendo a Deus, não me reverenciando, mas abaixando a cabeça a deuses vaidosos, e negaram minha unidade, e encheram a terra com mentiras, ofensas, luxúrias abomináveis, a saber, uns com os outros, e toda a sorte de sujas maldades, que seriam desagradáveis de serem nomeadas.
2 "E por essa causa farei recair sobre a terra um dilúvio e destruirei todos os homens, e toda a terra sucumbirá às trevas.
Capítulo 35
Deus deixa um justo da tribo de Enoque e toda a sua casa, porque ele fora obediente à vontade de Deus.
1 "Vê, de suas sementes levantar-se-á outra geração, muito mais para diante, mas muitos dentre eles serão insaciáveis.
2 "Aquele que criar essa geração deverá revelar aos seus esses manuscritos de seus pais, para aqueles aos quais será mostrada a custódia do mundo, aos fiéis a mim, que não usam meu nome em vão.
3 "E eles deverão contar às outras gerações, que ao lerem serão glorificadas, depois, mais que as primeiras.
Capítulo 36
Deus ordena a Enoque que viva na terra por trinta dias. para que dê aos seus filhos instruções, e aos filhos de seus filhos. Depois dos trinta dias tornará a ser levado ao céu.
1 "Agora, Enoque, dou-te o prazo de trinta dias para que o passes em tua casa, e digas aos teus filhos e aos de tua casa, que todos deverão ouvir diretamente de minha face, que não há outro Deus além de mim.
2 "E que eles deverão sempre manter meus mandamentos, e começar a ler e crer nos teus manuscritos.
3 "E depois de trinta dias, mandarei meu anjo para tirar-te da terra e de teus filhos, para que venhas a mim."
Capítulo 37
Deus convoca um anjo.
1 E o Senhor chamou um dos anjos mais velhos, terrível e ameaçador, e colocou-o a meu lado; ele era branco como a neve, suas mãos como o gelo, assemelhava-se à geada, e ele congelou minha face, porque eu não podia agüentar o terror que sentia pelo Senhor, assim como não podia agüentar o fogo do fogão, e o calor do sol e a geada.
2 E o Senhor me disse: "Enoque, se tua face não congelar aqui, nenhum homem será capaz de olhar tua face".
Capítulo 38
Matusalém continuou a manter sua esperança e a esperar por seu pai Enoque noite e dia ao pé de seu leito.
1 E O Senhor disse a esses homens que me haviam levado até ele: "Deixai que Enoque desça à terra convosco e esperai por ele até o dia determinado".
2 E, à noite, eles me puseram em meu leito.
3 E Matusalém, que esperava minha volta, mantendo-se vigilante à minha cabeceira, ficou maravilhado quando me ouviu chegar, e eu lhe disse: "Que os de minha casa se reúnam, pois vou-lhes contar tudo".
Capítulo 39
A piedosa admoestação de Enoque aos seus filhos, com lágrimas e grandes lamentos enquanto ele falava.
1 Oh meus filhos, meus amados, ouvi as admoestações de vosso pai, pois essa é a vontade do Senhor.
2 Foi-me concedido estar convosco para vos anunciar, não de meus lábios, mas dos lábios do Senhor, tudo que é e que foi e tudo que é agora, e tudo que será até o dia do julgamento.
3 Pois o Senhor permitiu que eu viesse até vós, portanto, ouvi as palavras de meus lábios, mas sou aquele que viu a face do Senhor, e como o ferro no fogo, ela lança centelhas que queimam.
4 Vós olhais meus olhos agora, os olhos de um homem que para vós é grande, mas vi os olhos do Senhor, brilhando como os raios do sol e enchendo os olhos do homem com terror.
5 Meus filhos, vós vedes a mão direita de um homem que vos auxilia, mas eu vi a mão direita do Senhor preenchendo todo o céu quando ele me ajudou.
6 Vós vedes a extensão da minha obra da mesma forma que vedes a vossa, mas eu vi a extensão ilimitada e perfeita da obra do Senhor.
7 Vós ouvis as palavras da minha boca, da mesma forma que eu ouvi as palavras do Senhor, parecendo-se a um trovão violento e incessante, como nuvens que se arremessam umas contra as outras.
