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Apócrifos I




Liro 1º - Evangelho Apócrifo Valentino

Capítulo 1
Jesus ascende aos céus e desce deles tara doutrinar seus discípulos
QUANDO ressuscitou dentre os mortos, Jesus passou doze anos falando com seus discípulos.
2 E ensinava-lhes os lugares não somente dos primeiros preceitos como também do primeiro mistério, o que está no interior dos véus, no interior do primeiro preceito, que é o próprio vigésimo quarto mistério, e assim também as coisas que se acham mais além, no segundo lugar do segundo mistério, que está antes de todos os mistérios.
3 E Jesus disse a seus discípulos: "Vim desse primeiro mistério, que é o mesmo que o último mistério, que é o vigésimo quarto."
4 Mas os discípulos não compreendiam essas coisas, porque nenhum deles havia penetrado aquele mistério, que, entretanto, consideravam como o cume do universo e a cabeça de tudo quanto existe. E pensavam que era o fim de todos os fins, porque Jesus havia-lhes dito, com relação a esse mistério, que ele rodela o primeiro preceito e os cinco moldes, a Grande Luz e os cinco assistentes e, igualmente, todo o Tesouro da Luz.
5 E Jesus não havia ainda anunciado a seus discípulos que toda a emanação de todas as regiões do Grande Invisível, e dos três tríplices poderes, e dos vinte e quatro invisíveis, de suas regiões, de seus éons e de suas hierarquias, tudo conforme à maneira como emana daqueles que são o mesmo que os próbolos do Grande Invisível, e não lhes havia explicado seus nascimentos, suas criações, suas vivificações, seus arcontes, seus anjos, seus arcanjos, seus decanos, seus satélites e todas as moradas de suas esferas.
6 Jesus não havia falado a seus discípulos de toda a ema-nação dos próbolos do Tesouro da Luz, nem tampouco dos seus salvadores, segundo a ordem de cada um deles e seu modo de existência. Não lhes havia falado do lugar dos três améns que estão espalhados pelo espaço.
7 Jesus não havia falado a seus discípulos quais as regiões dos cinco assistentes, nem onde estão, nem lhes havia falado dos cinco círculos, nem do primeiro preceito, nem em que lugar se acham. E somente havia, ao falar a seus discípulos, revelado a existência desses seres, mas sem se referir à sua emanação e à hierarquia da sua região, e eles ignoravam que havia outras regiões dentro deste mistério.
8 E não lhes havia dito de que lugar havia saído quando entrou nesse mistério no momento em que foi emanado, dizendo-lhes apenas: "Eu saí deste mistério". E por isso pensavam eles, em relação a esse mistério, que era o fim dos fins e o cume do universo. E Jesus disse a seus discípulos: "Esse mistério envolve todas as coisas que vos disse desde o dia em que vim até o dia de hoje."
9 E por isso os discípulos não pensavam que coubesse alguma outra coisa no interior desse mistério. E ocorreu que, estando os discípulos no Monte das oliveiras, disseram estas palavras, com grande alegria: "Somos mais felizes que qualquer homem, posto que o Salvador nos revelou tudo e alcançamos a elevação e a perfeição."
10 E, enquanto assim falavam, Jesus estava sentado um pouco afastado. E ocorreu que o dia quilice da lua do mês de têbêth, dia em que havia plenilúnio, o sol, elevando-se em seu curso ordinário, emitiu uma luz incomparável.
11 Porque procedia da luz das luzes, e desceu sobre Jesus e o rodeou por inteiro. E estava um pouco distanciado dos seus discípulos e brilhava de um modo inigualável. E os discípulos não viam Jesus, porque os cegava a luz que o envolvia.
12 E só viam os feixes de luz. E estes não eram iguais entre si, e a luz não era igual e se dirigia para vários sentidos, de baixo para cima, e o resplendor dessa luz alcançava a terra e o céu. E os discípulos, ao verem aquela luz, experimentaram grande turbação e espanto.
13 E ocorreu que o grande resplendor luminoso chegou sobre Jesus e o envolveu lenta-mente. E Jesus elevou-se ao céu, e todos ficaram silenciosos. E isto se passou no décimo quinto dia do mês de têbêth.
14 E quando Jesus já havia ascendido ao céu, depois da hora terça, todas as forças dos céus se turvaram e se agitaram entre si, e todos os éons e todas as regiões e suas ordens, a terra inteira e seus habitantes estremeceram. E os discípulos e todos os homens se amedrontaram e pensaram que o mundo pudesse ser destruído.
15 E todas as forças do céu não cessavam de se agitar, e se agitaram entre si desde a hora terça daquele dia até a nona do dia seguinte. E os anjos e arcanjos, e todas as potestades das regiões superiores entoavam hinos, e todos ouviam seus cânticos, que duraram até a hora nona do outro dia.
16 Mas os discípulos estavam reunidos e cheios de terror. E se espantavam com o que sucedia, e choravam, dizendo: "Que acontecerá? Destruirá o Salvador todas as regiões?" E falavam assim e vertiam lágrimas, e à hora nona do dia seguinte os céus se abriram e eles viram descer Jesus em meio a um imenso resplendor.
17 E esse resplendor não era uniforme, mas dividia-se em muitas nuanças, umas mais brilhantes do que as outras. E havia três delas que brilhavam de forma diferente, e a segunda estava sobre a primeira, e a terceira era superior às demais. E a primeira era análoga à que envolvera Jesus quando subiu ao céu.
18 E quando os discípulos viram tal coisa, encheram-se de espanto. E Jesus, misericordioso e doce, falou-lhes dizendo: "Tranqüilizai-vos e nada temais". E, ouvindo os discípulos estas palavras, disseram: "Senhor, se tirares de Ti essa luz deslumbrante poderemos continuar aqui. De outra maneira, nossos olhos cegarão, pois com essa luz nós e o mundo inteiro estamos perturbados."
19 E Jesus fez desaparecer aquela luz, e os discípulos, tranqüilizados, foram a Ele e, prosternando-se todos, o adoraram, dizendo: "Mestre, onde foste? Para que foste chamado? E de onde vêm todas estas perturbações?"
20 E Jesus, todo misericórdia, disse-lhes: "Regozijai-vos, porque a partir" deste momento eu vos falarei com toda a clareza, desde o principio da Verdade até o fim. Nada vos ocultarei com respeito às coisas que pertencem ás regiões superiores e às regiões da Verdade. Porque fui autorizado pelo Inefável, pelo primeiro mistério dos mistérios, para vos falar desde o princípio até a consumação, e desde as coisas interiores às exteriores e vice-versa. Escutai e vos direi todas estas coisas.
21 "Ocorreu que, estando eu sentado algo distante de vós no Monte das Oliveiras, meditava sobre a missão para a qual fui enviado, que está cumprida, e sobre o último mistério, que é o mesmo que o vigésimo quarto mistério, desde as coisas interiores até as exteriores, e me ocorreu que ainda não me havia sido enviada uma veste. E estas coisas são o segundo posto do primeiro mistério.
22 "E sucedeu que quando eu compreendia que o fim do mistério pelo qual vim já estava cumprido, e que o mistério não me havia ainda enviado minha vestimenta, e refletindo sobre isto no Horto das Oliveiras, perto de vós, o sol ergueu-se dos lugares em que o colocou o primeiro mistério que o criou, e, por ordem do primeiro mistério, me foi enviada minha veste de luz, a qual me havia sido dada desde o principio, e eu me coloquei no último mistério, que é o vigésimo quarto mistério, a contar dos que estão no segundo lugar do primeiro mistério.
23 "E essa veste eu a pus no último mistério, até cumprir o tempo em que devia começar a pregar à humanidade e a revelar todas as coisas desde o princípio da Verdade até seu fim, falando do interior do interior até o exterior do exterior. Regozijai-vos e gozai, pois foi-vos outorgado que eu vos fale desde o princípio até o fim da Verdade. E eu vos escolhi desde o princípio pelo primeiro mistério.
24 "Regozijai-vos, porque, ao descer ao mundo, conduzi desde o começo doze forças, que tomei dos doze Salvadores do Tesouro da Luz, de acordo com o mandamento do primeiro mistério. E arrojei-as no seio de vossas mães e hoje estão no vosso corpo.
25 "E essas forças me foram outorgadas contra a vontade de todo o mundo, porque vós deveis salvar o mundo inteiro, e para isso é preciso que possais sofrer as ameaças dos senhores do mundo e os perigos do mundo, suas penas e suas perseguições.
26 "Disse-vos que a força que está depositada em vós eu a extraí dos doze Salvadores que estão no Tesouro da Luz. E por isso disse-vos desde o princípio que vós não sois deste mundo, nem eu tampouco. E os homens que são deste mundo tomaram as almas dos arcontes dos éons. Mas a força que está em vós vem de mim e pertence às regiões superiores. Eu conduzi os doze Salvadores do Tesouro da Luz, dos quais tomei uma parte da minha força.
27 "E quando vim ao mundo, vim entre os anjos das esferas, como Gabriel, o anjo dos éons e os arcontes dos éons não me reconheceram, pensavam que era o anjo Gabriel. E ocorreu que, quando estive entre os chefes dos éons, olhei de cima o mundo dos homens, como manda o primeiro mistério, e vi Isabel, mãe de João Batista, antes de o conceber.
28 "E pus nela a força que havia recebido do pequeno Ião, o bom, que está no centro, para que pudesse pregar, antes de mim, e preparar meus caminhos, e para que batizasse com a água da remissão dos pecados. E no lugar de um arconte incumbido de recebê-los, encontrei a alma do profeta Elias na esfera dos éons e recebi sua alma, e levei-a à Virgem, filha da luz, e ela deu-a aos Seus herdeiros, que a levaram ao seio de Isabel.
29 "A força de ião, aquele que está no centro, e a alma de Elias, o profeta, uniram-se no corpo de João Batista. E porque duvidastes quando eu vos disse que João havia declarado ser ele o Cristo, vós respondestes que estava na Escritura que o Cristo viria, Elias viria com Ele, e lhe prepararia os caminhos.
30"Mas, ao me falarem assim, eu vos respondi: 'Elias veio, e eu preparei tudo, como está escrito'. E como vi que não compreendíeis que a alma de Elias estava em João Batista, falei-vos em forma de parábola."
Capítulo 2
Jesus promete aos discípulos instruí-los em todos os mistérios
1 E Jesus continuou falando, e disse: "E, segundo o mandamento do primeiro mistério, olhei de cima o mundo dos homens e vi Maria, que é chamada minha mãe carnal, e falei-lhe sob a figura de Gabriel. E quando ela se elevou para mim, pus nela a primeira força, que recebi do grande Barbelon, quer dizer, o corpo que vem das regiões superiores.
2 E no lugar da alma coloquei nela a força que recebi do grande Sabach, o bom, que está no hemisfério da direita. E as doze forças dos doze Salvadores do Tesouro da Luz, que recebi dos doze diáconos que estão no centro, e levei-as à esfera dos arcontes.
   3 E os decanos dos arcontes e seus satélites acreditaram que eram as almas dos arcontes, e as levaram aos satélites, e eu as coloquei no seio de vossas mães. E quando chegou o tempo os pariram, e em vós não havia nada da alma dos arcontes."
4 E quando Jesus acabou de dizer todas essas coisas a seus discípulos no monte das Oliveiras, continuou instruindo-os, e disse: "Regozijai-vos, e que a alegria desça sobre vossa alegria. Porque os tempos chegaram, e eu me vestirei com a roupagem que me foi preparada desde o principio, e que no último mistério até o tempo de sua perfeição."
5 Mas seu tempo não ha via chegado, e Ele já não podia falar-vos da Verdade desde o seu principio até seu fim, com terá de ser para que o mundo seja salvo por vós. "Regozijai vos, pois, oh! Bem aventurados sois vós entre todos os homens porque haveis de salvar o mundo."
6 E quando Jesus acabou de falar assim, disse: "Eis que aqui recebo minha vestimenta e que toda a ciência me é dada pelo primeiro mistério. Esperai um pouco, e eu vos revelarei todo o mistério e toda pleroma, e nada vos ocultarei a partir de hoje.
7 Mas na perfeição eu vos instruirei de toda a perfeição e de todos os mistérios que são em si mesmos o fim de todos os fins e a gnose de todas as gnoses, que há em minha investidura. E vos explicarei todos os mistérios, desde o interior dos interiores até o exterior dos exteriores.
8 Escutai, pois, e ouvi todas as coisas que me sucederam. E ocorreu que, quando c sol se ergueu no oriente, desceu uma grande potência da luz, na qual vinha a minha vestimenta, que eu pus no vigésimo quarto mistério, como vos expliquei. E encontrei o mistério em minha veste, escrito nas cinco palavras que pertencem às regiões superiores, e que são: Zama, zama, ozaráchama ózai.
9 E sua explicação é esta: 'O mistério que está fora do mundo, e que é a causa de que o mundo haja sido feito, é toda a ação e toda a elevação, e projeta todas as emanações e está em todas elas. E vim para que nos associemos contigo, nós estamos inteiros contigo. E nós somos uno e idêntico, e tu és uno e idêntico.
10 E este é o primeiro mistério, feito desde o princípio, e que é inefável diante da ema-nação. E todos nós somos seu nome. E nós, pois, vivemos inteiramente para Ti, no último limite, que é o mesmo que o último mistério desde o interior. E te havemos enviado tua vestimenta, que é tua desde que no principio a situaste até o último limite, e até que seu tempo tenha chegado, segundo à disposição do primeiro mistério.
11 E havendo chegado o tempo ta darei. Vem a nós, para que sejamos em Ti, para que ta invistamos do primeiro mistério e de toda à sua glória, segundo a ordem do que nos deu o primeiro mistério.
12 Porque Tu és nosso predecessor, e foste feito antes de nós. Põe tua veste e verti a nós, que necessitamos de Ti. Para que nos vistamos com ela até que o tempo marcado pelo Inefável se tenha completado. E o tempo já se completou. Vem, pois, a nós para que te vistamos até que completes todo o mistério da perfeição do primeiro mistério determinado pelo Inefável. Vem a nós, e deixa o mundo. E receberás toda a tua glória, que é a glória do primeiro mistério.'
13 E quando reconheci o mistério dessas palavras na vestimenta que Ele me havia enviado, vesti-me com ela e me converti em uma luz imensa, e voei às regiões superiores, e cheguei ás portas do firmamento transformado em claridade incomparável.
Capítulo 3
Cristo explica a seus discípulos sua viagem através das diferentes esferas
1 "E todas as portas do firmamento abriram-se diante de mim. E subi à primeira esfera, e brilhei com uma luz intensíssima, cinqüenta e nove vezes maior que aquela com que cintilei no firmamento. E quando cheguei às portas da primeira esfera, todas se abriram na hora por si mesmas.
2 "E quando entrei no círculo das esferas emanando uma luz infinita, iodos os arcontes perturbaram-se diante do esplendor que eu apresentava. E, vendo minha roupagem, viram o mistério de meu nome, e sua perturbação aumentou. E tiveram grande espanto, e disseram: Que mudança produziu em nós o Senhor do firmamento?' E suas fileiras e seu agrupamento se romperam. E cada um se deteve em sua fileira, e me adoraram a mim e à minha veste, e cantaram hinos do interior dos interiores, com grande temor e surpresa.
3 "E me dirigi às portas da segunda esfera, que é o Heimarméné, e suas portas abriram-se por si mesmas. E entrei no circulo de Heimarméné cercado por uma luz formidável, e não havia nenhuma outra luz que não fosse a minha. E a luz era quarenta e nove vezes maior ali do que na primeira esfera,
4 "E todos os arcontes da segunda esfera caíram, em sua perturbação, uns sobre os outros, cheios de espanto diante da luz que eu trazia. E vendo em minha roupa o mistério de meu nome, ficaram surpresos e se perguntavam: 'Como o Senhor nos mudou sem que soubéssemos?'
5 "E se romperam os laços de seus laços, e de suas fileiras, e de seus alicerces. E cada um ficou em seu posto, e, prosternando" se diante de mim e de minha vestimenta, todos me adoraram. E cantaram um hino desde o interior dos interiores, e estavam cheios de temor e perturbação.
6 "E, deixando aquele lugar, subindo para os grandes arcontes dos éons, cheguei aos seus véus e às suas portas em meio a urna claridade imensa, e não havia além da minha nenhuma outra luz. E quando cheguei aos doze éons, suas portas se moveram, e seus véus se descerraram por si mesmos, e sua portas se abriram na hora.
7 "E entrei no meio dos Bons cintilando um resplendor imenso, em que nenhuma espécie de luz faltava, e este resplendor era quarenta e nove vezes maior do que em Heimarméné. E seus anjos, e seus éons, e seus arcanjos, e seus arcontes, e seus deuses, e seus senhores, e suas forças, e suas luminárias, e seus ancestrais, e seus tríplices poderes viram que eu era a luz infinita, a que nenhuma espécie de luz é alheia.
8 "E se surpreenderam, e um grande pavor dominou-os quando viram a luz deslumbrante que havia em mim. E seu pavor e sua perturbação chegaram até as regiões do Grão-Mestre dos céus dos três grandes tríplices poderes. E para seu grande espanto, o Grão-Mestre e os três grandes tríplices poderes corriam de ir lado para o outro, e não puderam fechar suas regiões, tal era o grande temor que experimentavam.
9 "E reuniram todos os seus éons, todas as suas esferas e todos os seus súditos, espantados com o grande resplendor que viam em mim. Porque o mundo não teria podido suportar a luz que havia em mim entre os éons, pois se teria dissolvido. E eu brilhava ali com uma luz oito mil e setecentas vezes maior do que a que me acompanhou quando eu estava no mundo convosco. E quantos havia no circulo dos doze éons ficaram aturdidos, vendo à luz que me envolvia, e então passaram a correr de um lado para o outro. E todas as suas regiões, seus céus e seus mundos se abalaram, porque não conheciam o mistério que se havia completado.
10 "E Adamas, o grande tirano, e todos os tiranos que estão entre os éons, puseram-se a combater a luz. E não puderam ver o que combatiam, porque nada viam senão uma luz brilhante. E quando combatiam a luz sucumbiram todos, e, caindo sem forças, ficaram sem respiração, como os habitantes da terra ao morrer.
11 "E eu arrebatei-lhes a terça parte de sua força, para que não pudessem reincidir em seus maus atos, nem os homens da terra os invocassem em seus mistérios revelados pelos anjos pecadores, e que formam a magia. E, assim, se os homens os invocassem com fins perversos, não poderiam praticar suas más ações.
12 "E troquei os Heimarménés e as esferas que são suas soberanas. E voltei-as durante seis meses para a esquerda e seis meses para a direita, para que exercessem suas influências, segundo a determinação do primeiro preceito e do primeiro mistério. E Ião, o Guardião da Luz, as havia colocado com frente sempre para a esquerda, e exercendo assim seus influxos e suas funções. E eis que quando eu chegava ás suas regiões, mostraram-se rebeldes e hostis à luz.
13 "E por isso tirei-lhes a terça parte da sua força, para que não pudessem praticar suas ações maldosas. E mudei os Heimarménés e as esferas, colocando-as à direita durante seis meses, para exercer seus influxos, e seis meses à esquerda."
Capítulo 4
Diálogo de Jesus com a Virgem Maria
1 E quando o Salvador acabou de falar, disse: "Aquele que tiver ouvidos para ouvir, ouça."
2 E quando Maria ouviu as palavras do Salvador, contemplou o espaço durante uma hora. E disse: "Senhor, permite-me falar com sinceridade."
3 E Jesus, misericordioso, respondeu a Maria: "Bem-aventurada és, Maria, pois que eu te instruirei em todos os mistérios concernentes às regiões superiores. Fala com sinceridade, tu, cujo coração está mais ligado que o de todos os teus irmãos ao reino dos céus."
4 E disse Maria ao Salvador: "Senhor, tu disseste: 'Ouça quem tiver ouvidos para ouvir', para que entendamos as palavras que disseste. Escuta-me, Senhor, tu disseste: `Arrebatei a terça parte de todos os arcontes dos éons e mudei os Heimarménés e as esferas que são suas soberanas, para que, no caso de a raça de homens que está no mundo as invocasse nos mistérios que os anjos pecadores lhe ensinaram para praticar más ações nos segredos da magia, não mais pudesse exercê-los'.
5 "Posto que Tu lhes arrebataste sua força, aqueles que mostram aos homens as coisas que estão no futuro não terão, de agora em diante, a faculdade de adivinhar o que está por vir, porque tu trocaste suas esferas e as fizeste exercer seu influxo seis meses à direita e seis meses à esquerda. Em tuas palavras, Senhor, falou a força que residia em Isaías, o profeta, e que disse em parábolas, ao falar do Egito: `Onde estão, ó Egito, teus adivinhos e teus intérpretes e teus evocadores?'A força que havia em Isaías, o profeta, vaticinou, antes que Tu viesses, que Tu tirarias a força dos arcontes dos éons e que trocarias seus Heimarménés e todas as suas esferas.