8 Agora, ouvi as declarações do pai da terra. E sabeis quão temível é apresentar-se diante do governante da terra. Pensai quão terrível e impressionante é apresentar-se diante do governante do céu, o senhor dos vivos e dos mortos, e das hostes celestiais. Quem poderia suportar essa dor infinita?
Capítulo 40
Enoque admoesta seus filhos sobre todas as coisas que ouviu dos lábios do Senhor, de como ele viu e ouviu e escreveu.
1 Ouvi, agora, meus filhos, aquelas coisas que chegaram a mim pelos lábios do Senhor e o que meus olhos viram do início ao fim.
2 Eu sei de todas as coisas e escrevi sobre elas em livros referentes aos céus e seu fim, sua plenitude, seus exércitos e seus avanços.
3 Medi e descrevi as estrelas, a imensa multidão delas.
4 Que homem já viu suas revoluções e seu surgimento? Nem mesmo os anjos sabem quantas são; contudo, registrei todos os seus nomes.
5 E medi a órbita do sol, medi seus raios, contei as horas, anotei tudo quanto existe na terra, como as coisas são alimentadas, como todas as sementes produzidas pela terra são semeadas ou rejeitadas, sobre todas as plantas, cada erva e cada flor, a respeito de suas suaves fragrâncias, seus nomes, e sobre o lugar onde residem às nuvens, sua composição e suas asas e como elas produzem pingos de chuva.
6 E escrevi sobre o curso seguido pelo trovão e pelo raio, e eles me mostraram suas chaves e seus guardiões, sua origem, seu movimento. O trovão e o raio são liberados por uma cadeia de justa proporção para que uma cadeia de violência selvagem e precipitada não lance nuvens ameaçadoras e destrua todas as coisas na terra.
7 E escrevi sobre os depósitos preciosos de neve, do frio e dos ventos glaciais, e observei como o guardião das chaves de todas as estações supre as nuvens com neves e ventos mas nunca exaure as reservas.
8 E escrevi sobre os lugares de descanso dos ventos e observei e vi como os guardiões das chaves dominam balanças e medidas; primeiro, eles pesam as estações nos pratos da balança e as distribuem habilmente sobre toda a terra, para que um sopro violento não sacuda a terra.
9 E conferi as dimensões de toda a terra, de suas montanhas, colinas, campos, árvores, pedras, rios. Registrei a altura da terra até o sétimo céu e até o inferno mais abissal, o local do julgamento, o imenso e cavernoso vale das lágrimas.
10 E vi quanto padecem seus cativos, à espera do julgamento sem limites.
11 E registrei todos aqueles que foram julgados pelo juiz, todas as suas punições, e todas as suas obras.
Capítulo 41
De como Enoque lamentou o pecado de Adão.
1 E vi os antepassados de todos os tempos com Adão e Eva, e lamentei e chorei, comentando sua ruína e desonra.
2 Ai de mim pela minha fraqueza e pela de meus antepassados", e pensei em meu coração e disse:
3 "Abençoado o homem que não nasceu, ou nasceu e não pecou diante da face do Senhor, que não veio a esse lugar, nem trouxe desgraça a esse lugar."
Capítulo 42
De como Enoque viu os guardiões das chaves e os guardas nos portões do inferno.
1 Eu vi os guardiões das chaves e os guardas dos portões do inferno, como grandes serpentes, e suas faces como luzeiros apagados, e seus olhos como fogo, seus dentes afiados, e vi todas as obras do Senhor, como são justas, enquanto que as dos homens algumas são boas, outras ruins, e em suas obras são conhecidos os que mentem maldosamente.
Capítulo 43
Enoque mostra a seus filhos como ele mediu e escreveu os julgamentos de Deus.
1 Eu, meus filhos, medi e escrevi cada obra e cada medida e cada julgamento justo.
2 Como cada ano é mais ilustre que o outro, assim também um homem é mais ilustre que o outro, alguns por grandes posses, alguns por sabedoria no coração, alguns pelo intelecto, alguns por argúcia, um pelo silêncio de seus lábios, outro pela retidão, um pela força, outro pelo comportamento, um pela juventude, outro pela articulação rápida, um pela forma do corpo, outro pela sensibilidade, mas nenhum é melhor do que aquele que teme a Deus, pois que será mais glorioso no tempo que advirá.
Capítulo 44
Enoque instruiu seus filhos para que não injuriem qualquer homem, pequeno ou grande.