6 "E quando o profeta disse: `Não sabeis o que fará o Senhor', significava que nenhum dos arcontes sabia o que Tu executarias agora, e o que disse Isaías do Egito deve aplicar-se também à matéria sem eficácia. E Isaías falava da força que há hoje no corpo material, e que Tu arrebataste de Sabaoth, o bom, que está no hemisfério da direita. E por isso, Senhor Jesus, nos disseste: 'Quem tiver ouvidos, ouça', porque Tu sabes se o coração de cada mi aspira ardentemente ao reino dos céus."
7 E quando Maria acabou de falai", disse o Salvador: "Maria, bendita és tu entre todas as mulheres da Terra, porque tu serás o Pleroma de todos os pleromas e o fim de todos os fins."
8 E ouvindo Jesus falar-lhe assim, Maria sentiu um extremo júbilo e se ajoelhou aos seus pés. E disse: "Senhor, ouve-me, e permite que te interrogue a respeito das palavras que disseste acerca das regiões em que tens estado."
9 E Jesus respondeu a Maria, e disse: "Fala com franqueza e não temas, que eu te revelarei quanto quiseres saber". E ela disse: "Senhor, os homens que conhecem os mistérios da magia dos arcontes dos éons, e a magia dos arcontes da Heimarméné, e a da esfera, segundo os anjos maus lhes ensinaram, e os invocam em seus mistérios, que são sua magia, para impedir as boas ações, poderão agora realizar seus desígnios ou não?"
10 E Jesus, respondendo a Maria, disse: "Não os realizarão como os realizavam desde o principio, quando eu lhes tirei a terça parte da sua força. Mas haverá quem conheça os mistérios da magia do terceiro éon."
11 E quando Jesus acabou de dizer estas palavras, Maria levantou-se e disse: "Senhor, os adivinhos e os astrólogos mostrarão daqui por diante aos homens as coisas que hão de acontecer?"
12 E Jesus respondeu a Maria: "Se os astrólogos consultarem as Heimarménés e as esferas quando estiverem voltadas para a esquerda, segundo sua primeira emanação, suas palavras se confirmarão e dirão o que há de acontecer. Mas, se observarem as Heimarménés e as esferas quando estiverem voltadas para a direita, nada dirão de verdadeiro. Porque suas influências estarão invertidas, assim como seus quatro ângulos, e seus três ângulos, e suas oito figuras.
13 "Porque desde o principio seus quatro ângulos, e seus três ângulos, e suas oito figuras estavam voltados para a esquerda. Mas eu os inverterei, fazendo que se voltem seis meses para a esquerda e outros seis para a direita. E quem houver encontrado sua posição depois que eu os mudei, dispondo que seis meses olhem para a esquerda e seis para a direita; quem os houver observado desta maneira saberá exatamente seus influxos e anunciará quantas coisas farão.
14 "E assim será para os adivinhos, se invocarem o nome dos arcontes quando suas influências, dirigidas para a esquerda, se lhes manifestarem. E assim também com todas as coisas sobre as quais inter-rogarem os decanos. Mas se os adivinhos invocarem seus nomes quando estiverem com a face voltada para a direita, nada compreenderão, pois não estarão na primitiva posição em que Ião os colocara, e terão uma grande surpresa ao não reconhecer seus três ângulos, nem seus quatro ângulos, nem suas oito figuras."
Capítulo 5
Diálogo de Jesus com Felipe
1 E, enquanto Jesus pronunciava essas palavras, Felipe estava sentado, anotando tudo que Jesus dizia. E, ao terminar, adiantou-se, prosternou-se, adorou os pés de Jesus, dizendo: "Senhor e salvador" meu, permite-me falar, para que te interrogue sobre o que nos disseste a respeito das regiões em que estiveste no desempenho da tua missão."
2 E o Salvador, misericordioso, respondeu a Felipe dizendo: "Tens permissão. Pergunta o que quiseres". E Felipe replicou a Jesus: "Senhor, Tu mudaste o modo de ser dos arcontes, e dos éons, e de seus Heimarménés, e das esferas, e de todas as suas regiões, e os surpreendeste em seu caminho e os extraviaste em sua rota. Fizeste isso para a salvação do mundo, ou não?"
3 E Jesus respondeu a Felipe e a seus discípulos: "Eu alterei sua rota para salvar todas as almas. Porque em verdade vos digo: Se eu não os tivesse desviado, eles teriam posto a perder muitas almas. E haveria passado muito tempo antes que os arcontes de Heimarméné, e da esfera, e todas as suas regiões, e seus céus, e seus éons, houvessem sido destruídos.
4 "E as almas teriam passado muito tempo fora desse lugar, e o número das almas dos justos que foram colocadas pelo mistério na posse das regiões superiores e no Tesouro da Luz teriam deixado de realizar-se. E por isso desviei seu carrinho, para que se perturbassem e perdessem a força que forma a matéria de seu mundo, para que os que hão de salvar-se sejam prontamente purificados e levados ás regiões superiores, e para que os que não devam salvar-se sejam destruídos."
5 E quando Jesus acabou de dizer essas palavras a seus discípulos, Maria, a ditosa e de bom falar, adiantou-se e se prosternou aos pés de Jesus, dizendo: "Senhor, perdoa-me se te falo, e não te aborreças comigo pelo muito que te interrogo". E o Salvador, em sua misericórdia, disse a Maria: "Diz o que quiseres, e te responderei com clareza". E Maria respondeu a Jesus: "Senhor, como ficarão as almas fora desse lugar e como serão rapidamente purificadas?"
6 E o Salvador respondeu a Maria: "Maria, tu buscas a verdade em todas as tuas perguntas, que são cheias de razão, e levas a luz a tudo com teu zelo. De agora em diante não ocultarei nada, e revelarei tudo com esmero e clareza. Escuta-me, Maria, e vós, discípulos, recolhei minhas palavras."
Capítulo 6
Jesus explica aos discípulos seu combate com os seres das regiões superiores
1 "Antes que eu divulgasse minha missão aos arcontes dos éons, e aos arcontes de Heimarméné e das esferas, estavam todos eles ligados às suas cadeias e às suas esferas e aos seus selos, na mesma ordem em que Ião, o Guardião da Luz, os Colocara desde o início. E cada um estava em seu posto e fazia seu caminho segundo a forma que lhe traçou Iao, o Guardião da Luz.
2 "E quando chegou o tempo de Melquizedech, o grande herdeiro da luz, ele se aproximou de todos os arcontes e de todos os éons e tirou a luz puro de todos os éons e arcontes dz Heimarméné e das esferas Porque tirou-lhes o que o  havia turbado. E excitou vigilância que há sobre eles, e tirou-lhes a força que havia neles, e as lágrimas de seus olhos, e o suor dos seus corpos
3 "E Melquizedech, o herdeiro da luz, purificou essas forças, para levar sua luz ao Tesouro da Luz. E os satélites dos arcontes recolheram toda a sua matéria, e os satélites, dos arcontes das Heimarménés, e os satélites de toda as esferas que estão debaixo dos arcontes, a receberam para fazer as almas dos homens, e dos rebanhos, e dos répteis, e das bestas, e dos pássaros, e enviá-las ao mundo dos homens.
4 "E as potências do sol e as potências da lua, quando olharam o céu e viram o lugares dos caminhos dos éon: e das Heimarménés e das esferas, viram que a luz lhes havia sido tomada. E, tomando a luz pura e os resíduos da matéria os carregaram para a esfera que há debaixo dos éons, para fazer as almas dos homens, para fazer os répteis, e as bestas de carga, e os animais, e o pássaros, seguindo o circulo dos arcontes desta esfera, e seguindo as figuras de sua conversão para lançá-las no mundo do homens e convertê-las em alguns deste lugar, da maneira como vos disse.
5 "E isso faziam com perseverança, antes que sua força fosse reduzida, e ficassem fracos e impotentes. E quando se tornaram impotentes, e sua força cessou, e ficaram debilitados, e a luz que havia em sua região desapareceu, e seu reino foi dissolvido, eis que uma vez que conheceram por um tempo essas coisas, Melquizedech, o herdeiro da luz, veio de novo para entrar no meio de todos os arcontes dos éons, e de todos os arcontes da Heimarméné e das esferas, e as conturbou, e as oprimiu para arrancar-lhes sua força, e a respiração de sua boca e o suor dos seus corpos.
6 "E Melquizedech, o herdeiro da luz, purificou-os de um modo que efetuou com perseverança, e levou sua luz ao Tesouro da Luz. E quando eu vim para ascender ao ministério ao qual fui chamado por ordem do primeiro mistério, subi entre os doze arcontes dos éons, revestido da minha vestimenta. E eu resplandecia com uma luz imensa, e não havia espécie de luz que não estivesse em mim. E quando todos os tiranos do grande Adamas e os tiranos dos doze éons se esforçaram para combater a luz da minha vestimenta, queriam obter sua posse para permanecer" em seus reinos.
7 "E o faziam ignorando a quem combatiam. E quando combatiam com a luz, eu, cumprindo a ordem do primeiro mistério, mudei seus caminhos e as armas dos seus éons, e as veredas de suas Heimarménés, e os caminhos de sua esfera. E as deixei seis meses olhando os três ângulos da esquerda, e os quatro ângulos e as coisas que estão em sua região, e suas oito figuras, segundo a forma em que estavam desde o princípio. E alterei sua conversão e sua direção.
    8 "Mas quando tirei-lhes a terça parte de suas forças, mudei as esferas, para que olhassem por um tempo à direita e por outro à esquerda. E mudei seu curso, e todo o seu caminho, e acelerei o caminho do seu curso, para que fossem purificados rapidamente, e abreviei seu círculo e fiz rápido seu caminho.
9 "E se apressaram muito, e foram estimulados em seu caminho, e não puderam, desde então, devorar a matéria de sua pura luz. E abreviei seu tempo e sua duração, para que o número das almas justas que recebessem os mistérios e entrassem nos Tesouros da Luz se completasse logo. Se eu não tivesse abreviado seu tempo, nem mudado seu curso, eles, por causa de sua matéria impura, não teriam deixado alma alguma vir ao mundo, pois as devorariam.
10 "E uma multidão de almas se teria perdido. E por isso eu disse: 'Abreviei o tempo pensando em meus eleitos'. De outra maneira, nenhuma alma teria podido salvar-se. E abreviei os tempos pelas almas justas que deverão receber os mistérios, e que são as almas dos eleitos.
11 "E se eu não houvesse abreviado seu tempo, nenhuma alma material teria podido salvar-se. Ao invés, haveriam sido consumidas pelo fogo que está na origem dos arcontes. E estas são as coisas sobre as quais me perguntaste."
Capítulo 7
Jesus relata seu encontro com a Sabedoria fiel
1 E quando Jesus acabou de falar a seus discípulos, todos se prosternaram e o adoraram, dizendo: "Nós, teus discípulos, fomos elevados acima de todos os homens, pela grandeza das coisas que nos estás dizendo". E Jesus continuou falando, e disse a seus discípulos: "Ouvi o que me aconteceu com os arcontes dos doze éons, e com todos os seus arcontes, e seus mestres, e seus dignitários, e seus anjos, e seus arcanjos.
2 "Quando viram a brilhante veste que eu trazia, e cada um viu o mistério do meu nome na vestimenta brilhante que me cobria, todos se prosternaram unanimemente, adorando minha brilhante roupagem, e dizendo: 'O Senhor do universo nos mudou'.
3 "E cantaram em coro um cântico desde o interior dos interiores, e todas as suas tríplices potências, e seus antepassados, e seus anjos, e suas forças engendradas em si mesmos, e suas virtudes, e seus deuses, e todos os seus magnatas.
4 "E viram os guardiões de suas regiões, ao perderem parte de suas forças, cair em uma grande debilidade, e tiveram grande medo eles mesmos. E descobrindo o mistério do sei: nome em minha veste, apressaram-se a adorá-lo, e não puderam pela suma luz que havia em mim.
5 "E afastando-se um pouco o adoraram. E adoraram luz da minha veste, e todo cantaram um hino do interior dos interiores. E sucedeu que quando os guardiões que há ac lado dos arcontes viram toda essas coisas, caíram em abatimento e tombaram fora de suas regiões.
6 "E ficaram como os habitantes do mundo quando são feridos de morte, e não reagiram, pois estavam do mesmo modo que quando arrebatei lhes a força. E eis que quando eu me afastava desses éons cada um dos que estão nos doze éons foi restituído a seu lugar e eles cometeram más ações segundo o modo como eu o havia disposto.
7 "Porque passam seis meses voltados para a esquerda cometendo feitos generosos em seus três ângulos e em seu quatro ângulos, e nos que es tão em sua região. E outros sei meses olhando para a direita para seus três ângulos e par seus quatro ângulos, e para o que pertencem à sua região.
8 "E este é o modo com irão aqueles que estão na Heimarméné e nas esferas. E ocorreu que subi muito depressa à regiões superiores, até os véus da décima terceira região dos éons. E quando cheguei aos seus véus, estes abriram-se diante de mim. E entrei na décima a terceira região dos éons, e encontrei a Sabedoria fiel, que estava só, sem que nenhum dos éons estivesse junto dela.
9 "E estava sob a décima terceira região dos éons, e chorava porque não a haviam conduzido à décima terceira região, que é o seu lugar nas regiões superiores. E se afligia pelos sofrimentos que lhe havia causado o orgulho de um dos tríplices poderes. E quando eu vos falar da emanação dir-vos-ei o mistério da sua criação.
10 "E quando a Sabedoria fiel me viu, e contemplou a luz que me rodeava, na qual não faltava nenhuma espécie de luz, sofreu uma grande turbação. E, fitando a luz da minha veste, viu o mistério do meu nome traçado sobre minha veste, e todo o esplendor do seu mistério como o havia sido desde o principio nas regiões superiores e nas treze regiões dos éons. E dirigiu um hino à luz que havia nas regiões superiores, que ela viu nos véus do Tesouro da Luz."
11 E quando Jesus acabou de dizer essas coisas a seus discípulos, Maria se adiantou e disse: "Senhor, ouvi de ti que a Divina Sabedoria estava também nos vinte e quatro próbolos, mas não estava em sua região, porque Tu disseste: 'Eu a encontrei debaixo da décima terceira região dos éons'.
12 E Jesus, respondendo, disse a seus discípulos: "A fiel Sabedoria estava na décima terceira região dos éons, onde estão todas as suas irmãs invisíveis, que são, elas mesmas, os vinte e quatro próbolos do Grande Invisível.
13 "E ocorreu que por" ordem do primeiro mistério, a Sabedoria Divina olhou para o alto e viu as asas do Tesouro da Luz. E desejou ir àquela região, mas não pôde chegar. E deixou de efetuar o mistério da décima terceira região dos éons, e dirigiu um hino à luz das regiões inferiores, que está na luz das asas do Tesouro da Luz.
14 "E quando ela elevava seu hino ás regiões superiores, todos os arcontes que estão nas doze regiões dos éons sentiram ódio por ela, porque eles estavam nas regiões inferiores, e ela se deteve em seus mistérios e quis elevar-se acima deles. E por isto se irritaram com ela, e a odiaram.
15 "E o grande tríplice poder orgulhoso, que é a terceira das tríplices potências, e que reside na décima terceira região dos éons, aquele que foi insubmisso, não dando toda a pureza da força que havia nele, e não mostrando a luz pura no tempo em que os arcontes deram sua pureza, quis ser soberano em toda a décima terceira região dos éons e nas que estão embaixo.
16 "E sucedeu que todos os arcontes das doze regiões dos éons se enfureceram contra a Sabedoria fiel, que estava sobre eles. E sentiram por ela sumo ódio, e o grande tríplice poder orgulhoso, de que vos falei, seguiu os arcontes das doze regiões das éons, e se irritou contra a Sabedoria fiel.
17 "E a odiou extremadamente, porque queria ir à luz que está sobre ele, e projetou fora de si uma grande força com cabeça de leão, feita da matéria mesma dele. E projetou muitas outras emanações materiais, e as projetou às regiões inferiores, em meio do caos, para que estendessem laços à Sabedoria fiel e lhe tirassem a força que há nela.
18 "Porque queria ir para a região superior que há sobre eles, e porque deixou de completar seus mistérios. E ela continuou chorando, em busca da luz que havia visto. E os arcontes que permaneciam no mistério de que se ocupam tiveram ódio dela, e todos os guardiões que vigiam as portas dos éons tiveram também ódio dela."
Capítulo 8
Ciladas que o grande tríplice poder arara contra a Sabedoria fiel
1 "E ocorreu, segundo disposição da primeira ordem, que o grande tríplice poder orgulhoso, que é um dos três poderes, conduziu a Sabedoria fiel à décima terceira região dos éons. E era para que contemplasse os lugares do inferno e visse naqueles lugares sua potência de luz com cabeça de leão. E queria que fosse ali, para que lhe tirassem a luz que havia nela.
2 "E a Sabedoria olhou de cima e viu a força daquela luz na região dos infernos, e não sabia que pertencia ao tríplice poder orgulhoso. Mas pensou que provinha da luz que ela havia visto desde o princípio na região superior, e que vinha das asas do Tesouro da Luz.
3 "E pensou consigo mesma: 'irei tomar a luz que os éons da luz criaram para mim, a fim de que eu possa chegai" à luz das luzes, que está na altura das alturas'. E com esses pensa-mentos saiu do lugar para a décima terceira região dos éons, e subiu para os doze éons.
4 "E os arcontes dos éons a viram e se irritaram com ela, porque queria elevar-se às regiões superiores. E ao sair das doze regiões dos éons, chegou ás paragens do caos e avançou para a força da luz com cabeça de leão que a queria devorar. E todos os defensores da matéria a rodearam. E a grande força da luz com cabeça de leão devorou a potência da luz da Sabedoria, purgou sua luz, que ela havia devorado, e sua matéria.
5 "E a arrojaram ao caos, que é metade chamas e metade trevas. E havia um arconte com cabeça de leão, e era Ialdabaort, de quem vos tenho falado muitas vezes. E quando tudo isso aconteceu, a Sabedoria encontrou-se em estado de extrema debilidade. E a força da luz com cabeça de leão começou a arrebatar todas as forças da luz na Sabedoria, e todas as forças da matéria do poder orgulhoso rodearam por sua vez a Sabedoria e a atormentaram.
6 "E a Sabedoria fiel, lançando grandes gritos, dirigiu-se à luz das luzes que viu desde o princípio, implorando sua ajuda. E suplicou-lhe com estas palavras: Luz das luzes, a quem implorei desde o começo, escuta agora, ó luz, minhas súplicas. Protege-me, luz, porque maus pensamentos penetraram em mim. E vi, ó luz, as regiões do inferno, e vi a luz nesse lugar, e aqui vim pensando alcançar essa luz. E caí nas trevas que são o caos do inferno.
7 'E não pude voltar ao meu lugar, porque fui atormentada por todos os meus inimigos, e a força da cabeça de leão me arrebatou a luz que havia em mim, e eu implorei teu auxílio, e minha voz não se ergueu nas trevas.
8 'E olhei para o alto, para que a luz na qual creio me assista. E quando olhei para o alto, vi todos os arcontes de uma infinidade de éons. E vendo-me neste estado, se alegravam com meus gritos. E eu não lhes fiz nenhum mal. Mas me odeiam sem motivos. E quando os próbolos do tríplice poder viram que os arcontes dos éons se regozijavam com meu mal, Compreenderam que os arcontes dos éons não me prestariam socorro.
9 'E os que me afligiam injustamente adquiriram confiança e me arrebataram a luz que eu havia recebido deles. Mas tu luz verdadeira, sabes que eu fiz essas coisas candidamente, crendo que a luz da cabeça de leão era tua. E o pecado que cometi está patente diante de ti. Não permitas, Senhor, que eu permaneça mais tempo assim. Porque desde o princípio acreditei em tua luz.
10 'Senhor, luz das forças, não me deixes mais tempo privada de tua luz, porque pela ânsia de tua luz caí na aflição e a vergonha me cobriu. E pela ânsia por tua luz fiquei estranha a minhas irmãs invisíveis, e às emanações do grande Barbelon. E isto me sucedeu, ó luz, porque desejei penetrar em teu circulo.
11 'E voltou-se contra mim a cólera do orgulhoso, aquele que irão escutou tua ordem pai-a que me estendesse sua luz. Porque eu estive na região dos éons e não pratiquei seu mistério, e todos os guardiões das portas das regiões dos éons me buscavam, e quantos compreendem seus mistérios me perseguiam.