1 O Senhor tendo criado o homem com suas mãos, à sua semelhança, fê-lo pequeno e grande.
2 Aquele que injuriar a face do que comanda, e odiar a face do Senhor e desprezá-la, e aquele que soltar sua raiva sobre alguém, sem ter sido injuriado, a grande raiva do Senhor o consumirá, aquele que cuspir injuriosamente na face de um homem, será condenado no grande julgamento.
3 Bendito é o homem que não dirige seu coração com maldade contra homem algum, e ajuda os injuriados e condenados, e levanta os que estão caídos, os que fazem caridade aos necessitados, porque no dia do julgamento cada peso, cada medida e cada adicional estarão como no mercado, ou seja, estarão nas balanças e ficarão no mercado, e cada um conhecerá sua própria medida, e de acordo com essa medida terá sua recompensa.
Capítulo 45
Deus mostra como ele não quer sacrifícios dos homens, nem sacrifícios pelo fogo, mas corações puros e contritos.
1 Quem se apressar para fazer oferendas diante da face do Senhor, de sua parte, também vai apressar aquela oferenda aceitando sua obra.
2 Mas aquele que aumentar sua luz diante da face do Senhor e não fizer um julgamento verdadeiro, o Senhor não aumentará seu tesouro no reino do altíssimo.
3 Quando o Senhor pede pão, ou velas, ou gado, ou qualquer outro sacrifício, isso não é nada; mas Deus pede corações puros, com isso somente quer testar o coração do homem.
Capítulo 46
De como um governante terreno não aceita do homem presentes execráveis e sujos, assim também Deus não pode aceitá-los, com maior razão, mas rejeita-os com raiva.
1 Ouvi, meu povo, e aceitai-o dos meus lábios.
2 Se alguém traz qualquer presente para um governante terreno, com pensamentos desleais em seu coração, e o governante o percebe, não ficará ele com raiva e não o porá sob julgamento?
3 Ou se um homem se faz de bom a outro pelo ardil de sua língua, porém, com a maldade no coração, será que o outro não perceberá a maldade que vem do coração, e não será ele condenado, desde que sua mentira ficou visível?
4 E quando o Senhor mandar uma grande luz, então haverá julgamento para o justo e o injusto, e aí ninguém escapará à observação.
Capítulo 47
Enoque transmite a seus filhos as instruções vindas dos lábios de Deus e lhes entrega este livro.
1 E agora, filhos, guardai bem as palavras de vosso pai, pois todas vieram dos lábios de Deus.
2 Pegai e lede estes livros escritos pelo vosso pai.
3 Através destes livros, todos aprendereis sobre todas as obras do Senhor, desde o início da criação até o fim dos tempos.
4 E se os observardes atentamente, não pecareis contra o Senhor. Não há outro igual a Deus no céu, na terra, nas regiões abissais, e nem em toda a base una.
5 O Senhor estabeleceu as bases no desconhecido e jogou para fora do céu o visível e — o invisível. Ele assentou a terra sobre as águas e criou incontáveis criaturas, e quem já contou a água e as bases do que é móvel, ou o pó da terra ou a areia do mar ou as gotas da chuva ou o orvalho matutino ou os sopros do vento? Quem povoou a terra e o mar e o inverno indissolúvel?
6 Ele arrancou as estrelas do próprio fogo e decorou com elas o céu e o colocou no meio delas.
Capítulo 48
Da passagem do sol através dos sete círculos.
1 O sol percorre sete círculos celestiais, que são a designação de cento e oitenta e dois tronos, e ele desce em um dia curto e outra vez cento e oitenta e dois, e desce em um dia longo, e ele tem dois tronos nos quais ele descansa, evoluindo de cá para lá acima dos tronos dos meses, do décimo sétimo dia do mês Tsivan ele desce ao mês Thevan, do décimo sétimo do Thevan ele sobe.
3 E assim ele se aproxima da terra, e a terra se alegra e faz com que nasçam seus frutos, e quanto ele se vai, então aterra se entristece, e as árvores e os frutos não florescem.
4 Tudo isso mede em horas, com precisas medições de horas, e fixada uma medida pela sua sabedoria, do visível e do invisível.