12 'Mas eu olhei para ti, luz, e acreditei em ti. Não me deixes na aflição da escuridão do caos, mas livra-me destas trevas. Se desejas vir salvar-me, grande é tua misericórdia; escuta-me na verdade, e salva-me.'
13 "Estas são as palavras que disse a Sabedoria fiel, e o que tiver ouvidos para ouvir, que ouça."
Capítulo 9
Jesus responde ás consultas de Maria, Marta e Pedro
1 E disse Maria: "Senhor, meus ouvidos recebem a luz e eu ouço em mim a força de luz ouve, pois, o que tenho a dizer sobre as palavras da fiel Sabedoria ao confessar seu pecado. Tua força de luz foi profetizada pela boca de Davi, quando disse em seu salmo 68: 'Deus meu, protege-me, porque as águas chegaram até minh'alma'." E disse depois Maria: "Tal é, Senhor, a explicação da súplica da Sabedoria fiel."
2 E disse Jesus: "És abençoada, Maria". E continuou falando, e disse: "A fiel Sabedoria elevou um hino deste modo: 'Luz das luzes, eu creio em ti; não me deixes para sempre nas trevas. Ajuda-me e protege-me em teus mistérios. Aproxima de mim teu ouvido e salva-me.
3 'Que a força de tua luz me preserve e me leve até os éons elevados. E livra-me da força da cabeça de leão e de todos os meus inimigos. Porque acreditei em ti desde o começo, e tu és meu Salvador e meu Tesouro de Luz. Minha boca está repleta de glória, para que cante sempre em teu louvor e enalteça o mistério de tua grandeza.
4 'Não me deixes no caos e não me abandones. Porque meus inimigos quiseram arrebatar toda a minha luz. Volta para mim, ó luz, e livra-me destes malvados, e que quem quis tirar minha força caia, ó luz, nas trevas."
5 E quando acabou de dizer essas palavras Jesus perguntou aos discípulos: "Compreendeis o que vos disse?" E Pedro adiantou-se, e disse: "Senhor, não permitas que esta mulher fale sempre, porque ocupa nosso lugar e não nos deixa falar nunca."
6 E disse Jesus a seus discípulos: "Adiante-se e fale aquele em quem atua a força da inteligência. Porque eu vejo, Pedro, tua força no conhecimento das palavras que disse a fiel Sabedoria. Vem, pois, e dá tua explicação entre teus irmãos."
7 E Pedro foi, e disse: "Senhor, tua força foi profetizada por Davi no salmo 69, quando disse: 'Senhor Deus meu, pensa em socorrer-me'."
8 E o Salvador disse: "Essa é a explicação do hino da Sabedoria fiel. Bem-aventurados sois vós entre todos os homens da terra, porque vos revelei estes mistérios. E em verdade vos digo: eu vos explicarei os mistérios de todas as regiões de meu Pai e de todas as regiões do primeiro mistério. Para que o que aprovardes na terra seja aprovado no reino das regiões superiores, e para que o que recusardes na terra seja recusado no reino do meu Pai, que está nos céus.
9 "Escutai, pois, e entendei as palavras que a Sabedoria fiel pronunciou: `Luz das forças, protege-mie. Que os que querem tirar minha luz sejam submergidos no caos; e que afundem nas trevas os que me perseguem dizendo: 'Seremos tirais fortes do que ela'. Que se regozijem quantos buscam a luz, e que digam sempre: 'Eu celebrarei o mistério dos que querem teu mistério. Protege-me, pois, ó luz, porque eu necessito minha luz, que meus inimigos me querem arrebatar. Tu és meu salvador, luz; arranca-me e liberta-me deste caos'.”
10 E quando Jesus acabou de expor assim a seus discípulos o cântico terceiro da Sabedoria fiel, acrescentou: "Quem compreender o sentido do terceiro cântico da fiel Sabedoria, se adiante e dê-nos sua explicações."
11 E Marta abraçou-se a seus pés, gritando e chorando, entregando-se à dor e à humilhação, e disse: "Senhor, tem piedade de mim e estende sobre mim tua misericórdia, e permite que eu dê a explicação do terceiro hino da Sabedoria fiel."
12 E Jesus, dando a mão a Marta, disse: "Bem-aventurado o que se humilha, porque ele desfrutará a misericórdia. Es abençoada, Marta; dá-nos a explicação do cântico da fiel Sabedoria."
13 E disse Marta: "Tua força, Senhor, foi profetizada no salmo 70 de Davi, quando disse: 'Senhor, creio em ti. Não permitas que eu seja humilhado para sempre'. E este é, Senhor, o sentido do terceiro hino da fiel Sabedoria."
14 E quando Jesus ouviu essas frases de Marta, disse: "Marta, falaste bem."
Capítulo 10
Interpretação que dá João da quarta súplica da Sabedoria fiel
1 E Jesus, continuando em sua prédica, disse a seus discípulos: "A Sabedoria fiel fez sua quarta súplica. E fê-la antes que a força de cabeça de leão e as emanações materiais que havia com ela, e que haviam sido enviadas pelo poder orgulhoso, voltassem a atormentá-la. E disse assim: `Luz na qual eu acreditei, ouve meu rogo, e que minha voz se eleve até tua morada. Não coloques longe de mim a imagem da tua luz, mas dirige-a a mim, que estou na aflição.
2 'Arranca-me, salva-me desta destruição, porque meu tempo se esvai, e eu me estou convertendo em matéria. Minha luz foi tirada e minha força foi destruída. E perdi a memória do meu mistério, ao qual fui consagrada desde o princípio. E minha força sucumbiu em virtude do meu espanto, e me converti como que em um demônio que habita na matéria, ou como um decano que está só no espaço.
3 'E meus inimigos disseram: 'Em vez da luz que há nela, a banharemos no caos'. E devorei o suor da minha substância, e a amargura das lágrimas da matéria dos meus olhos, para que os que me atormentam não me arrebatem estas outras coisas. E todas estas coisas, luz, me sucederam por tua disposição, e foi por tua decisão e tua vontade que tudo me sucedeu.
4 'E tua vontade me trouxe ao inferno, e vim ao inferno como a força do caos. Em minha força gelou em mim. Senhor, tu és a luz na eternidade, e visitas em todas as ocasiões os aflitos. Eleva-te, luz, busca meu caminho e a alma que há em mim, e porque já está cumprida a ordem que havias dado para minha aflição; e chegou o tempo de buscar meu caminho e minh'alma; o tempo que marcaste para buscar-me.
5 'E neste tempo, todos os arcontes dos éons da matéria temerão tua luz. E todas as emanações da décima terceira região dos éons da matéria temerão os mistérios da tua luz. Para que os demais se revistam da pureza de sua luz quando o Senhor buscar a força da nossa alma.'
6 "E este mistério é o modelo oferecido à raça que está por ser criada, e esta raça eleva um hino às regiões superiores.
7 "E a luz olha do alto de sua luz, e olhará toda a matéria, para ouvir os gemidos dos que estão acorrentados, para romper a força das almas, cuja força foi dominada, e para pôr seu nome na alma e seu mistério na força."
8 E quando Jesus acabou de falar assim a seus discípulos, disse: "Eis aí a quarta súplica da Sabedoria fiel. E quem souber compreender, que compreenda."
9 E quando Jesus disse isso, João adiantou-se, a adorou o peito de Jesus, e disse: "Senhor, perdoa-me e deixa que eu dê a explicação da quarta súplica da fiel Sabedoria". E João continuou e disse: "Senhor, tua força profetizou o que disse a fiel Sabedoria no salmo 101 de Davi: `Senhor, ouvi minha súplica, e que meus clamores cheguem a ti'."
10 E ao concluir João estas palavras, disse Jesus: "Estás certo, João, e no reino da luz te está reservado um lugar.'
Capítulo 11
Felipe interpreta o sentido da quinta súplica da Sabedoria fiel
1 E Jesus, prosseguindo em sua prédica, disse a seus discípulos: "As emanações do tríplice poder orgulhoso atormentaram a fiel Sabedoria no caos porque queriam tirar-lhe a luz. E o tempo de arrancá-la do caos não havia ainda chegado. E a ordem do primeiro mistério não havia chegado ainda e eu não devia ainda salvá-la do caos.
2 "E quando as emanações materiais a torturavam, ela clamou e disse em sua quinta súplica: 'Luz da minha salvação eu te elevo um hino no lugar das regiões superiores, e ao mesmo tempo do caos. Porque te elevo o hino que te dirigia nas regiões superiores. Vem a mim ó luz! Volta o espírito, ó luz, minha súplica, porque minha. força está cheia de trevas, minha luz se perdeu no caos.
3 'E me converti, como que nos arcontes do caos, que estão nas regiões inferiores. E sou como um corpo material, para o qual não há salvador nas regiões superiores. E me converte nas matérias cuja força foi tirada, e que caíram no caos, tu não as salvaste, e elas pereceram. E me submergiram na trevas infernais, na obscuridade, ali onde estão as matérias inertes e despojadas de toda a força.
4 'E tu deste ordem sobre mim e sobre quantas coisas organizaste. E afastaste de mim teu alento, e me submergiste no abismo. E também por tua ordem sobre as coisas que organizaste, meus inimigos me estão atormentando. E me odeiam, e não me ajudam, e estou quase que de todo perdida, e minha luz reduziu-se em mim. E clamei por tua luz, corri toda a luz que há em mim, e ergui as mãos elevando-as para ti.
5 'E agora luz, cumpriu-se tua vontade no caos? Elevar-se-ão entre as trevas os libertadores que deverão vir de acordo com teu vontade? E dirão o mistério do teu nome no caos? E dirão teu nome no caos que tu não iluminas?
6 'Eu te glorifico, luz, e minha voz chegar-te-á nas regiões Superiores. Que tua luz venha sobre mim, porque a minha tire foi tirada. E eu estou no sofrimento por causa da luz, desde que meus inimigos me atacaram. E quando olhei para o alto, para a luz, e olhei o inferno, caí nu inferno, segundo a determinação da luz, elevando-me no caos. E tua ordem veio sobre mim, e os temores e sofrimentos que tu determinaste, me envolveram, abundantes como as águas. E se apoderaram totalmente de mim. E, segundo tua vontade, não deixaste que minha companheira me ajudas-se e socorresse nesta aflição.'
7 "Tal é a quinta súplica que a Sabedoria fiel proferiu no caos, quando estava atormentada pelas emanações materiais do tríplice poder."
8 E quando Jesus acabou de falar assim a seus discípulos, disse-lhes: "Que ouça quem tiver ouvidos para ouvir. E quem tiver em si a voz brilhante, que se adiante e dê a explicação da quinta súplica da Sabedoria fiel."
9 E levantou-se Felipe assim que Jesus acabou de falar. E deixou no chão um livro que tinha nas mãos, e nesse livro escrevia as palavras de Jesus, e todas as coisas que havia feito.
10 E Felipe adiantou-se e disse a Jesus: "Senhor, eu sou aquele a quem confiaste o cuidado do mundo. Para que escreva quantas coisas nós dizemos e fazemos. E não me permitiste expor a explicação do mistério das súplicas da Sabedoria fiel. E meu espírito se agitou fortemente, para que eu desse a explicação desse mistério. E me adiantei, porque sou o que escreve todas as coisas."
11 E Jesus, ouvindo Felipe, disse-lhe: "Escuta, Felipe, que eu te falo, porque foi a ti, e a Tomé, e a Mateus que o primeiro mistério ordenou escrevei — todas as coisas que eu disser e quantas coisas virdes. Ainda não terminou o número de palavras que deves registrar por escrito. E quando terminares, terás vagar para dizer o que quiseres. Mas agora, vós três, escrevei as coisas que eu disser e que eu fizer e que eu vir, para dardes testemunho de tudo no reino dos céus."
12 E quando Jesus concluiu estas palavras, disse a seus discípulos: "Quem tiver ouvidos para ouvir, que ouça."
13 E Maria ergueu-se de entre os discípulos, e pôs-se junto de Felipe e disse: "Senhor, meu ouvido entendeu a voz da luz, e estou pronta a ouvir, segundo a capacidade do meu entendimento, à Palavra que Tu disseste. Mas, Senhor, deixa que te fale com clareza. Porque Tu disseste: 'Que ouça quem tiver ouvidos para ouvir'. E disseste também a Felipe: 'A ti, e a Tomé, e a Mateus, encarregou-vos o primeiro mistério de escrever todas as coisas do reino da luz, para dardes testemunho delas'. ouve, pois, a explicação da palavra que tua força de luz fez Moisés profetizar, quando disse: 'De todas as coisas se fará registro por meio de duas ou três testemunhas'. E essas três testemunhas são Felipe, Tomé e Mateus."
14 E quando Jesus ouviu isto, disse: "Essa é, Maria, a explicação. Adianta-te, pois, Felipe, e dá-nos a explicação da quinta súplica da Sabedoria fiel. E depois senta-te até o final da missão que te recomendei, que é a de escrever todas as coisas do reino da luz. E tu continuarás dizendo o que o teu espírito compreender. Mas agora explica o mistério da quinta súplica da fiel Sabedoria."
15 E Felipe respondeu a Jesus, e disse: "Escuta, Senhor,a explicação que eu dou da quinta súplica da fiel Sabedoria. Tua força profetizou a respeito dela, dizendo no salmo 87 de Davi: 'Senhor", Deus da minha salvação, eu clamo a ti noite e dia. Que minha palavra chegue até ti, e que prestes ouvido à minha súplica'."
16 E Jesus, ouvindo essas palavras, disse: 'Vem e senta-te, querido Felipe, e escreve todas as coisas que eu faça, e todas as palavras que eu diga, e quantas coisas vejas."
17 E Felipe sentou-se, e escreveu.
Capítulo 12
André e Maria interpretam palavras da Sabedoria fiel e de Jesus
1 E Jesus continuou falando a seus discípulos e disse-lhes: "A fiel Sabedoria voltou a elevar seus clamores à luz. E esta remiu o pecado que ela havia cometido. E, deixando seu lugar, entrou nas trevas. E a Sabedoria fiel elevou sua sexta súplica desta maneira: `Eu te louvo, luz, nas trevas dos infernos. Escuta minha súplica, e que tua luz atenda o clamor dos meus rogos. Porque eu não iria perante ti, e tu não abandonarias, se tu não existisses, ó luz, minha libertadora, por causa da luz do teu nome.
2 'Eu acreditei em ti, luz, e tu és minha força. E tenho sido fiel ao teu mistério, e minha força acreditou na luz que está no alto, e acreditou nela até quando eslava submersa no caos do inferno. E toda a força que há em mim acreditou na luz, ainda quando estava submersa nas trevas do inferno. E elas acreditarão também quando chegarem às regiões superiores, porque Ele nos verá e nos resgatará. E o mistério da sua salvação é grande. E Ele preservará todas as forças contra o caos, em virtude de minha falia, quando, deixando meu lugar, vim ao caos'. E quem puder entender, que entenda."
3 E quando Jesus acabou de dizer essas palavras disse a seus discípulos: "Compreendeis o que vos disse?"
4 E André adiantou-se, dizendo: "Senhor, a força de tua luz profetizou pela boca de Davi, em seu salmo 129, ao dizer: 'E clamei, Senhor, do fundo do abismo. Escuta minha voz. Que Sirad ponha sua confiança no Senhor'."
5 E disse Jesus: "Está bem, André; bem-aventurado sejas. Que essa é a explicação da súplica da Sabedoria. Em verdade, em verdade vos digo, que eu vos farei conhecer todos os mistérios da luz. E toda gnose, do interior dos interiores até o exterior dos exterior"es. E desde o Inefável até as trevas das trevas. E desde a luz das luzes. E desde os deuses até os demônios. E desde todos os senhores até todos os decanos. E desde todas as revoluções até todas as emanações. E desde a criação dos homens até a das bestas, os animais e os répteis. E assim serão chamados perfeitos e completos em todas as coisas.
6 "Em verdade, em verdade vos digo: quando eu estiver no reino do meu Pai, vós estareis comigo. E quando o número do perfeito estiver completo, para que a mescla seja destruída, eu ordenarei que vos conduza a todos os deuses que não houverem dado ainda a força de sua luz. E ordenarei ao fogo da Sabedoria que respeite os perfeitos e consuma os tira-nos até que hajam dado a última pureza de sua luz."
7 E quando Jesus acabou de falar assim, disse a seus discípulos: "Compreendeis o que vos digo?"
8 E disse Maria: "Eis, Senhor, o sentido das palavras que disseste. Tu disseste que na destruição do nada estarás sentado sobre a força da luz. E que nós, teus discípulos, estaremos sentados à tua direita. E que julgaremos os tiranos que não hajam dado ainda a pureza da sua luz. E do fogo que disseste que deve consumi-los até que hajam dado a última luz que há neles, tua força da luz profetizou o salmo 24, em que disse Davi: 'Deus sentar-se-á na assembléia dos deuses para julgar os deuses'."
9 E disse Jesus: "Estás bem, Maria."
Capítulo 13
Interpretação de Tomé
1 E continuou falando, e disse a seus discípulos: "E sucedeu que quando a fiel Sabedoria acabou de elevar a sexta súplica da sua remissão, voltou às regiões inferiores. Para verse seus pecados haviam sido remidos, e para ver se ia ser mandada para o caos, já que a ordem do primeiro mistério para remir seu pecado não havia dado ainda para arrancá-la do caos.
2 "E voltou para as regiões inferiores, a fim de ver se sua súplica havia sido atendida. E viu os doze arcontes e os doze éons zombando e regozijando-se, porque não a haviam escutado. E quando viu como zombavam, afligiu-se extremamente, e elevou sua sétima súplica: 'Luz, elevei de novo minha força para ti. E te suplico que não deixes cair na ignomínia nem que os doze arcontes dos éons que te odeiam não se congratulem com à minha desgraça. Porque quem quer que te seja fiel não será entregue à ignomínia. E os que me tiraram a força não continuem de posse dela. Mas ser-lhes-á arrebatada, e eles permanecerão nas trevas.
3 'Luz, mostra-me teus caminhos, e eu me salvarei seguindo-os. E mostra-me aqueles lugares a que devo dirigir-me para livrar-me do caos. E mostra-me a senda em tua luz, e faz que eu saiba, ó luz, que tu és meu Salvador. E eu crerei em ti todo o tempo. Volta tua atenção para mim e salva-me, ó luz, porque tua misericórdia estende-se até a eternidade.
4 'Não imputes a mim, ó luz santa e reta, o pecado que minha ignorância levou-me a cometer. Mas salva-me por teu grande mistério, e que meus pecados me sejam remidos por tua grande bondade. Porque ela me devolverá ao caminho, para que me seja perdoada minha falta. E arrebatará dos meus inimigos a minha força, que foi rompida pelas emanações do tríplice poder.
5 'Porque todas as ciências da luz são para a salvação, os mistérios são para os que buscam as regiões de suas possessões, em virtude do mistério do teu nome, ó luz!
6 'E minha falta é grave, mas perdoa-me. E dará a quantos crêem na luz o mistério que deseje. E sua alma estará nas regiões da luz, e sua força será a aquisição do Tesouro da Luz. Porque a luz é que dá a força a quem crê nele. E Ele lhes mostrará o lugar das possessões que estão no Tesouro da Luz. E eu tenho sido sempre fiel à luz que libertará meus pés das cadeias das trevas.
7 'Volta tua atenção para nós, ó luz, e salva-me. Porque meus inimigos arrebataram meu nome no caos, e me causaram grandes aflições. Livra-me destas trevas e coloca teu olhar na dor das minhas aflições.
8 'Perdoa meus erros, pensa nos doze arcontes que me acusam e estão com ciúme de mim. Vela pela minha força e protege-me, e não me faças ficar nestas trevas em que te tenho sido fiel. Porque meus inimigos me têm como privada da razão, vendo a fidelidade que mantenho por ti. E agora, ó luz, conserva minha força nas penas que me afligem, e protege-me contra meus inimigos!"
9 E havendo Jesus falado assim a seus discípulos, Tomé adiantou-se e disse: `Senhor, meu espírito se anima e eu me regozijo grandemente, porque nos revelaste essas palavras. E eu não me adiantei até agora a meus irmãos para não os molestar, porque os via reunidos para dar a explicação dos mistérios da Sabedoria fiel.
10 "E eis, Senhor, que com respeito à sétima súplica da Sabedoria fiel, tua força de luz profetizou, pela voz de Davi, em seu salmo 24, dizendo: 'Senhor, alcei minha voz para Ti, Senhor; eu tenho posto meu coração em Ti'."
11 E quando Jesus ouviu as palavras de Tomé, disse-lhe: "Falaste bem, tome, e essa é a explicação do sétimo hino da fiel sabedoria. Em verdade, em verdade vos digo que todas as criaturas vos olharão na terra como bem-aventurados, porque vos revelei estas coisas e vos infundi meu sopro e vos dei a inteligência espiritual do que vos digo. E vos hei de cumular de toda a luz e de toda a força do meu sopro, para que compreendais desde agora tudo que vos for dito e tudo quanto virdes. Esperai um pouco, e vos falarei a respeito das regiões superiores desde o exterior até o interior, e desde o interior até o exterior."
Capítulo 14
A Sabedoria fiel impetra pela oitava vez o auxílio da luz
1 E Jesus continuou falando a seus discípulos e disse: "Quando a Sabedoria fiel lançou sua sétima súplica no caos, e sem que ainda me houvesse chegado ordem do primeiro mistério para libertá-la, tirando-a do caos, por minha própria decisão, e em virtude da minha misericórdia, sem esperar pela ordem, a conduzi a um lugar tranqüilo acima do caos. E seus inimigos cessaram momentaneamente de atormentá-la, crendo que iria ser definitivamente arrojada ao caos.
2 "E a fiel Sabedoria ignorava que eu a assistia, e me desconhecia de todo. E persistia em celebrar o Tesouro da Luz, que havia visto antes e à qual continuava fiel. E pensava que era ele que a assistia, e como era fiel à luz, acreditava que sua súplica Seria ouvida e ela seria tirada do caos. Mas ainda não se havia cumprido a determinação do primeiro mistério a fim de que seu rogo fosse ouvido.
3 "Escutai, pois, e eu vos direi quantas coisas sucederam à fiel Sabedoria. Ocorreu que quando eu a levei a um lugar mais desafogado do caos, as emanações do tríplice podei" deixaram de atormentá-la, acreditando que eu a lançaria definitivamente no caos. E quando souberam que a Sabedoria fiel não iria ser conduzida ao caos, tornaram a torturá-la cruelmente. E por isso ela elevou sua oitava súplica.
4 "E falou assim: 'Eu coloquei, ó luz, meu coração em ti não me deixes no caos. Escuta-me e livra-me em teu pensa-mento. Volta teu espírito para mim, e livra-me; sê meu salvador, ó luz, e livra-tire. Leva-me à tua luz, porque tu és meu salvador e tu tire conduzirás para ti. E pelo mistério do teu nome, indica-me teu caminho e dá-me teu mistério. E livra-me da força da cabeça de leão, e de meus inimigos que me lançaram armadilhas. Porque tu és meu salvador, e eu entregarei a pureza da minha luz em tuas mãos. Liberta-me, ó luz, em teu conhecimento. E tu te irritarás contra aqueles que me vigiam, para que não se apossem de mim totalmente. Porque acreditei na luz, e eu te adorarei e cantarei em teu louvor, para que tenhas piedade de mim e voltes teu coração para o sofrimento em que me encontro. E tu me livrarás e me restituirás minha força do caos. E não me abandonarás à mercê da força com cabeça de leão, mas me conduzirás à região em que a aflição não existe'."
5 E quando Jesus falou assim a seus discípulos, prosseguiu e disse: "Quando a força de cabeça de leão soube que a Sabedoria fiel não havia sido arrojada ao caos, veio com todas as outras emanações materiais do tríplice poder. E de novo atormentaram a fiel Sabedoria. E enquanto a atormentavam, ela continuava implorando.
6 'E disse: 'tem piedade de mim, luz, porque eles ainda me atormentam. E tudo que há em mim, e minha força e meu espírito, são perturbados, segundo tua ordem, ó luz! E minha força sofreu grandes perdas, enquanto eu eslava sendo submetida a tormentos.
7 'E o número do meu tempo está no caos. E minha luz eclipsou-se, porque minha força foi arrebatada. E quantas forças havia em mim foram destruídas. E sou impotente diante de todos os arcontes dos éons que me odeiam e diante das vinte e quatro emanações em cujas regiões eu estava. E meu irmão temeu seguir-me, em vista das perseguições em que me viu envolvida.
8 'E todos os arcontes das regiões superiores olharam para mim como a matéria em que não há nenhuma luz. E fui convertida em uma força material que caiu distante dos arcontes. E todos que estão nos éons disseram: 'Ela é como o caos'. E todas as forças que não têm misericórdia caíram sobre mim, para tirar-me toda a luz. Mas eu acreditei em ti, ó luz, e disse: Tu és meu salvador, e minha sorte, que tu marcaste, está em tuas mãos. Livra-me, pois, dos inimigos que me acusam e me perseguem. Estende sobre mim tua luz, porque eu não sou nada em tua presença e conserva-me em tua misericórdia. E não consintas em que caia sobre mim a ignomínia, porque é a ti, ó luz, que eu glorifico em meus hinos.
9 'Que o caos envolva meus perseguidores, e que eles sejam submergidos nas sombras infernais. Cerra a porta aos que querem devorar-me e que dizem: 'Arranquemos a luz que há nela'. Porque eu não lhes fiz mal algum'."
Capítulo 15
Nona súplica da Sabedoria fiel
1 E Mateus, assim que Jesus acabou de falar, adiantou-se e disse: "Senhor, tua luz instruiu-me para que eu explique a oitava súplica da Sabedoria fiel. Porque tua força profetizou no salmo 30 de Davi, dizendo: 'Em ti coloquei, Senhor, meu coração. Não permitas que me humilhem eternamente'."
2 E, ouvindo Jesus estas palavras, disse: "Em verdade te digo, Mateus, que quando o número perfeito for completado, e quando o universo for destruído, eu estarei sentado no Tesouro da Luz. E vós estareis sentados sobre as doze forças da luz, até que seja restabelecida a hierarquia dos doze salvadores nas regiões de cada um deles"
3 E continuou falando, e disse: "Compreendeis o que eu vos disse?"
4 E Maria adiantou-se e disse: "Senhor, Tu sempre nos tem falado em parábolas. E nos disseste nelas: 'Eu estabelecerei convosco um reino como o que meu Pai estabeleceu comigo. E estareis sentados nos doze tronos para julgar as doze tribos de Israel'."
5 E Jesus respondeu: "Está bem, Maria."
6 E continuou, e disse a seus discípulos: "E as emanações do tríplice poder continuaram atormentando, no caos, a Sabedoria fiel. E ela pronunciou sua nona súplica, e disse: O luz, confunde os que me arrebatam minha força e devolve-me as que me tiraram! Vem e salva-me. Porque grandes trevas me envolvem e me afligem. Diz à minha força: eu te libertarei. E que quantos quiserem arrebatar-me minha luz sejam privados da sua força, e voltem ao caos.
7 'Que sejam reduzidos à impotência os que querem roubar-me a luz. Que sua força seja como o pó, e que teu anjo, leu, os fira. E se quiserem chegai" ao alto, que as trevas os rodeiem. E que sejam arrojados no caos, e que Ieú, teu anjo, os persiga para feri-los nas trevas do inferno. Porque me estenderam armadilhas, e o mesmo a força com cabeça de leão. E sem que eu os haja molestado, me atormentam e querem arrebatar toda a minha força.
8 'Arranca, ó luz, a pureza da força de cabeça de leão, sem que ela o saiba. E confunde o plano maquinado pelo tríplice poder para arrebatar minha força, e arrebata tu a sua. E minha força se regozijará na luz, e será alegre, porque tu a terás salvado. E todas as partes da minha força dirão: não há mais salvador do que tu. Porque me terás livrado da força com cabeça de leão, que arrebatava minha força. E me salvarás de todos que me tiram minha força e minha luz. Porque se levantaram contra ti, proferindo mentiras, e dizendo que eu conhecia o mistério da luz da região superior. E me pressionavam, dizendo: 'Diz-nos os mistérios da luz da região superior'. Mas eu ignorava esses mistérios, e me infligiram grandes males. Porque tenho sido fiel à luz da região superior. E me sentei nas trevas, com a alma imersa no sofrimento.
9 'Salva-me, ó luz, a quem elevo meus hinos! Porque eu sei que tu me salvarás, pois que eu fazia tua vontade quando estava na região dos éons. E eu cumpria tua vontade como as potências invisíveis que estão em minhas regiões, e eu chorava, buscando zelosamente tua luz.
10 'E agora meus inimigos me envolvem, e se alegram de meus males, e me infligem, impiedosamente, grandes aflições. E rangem os dentes para mim, e me querem arrebatar toda a luz.
11 'Até quando, luz, permitirás que continuem afligindo-me? Livra minha força de seus maus propósitos, e preserva-me da força com cabeça de leão. Porque eu estou sozinha nestas regiões. E em meio de todos quantos se juntaram contra mim eu te glorifico, ó luz! E clamarei sempre por ti, no meio de todos os que me afligem. Que não se regozijem mais com o meu sofrimento, atormentando-me e arrancando minha força.
12 'Tu conheces sua astúcia, ó luz! Não permitas que tua ajuda se afaste de mim. Apressa-te, ó luz! Julga-me com tua bondade e vinga-me. ó luz das luzes! Que meus inimigos não me arrebatem minha luz. E que não digam entre si: 'Nossa força aumentou caiu na luz'. E que não digam: `Devoramos sua força'. Mas que as trevas os rodeiem e laçam impotentes aqueles que me queiram roubar a luz. E que aqueles que dizem: 'Nós roubamos sua força e sua luz', sejam submergidos no caos e nas trevas. Salva-me para que eu seja feliz. Porque eu aspiro à décima terceira região dos éons, que é a região da justiça. E para que eu diga a toda hora: a luz de Ieú, teu anjo, irá aumentando de brilho. E minha língua cantará eternamente teus louvores na décima terceira região dos éons'."
Capítulo 16
Tiago explica o significado da nona súplica da Sabedoria fiel e Maria interpreta as palavras de Cristo
1 E quando Jesus disse essas palavras a seus discípulos, continuou: "Que aquele dentre vós que compreendeu nos de a explicação."
2 E Tiago adiantou-se e abraçou o peito de Jesus e disse: "Senhor, teu sopro infundiu-me inteligência, e estou pronto a explicar o que nos disseste. Porque a respeito disto foi que profetizou tua força, pela boca de Davi, em seu salmo 34, dizendo: 'Julga, Senhor, aqueles que me agravam, combate aqueles que me combatem'."
3 E quando Tiago falou assim, disse Jesus: "Falaste bem, Tiago. Porque essa é a explicação da nona súplica da fiel Sabedoria. E em verdade, em verdade vos digo que entrareis comigo no reino dos céus antes de todos os invisíveis e todos os deuses e ídolos os arcontes que estão com o décimo terceiro éon e com o décimo segundo éon. E não somente vós, mas todo aquele que haja praticado meus mistérios."
4 E quando o Salvador acabou de falar assim, disse: "Compreendeis o que acabo de dizer?"
5 E disse Maria: "Senhor, é o que nos disseste outras vezes. Que os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos. Porque os criados antes de nós são os invisíveis, pois existiram antes do gênero humano. E os deuses, e os arcontes, e os homens que receberem teus mistérios entrarão em primeiro lugar no reino dos céus."
6 E disse Jesus: "Assim é, Maria."
Capítulo 17
O primeiro mistério envia Jesus para socorrer a Sabedoria fiel
1 E Jesus prosseguiu falando a seus discípulos e disse: "E aconteceu que quando a fiel Sabedoria entoou sua nona súplica, a força que tinha cabeça de leão atormentou-a mais ainda. E queria arrebatar-lhe sua luz. Mas a Sabedoria fiel dirigiu-se, clamando, para a luz e disse: 'Luz na qual acreditei desde o principio, e pela qual tenho sofrido tantas dores, verti e socorre-me'.
2 "E seu rogo foi então atendido. Porque o primeiro mistério o ouviu, e enviou-me a mim para auxiliá-la. E vim para ajudá-la, e a reconduzi ao caos. Porque havia sofrido grandes penas e aflições por causa de sua fé na luz. E assim, fui enviado pelo primeiro mistério pai a socorrê-la em tudo.
3 "E ainda que eu não houvesse ido ainda ao inundo dos éons, irrompi entre todos eles. E nenhum deles o soube, nem os que pertencem ao interior do interior, nem os que estão no exterior do exterior. E o primeiro mistério sabia de tudo. E quando cheguei ao caso para ajudá-la, ela me viu, porque eu resplandecia com uma grande luz, e me apresentava misericordioso. E não me apresentava altaneiro, como a força com cabeça de leão que arrebatou a força e a luz da Sabedoria fiel, e que a atormentou para arrancar quanta luz havia nela.
4 "E me viu brilhando como uma luz dez mil vezes mais poderosa do que a da força como cabeça de leão. E compreendeu que eu vinha das regiões superiores, em cuja luz ela havia tido fé desde o principio das coisas. E a fiel Sabedoria teve então confiança, e elevou sua décima súplica.
5 "E disse: 'Clamei por ti, luz das luzes. E em minha aflição me ouviste; protege agora minha força contra os lábios injustos e enganosos. Porque estou cercada de ciladas e calúnias dos orgulhosos e dos que não conhecem a misericórdia. Maldita sou, então distante estou de minha morada, e me vejo forçada a habitar no caos. Porque minha força não está nas regiões que me pertencem. E falei com doçura aos meus inimigos, e quando eu lhes falava com doçura, eles me atacaram sem motivo'."
Capítulo 18
A força satânica de cabeça de leão se encoleriza diante de Jesus Cristo
1 E quando Jesus disse estas palavras a seus discípulos, disse: "Que se adiante aquele que se sinta impregnado de minha inteligência, e que explique a décima súplica da Sabedoria fiel."
2 E Pedro respondeu, e disse: "Senhor, tua força de luz profetizou isso pela boca de Davi, quando disse no salmo 119: 'Clamou por ti, Senhor, em minha aflição. E Tu me ouvis-te, Senhor", mas protege minha alma dos lábios injustos e da língua mentirosa'. Tal é, Senhor, a explicação da décima súplica da Sabedoria fiel, tal como ela a pronunciou quando sentia atormentada pelas emanações materiais do tríplice puder, e estas e a força de cabeça de leão a faziam sofrer extremamente."
3 E disse Jesus: "Está belo, Pedi-o. Falaste com justeza."
4 E continuou Jesus falando aos seus discípulos e disse: "falando a força que tinha cabeça de leão se aproximava de mim, ao ir para a fiel Sabedoria, viu-me resplandecer como uma luz intensa. E encheu-se de cólera, e lançou foi-a de si uma infinidade de outras emanações enfurecidas.
5 "Então a Sabedoria fiel pronunciou sua décima primeira súplica, e disse: 'Por que a força de cabeça de leão se prepara para fazer-me mal? Seu propósito era ferir-me e roubar a luz que havia em mim. Porque eu preferi descer ao caos a permanecer na região do décimo terceiro éon, que é a região da justiça.
6 'E quiseram envolver-me em suas astúcias, pai a arrebatar-me toda a minha luz. Mas a luz lhes tirará toda a luz, e lhes tirará toda a sua matéria. E lhes arrebatará toda a sua luz, e não os deixará permanecer no décimo terceiro éon, sua morada. E não deixará seus nomes entre os nomes dos vi-vos. E as vinte e quatro emanações verão o que sucede à força com cabeça de leão para que lhes sirva de exemplo, e temam, e não sejam indóceis.
7 'E darão a pureza de sua luz, e te verão, para que te glorifiquem. E haverão de dizer: `Eis o que não deu o brilho de sua luz para salvar-se'. Mas quer ser glorificado em todo o esplendor da sua luz, e ele disse: 'Eu arrebatarei a luz da Sabedoria fiel'.'
8 "E que aquele cuja força for exaltada, se adiante e diga a explicação da décima primeira súplica da Sabedoria fiel."
Capítulo 19
O tríplice poder orgulhoso envia reforços para suas emanações combaterem o poder de Jesus
1 E Salomé adiantou-se e disse: "Senhor, tua força de luz profetizou isto pela boca de Davi, no salmo 51, dizendo: 'Por que o ímpio se gaba de sua malícia?'."
2 E quando Jesus ouviu estas palavras, disse: "Está bem, Salomé. E em verdade, em verdade vos digo que eu os instruirei em todos os mistérios do reino da luz."
3 E, Jesus continuou falando, e disse a seus discípulos: "Aproximei-me logo do caos e ia revestido de uma luz imensa, para tirar a luz da força com cabeça de leão. E quando a força com cabeça de leão me viu, teve medo e chamou seu deus para que a socorresse. E se encheu de cólera, e a fiel Sabedoria encheu-se de espanto.
4 "E dirigiu-se a mim, e disse: 'Não me esqueças, ó luz! Porque meus inimigos abriram a boca contra mim. E quiseram arrebatar-me minha luz, e me odiaram, porque eu cantava louvares a ti e te amava. Que sejam submergidos nas trevas exteriores; tira-lhes sua força, e não os deixes retornar. às suas regiões. E que o caos os envolva como uma veste. Tem piedade de mim, ó luz! Pelo mistério do teu nome, salva-me em tua misericórdia. Vem em minha ajuda, porque minha força está destruída. Porque aqui não há nenhum mistério, e minha matéria foi acorrentada, porque foi me tirada toda a minha força'.
5 "E que aquele que tiver sido animado em seu intimo, adiante-me e explique as palavras da fiel Sabedoria."
6 E disse André: "Senhor, tua força de luz profetizou isto quando disse, pela boca de Davi, no salmo 108: 'Deus meu, não cesses de elogiar-me, porque os pecadores e os pérfidos abriram a boca contra mim'.
7 "E o primeiro mistério, continuando seu discurso, disse assim: 'E ocorreu que eu não tirei ainda do caos a Sabedoria fiel porque eu não havia ainda recebido a ordem de meu Pai. E as emanações do tríplice poder, vendo a Sabedoria fiel outra vez provida de luz como desde o princípio, interromperam seus ataques a ela. E em grandes gritos pediram auxilio ao tríplice poder, para que ele as ajudasse a arrancar outra vez as forças que havia na Sabedoria fiel. E o tríplice poder enviou outra grande força de luz, que descia no caos como uma flecha que voa. E era para que ajudasse seus servidores a arrebatar à Sabedoria fiel a força que lhe havia sido reintegrada'."
Capítulo 20
Jesus confunde as forças do tríplice poder
1 "E quando aquela força de luz desceu, os servidores do tríplice poder adquiriram grande confiança. E outra vez perseguiram a Sabedoria fiel, que estava cheia de turbação e espanto, e a atormentaram cruelmente. E um deles se transformou em um basilisco de sete cabeças. E outro tomou a forma de um dragão, e a primeira potência do tríplice poder, com cabeça de leão, e outros muitos se reuniram.
2 "E atacaram a fiel Sabedoria, e a levaram de novo às regiões inferiores do caos, e a atormentaram muito. E ela fugiu, e veio as regiões superiores do caos, e eles a perseguiram e a torturaram cruelmente.
3 "E Adamas, o tirano, contemplou as doze regiões dos éons, e também se tomou de coragem contra a Sabedoria fiel, porque havia desejado subir à luz das luzes, que está acima de todos eles. E Adamas contemplou, e viu que os inimigos da Sabedoria a atormentavam até tirar-lhe quantas luzes havia nela.
4 "E quando a potência do tríplice poder desceu ao caos, encontrou a fiel Sabedoria. E a força corri cabeça de leão, e a força com cabeça de serpente, e a força com aspecto de basilisco, e a força com cabeça de dragão, e todas as forças do tríplice poder rodearam a fiel Sabedoria, tentando arrebatar-lhe pela segunda vez suas forças.
5"E quando a atormentavam e afligiam, ela se dirigiu de novo à luz e disse: `Luz em que caí, que tua luz vinha a mim. Porque tu és quem me tomou nela, e tu me livrarás de meus perseguidores'.
6 "E quando a Sabedoria fiel falou deste modo, por ordem de meu Pai, enviei Miguel, e Gabriel, e os satélites da luz, para que conduzissem a Sabedoria fiel em seus braços, de maneira que seus pés não tocassem as trevas exteriores. E ordenei-lhes que se dirigissem às regiões do caos para onde deveriam conduzi-la.
7 "E quando os anjos e as emanações da luz desceram ao caos, todas as emanações do tríplice poder e as de Adamas viram a emanação da luz formar uma luz imensa, à qual nenhuma classe de luz era alheia. E ficaram atemorizados, e deixaram a Sabedoria fiel.
   8 "E uma grande emanação de luz cercou por todos os lados a Sabedoria, à direita e à esquerda, e sobre sua cabeça ergueu-se uma coroa de luz. E quando a emanação de luz rodeou a fiel Sabedoria, esta se sentiu cheia de confiança. E aquela emanação não deixava de rodeá-la, e ela não tinha mais as emanações do tríplice poder. E os servidores do tríplice poder não puderam mais transformar sua figura, nem aproximar-se da Sabedoria fiel, devido à grande luz que a rodeava. E não puderam fazer-lhe nenhum mal porque ela acreditava na luz.