5 Do visível ele faz todas as coisas visíveis, sendo ele mesmo invisível.
6 Por isso, deixo-vos claro, meus filhos, distribuí os livros a vossos filhos, para que passem às gerações, e entre todas as nações que têm temor a Deus, que eles os recebam, e que possam vir a amá-los mais que qualquer alimento ou doçuras terrenas, que eles os leiam e os apliquem em si mesmos.
7 E aqueles que não entenderem o Senhor, que não temerem a Deus, que não o aceitarem, mas o rejeitarem, que não receberem os livros, um terrível julgamento os aguarda.
8 Bendito o homem que suportar seus encargos e arrastá-los com eles, pois que serão aliviados no dia do grande julgamento.
Capítulo 49
De como Deus pede que sejamos humildes, que suportemos as agressões e os insultos, e que não ofendamos as viúvas e os órfãos.
1 Registrei por escrito toda obra realizada pelo homem e nenhum ser nascido na terra pode permanecer escondido e nem suas obras ocultas. Vejo todas as coisas.
3 Portanto, meus filhos, na paciência e na humildade, vivei os dias de vossa existência para que possais herdar a vida eterna.
4 Pelo amor ao Senhor, suportai toda ofensa e insulto, toda maledicência e agressão.
5 Se atos de injustiça forem cometidos em relação a vós, não retribuais ao próximo ou ao inimigo, pois o Senhor o fará por vós e será o vosso vingador no dia do grande julgamento, para que não haja ato algum de vingança entre os homens.
6 Aquele dentre vós que gastar ouro ou prata pelo amor a seu irmão receberá grandes recompensas no mundo vindouro.
7 Não injurieis as viúvas, os órfãos ou os estrangeiros, para que a ira de Deus não se abata sobre vós.
Capítulo 50
Enoque instrui seus filhos a não esconder tesouros na terra, mas pede-lhes que dêem esmolas aos pobres.
1 Estendei a mão aos pobres de acordo com vossa capacidade.
2 Não escondais vossa prata na terra.
3 Ajudai o homem fiel na sua aflição, e a aflição não vos encontrará na hora do seu infortúnio.
4 E suportai qualquer provação dolorosa e cruel que se abater sobre vós pelo amor ao Senhor, e tereis assim a vossa recompensa no dia do julgamento.
5 E bom dirigir-vos de manhã, ao meio-dia e à tarde à morada do Senhor, para a glória do vosso criador.
6 Porque todo elemento que respira o glorifica, e toda criatura visível e invisível dirige-lhe louvores.
Capítulo 51
Deus instrui seus fiéis de como eles devem louvar seu nome.
1 Bendito é o homem que abre seus lábios para louvar o Deus Sabaoth e louva o Senhor com seu coração.
2 Maldito o homem que abrir seus lábios para trazer desonra e calúnia a seu próximo, porque ele traz Deus à desonra.
3 Bendito aquele que abre seus lábios bendizendo e louvando a Deus.
4 Maldito é aquele diante do Senhor todos os dias de sua vida, que abre os lábios para amaldiçoar e abusar.
5 Bendito aquele que bendiz todas as obras do Senhor.
6 Maldito aquele que trouxer desonra à criação do Senhor.
7 Bendito aquele que olhar para baixo e levantar os que caíram.
8 Maldito aquele que espera ansioso pela destruição daquilo que não é seu.
9 Bendito aquele que mantém os princípios de seus pais, construídos com firmeza desde o começo.
10 Maldito aquele que perverte as leis de seus antepassados.
11 Bendito aquele que implanta paz e amor.
12 Maldito aquele que perturba aqueles que amam a seu próximo.
13 Bendito aquele que fala com humildade e coração a todos.
Capítulo 52
Não devemos dizer: "Nosso pai está diante de Deus, ele tomará nossa defesa no dia do julgamento", pois que nenhum pai poderá ajudar a seu filho, nem o filho a seu pai.
1 E agora, meus filhos, não digais: "Nosso pai está diante de Deus, rezando pelos nossos pecados", pois não há quem possa ajudar aquele que pecou.
2 Vistes como escrevi todas as obras de cada homem, antes de sua criação, tudo que é feito no meio dos homens, em todos os tempos, e ninguém pode relatar meus manuscritos, porque o Senhor vê toda a imaginação dos homens, como eles são vaidosos, como mentem em seus corações.
3 E agora, meus filhos, guardai bem todas as palavras de vosso pai, que vos fala para que não vos arrependais, dizendo: "Por que nosso pai não nos disse?"