9 "E, conforme o mandato de meu Pai, o primeiro mistério desceu ao caos. E ataquei a potência da cabeça de leão, que era a maior luz, e lhe m.rebatei toda a sua luz. E feri todas as emanações do tríplice poder, e todas caíram, impotentes, no caos. E conduzi a fiel Sabedoria à direita de Miguel e Gabriel. E uma grande emanação de luz a penetrou. E olhou para os seus inimigos, cuja luz havia arrebatado já completamente. E a fez sair do caos, e pôs a seus pés us servidores do tríplice poder que têm cabeça de serpente, o servidor que tem forma de basilisco de sete cabeças, e potência de cabeça de leão e a potência de cabeça de dragão.
10 "E fiz permanecer a Sabedoria acima da potência que tem o aspecto de um basilisco de sete cabeças, e que é a mais forte de todas por sua malícia. E eu, o primeiro mistério, permaneci em cima dela e tirei-lhe todas as suas forças, e destruí toda a sua matéria, para que não possa reproduzir-se."
Capítulo 28
A Sabedoria fiel louva Jesus no meio dos vinte e quatro invisíveis
1 "E, elevando-se entre os vinte e quatro invisíveis, e estando no meio deles, dedicou-me um hino e disse: Eu declaro diante de ti, o luz, que tu és o Redentor e o Salvador eterno. E entoarei um hino à luz que me libertou e protegeu da mão dos meus inimigos os arcontes. Porque tu me livraste em todas as regiões: tanto nas regiões superiores como no fundo do caos. E nas esferas dos arcontes dos éons, e quando baixei da altura. E quando me perdi nas regiões em que não há nenhuma luz, porque eu não haveria podido voltar-me para ti na décima terceira região dos éons. Pois não havia em mim nenhuma luz nem força alguma, pois minha força estava esgotada sob a aflição. E a luz me protegeu em todos os momentos de dor, e me ouviu quando eu estava entregue aos meus inimigos. E mostrou-me o caminho na região das éons, para conduzir-me à décima terceira região dos éons, que é a minha morada.
2 'Eu te rendo homenagem, ó luz! Porque tu me salvaste. E eu te celebrarei, e a teus milagres, diante da raça dos homens. E porque quando eu estava privada da minha luz, tu me infundiste uma luz pura. E porque quando eu estava privada da minha força, tu me deste a força. Porque eu estive nas trevas e nas sombras do caos. E estive subjugada por duras cadeias, no caos em que não há luz alguma. Porque eu mereci a ira da luz ao desobedecer sua ordem e sair da região que me correspondia.
3 'E quando desci, fui privada da minha força e da minha luz. E ninguém me socorreu, e quando meus inimigos me torturavam eu me dirigia à luz e ela me protegeu de iodos os meus inimigos. E rompeu minhas cadeias, e me arrancou das trevas e da aflição do caos.
4 'Eu te glorifico, luz, porque tu me salvaste. E porque teus milagres têm sido patentes diante da raça dos homens. Porque tu vulneraste as elevadas portas das trevas e os fortes grilhões do caos. E quando meus inimigos me mortificavam, eu dirigi um hino à luz e ela livrou-me de todos os meus perseguidores. Porque ao enviares tua emanação para mim, ela me deu força e me tirou de todas as aflições.
5 'Eu te exalto, ó luz, porque me salvaste, e porque tens feito milagres diante da Humanidade'.
6 "Este foi o hino entoado pela Sabedoria fiel quando se encontrava no centro dos vinte e quatro invisíveis, para fazer saber quantos milagres havia feito eu por ela. E para que se soubesse que, vindo ao mundo dos humanos, eu lhes havia transmitido os mistérios das regiões superiores. Que aquele cuja inteligência tenha sido iluminada chegasse a compreender este hino proferido pela Sabedoria."
7 E, quando Jesus acabou de dizer estas palavras, Felipe adiantou-se e disse: "Senhor, clara está minha mente, e me sinto capaz de interpretar o hino da Sabedoria. Porque sobre isto profetizou Davi no salmo 106, quando disse: 'Rendei homenagem ao Senhor. Porque é compassivo e a sua misericórdia se estende à eternidade'. E esta é, Senhor, a explicação do hino da Sabedoria fiel."
Capítulo 29
Maria Madalena pergunta a Jesus sobre a essência, com posição e o modo de ser dos vinte e quatro invisíveis
1 E, depois de todas essas coisas, Maria Madalena adiantou-se e prosternou-se aos pés de Jesus e disse: "Senhor, não te incomodes se te interrogo. Porque nós nos informamos de tudo com ardoroso zelo. Tu nos dizes sempre: `Buscai e encontrareis. Chamai, e se vos abrirá'. Quem é, Senhor, aquele que encontraremos? Quem é aquele a quem havemos de chamar? quem pode dar-nos a explicação para as coisas que perguntamos? porque Tu nos deste o conhecimento da luz e nos revelaste coisas sublimes. Não há no mundo ser humano que possua este conhecimento. Não existe ninguém nas regiões superiores dos éons que nos possa explicar o sentido das palavras que Tu dizes. só Tu, que tudo sabes e em tudo és perfeito, nos podes explicar. Porque nós não inquirimos sobre estas coisas como os demais homens que há no mundo. Mas buscamos o conhecimento que das regiões superiores Tu nos tens dado. E buscamo-las também no lugar da explicação perfeita com que Tu nos instruíste. Não te aborreças comigo, Senhor, mas revela-me a palavra sobre cujo sentido te interroguei."
2 Quando Maria Madalena acabou de dizer essas palavras, Jesus respondeu-lhe: "Pergunta o que quiseres, pergunta e eu te revelarei com interesse e verdade quanto deverás fazer. Em verdade, em verdade vos digo que vos entregueis a uma grande alegria e a um júbilo extremo. E que me pergunteis com todo o zelo sobre tudo. Porque eu me alegrarei dizendo-vos fielmente o que convém que saibais. Pergunta, Madalena, o que queres conhecei", e eu te explicarei com satisfação."
3 E quando Maria ouviu as palavras do Salvador, sentiu um supremo regozijo e disse a Jesus: "Meu Salvador e Senhor, como são os vinte e quatro invisíveis? E como são suas regiões, e de que espécie são, ou de que gênero é sua luz?"
4 E Jesus respondeu a Maria: "Que haverá neste mundo parecido com eles? A que os compararei e que poderei dizer-vos a respeito deles? Nada neste mundo se lhes compara, nada se lhes pode assemelhar, porque nada há neste mundo que seja da espécie das coisas do céu.
5 "Em verdade vos digo que cada invisível é maior do que o céu e do que a esfera que está debaixo dele. Porque nada há traste mundo mais deslumbrante do que a luz do sol. Mas, em Verdade, em verdade vos digo: os vinte e quatro invisíveis têm uma luz dez mil vezes mais brilhante do que a do sol deste mundo. E à luz do grande antepassado invisível é dez mil vezes mais brilhante do que a luz que eu vos disse que têm os vinte e quatro invisíveis. Mas esperai um pouco e eu vos conduzirei, a ti e aos discípulos, teus irmãos, a iodos os lugares das regiões superiores e levarei aos três fundamentos o primeiro mistério e até o lugar único do circulo do Inefável."
Capítulo 30
Jesus descreve aos seus discípulos o aspecto das regiões superiores
1 "E então vereis na realidade essas formas que não têm comparação. E quando eu vos houver conduzido às regiões superiores, vereis a glória em que se encontram e olhareis o mundo que está diante de vós como a obscuridade da obscuridade.
2 "E quando mirardes o mundo em que habita o gênero humano, ele vos parecerá um grão de poeira, pela grande distância que vos separará dele. E quando eu vos conduzir à região dos doze éons, vereis a glória em que se encontram. E essa glória vos fará ver a região dos arcontes da Heimarméné como a obscuridade das trevas, e ela será diante de mim como um" grão de poeira.
3 "E quando vos tiver levado à décima terceira região dos éons, as doze regiões dos éons vos parecerão como a obscuridade das trevas. E quando olhardes as doze regiões dos éons, elas vos parecerão como um grão de poeira. E quando vos levar à região do centro e olhardes a glória que ali brilha, a décima terceira região dos éons vos parecerá a obscuridade das trevas. E se dali olhardes os doze éons, e suas esferas, e tudo quanto as acompanha, parecer-vos-ão, devido à distância e à superioridade sobre eles, como um grão de poeira.
4 "E quando vos houver conduzido às regiões daqueles que pertencem à direita, e virdes a glória em que se encontram, as regiões dos que pertencem ao centro vos parecerão como a noite do mundo dos homens. E ao olhar o centro, vossos olhos o verão como um grão de poeira, pela grande distância que o separa das regiões onde habitam os que estão à direita.
5 "E quando eu vos conduzir à terra de luz onde está o Tesouro da Luz, para que vejais a glória que ali esplende, as regiões da direita vos parecerão como a luz do meio-dia no mundo dos homens quando o sol não brilha. E quando olhardes as regiões da direita, elas vos parecerão como um grão de poeira, pela grande distância que as separa do Tesouro da Luz.
6 "E quando eu vos conduzir às regiões dos que receberam os mistérios da luz, para que vejais a glória da luz em que se encontram, a terra da luz vos parecerá como a da luz do sol do mundo do gênero humano. E quando virdes a terra da luz, a distância e sua interioridade vos farão parecer como um grão de poeira."
7 E quando Jesus acabou de dizei essas palavras a seus discípulos, Maria Madalena adiantou-se e disse: "Senhor, não te incomodes se te pergunto, porque nós nos informamos com zelo de todas as coisas."
8 E Jesus respondeu a Maria: "Pergunta o que quiseres perguntar e eu te responderei claramente, sem parábola, e direi todas as coisas desde o interior dos interiores até o exterior dos exteriores. E desde o Inefável até a obscuridade das trevas, para que de tudo tenhais conhecimento completo. Diz-me, pois, Maria, e que desejas saber, e eu te revelarei com satisfação."
9 E disse ela: "Senhor, os homens que receberam os mistérios da luz serão tirais exaltados em teu reino do que os privados do Tesouro da Luz? Porque eu te ouvi dizer. 'Quando vos tiver levado a região dos que receberam os mistérios, a região da terra da luz Vos parecerá como um grão de poeira. E isto devido à grande distância e a grande glória em que está a região dos que receberam os mistérios'. Diz-nos, pois, Senhor: serão mais exaltados os homens que recebem os mistérios, do que a terra da luz? Serão, pois, mais elevados do que ela no reino da luz?"
10 E Jesus respondeu a Maria: "E bom que te informes zelosamente de tudo. Mas eu te falarei da missão dos éons e da Construção do universo."
Capítulo 31
Jesus explica a seis discípulos os mistérios dos doze salvadores, as parábolas e as Arvores do Tesouro da Luz
1 "Porque já vos disse. Quando vos tiver conduzido às regiões que são patrimônio daqueles que receberam os mistérios da luz, as regiões dos próbolos da luz não vos parecerão mais do que um grão de poeira e do que a luz do sol do dia. E estas coisas ocorrerão no tempo da construção do universo.
2 "E os doze salvadores dos tesouros, e as doze categorias daqueles que são os próbolos das sete vozes e das cinco árvores, estarão comigo nas regiões do patrimônio da luz. E estarão comigo em meu reino. E cada um estará sobre seus próbolos, e cada um será rei sobre sua glória, grande sobre sua grandeza e pequeno sobre sua pequenez. E o salvador do próbolo da primeira voz estará na região das almas que receberam o primeiro mistério do primeiro mistério em meu reino. E o salvador do próbolo da segunda voz estará na região das almas que receberam o segundo mistério do primeiro mistério em meu reino. E o salva-dor do próbolo da terceira voz estará na região dos que receberam o terceiro mistério do primeiro mistério no patrimônio da luz. E o salvador do próbolo da quarta voz do Tesouro da Luz estará na região das almas dos que receberam o quarto mistério no patrimônio da luz. E o salvador do próbolo da quinta voz do Tesouro da luz estará na região das almas que receberam o quinto mistério do primeiro mistério no patrimônio da luz. E o sexto salvador do próbolo da sexta voz residirá nas regiões das almas que tiverem recebido o sexto mistério do primeiro mistério. E o sétimo salvador do próbolo da sétima voz do Tesouro da Luz estará na região das almas que receberam o sétimo mistério do primeiro mistério do Tesouro da Luz. E o oitavo salvador, que é o salvador do próbolo da primeira árvore do Tesouro da Luz, estará na região das almas que recebem o oitavo mistério do primeiro mistério no patrimônio da luz. E o nono salvador, que é o salvador do próbolo da segunda árvore do Tesouro da Luz, estará na região das almas que recebem o nono mistério do primeiro mistério no patrimônio da luz. E o décimo salvador, que é o salvador do próbolo da quarta árvore do Tesouro da Luz, estará na região dos que recebem o décimo mistério no patrimônio da luz. E o décimo primeiro Salvador que é o salvador do próbolo da quarta árvore .do Tesouro da Luz, estará na região dos que recebem o décimo primeiro mistério do primeiro mistério no patrimônio da luz. E o décimo segundo salvador, que é o salvador do próbolo da quinta árvore do Tesouro da Luz, estará na região das almas que recebem o décimo segundo mistério do primeiro mistério no patrimônio da luz.
3 "E os sete améns, e as cinco árvores, e os três améns, estarão à minha direita, como reis que subsistem no patrimônio da luz. E os salvadores gêmeos que são o filho do filho. E os nove guardiões estarão à minha esquerda, como reis que continuam sendo no patrimônio da luz.
4 "E cada um dos salvadores será rei sobre seu próbolo, no patrimônio da luz, como o são no Tesouro da Luz. E os nove guardiões dos Tesouros da Luz estarão mais acima dos salvadores no patrimônio da luz. E os salvadores gêmeos estarão mais acima dos nove guardiões do reino. E os três améns estarão mais acima dos nove salvadores gêmeos no reino. E as cinco árvores estarão mais acima dos três améns no patrimônio da luz.
5 "E Ieú, guardião das possessões da luz, e o grande Sabaoth, o bom, serão reis sobre o primeiro salvador da primeira voz do tesouro da Luz, que está na região daqueles que receberem o primeiro mistério do primeiro mistério. Porque Ieú é o guardião das regiões dos que estão à direita, e Melquizedeque, o grande herdeiro da luz. E os dois grandes chefes que emanam da luz eleita, que é a própria pureza, e que se estende desde a primeira árvore até a quinta.
6 "Ieú é o bispo da luz, que emana o primeiro na pureza da luz da primeira árvore. E é o guardião do patrimônio dos que Pertencem à direita e emanam da segunda árvore, e os dois chefes emanam também da pura luz eleita da terceira e da quarta árvore no Tesouro da Luz. E Melquizedeque emana da quinta árvore. E o grande Sabaoth, o bom, a quem chamei meu Pai, emana de Ieú, o guardião da luz."
Capitulo 32
Jesus explica a seus discípulos o destino das almas dos homens que tiveram sido iniciados nos mistérios
1 "E por causa da sublimidade da essência que foi colocada neles, todos serão reis associadamente no primeiro mistério da primeira voz do Tesouro da Luz. E estarão na região das almas que recebem o primeiro mistério do primeiro mistério. E onde estão a virgem da luz e o grande condutor do meio, que os arcontes dos éons chamam o grande Ieú. E este é o nome do grande arconte que está em suas regiões.
2 "E ele, e a virgem da luz e seus doze diáconos serão também reis, todos eles. E vós tereis a forma e a força dos doze diáconos.
3 "E o primeiro salvador da primeira voz estará na região das almas dos que receberam o primeiro mistério do primeiro mistério nas possessões da luz. E os quinze satélites das sete virgens da luz que estão no centro, emanarão das regiões dos doze salvadores. E igualmente os demais anjos do centro, cada um sobre sua glória, para que sejam reis comigo nas possessões da luz.
4 "E todas as coisas que vos digo não sucederão agora, mas sim quando se verificar a associação dos éons, que é a solução de todas as coisas, e quando se completar a conta das almas que participarão das possessões da luz.
5 "E antes da associação de que vos falo, nenhuma dessas coisas ocorrerá. E cada um estará em sua região, na qual foi colocado desde o começo, até que o número da congregação das almas admitidas se tenha completado.
6 "E as sete vozes, e as cinco árvores, e os três améns, e os salvadores gêmeos. E os nove guardiões, e os doze salvadores, e os que estão nas regiões dos que pertencem à direita, e os que estão no centro, todos permanecerão na região e no lugar em que foram colocados, até que sejam transportados para fora, e o número das almas admitidas à luz se tenha completado.
7 "E os outros arcontes que pertencem ao centro permanecerão igualmente em seus lugares até que essas mesmas coisas se hajam cumprido. E todas as almas chegarão no tempo em que cada uma recebei" o seu mistério. E serão transportadas para os arcontes que estão no centro, e virão às regiões dos que pertencem ao centro. E os que pertencem ao centro os batizarão com a unção espiritual. E passarão pelas regiões dos que pertencem ao centro, e passarão às regiões dos que estão à direita, e às regiões dos nove, guardiões, e às regiões dos salvadores gêmeos, e as regiões dos três améns, e dos doze salvadores e ás cinco árvores, e ás sete vozes, e cada um lhe dará suas chaves e seus mistérios.
8 "E eles virão a todas essas almas que chegam ás regiões da luz, à medida que forem recebendo os mistérios da luz e tomando posse da luz."
Capítulo 33
Maria Madalena expõe o sentido perfeito das revelações do Salvador
1 "E todas as almas humanas que receberem a luz chegarão aos arcontes que estão no centro. E chegarão a todos quantos pertencem à região do centro e às regiões de quantos pertencem a direita. E a todos os que pertencem a todas as regiões do tesouro da Luz, e entrarão em todas.
2 "E chegarão a iodos os que pertencem às regiões do primeiro mandato, para chegar ás possessões da luz até a região do seu mistério. E para que cada um permaneça na região que recebeu o mistério para ele, tanto os que pertencem à região do centro, como os que pertencem à direita, e como os que pertencem a qualquer" das regiões da luz.
3 "E cada um estará na região e no posto em que foi colocado desde o principio, até que todas as coisas estejam consumadas e até que cada um haja cumprido a missão que lhe foi destinada com respeito à congregação das almas que receberam os mistérios. E para que ponham seu selo sobre todas as almas que receberam os mistérios e que hão de passar aos que compartilham os Tesouros da Luz. E isso é, Maria, o que tão zelosamente querias saber. Que ouça quem tiver ouvidos para ouvir."
4 E quando Jesus acabou de dizer essas palavras, Maria Madalena adiantou-se e disse: "Senhor, todas as palavras que disseste foram para meus ouvidos Tesouros da Luz. Mas permite que te interrogue sobre o que disseste, Senhor. Porque disseste que todas as almas da raça dos homens que receberem os mistérios da luz entrarão no patrimônio da luz diante de todos os arcontes. E diante de todos os que pertencem a toda a região da direita e a todas as regiões do Tesouro da Luz. Todavia, Tu nos tens dito sempre: os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros. E os últimos são a raça dos homens que entrarão primeiro no reino da luz, como aqueles que pertencem ás regiões superiores e são os primeiros. E Tu nos tens dito, Senhor: quem tenha ouvidos para ouvir, que ouça. E isso significa que Tu queres saber se nós compreendemos as palavras que disseste."
5 E quando Maria acabou de falar, Jesus admirou o que acabara de ouvir dela, porque dava o sentido perfeito do que ele havia revelado. E o Salvador respondeu: "Está bem, Maria. E tu falaste com grande sabedoria, porque essa é a explicação do meu discurso."
Capítulo 34
Maria e João dialogam com Jesus acerca de suas revelações
1 E Jesus, continuando, disse a seus discípulos: "Ouvi. Porque vou falar-vos da glória dos que pertencem às alturas, e como são, segundo vos falei até aqui.
2 "Quando eu vos conduzir à região do último fundamento do Tesouro da Luz, e quando eu vos conduzir a essas regiões para que vejais a glória que há ali, a região do patrimônio da luz não estará em vosso pensamento mais do que a imagem da região do mundo. E isso por causa da grandeza do último fundamento e da grande luz que há ali.
3 "E vos falarei da glória do companheiro que está acima do companheiro menor. E vos falarei das regiões que estão acima dos companheiros. Nada há neste mundo que se lhes possa comparar, nenhuma semelhança que as possa expressar, nenhuma luz, nenhuma força que possa ser posta em paralelo com eles. Porque não há meio de explicar neste mundo como são as coisas de que falo."
4 E quando Jesus acabou de falar, Maria Madalena adiantou-se e lhe disse: "Senhor, não te aborreças comigo se eu quero averiguar tudo com interesse e zelo. Porque é com o fim de que meus irmãos o anunciem à raça dos homens. E para que os homens, ouvindo-os e acreditando neles, se salvem dos severos tormentos que os malvados arcontes lhes infligiriam. E para que os homens cheguem ao reino dos céus. Porque nós, Senhor, não sumos misericordiosos apenas para conosco mesmos, mas sentimos misericórdia de toda a raça humana, e não queremos que ela sofra tormentos cruéis. E por isso, Senhor, nos informamos de todas as coisas com ardor, para que nossos irmãos as anunciem a toda a raça dos homens. E para que não caiam nas mãos dos cruéis arcontes das trevas. E para que sejam poupados ao sofrimento das trevas exteriores."
5 E quando Jesus ouviu as palavras que Maria disse, manifestou por ela sua grande misericórdia e disse: "Pergunta o que quiseres perguntar, e eu te revelarei com clareza, sem parábola."
6 E quando Maria ouviu as palavras do Salvador, sentiu um vivo alívio e disse: "Senhor, quanto é maior o segundo antepassado do que o primeiro? Que distância os separa, e quanto é maior a sua luz?"
7 E Jesus respondeu assim a Maria, entre seus discípulos: "Em verdade, em verdade vos digo que o segundo antepassado está afastado do primeiro a uma distância tal que medida alguma poderá expressá-la. Nem no que se refere à altura e profundidade, nem no que toca ao comprimento e à largura. E está afastado a uma distância imensa que medida alguma pode expressar, dos anjos, dos arcanjos e dos deuses. E a superioridade da sua luz é tal que nenhuma outra pode comparar-se a ela. E o terceiro, e o quarto, e o quinto antepassado são, cada um deles, tão superior ao outro, que nenhuma superioridade pode ser-lhes comparada para dar a medida. E cada um possui, em relação ao outro, uma luz superior e um grau inexprimível."
8 E quando Jesus acabou ele dizer essas frases a seus discípulos, João falou a Jesus e disse: "Senhor e Salvador meu, permite-me que eu fale. Não te irrites contra mim se te pergunto com interesse e zelo, porque prometeste revelar-nos quanto te perguntarmos. Não nos ocultes nada, Senhor, das coisas que te perguntarmos."
9 E Jesus, em sua grande misericórdia, respondeu a João e lhe disse: Tu também, João querido, és bem-aventurado. Pergunta o que quiseres e eu te responderei francamente e sem parábolas. E te instruirei em tudo que me perguntares com fervor e zelo."
10 E João disse a Jesus: "Senhor, aquele que tiver recebido o mistério ficará no lugar onde está, e não poderá ir a outras regiões que estão acima dele, nem descei" às regiões que lhe estão abaixo?"
Capítulo 35
Jesus revela a seus discípulos quem é o conhecedor de todos os mistérios
1 E Jesus, respondendo, disse: "Meus queridos e bons discípulos, vós vos informais de tudo com fervor. Escuta, João, o que vou dizer-te.
2 "Todo aquele que receber o mistério da luz permanecerá no lugar em que o houver recebido. Mas ninguém terá a faculdade de elevar-se às regiões que estão acima dele. E o que houver recebido o primeiro mistério na primeira disposição terá a faculdade de ir aos lugares que estão abaixo dele, mas não aos que estão acima. E o que houver recebido o mistério do primeiro mistério poderá ir aos lugares que estão fora do seu, mas não aos que estão acima do seu. E estes serão os que receberão os mistérios superiores.
3 "E em verdade vos digo que o homem, que na destruição do mundo será rei sobre todas as ordens dos pleromas, e aquele que receberá o mistério do Inefável, Ele sou eu.
4 "Ele conhece o mistério em virtude do qual foi feita a luz e foram feitas as trevas. Ele conhece o mistério da criação das trevas das trevas e da luz das luzes. E conhece o mistério da criação do caos e a do Tesouro da Luz.
5 "Ele conhece o mistério da criação da terra da luz. E conhece o mistério da criação dos castigos reservados aos pecadores, e conhece o mistério da regeneração do reino da luz.
6 "E conhece o mistério da razão pela qual os pecadores foram criados e foram criados os domínios da luz. E conhece o mistério da razão por que foram criados os ímpios e os santos. E conhece o mistério que ditou as penas para os malvados e a razão por que foram feitas todas as emanações de luz. E conhece o mistério que determinou que se fizesse pecado e o porquê dos batismos e os mistérios da luz.
7 "E conhece o mistério que ditou a criação dos jogos do castigo e os jorros da luz. E conhece o mistério da criação da cólera e por que foi feita a paz. E por que foi criada a blasfêmia e porque foram feitos os hinos da luz. E conhece o mistério da criação das similitudes da luz.
8 "E por que foi criada a injúria e por que foi feita a bênção. E conhece o mistério da razão por que foi feita a maldade. E o mistério da criação da morte e o porquê de haver sido feita a vivificação da alma.
9 "E conhece o mistério da criação do adultério e do engano e da razão por que foi feita a pureza. E conhece o mistério da criação da gratidão e da ingratidão. E conhece o mistério do porquê de terem sido feitos o orgulho e a soberba e do porquê de terem sido criadas a humildade e a doçura.
10 "E conhece o mistério da criação do pranto, e do riso. E conhece o mistério da criação da maledicência e do discurso proveitoso. E conhece o mistério da criação da obediência e da resistência. E conhece o mistério sobre a razão por que foi feita a intriga e por que foram feitas a simplicidade e a humildade.
11 "E conhece o mistério sobre a origem da pobreza e a razão Por que foi feita a opulência. E conhece o mistério sobre as razões Pelas quais foram feitas a força e a debilidade. E conhece o mistério da razão pela qual surgiu a dominação e por que foi feita à escravidão. E conhece o mistério das razões pelas quais foram feitas a morte e a vida."
Capítulo 36
Jesus continua explicando a seus discípulos o mistério do inefável
1 E quando Jesus acabou de dizer essas palavras a seus discípulos, eles ficaram muito contentes com as revelações. E Jesus continuou falando, e lhes disse: "Queridos discípulos, ouvi o que vos digo do conhecimento completo dos mistérios do Inefável.
2 "O mistério do Inefável conhece por que foi feita a severidade e por que foi feita a misericórdia.
3 "Conhece por que foram feitos os répteis e por que devem ser destruídos. E conhece por que foram feitos os animais e por que devem ser destruídos. E conhece por que foram feitos os rebanhos e por que foram feitos os pássaros.
4 "E conhece por que foram feitas as montanhas e por que foram feitas as pedras preciosas que há nelas. E conhece por que foi feita a matéria do ouro e por que foi feita a matéria da prata. E por que foi feita a matéria do ar e por que foi feita a matéria do ferro. E por que foi feita a matéria do chumbo e por que foi feita a matéria do vidro e por que foi feita a matéria da cera.
5 "E conhece por que foram feitas as plantas e por que foram feitas suas matérias. E conhece por que foram feitas as águas da terra e todas as coisas que nelas há. E por que a própria terra foi feita. E por que foram feitos os mares e por que foram feitos os animais que habitam nos mares.
6 "E conhece por que foi feita a matéria do mundo e por que deve ser destruída."
7 E Jesus continuou falando, e disse a seus discípulos: "Companheiros, discípulos e irmãos meus, reconhecei-vos cada um de vós em vosso espírito, para que obedeçais à minha palavra e guardeis quanto vou dizer vos. Porque a partir de agora continuarei falando-vos de todas as ciências do Inefável.
8 "Porque ele conhece o mistério pelo qual foi criado o ocidente e foi criado o oriente. E conhece o mistério pelo qual foi feito o meio-dia e porque foi feito o setentrião. E conhece o mistério da criação dos demônios e da criação do gênero humano.
9 "E conhece o mistério da criação do calor e da criação da brisa. E conhece o mistério da criação das estrelas e da criação das nuvens. E conhece o mistério de por que a terra é profunda e de por que as águas vêm à superfície. E conhece o mistério da razão de ser a terra árida e de a chuva cair sobre ela. E conhece o mistério que determinou a criação da seca e a criação da fertilidade. E conhece o mistério da criação da geada e do rocio. E conhece o mistério da criação do pó e do frescor. E conhece o mistério de por que foi criado o granizo e por que foi criada a neve. E conhece o mistério de por que foi feita a tempestade que se leva e de por que foi feito o vento que se acalma.
10 "E conhece o mistério da criação do ardor do calor e de por que se fizeram as águas. E conhece o mistério da criação do vento do norte e do vento do sul. E conhece o mistério da criação das estrelas do céu e dos astros e de todas as suas órbitas.
11 "E conhece o mistério da criação dos arcontes das esferas, e das esferas, e de todas as suas regiões. E conhece o mistério da criação dos arcontes dos éons e da criação dos éons. E conhece o mistério da criação dos arcontes que presidem aos suplícios, e da criação dos éons. E conhece o mistério da criação dos anjos e da criação dos arcanjos. E conhece o mistério da criação dos senhores e da criação dos deuses.
12 "E conhece o mistério da criação do amor e do ódio. E conhece o mistério da criação da discórdia e da reconciliação. E conhece o mistério de por que foi feita a avareza, e a renúncia a tudo, e o amor. E conhece o mistério da criação da gula e da saciedade.
13 "E conhece o mistério da razão por que foi feita a impiedade e da razão por que foi feito o amor a Deus.
14 "E conhece o mistério da criação dos guardiões e dos Salvadores. E conhece o mistério da criação das três potências e de por que foram criados os invisíveis. E conhece o mistério de por que foram feitos os antepassados e de por que foram criados os Puros. E conhece o mistério da criação dos presunçosos e dos fieis. E conhece o mistério que ditou a criação do grande tríplice poder e do grande antepassado dos invisíveis.
15 "E conhece o mistério de por que foi criado o décimo terceiro éon e de por que foram criadas as regiões que pertencem ao centro. E conhece o mistério da criação dos anjos do centro e das virgens da luz. E conhece o mistério de por que foi feita a terra da luz e de por que foi criado o patrimônio da luz.
16 "E conhece o mistério da criação das regiões dos guardiões dos que estão à direita e da criação dos seus chefes. E conhece o mistério da criação das portas da vida e da criação de Sabaoth, o bom. E conhece o mistério de por que foi feita a região dos que estão à direita e de por que foi feita a terra da luz, que é o Tesouro da Luz.
17 "E conhece o mistério de por que foram feitas as emanações da luz e por que foram feitos os doze salvadores. E conhece o mistério de por que foram feitas as três portas do tesouro da Luz e de por que furam feitos os nove guardiões. E Ele conhece também o mistério relativo ao por que foram criados os salvadores e os três améns. E conhece o mistério de como foi feita a mistura que não existia, e como foi purificada."
Capítulo 37
Jesus responde a uma nova observação de Maria Madalena
1 E em seguida disse Jesus: "Esforçai-vos para compreender e procurai em vosso interior a força de luz necessária para submeter-vos. Porque a partir de agora vos falarei das regiões onde a verdade do Inefável habita, e de como são essas paragens."
2 E ao ouvirem os discípulos essas palavras, ficaram silenciosos. E Maria Madalena adiantou-se e se prosternou aos pés de Jesus e os adorou, chorando, e disse: "Tem piedade de mim, Senhor. Porque meus irmãos se perturbaram quando disseste que lhes ias dar conhecimento do mistério do Inefável, e por isso guardaram silêncio."
3 E Jesus tranqüilizou os seus discípulos e lhes disse: "Não temais que vos seja difícil compreender os mistérios do Inefável, porque vos digo que em verdade este mistério está em vós e em tudo que vos obedecer.
4 "E em verdade vos digo que para todos os que se consagrem a Deus e renunciem ao mundo e ao que nele se acha, este mistério é mais simples que todos os mistérios do reino da luz, e mais fácil de compreender do que qualquer deles. Porque aquele que renunciar a este mundo e às suas atividades, entrará no conhecimento deste mistério.
5 "E por isso vus disse: E quem quer que sofra sob as fadigas do mundo e trabalhe sob o seu peso, que venha a mim, e eu lhe direi o repouso. Porque meu fardo é leve, e meu jugo, suave.
6 "Não penseis, pois, que não sereis capazes de compreender este mistério, porque em verdade vos digo que a compreensão deste mistério é mais singela que a compreensão dos outros mistérios. E digo-vos que na verdade este mistério está em vós e em quantos renunciarem ao mundo e ao que ele encerra.
7 "Escutem, pois, discípulos, amigos e irmãos, porque vou conduzir-vos ao conhecimento do mistério do Inefável. Posto que vim para trazer-vos o conhecimento completo da emanação do universo, porque a emanação do universo é o conhecimento deste mistério.
8 "E quando o número total das almas justas se completar e o mistério se cumprir, eu passarei mil anos, segundo o cômputo dos anos da luz, reinando sobre os próbolos da luz, e sobre o conjunto de almas dos justos que houver em recebido todos os mistérios."
Capítulo 38
Jesus Cristo explica aos seus discípulos o significado dos anjos da luz
1 E quando Jesus acabou de dizer essas palavras aos seus discípulos, Maria Madalena se adiantou e disse: "Senhor", quantos anos terrestres compreende um ano de luz?"
2 E Jesus respondeu, e disse a Maria: "Os dias da luz são mil anos do mundo dos homens e trinta e seis miríades e meia de anos terrestres com um ano de luz. E eu reinarei durante mil anos de luz como rei no último mistério. E serei rei sobre todos os próbolos da luz e sobre todas as almas justas que houverem recebido os mistérios da luz.
3 "E vós, discípulos meus, assim conto quantos houverem recebido o mistério do Inefável, estareis à minha esquerda e à minha direita e sereis reis, em meu reino, e todos quantos houverem recebido os três mistérios dos cinco mistérios do Inefável serão reis convosco no reino da luz.
4 "E os que houverem recebido os mistérios brilhantes serão reis nas regiões brilhantes. E os que houverem recebido os mistérios inferiores serão reis nas regiões inferiores. E todos, segundo a categoria do mistério que tiverem recebido."
Capítulo 39
Jesus explica aos seus discípulos o modo de alcançar os mistérios da luz
1 Jesus continuou falando, e disse a seus discípulos: "Quando eu vier na luz para pregar a todo o mundo, dizei-lhes: 'Não deixeis de buscar noite e dia até que houverdes encontrado os mistérios do reino da luz'. Porque eles vos purificarão e vos levarão ao reino da luz.
2 "E dizei-lhes: 'Renunciai ao mundo e a quanto há nele. E a todas as suas crueldades, e a todos os seus pecados, e à sua gula. E a todos os seus discursos, e a tudo que nele há, para que sejais dignos dos mistérios da luz. E para que sejais preservados dos suplícios reservados àqueles que se tenham separado dos bons'.
3 "E dizei-lhes: 'Renunciai à maledicência, para que sejais preservados do ardor da boca do cão'.
4 "E dizei-lhes: 'Renunciai à obediência, para que sejais livrados do ardor da boca do cão'.
5 "Dizei-lhes: 'Renunciai ao juramento, para que sejais dignos dos mistérios da luz e para que sejais preservados dos suplícios de Ariel'.
6 "Dizei-lhes: 'Renunciai à língua embusteira, para que sejais dignos dos mistérios da luz e para que sejais preservados dos rios ardentes da boca do cão'.
7 "Dizei-lhes também: 'Renunciai aos falsos testemunhos para que sejais dignos dos mistérios da luz e para que sejais libertados e preservados dos rios ardentes da boca do cão'.
8 "Dizei-lhes: 'Renunciai ao orgulho e à vaidade para que sejais dignos dos mistérios da luz e para que sejais preservados dos abismos do fogo de Ariel'.
9 "E dizei-lhes: 'Renunciai ao amor próprio, para que sejais dignos dos mistérios da luz e para que sejais salvos dos suplícios do Inferno. Renunciai à eloqüência para que sejais dignos da luz e para que possais ser preservados das chamas do Inferno.
10 "Renunciai aos maus pensamentos para que sejais dignos dos mistérios da luz e para que vos preserveis dos tormentos do inferno.
11 "Renunciai à avareza, para que sejais dignos dos mistérios da luz e para que vos livreis dos vapores da boca do cão.
12 "Renunciai ao amor do mundo, para que sejais dignos dos mistérios da luz e para que vos livreis das vestes de piche e das chamas da boca do cão.
13 "Renunciai à rapina, para que sejais dignos dos mistérios da luz e para que sejais preservados das exalações de Ariel.
14 "Renunciai às palavras más, para que sejais dignos dos mistérios da luz e para que sejais salvos dos suplícios do rio de vapor.
15 "Renunciai ao erro, para que sejais dignos dos mistérios da luz e para que sejais preservados dos mares de fogo de Ariel'.
Capítulo 40
Jesus continua pregando aos seus discípulos
1 "Renunciai à crueldade, para que sejais dignos dos mistérios da luz e para que vos preserveis dos suplícios das fauces dos dragões.
2 "Renunciai à cólera, para que sejais dignos dos mistérios da luz e para que vos livreis dos rios de vapor das fauces dos dragões.
3 "Renunciai à desobediência, para que sejais dignos dos mistérios da luz e para que sejais preservados do Ialdabaôth e dos ardores do mar de fogo.
4 "Renunciai à cólera para que sejais dignos dos mistérios da luz e para que sejais preservados dos demônios de Ialdabaôth e de todos os seus suplícios.
5 "Renunciai ao adultério, para que sejais dignos do mistério da luz e para que sejais preservados do mar de enxofre e da fauce do leão.
6 "Renunciai aos homicídios, para que sejais dignos dos mistérios da luz e para que sejais preservados do arconte dos Crocodilos, que é a primeira das criaturas que estão nas trevas exteriores.
7 "Renunciai ás ações perversas e ímpias, para que sejais dignos dos mistérios da luz e para que sejais preservados dos arcontes das trevas exteriores.
8 "Renunciai à impiedade, para que sejais dignos dos mistérios da luz e para que sejais preservados do pranto e do ranger de dentes.
9 "Renunciai aos envenenamentos, para que sejais dignos dos mistérios da luz e para que sejais salvos da grande geada e do granizo das trevas exteriores.
10 "Renunciai às blasfêmias, para que sejais dignos dos mistérios da luz e para que sejais defendidos contra o grande dragão das trevas exteriores.
11 "Renunciai às más doutrinas, para que sejais dignos dos mistérios da luz e para que sejais preservados de todos os suplícios do grande dragão das trevas exteriores'.
12 "E dizei a quem prega e a quem escuta tais doutrinas: `Malditos sejais vós! Porque os suplícios que haveis de experimentar superarão os que experimentam os demais homens. E permanecereis entre a neve, em meio aos dragões, nas trevas exteriores. E ninguém poderá resgatar-vos até a eternidade'.
13 "E dizei-lhes: 'Amai a todos os homens, para que sejais dignos dos mistérios da luz e para que vos eleveis ao reino da luz. Sede meigos, para que possais receber o mistério da luz e elevar-vos ao mistério da luz. Assisti aos pobres e aos enfermos, para que vos torneis dignos de receber o mistério da luz e possais elevar-vos ao reino da luz.
14 "Amai a Deus, para receberdes o mistério da luz e chegardes ao reino da luz. Sede caritativos, para que recebais o mistério e chegueis ao reino da luz. Sede santos, para receberdes o mistério da luz e alçar-vos ao reino da luz.
15 "Renunciai a tudo, para serdes dignos do mistério da luz e elevar-vos ao reino da luz, porque estes são os caminhos dos que se fazem dignos do mistério da luz.'
16 "E quando achardes homens que renunciem a tudo que constitui o mal e pratiquem o que digo, deveis transmitir-lhes os mistérios da luz, sem nada ocultar-lhes. E quando forem pecadores, e tiverem cometido os pecados e faltas que vos enumerei, dai-lhes também os mistérios, para que se convertam e façam penitência, e não lhes oculteis nada, porque eu trouxe os mistérios a este mundo para remir quantos pecados hajam sido cometidos desde o princípio.
17 "E por isso vos disse que não vim para chamar os justos. Eu trouxe os mistérios para remir os pecados de todos, e para que todos sejam levados ao reino da luz, porque estes mistérios são um dom do primeiro mistério para apagar os pecados de todos os pecadores."
Capítulo 41
Palavra de Jesus sobre o perdão dos pecados
1 E quando Jesus acabou de dizer essas palavras a seus discípulos, Maria lhe perguntou: "Meu Senhor e Salvador, os homens justos de toda justiça, e nos quais não há nenhum pecado, sofrerão ou não os suplícios de que nos falaste? Será este homem mantido, ou não, no reino dos céus?"