Capítulo 53
Enoque instrui seus filhos para que passem seus livros a outros.
1 Naquele tempo, não entendendo isto, deixai que esses livros que vos deixei sejam a herança de vossa paz.
2 Dai-os a todos aqueles que os quiserem, e ensinai. os a eles, para que vejam as grandes e maravilhosas obras do Senhor.
Capítulo 54
Aqui Enoque diz aos filhos, entre lágrimas: "Meus filhos, a hora de eu voltar ao céu se aproxima: olhai, os anjos estão diante de mim.
1 Meus filhos, olhai, o dia do meu prazo chegou.
2 Pois os anjos estão diante de mim e apressam-me para que me aparte de vós; estão diante de mim aqui na terra, esperando pelo cumprimento do que lhes foi dito.
3 Assim, amanhã irei para o céu, à suprema Jerusalém, para a minha eterna herança.
4 Por isso, peço que só deis prazer diante da face do Senhor.
Capítulo 55
Matusalém pede a bênção de seu pai, e que ele possa fazer comida para que Enoque coma.
1 Respondendo a seu pai Enoque, diz Matusalém: "Que é agradável a teus olhos, pai, que possa eu fazer-te, para que abençoes nossa casa e teus filhos, e para que tua família seja glorificada por teu intermédio, para que depois disso possas apartar-te de nós, como disse o Senhor?"
2 Enoque respondeu a seu filho Matusalém e disse: "Ouve, filho, desde o dia em que o Senhor ungiu-me com o bálsamo de sua glória, para mim não há mais comida, e minh'alma não se lembra mais das alegrias terrenas, nem tampouco desejo nada que seja terreno.
Capítulo 56
Enoque pede a seu filho Matusalém que reúna todos os seus irmãos.
1 Meu filho Matusalém, reúne todos os teus irmãos e todos os de tua casa e os anciãos, que devo falar-lhes e partir, como foi planejado para mim.
2 E Matusalém apressou-se a reunir seus irmãos Regim, Riman, Uchan, Chermion, Gaidad e os anciãos para que fossem ter com Enoque; e ele abençoou-os, dizendo:
Capítulo 57
O ensinamento de Enoque a seus filhos.
1 Ouvi-me hoje, meus filhos.
2 Naqueles dias, quando o Senhor desceu à terra por causa de Adão, e visitou todas as suas criaturas, as quais ele mesmo criou, antes de Adão, o Senhor chamou todos os animais da terra, todos os répteis, e todos os pássaros que voam no ar, e trouxe-os diante da face do nosso pai Adão.
3 E Adão deu nome a todas as coisas vivas da terra.
4 E o Senhor fê-lo o governante de tudo, e submeteu todas as coisas a ele, e os fez embotados e estúpidos, para que fossem comandados pelo homem, sujeitos e obedientes a ele.
5 Assim também o Senhor criou cada homem senhor de todas as suas possessões.
6 O Senhor não julgará uma única alma de animal por causa do homem, mas condena as almas dos homens por causa de seus animais neste mundo; pois o homem tem um lugar especial.
7 E como cada alma do homem é contada em números, da mesma forma os animais não perecerão, nem todas as almas dos animais que o Senhor criou, até o grande julgamento, e eles irão acusar o homem, se ele não cuidar bem deles.
Capítulo 58
De como o Senhor chama Enoque, e o povo resolve beijá-lo em um lugar chamado Achuzan.
1 Quando Enoque falou essas palavras para seus filhos, todas as pessoas que moravam longe e perto dali ouviram falar que o Senhor estava chamando Enoque, e decidiram ir e dar-lhe um beijo, e dois mil homens se reuniram e foram a Achuzan, onde estavam Enoque e seus filhos.
2 E os anciãos e toda a assembléia foram até lá e reverenciaram e beijaram Enoque dizendo:
3 "Nosso pai Enoque, que possas tu ser abençoado pelo Senhor, aquele que governa eternamente, e agora abençoe teus filhos e todo o povo, pare que possamos ser glorificados hoje diante de tua face.
4 "Pois tu serás glorificado diante da face do Senhor para todo o sempre, desde que o Senhor te escolheu entre todos os homens na terra, e designou-te para que escrevesses sobre toda a sua criação, visível e invisível, e designou-te como o redentor de todos os pecados do mundo, e aquele que ajuda os de sua casa."