2 E o Salvador respondeu a Maria: "O homem justo, todo perfeito, limpo de pecado, e que não haja recebido nenhum mistério da luz, quando chegar sua hora e sair do mundo, será posto em puder dos satélites de uma grande tríplice potência, que se apoderarão de sua alma, e durante três dias percorrerão com ela o mundo, e ao terceiro a levarão ao caos, para conduzi-la ao lugar de todos os suplícios."
3 E João se adiantou e disse: "Senhor, se um consumado Pecador renunciar a tudo pelo reino dos céus, renunciar a todo Pecado, e se soubermos que ele ama a Deus, e lhe dermos os mistérios, e ele recair em seus pecados, é tua vontade que lhe redimamos sete vezes as faltas e lhe demos sete vezes os mistérios da primeira ordem?"
4 E o Senhor respondeu a João: "Em verdade vos digo que não sete vezes, mas que redimais seus pecados muitas sete vezes, dando-lhe a cada vez os mistérios desde o principio até o extremo limite do exterior, porque assim podereis ganhar a alma do nosso irmão e dar-lhe a posse do reino da luz.
5 "E quando me interrogastes se podíeis perdoar os pecados sete vezes, eu vos respondi em parábola e vos disse: 'Perdoai a ele seus pecados, não sete vezes, mas setenta e sete vezes'. Perdoai-lhe, pois, muitas vezes, para que receba outras tantas os mistérios e possais salvar a alma desse irmão, porque em verdade vos digo que aquele que houver vivificado uma alma a conservará para sua luz no reino da luz, e receberá mais glória pela alma que salvou, e quem houver salvado muitas almas fazendo-as entrar na glória de sua glória, terá tanta mais glória quantas mais almas houver salvado."
6 E quando o Salvador acabou de falar assim, João perguntou-lhe: "E se meu irmão, que é um grande pecador, renunciar ao mundo e às suas vaidades, como saberemos que não finge? E como saberemos que é sincero para decidir se lhe podemos dar os mistérios da segunda e da terceira categoria, e se podemos dar-lhe todos os mistérios, para que participe do reino da luz?"
7 E o Salvador respondeu a João, rodeado de todos os discípulos e disse: "Se souberdes com certeza que esse homem renunciou ao mundo e aos seus pecados, e que não mente nem é hipócrita, e que ama sinceramente a Deus, não lhe oculteis os mistérios e fazei-o conhecer os do segundo e do terceiro grau. Fazei-o participar dos mistérios de que o credes digno, e quando lhe houverdes comunicado os mistérios do segundo e do terceiro grau, se ainda recair em pecado, não continueis comunicando-os. Porque em verdade vos digo que o homem que houver recebido esses mistérios e pecar sofrerá uma sanção rigorosa, porque será objeto de escândalo, e não haverá para ele, desde então, redenção para sua alma neste inundo.
8 "Sua morada estará à porta dos dragões, nas trevas exteriores, onde se encontram  choro e o ranger de dentes. E na destruição do inundo sua alma será atormentada por um gelo frigidíssimo e um ardor cruel. E permanecerá sem existência até a eternidade.
9 "Mas se este homem se converter de novo e renunciar ao mundo e a seus pecados, e provar grande arrependimento e penitência, a misericórdia baixará sobre ele. E sua penitência será admitida para redimir seus pecados, para que consiga o mistério do primeiro mistério e até o mistério do Inefável. E verá seus pecados remidos, porque esses mistérios são piedosos e perdoam o pecado a qualquer hora."
Capítulo 42
Jesus expõe a seus discípulos a maneira de comunicar os mistérios e de retirar seu conhecimento dos que dele não são dignos
1 E João, depois de o Salvador haver falado assim, continuou interrogando-o e lhe disse: "Senhor, não te aborreças comigo por meu zelo, mas quero saber como havemos de proceder com os homens deste mundo."
2 E o Salvador respondeu, dirigindo-se a João: "Pergunta o que quiseres e eu te responderei claramente e sem parábolas."
3 E disse João: "Quando entrarmos em uma cidade ou aldeia para pregar e seus habitantes vierem ao nosso encontro, não saberemos se vêm com falácia ou hipocrisia. E se nos levarem a suas casas e desejarem recebei" Deus e conhecer seus mistérios, que faremos se descobrirmos que nada fizeram digno dos mistérios, ou que se portam perfidamente para conosco?"
4 E o Salvador respondeu a João: "Se entrardes em uma cidade ou aldeia e vos conduzirem a alguma casa, revelai-lhes os mistérios. E se forem dignos deles, ganhareis suas almas para o reino dos céus. E se não o forem, ou agirem perfidamente para convosco, elevai a voz para o primeiro mistério e dizei: 'Revelamos o mistério a almas ímpias e pérfidas. Volte o mistério a nós, e priva-os até a eternidade do mistério do teu reino'.
5 "E sacudi o pó de vossas sandálias, e dizei: 'Que vossas almas se submergem no pó de vossa casa'.
6 "E vos digo em verdade que os mistérios que lhes houvésseis dado retornariam a vós. E quantas palavras e quantos mistérios lhes houvésseis comunicado antes lhes seriam tirados, Porque já vos falei em parábolas de homens assim, quando vos disse: 'Onde quer que fordes e sejais recebidos, dizei: a paz esteja convosco'. E se eles forem dignos da paz, a paz estará com eles; Se não, a paz voltará a vós. E se lhes désseis os mistérios do reino da luz e eles se portassem falsa-mente convosco, deveríeis efetuar o primeiro mistério, e os mistérios que lhes houvésseis transmitido volveriam a vós. E eles ficariam privados do Tesouro da luz até a eternidade.
7 "E em verdade vos digo que sua morada será a porta dos dragões das trevas exteriores, porém, se fizerem penitência, e renunciarem ao mundo, e à sua matéria, e aos seus pecados, e se submeterem aos mistérios da luz, seus pecados lhes serão remidos, porque os ouvirá o mistério único do Inefável, que tem piedade de todos e perdoa os pecados de todos"
Capítulo 43
Jesus responde às perguntas de seus discípulos sobre a distinção entre justos e pecadores
1 E quando Jesus acabou de proferir essas palavras a seus discípulos, Maria se prosternou a seus pés e abraçou-os, e lhe disse: "Senhor, perdoa-me, e não te irrites se te causo incomodo."
2 E o Salvador respondeu a Maria: "Pergunta o que quiseres perguntar, porque te direi tudo claramente."
3 E disse Maria: "Senhor, se um irmão é santo e bom e recebeu lodos os mistérios, e tem um irmão pecador e ímpio, e este sai do mundo e o irmão puro se aflige porque seu irmão está no lugar dos tormentos e suplícios, que faremos, Senhor, até que ele seja retirado do lugar" das torturas?"
4 E disse o Salvador: "Já vos falei sobre o que deveis fazei", mas escutai e eu vos direi de novo, para que sejais perfeitos em todos os mistérios, e os homens vos chamem perfeitos em tudo.
5 "Quando quiserdes que um homem, pecador ou não, saia dos terríveis suplícios e seja transportado a um corpo justo para que receba o mistério da divindade e se eleve ás regiões superiores para participar do reino da luz, praticai o terceiro mistério do Inefável e dizei: Toma a alma deste homem no qual nosso espírito pensa e arranca-a dos suplícios dos arcontes, e eleva-a depressa ao templo da luz. E no templo da luz, marca-a com um selo' brilhante, e põe-na em um corpo justo e bom, para que se eleve às regiões superiores e participe do reino da luz'.
6 "E em verdade vos digo que quando assim houverdes falado, Os espíritos, que presidem aos suplícios nas regiões dos arcontes, se conterão e transferirão sua alma ao templo da luz para que seja marcada com os sinais do reino do Inefável. E a entregarão a seus satélites, e a conduzirão ao corpo de um justo. E achará os mistérios da luz para que seja boa, e para que se eleve às regiões superiores e participe do reino da luz. E esta é a resposta ao que me perguntastes."
Capítulo 44
Jesus promete a todos os homens a ressurreição de entre os mortos
E Maria respondeu ao Salvador dizendo-lhe: "Senhor", Tu nos trouxeste os mistérios a este mundo para que o homem não sofresse a morte que lhe predestinaram os arcontes da Heimarméné. Porque se um homem foi destinado a morrer pelo ferro, ou na água, ou pelas calamidades do mundo, ou de qualquer forma violenta, Tu nos trouxeste os mistérios para evitar que o homem morra dessa maneira, e sim de uma morte súbita, sem a dor do seu gênero de morte. Pois que muitos nos perseguirão por sermos teus discípulos, e nos atormentarão por ti. E, se nos maltratarem e afligirem, temos de exercer os mistérios para sair do nosso corpo sem sofrer nenhuma dor?"
2 E o Salvador, em resposta, disse a seus discípulos: "Já vos falei, antes, disso que agora me perguntais, mas dir-vos-ei outra vez. Não apenas vós, mas todo homem que cumprir o primeiro mistério do primeiro mistério do Inefável, percorrerá todas as regiões e todas as suas estações. E quando houver cumprido esse mistério e percorrido todas as regiões, será preservado de todas as coisas que lhe hajam sido destinadas pelos arcontes da Heimarméné. E sairá do corpo da matéria dos arcontes e sua alma será uma grande emanação da luz, para que atravesse todas as regiões dos arcontes e todas as regiões da luz, até que chegue às regiões do reino da luz."
3 E Maria disse a, Jesus: "Senhor, Tu não tens pregado os mistérios neste mundo pela pobreza e pela riqueza, nem pela debilidade e pela força, nem pela enfermidade e a saúde e sim por todas essas coisas, para que, quando chegarmos às terras dos homens, e não tiverem fé em nós, e não escutarem nossas palavras, pratiquemos o mistério para que eles conheçam a verdade e saibam as palavras do universo."
4 E o Salvador respondeu a Maria entre os discípulos: "Já falei sobre todas as coisas que me perguntais. Mesmo assim repetirei minhas palavras. Escuta, Maria: em verdade te digo que não só vós, mas todos os homens podem cumprir o mistério da ressurreição de entre os mortos, para livrar-se da possessão dos demônios, e de toda aflição e enfermidade e para curar us coxos, e os mutilados, e os mudos, e os paralíticos. Porque vos disse antes que era preciso praticar o mistério para poder conseguir essas coisas. E vós obtereis a pobreza e a opulência, a saúde e a enfermidade, a fraqueza e o vigor, se o pedirdes. E igual-mente podereis curar os enfermos e ressuscitar os mortos, e curar os coxos e cegos e mudos, e toda enfermidade e aflição, porque a quem houver exercido o mistério todas as coisas lhe serão concedidas."
Capítulo 45
Jesus continua instruindo seus discípulos
1 Quando o Salvador acabou de dizer essas coisas, todos os discípulos lançaram brados, dizendo: "Senhor, Tu nos tornaste loucos com as coisas que nos disseste e nossas almas querem sair de nós para ir a ti, já que viemos de ti. Nossas almas ficaram como que sem sentido pelas coisas que disseste e nos atormentam grandemente, porque querem sair de nós para partir para as regiões superiores onde está teu reino."
2 E quando os discípulos falaram assim, o Salvador prosseguiu dirigindo-se a eles, e lhes disse: "Quando chegardes a cidades ou países, saudai os habitantes e dizei-lhes assim: `Buscai sempre sem cessar, até que acheis os mistérios da luz que vus conduzirão ao reino da luz'. E dizei-lhes: 'Guardai-vos das doutrinas obscuras'. Porque muitos irão em nosso nome dizendo: 'eu sou e não sou', e assim enganarão a muitos homens.
3 "E para que todos os homens que se chegarem a vós tenham fé e sejam dignos do mistério da luz, dai-lhes os mistérios da luz, e não lhes oculteis nada, e a quem for digno do mistério máximo, dai-o, e a quem for digno do mistério menor, dai-o também. Mas o mistério da ressurreição dos mortos e da cura dos enfermos, não os deis a todos. Mas dai a doutrina, porque esse mistério pertence aos arcontes.
4 "Não os deis, pois, a todos, até que tenhais consolidado a fé em todo o mundo, para que, quando chegardes a uma cidade e não tiverem fé em vós, ressusciteis os mortos e cureis os cegos e os coxos, e todas as enfermidades, para que creiam em vós quando pregardes ao Deus do universo. E por isso vos dei esse mistério, até que consolideis a fé em todo o mundo."
Capítulo 46
Jesus descreve a seus discípulos as trevas exteriores
1 E Maria continuou falando com Jesus e lhe disse: "Senhor, como são as trevas exteriores? E quantos são os lugares de tormento que elas contêm?"
2 E Jesus respondeu: "As trevas exteriores são um grande dragão. E sua cauda está dentro da sua garganta, e está fora do mundo, e o rodeia. E contém numerosos lugares de tortura, que estão compreendidos em doze divisões, consagradas a terríveis suplícios. E cada uma dessa divisões é um arconte, e as figuras destes arcontes são diferentes, e se transformam adotando diversas formas.
3 "E o primeiro arconte preside à primeira divisão e tem forma de crocodilo. E sua cauda entra em sua garganta, e da sua boca saem o gelo, a peste, o frio da febre e toda sorte de doenças. E o verdadeiro nome que tem no lugar em que habita é Enchtonin.
4 "E o arconte da segunda divisão tem forma de cão, e se chama, no lugar em que mora, Xhurakhar.
5 "E o arconte da terceira divisão tem forma de galo e no lugar em que mora tem o nome de Arkharoth.
6 "E o arconte da quarta divisão tem aspecto de serpente, e onde reside se chama Akrokar.
7 "E o arconte da quinta divisão tem forma de um bezerro Preto, e se chama Markhour.
8 "E o da sexta divisão se chama Lamkhâmor.
9 "E o da sétima divisão tem figura de urso e se chama Lavaokh.
10 "E o da oitava divisão tem forma de morcego e se chama Savaokh.
11 "E o arconte da nona divisão tem figura de basilisco, e se chama Arkheôkh.
12 "E na décima divisão há grande número de dragões, cada um dos quais tem sete cabeças, e seu chefe se chama Xarnârokh.
13 "E na décima primeira divisão há também muitos dragões, cada um dos quais com cabeça de gato, e seu chefe é um arconte de nome Rokhar.
14 "E na décima segunda divisão há muito mais arcontes do que nas outras, e cada um tem sete cabeças de cão. E seu chefe se chama Khrêmaôr.
15 "E estes são os arcontes das doze divisões que há no grupo dragão, que constitui as trevas exteriores. E cada um muda de nome e de figura de hora em hora. E cada divisão tem uma porta, que se abre para cima, e o dragão das doze trevas exteriores, que se compõe de doze divisões, se converte em rei de cada uma, toda vez que se abre para cima. E um anjo das regiões superiores vigia a poria de cada uma destas doze divisões. E ali foi colocado pelo éon o primeiro homem, o guardião da luz, para que o dragão e todos os arcontes permaneçam nos lugares que lhes foram designados."
Capítulo 47
Jesus explica aos seus discípulos os Tormentos do grande dragão das trevas exteriores
1 E quando o Salvador" acabou de falar, Maria Madalena lhe disse: "Senhor, as almas conduzidas a esses lugares de verão passar por essas doze portas para sofrer os tormentos que merecem?"
2 E o Salvador respondeu a Maria: "Nenhuma alma é conduzida para o dragão por essas porias, a não ser as almas dos blasfemos e dos que seguem uma doutrina falsa. E dos que ensinam a mentir, o as dos que pecam contra a natureza, e as dos homens manchados de vícios e inimigos de Deus. E as de todos os ímpios, adúlteros e envenenadores, porque todas as almas desses pecadores, se não fizeram penitência neste inundo, e persistiram no pecado, quando chegar sua hora serão conduzidas pela porta da cauda do dragão ás trevas exteriores.
3 "E quando tiverem sido levadas às trevas exteriores pela porta da sua cauda, colocarão a cauda em sua boca, para fechar a porta. E desse modo serão levadas as almas às trevas exteriores. E os doze nomes do dragão estão escritos nas portas das diferentes divisões. E esses nomes são diferentes, e se alternam entre si para que quem disser um nome diga os doze. E estas são as trevas exteriores, que são as mesmas que as do dragão."
4 E quando o Salvador acabou de falar, Maria perguntou-lhe: "Senhor, são mais terríveis os tormentos do dragão do que todos os demais que existem?"
5 E o Salvador respondeu a Maria: "Esses são os maiores tormentos que existem, mas as almas que forem a esses lugares serão atormentadas também por um frio rigoroso e um fogo violentíssimo."
6 E disse Maria: "Desventuradas almas as dos pecadores! Mas diz-nos, Senhor, que fogo é mais violento, o do inferno ou o do mundo?"
7 E o Salvador respondeu a Maria: "Em verdade te digo que o fogo do inferno é nove vezes tirais ardente do que o logo do mundo. E o fogo dos suplícios do grande caos é nove vezes mais ardente do que o dos suplícios do grande caos. E o fogo dos tormentos dos arcontes no caminho do centro é nove vezes mais ardente do que o dos suplícios do grande caos. E o fogo do dragão das trevas exteriores, e dos lugares de castigo que nele há, é sete vezes mais terrível do que o fogo dos tormentos dos arcontes do centro."
    Capítulo 48
Diálogo entre Maria e Salomé
1 E depois que o Salvador disse isso a Maria, esta feriu-se no tirito e chorou. E choraram também todos os discípulos, e diziam: "Desgraçados os pecadores! Porque seu castigo é muito grande."
2 E Salomé levantou-se e disse: "Senhor, Tu nos disseste: 'Quem não deixar seu pai e sua mãe para seguir-me não é digno de mim'. E nos disseste depois: `Abandonai vossos pais para que eu vos faça filhos do primeiro mistério por toda a eternidade'. Entretanto, Senhor, está escrito na lei de Moisés que aquele que abandonar seus pais deve morrer. E, pois, contrário à lei o que Tu nos ensinas?"
3 E quando Salomé disse estas palavras, Maria Madalena, inspirada pela força de luz que havia nele, disse ao Salva-dor: "Senhor, permite-me que fale a minha irmã Salomé para explicar-lhe tuas palavras."
4 E o Salvador respondeu a Maria: "Permito-te, sim, Maria, que expliques minhas palavras a Salomé."
5 E depois que o Salvador assim falou, Maria dirigiu-se a Salomé e lhe disse: "Irmã Salomé, tu citaste a lei de Moisés, que diz que deve morrer quem abandonar seus pais. Mas a lei se refere aos corpos, senão à alma. E a lei não se refere aos filhos dos arcontes, mas alude à força saída do Senhor, e que hoje está em nós. E a lei diz: `Quem está fora do Salva-dor e dos seus mistérios, morrerá de morte, e perecerá em sua maldade'."
6 E quando Maria acabou de falar, Salomé voltou-se para ela e disse: "A potência do Salvador basta para igualar-me a ti em inteligência."
7 E aconteceu que quando o Salvador ouviu as palavras de Maria felicitou-a calorosamente.
Capítulo 49
Jesus fala a seus discípulos sobre o modo de escolher entre as doutrinas verdadeiras e as falsas
1 E o Salvador continuou falando entre os seus discípulos e disse a Maria: "Escuta, Maria, qual é o estado do homem até que comete um pecado os arcontes das potências perversas combatem a alma constantemente e levam-na a cometer todos os pecados. E chamam o inimigo da alma e lhe dizem: Se a alma sai outra vez do corpo, não a perdoes, mas conduza-a a todos os lugares de tortura, pois que incorreu em todos os pecados que a levaste a cometer'."
2 E o quando Jesus falou assim, Maria lhe disse: "Senhor como os homens que buscam a luz saberão se as doutrinas que encontram são enganadoras ou legítimas?"
3 E respondeu o Salvador: "Já vos disse. Sede como bons cambistas. Aceitai a moeda boa e rechaçai a falsa. E dizei aos homens que buscam a Deus: Se sopra o aquilão, já sabeis que é a seca que virá. E se sopra o vento oeste, já sabeis que virão a seca e o calor.
4 "Dizei, pois, a esses homens justos: 'Se conheceis os sinais dos ventos, conhecereis também se as palavras que encontrardes na busca de Deus concordam e harmonizam com aquelas que vos tenho dito, desde os dois martírios até o terceiro testemunho. E as que concordam na constituição do céu, e do ar, e da terra, e dos astros. E em todas as coisas que a terra contém, e nas águas, e nas coisas que contém as águas. E na constituição dos céus e dos astros, e dos círculos, e de quanto se encerra no mundo'.