Capítulo 59
As instruções de Enoque a seus filhos.
1 E Enoque respondeu a todos dizendo: "Ouvi, meus filhos, antes de todas as criaturas terem sido criadas, o Senhor criou o visível e o invisível.
2 "E Ele criou o homem à sua imagem e semelhança, e pôs nele olhos para ver, ouvidos para ouvir, coração para refletir, e intelecto para deliberar.
3 "E o Senhor viu as obras do homem, e criou todas as suas criaturas, e dividiu o tempo, e do tempo ele fixou os anos, e dos anos os meses, e dos meses. Ele fixou os dias, e dos dias os sete.
4 "E deles, designou as horas, mediu-as com exatidão, para que o homem possa refletir sobre o tempo e contar os anos, meses e horas, suas alternâncias, início e fim, e para que ele possa contar sua própria vida, desde o início até a morte, e refletir sobre seu pecado e ver se sua obra foi boa ou má; porque nenhuma obra ficará oculta diante do Senhor, e todos os homens deverão conhecer suas obras e jamais transgredir seus mandamentos, e manter meus manuscritos de geração para geração.
5 "Quando as criações visíveis e invisíveis, tais como o Senhor as criou, acabarem e cada homem for para o grande julgamento, e os tempos perecerem e os anos, por isso mesmo, não mais existirem, e nem mais os meses, os dias, as horas, pois que ficarão todos juntos e não poderão ser contados.
6 "Haverá um éon, e todos os justos que escaparem do grande julgamento do Senhor serão punidos em um grande éon, pois para ás justos o grande éon começará, e viverão eternamente, e entre eles não haverá trabalho braçal, doença, humilhação, ansiedade, necessidade, violência, noite, trevas, mas sim a grande luz.
7 "E eles terão uma grande e indestrutível muralha, e um brilhante e incorruptível paraíso, pois que todas as coisas corruptíveis passarão e haverá vida eterna."
Capítulo 60
O Senhor enviou trevas à terra, que cobriram o povo e Enoque, e ele foi levado às alturas, e a luz tornou ao céu outra vez.
1 Quando Enoque falou ao povo, o Senhor enviou as trevas para a terra, e as trevas se estabeleceram, cobrindo aqueles homens que ali se encontravam falando com Enoque, e Enoque foi levado para o céu mais elevado, onde se encontra o Senhor, que o recebeu e o colocou diante de sua face, e as trevas deixaram a terra, e a luz voltou novamente.
2 Mas o povo viu e não entendeu como Enoque foi levado para glorificar a Deus, e eles encontraram um pergaminho enrolado no qual estava escrito: "O Deus invisível", e todos foram para casa.
Capítulo 61
1 Enoque havia nascido no sexto dia do mês Tsivan, e viveu trezentos e sessenta e cinco anos.
2 Ele foi levado ao Céu no primeiro dia do mês Tsivan e permaneceu ali sessenta dias.
3 Ele anotou todos esses sinais de toda a criação, criada pelo Senhor, e escreveu trezentos e sessenta e seis livros, entregou-os a seus filhos e permaneceu na terra trinta dias, sendo novamente levado para o Céu no sexto dia do mês Tsivan, no dia e na hora exata em que nascera.
4 Durante sua vida, o homem vê sua própria natureza como algo velado, obscuro, e assim também o são sua concepção, nascimento e sua despedida desta vida.
5 Na mesma hora em que ele é concebido, ele nasce, naquela mesma hora também morre.
6 Matusalém e seus irmãos, todos filhos de Enoque, foram e ergueram um altar na praça chamada Achuzan, donde Enoque fora levado ao céu.
7 E todas as pessoas foram convocadas, levaram bois sacrificiais e os sacrificaram diante do Senhor.
8 Todas as pessoas, incluindo os anciãos, e toda a assembléia vieram à festa, trazendo presentes aos filhos de Enoque.
9 E deram uma grande festa, regozijando-se e festejando durante três dias, louvando a Deus que lhes havia enviado um sinal através de Enoque que conseguira a graça perante a Deus. Todas as pessoas se regozijaram, pois que este sinal poderia ser transmitido a seus filhos, de geração para geração e de era para Livro da Ascenção de Isaías era.
10 Amém. Fim