5 "E os que vierem ao encontro das vossas palavras verão que concordam com quantas vos tenho dito e eu receberei os que nos pertencem. E é isto o que direi aos homens para que se defendam das falsas doutrinas. Porque eu vim ao mundo para redimir os pecadores de seus pecados e não pelos homens que não fizeram mal nem pecado algum, para que Enoch escrevesse no paraíso, quando eu lhe falava da árvore da ciência e da árvore da vida. E eu quis que ele os colocasse na pedra de Ararad. E coloquei o arconte Calapaturoth, que está sobre o Skemmuth, onde está o pé de Ieu e cerca todos os arcontes e as Heimarménés. E designei este arconte para guardar os livros de Ieú, para impedir que alguém os destrua. E para que nenhum dos arcontes invejosos destrua os que vos darei e nos quais vos darei a emanação do universo."
Capítulo 50
Maria interroga Jesus acerca do destino das almas antes de virem ao mundo
1 Quando o Salvador acabou de falar, Maria perguntou-lhe: "Senhor, que homem há no mundo que está limpo de todo pecado? Porque, se evitou uma falta, cairá em outra, e não poderá encontrar os mistérios no livro de leu. E não haverá no mundo homem isento de iodo do pecado."
2 E o Salvador respondeu a Maria: "Encontrareis um entre mil, e dois entre dez mil, pela consumação do mistério do primeiro mistério. E por isso eu trouxe os mistérios, porque todos no mundo estão sujeitos ao pecado e necessitam do dom dos mistérios."
3 E disse Maria ao Salvador: "Senhor, antes que Tu viesses à região dos arcontes e ao mundo, nenhuma alma havia alcançado a luz?"
4 E o Salvador respondeu a Maria: "Em verdade, em verdade vus digo que antes da minha chegada nenhuma alma havia chegado à luz. E agora que eu cheguei, e abri os caminhos da luz, os que furam dignos dos mistérios receberão o mistério para chegar à luz."
5 E Maria disse a Jesus: "Senhor, eu pensava que os profetas haviam alcançado a luz."
6 E o Senhor respondeu a Maria: "Em verdade, em verdade te digo que nenhum dos profetas chegou à luz. Apenas os arcontes dos éons lhes falaram do círculo dos éons, e lhes deram o mistério dos éons. E quando eu cheguei à região dos éons, tomei Elias e o enviei ao corpo de João o Batista.
7 "E enviei outros a corpos justos, para que encontrem os mistérios de luz, e se elevem às regiões superiores, e entrem na posse do reino da luz. E remi Abraão, e Isaac, e Jacó, todas as suas falias e dei-lhes os mistérios da luz no circulo dos éons. E os coloquei nas regiões de Iabraôth e de todos os arcontes que pertencem ao centro.
8 "E quando eu me elevar, recolherei suas almas e as levarei comigo à luz. Porque em verdade te digo, Maria, que alma alguma entrará na luz antes da tua e das dos teus irmãos. E os demais mártires e justos, desde Adão até agora. E quando eu for às regiões dos éons, as colocarei nos corpos dos justos por nascer, para que encontrem todos os mistérios da luz e entrem na posse do reino da luz."
9 E disse Maria: "Ditosos somos nós entre todos os homens pelas grandes coisas que nos hás revelado."
10 E o Salvador disse a Maria e a todos os discípulos: "Eu vos revelarei todos os segredos, desde o mais profundo das coisas interiores até o mais exterior das coisas exteriores."
11 E Maria disse ao Salvador: "Senhor, nós cremos sinceramente que Tu nos trouxeste as chaves de todos os mistérios do reino da luz, que redimem os pecados das almas, para que as almas se purifiquem, e, ao fazerem-se dignas da luz, sejam levadas à luz."
Capítulo 51
Invocações de Jesus e sua elevação ao espaço
1 Quando Nosso Senhor foi crucificado, ressuscitou de entre os mortos pelo terceiro dia. E seus discípulos, reunidos em torno dele, clamavam por ele e lhe diziam: "Senhor, tem piedade de nós, que abandonamos nossos pais e renunciamos ao mundo para seguir-te."
2 E Jesus, sentado com seus discípulos junto ao mar, elevou uma oração e disse: "Escutai-me, meu Pai, de toda paternidade e da infinita luz: "Aeion, ao, aoi, õiaprinother, thernops, nopsither, zagoyrê, zagoyrê, nethmomaoth, neprimoaoth, marachachta, thobarrabai, tharnachachanm, zorokothova, Ieon, sabaoth. "
3 E quando Jesus dizia essas palavras, Tomé, André, Tiago e Simão, o cananeu, estavam ao ocidente, com o rosto voltado para o oriente. E Felipe e Bartolomeu estavam ao sul, com os rostos voltados para o norte. E os outros discípulos, e as mulheres, estavam atrás de Jesus. E Jesus estava de pé,junto ao altar. E todos os discípulos se cobriam com as túnicas de linho. E Jesus se voltou para os quatro pontos cardeais.
E disse: "Jaó, iaú, iaõ". Esta é a significação desse nome: o iota significa que o universo foi emanado. E o alfa, que voltará à origem, e o Omega, que esse será o fim dos fins.
4 E quando acabou de pronunciar essas palavras, disse: "Japhta, japhta, moinmaêr, moinaêr, ermanoier, ermanoieier”. E isso significa: "Pai de toda paternidade e do infinito, Tu me ouvirás pelos discípulos que eu trouxe diante de ti. Porque eles acreditaram nas palavras da Tua verdade. E Tu farás as coisas pelas quais tenho clamado, porque eu conheço o nome do pai do Tesouro da Luz."
5 E Jesus clamou de novo, e pronunciou o nome do pai do Tesouro da Luz e disse: "Que todos os mistérios dos arcontes, e dos anjos e dos arcanjos, e todas as forças e todas as coisas dos deuses invisíveis as levem para cima, para colocá-las à direita."
6 E os céus giraram para o ocidente, e os éons, e a esfera, e todos os seus arcontes fugiram para o ocidente, à esquerda do disco do sol e do disco da lua. E o disco do sol era um grande dragão, e sua cauda estava na boca. E montou nas sete potências da esquerda, e ia arrastado por quatro potências sob a figura de cavalos brancos. E a base da luz tinha a figura de uma barca arrastada por bois brancos, em cangas, e dirigidos por um dragão macho e por um dragão fêmeo. E uma figura de menino dirigia da popa os dragões, e estes tiravam a luz dos arcontes, e a figura do gato estava diante dele. E o mundo, e as montanhas, e os mares corriam para o ocidente.
7 E Jesus e seus discípulos estavam nas regiões do ar, nos caminhos do centro, em cima da esfera. E chegaram à primeira divisão, que está no meio, e Jesus estava em pé no ar, com seus discípulos e os discípulos lhe perguntaram: "Onde estamos?"
8 E Jesus lhes respondeu: "No caminho do centro. Porque quando os arcontes de Adão se sublevaram, entregaram-se entre si a ações reprováveis e procriaram arcontes, e anjos, e arcanjos, e decanos. E Ieú, o pai do meu pai, saiu da direita, e os acorrentou em uma Heimarméné da esfera. E havia ali doze éons, e Iabaoth, além disso, estava em cima de outros seis. E Iabraoth, seu irmão, estava sobre outros seis."
Capítulo 52
Jesus continua explicando a seus discípulos os fatos sucedidos nas regiões dos arcontes
1 "E Iabraoth, com seus arcontes, teve fé nos mistérios da luz. E agiu segundo os mistérios da luz, e abandonou os laços da união culpável. Mas Sabaoth Adamas, com seus arcontes, continuou praticando a união condenável.
2 "E vendo Ieú, o pai do meu pai, que Iabraoth e seus arcontes tinham fé, os elevou e os recebeu na esfera, e os conduziu para o ar puro, diante da luz do sol, nas regiões dos que pertencem ao centro, e ante o invisível de Deus.
3 "E a Sabaoth Adamas e a seus arcontes, que não tinham fé nos mistérios da luz e continuavam a praticar a união condenável, os acorrentou em uma esfera. E acorrentou mil e oitocentos arcontes, e sobre eles colocou trezentos e sessenta. E colocou cinco grandes arcontes sobre os trezentos e sessenta arcontes, e sobre todos os arcontes acorrentados. E esses cinco arcontes se chamam assim no mundo: o primeiro, Cronos; o segundo, Áries; o terceiro, Hermes; o quarto, Afrodite, e o quinto, Deus."
4 E Jesus continuou falando, e disse: "Escutai e vos contarei outros mistérios. Quando Ieú acabou de os acorrentar, tirou do grande Invisível uma grande potência e ligou-a ao chamado Cronos. E a Áries ligou-lhe uma potência que tirou de Ipsantachoinchainchoicheoch, que é um dos três deuses dos tríplices poderes. E pensando que necessitavam de um governante para dirigir o mundo e os éons da esfera, para que sua malícia não pusesse a perder o mundo, subiu até o centro e tomou a potência do menor Sabaoth, o bom, que pertence ao centro. E a ligou a Áries, para que sua bondade o dirigisse. E dispôs a ordem de sua marcha para que passasse três vezes em cada estação, para que cada arconte a que chegasse não pudesse exercer sua malícia. E lhe deu por companheiros dois éons da região a que pertencia Hermes.
5 "E agora escutai que vos diga quais são os verdadeiros nomes desses cinco arcontes: Orimoith é Cronos; Moinichoiaphor é Aries; Tarpetanoiph é Hermes; Chôsi é Afrodite e Chombal é Deus. E esses são os seus nomes."
Capítulo 53
Jesus promete de novo a seus discípulos o conhecimento de todos os mistérios
1 E quando os discípulos ouviram essas palavras se prosternaram ante Jesus e o adoraram e disseram: "Somos bem-aventurados porque nos revelaste tantas maravilhas que estamos acima de todos os homens."
2 E continuaram a rogar-lhe e lhe disseram: "Diz-nos para que são estes diversos caminhos."
3 E Maria foi até Ele e lhe beijou os pés e disse: "Senhor, quais são os segredos dos caminhos do meio? Porque Tu nos disseste que estão situados sobre grandes tormentas. Como estão ordenadas e como poderemos livrar-nos delas? E como elas se apoderam das almas e quanto tempo passam as almas em seus tormentos? Tem piedade de nós, Senhor e Salvador nosso, porque tememos que os senhores destes caminhos se apoderem de nossas almas e as submetam a terríveis tormentos e nos privem da luz de teu Pai. Não permitas que caiamos na desgraça de ser afastados de ti."
4 E quando Maria acabou de falar assim, em pranto, Jesus, com sua grande misericórdia, lhe respondeu e lhe disse: "Regozijai-vos, irmãos amados, que abandonastes vossos pais por meu nome, porque vos darei todo o conhecimento e vos revelarei todos os mistérios. E vos mostrarei os mistérios dos doze arcontes dos éons, e de suas funções e categorias. E a maneira de os invocar para chegar às suas regiões. E vos darei o mistério do décimo terceiro éon, e o modo de invocá-lo para alcançar suas regiões. E vos darei o mistério do batismo dos que pertencem ao centro, e a forma de invocá-los, para chegar à sua região.
5 "E vos comunicarei o mistério dos que pertencem à direita, que é a nossa região, e a maneira de invocá-los, para alcançá-la. E vos darei todo o mistério e todo o conhecimento, e assim sereis chamados os filhos completos que possuem todo o conhecimento e estão instruídos em todo o mistério.
6 "Bem-aventurados sois vós, entre todos os homens da terra porque as folhas de luz vieram em vossa idade."
Capítulo 54
Jesus fala dos demônios aos seus discípulos
1 E Jesus prosseguiu seu discurso, e disse: "Ieú, o pai do meu pai, tomou trezentos e sessenta arcontes entre os arcontes de Adamas que não tinham fé nos mistérios da luz e os acorrentou nas regiões do ar na qual estamos agora, acima da esfera. E estabeleceu sobre eles cinco grandes arcontes, que são os que estão no caminho do centro, que se chama Paraplez. E é um arconte que tem a figura de uma mulher cuja cabeleira cai até os seus pés. E tem sob sua direção vinte e cinco arquidemônios. E esses são os chefes de outros tantos demônios, e esses demônios são os que entram nos homens, para que se entreguem à cólera e às más ações, e são os que se apoderam das almas dos pecadores e os atormentam com o vapor de suas trevas e com os seus suplícios."
2 E Maria disse: "Perdoa que te pergunte, Senhor, e não te aborreças por meu afã de tudo saber."
3 E disse Jesus: "Pergunta o que quiseres."
4 E Maria disse: "Senhor, revela-nos como os demônios se apoderam das almas, para que meus irmãos o saibam também."
5 E Jesus disse: "O pai de meu pai, que é leu, e é quem vigia todos os arcontes e os deuses, e todas as potências feitas da matéria da luz, e Melchizedech, enviado de todas as luzes que purificam entre os arcontes, os conduzem ao Tesouro da Luz. Porque eles são duas grandes luzes, e sua missão é esta: descendo até os arcontes, purificam-se neles, e Melchizedech separa a parte da luz que purificou entre os arcontes para levá-la ao Tesouro da Luz. E passarão cento e trinta e três anos e nove meses nos tormentos desse lugar. E, passado esse tempo, quando a esfera do menor Sabaoth, Deus, se voltar para o primeiro éon da esfera que se chama Afrodite e chegar à sétima figura da esfera, que é a luz, será entregue aos satélites que estão entre os que pertencem à esquerda e à direita. E o grande Sabaoth, o bom, soberano de todo o mundo e de toda a esfera, contemplará do alto as almas que estão sendo atormentadas e as enviará de novo à esfera."
6 E Jesus continuou falando, e disse: "O segundo lugar" é o que se chama Arisith, a Etíope, que é um arconte negro fêmea. E tem sob si catorze demônios, e está sobre outros muitos. E estes demônios, que estão sob Arisith a etíope, são os que fazem os homens incendiários, e os que os incitam a combater, para que cometam assassínios e enrijam os corações dos homens para que pratiquem homicídios.
7 "E as almas submetidas a este grau ficarão cento e treze anos em sua região, e serão atormentadas por vapor e por seu ardor. E quando girar a esfera verá o menor Sabaoth, o bom, a quem o mundo chama Zeus.
8 "E quando chegar à quarta esfera dos éons, e quando chegar Afrodite, para que venha às sexta esfera dos éons, que se chama Capricórnio, será entregue aos que estão entre os que pertencem à esquerda e à direita.
9 "E leu olhará para a direita, para que o mundo se agite, assim como os éons de todas as esferas. E olhará para o lugar em que habita Arisith a Etíope, e todas as suas regiões serão desfeitas, e todas as almas que padecem seus tormentos lhes serão tiradas. E serão arrojadas outra vez à esfera, para que padeçam em seu vapor escuro e em seu ardor."
Capítulo 55
Jesus continua descrevendo os diversos tormentos a que se verão submetidas as almas
1 E Jesus continuou, e disse: "O terceiro grau se denomina Hécate, e está dotado de três rostos, e tem sob si vinte e sete demônios. E estes são os que entram nos homens para incitá-los ao perjúrio e à mentira e a desejar o que não possuem. E as almas que caírem em poder de Hécate serão entregues a seus demônios para que as atormentem com seu calor. E durante cento e quinze anos e seis meses, as atormentarão, infligindo-lhes terríveis suplícios. E quando a esfera girar para que chegue o bom Sabaoth, o menor, que pertence ao centro e se chama Zeus no mundo, e para que chegue à oitava esfera dos éons que se chama Escorpião.
2 "E para que Boubastis, que se chama Afrodite, chegue à segunda esfera, denominada Tauro, se descerrarão os véus dos que pertencem à esquerda e à direita. E o pontífice Melchizedech olhará de cima para agitar" a terra e as montanhas. E os arcontes serão derrubados, e olhará todas as regiões do Hécate, para que sejam dissolvidas, para que pereçam e para que as almas que nelas há sejam arrojadas outra vez à esfera e sucumbam ao ardor dos seus tormentos."
3 E Jesus, continuando, disse: "A quarta categoria se chama Tifon e é uma potente arconte sob cujo domínio estão trinta e três demônios. E estes são os que entram nos homens para incitá-los à impureza e ao adultério e à prática incessante das ações da carne.
4 "E as almas que este arconte tiver sob o seu poder passarão cento e trinta e oito anos em suas regiões. E os demônios que estão debaixo dele as atormentarão com seu calor. E quando girar a esfera para que chegue o menor Sabaoth, que pertence ao centro e que se chama Zeus, e quando chegar à nona esfera dos éons que pertencem ao centro e que se chama Dozotheu e Bombastis, e no mundo Afrodite, chegará um terceiro éon ao qual se chama os Gêmeos.
5 "E serão descerrados os véus que há entre os que pertencem à esquerda e à direita, e o poderoso arconte que se chama Zaraxax. E olhará para a morada de Tifon, para que suas regiões sejam destruídas. E para que as almas submetidas a seus tormentos sejam arrojadas à esfera e sucumbam ao seu ardor.
6 "E no quinto grau permaneça o arconte chamado Iachtanabus. E é um potente arconte que tem sob seu domínio muitos demônios. E estes são os que entram nos homens para fazê-los cometer injustiças e favorecer aos pecadores e para receberem presentes e fazerem julgamentos iníquos, sem cuidar dos pobres.
7 "E se não fizerem penitência, cairão em poder deste arconte antes que suas almas deixem seus corpos. E as almas que este arconte possuir serão entregues aos suplícios durante cinqüenta anos e oito meses e sofrerão sumamente ao ardor de suas chamas.
8 "E quando girar a esfera para que chegue o bom Sabaoth, o menor, que no mundo chamam de Zeus, e alcance a décima primeira esfera dos éons, descerrar-se-ão os véus que há entre os que pertencem à esquerda e à direita.
9 "E o grande Ino, o bom, olhará das regiões superiores as regiões de Iachtanabus, para que suas regiões sejam destruídas e para que as almas submetidas aos seus tormentos sejam arrojadas à esfera e pereçam em seus suplícios.
10 "E estes são os segredos das rotas do meio, a respeito dos quais me perguntastes."
Capítulo 56
Jesus mostra aos seus discípulos o fogo, a água, o vinho e o sangue
1 E quando os discípulos ouviram essas palavras se prosternaram ante Jesus e o adoraram, dizendo: "Ajuda-nos, Senhor, para nos livrar dos terríveis tormentos que estão reservados aos pecadores. Desgraçados dos filhos dos homens, que tateiam nas trevas e nada sabem! Tem piedade de nós, Senhor, na grande cegueira em que estamos. E tem piedade de toda a raça dos homens, porque seus inimigos espreitam suas almas, como os éons sua presa. Porque querem extraviá-los e fazê-los cair na região dos tormentos. Tem piedade de nós, Senhor, e livra-nos desta grande perturbação do espírito."
2 E Jesus respondeu aos discípulos: Tende confiança e não temais. Ditosos sois vos porque vos farei senhores de todos os homens e eles vos serão submissos. Recordai o que vos disse, que eu vos darei a chave do reino dos céus. E repito-vos que a darei."
3 E enquanto Jesus falava assim, as regiões do caminho do meio ficaram ocultas. E Jesus resplandecia com uma luz brilhante.
4 E disse Jesus a seus discípulos: "Aproximai-vos de mim". E eles se aproximaram.
5 E se voltou para os quatro pontos do horizonte e pronunciou um nome supremo sobre sua cabeça, e lhes pregou e lhes soprou nos olhos e disse-lhes Jesus: "Olhai". E eles ergueram os olhos e viram uma luz extraordinária, que não existe na terra.
6 E Jesus disse: "Olhai e vede. Que vedes?"
7 E eles responderam: "Vemos o fogo, a água, o vinho e o sangue."
8 E disse Jesus: "Em verdade vos digo que ao vir a este mundo eu não trouxe mais que esse fogo, e essa água, e esse vinho, e esse sangue, porque a água e o fogo eu os trouxe da região da luz das luzes, e o vinho e o sangue, das regiões de Barbetis. E depois meu Pai me enviou o Espírito Santo sob a forma de pomba.
9 "O fogo, a água e o vinho são para curar os pecados do mundo, e o sangue é para a salvação dos homens. E eu o recebi sob a forma de Barbetis, a grande potência de Deus. E o Espírito atrai a si todas as almas e as leva às regiões da luz.
10 "E por isso vos digo que vim para trazer o fogo sobre a terra, isto é, que vim para castigar" com fogo os pecados do mundo. E por isto disse à samaritana: 'Se tu conheces os dons de Deus, aquele que te disse 'Dá-me água para beber tu mesma lhe terás pedido a água da vida para que fosse para ti um manancial constante até a eternidade'.
11 "E por isso vos dei o cálice da vida, porque é o sangue da aliança, que será vertido por vós, para remissão dos vossos pecados. E por isso foi espetada em meu flanco uma lança, e brotou água e sangue.
12 "Estes são os mistérios da luz, que remitem os pecados e são os nomes da luz."
13 E depois que Jesus disse isso, todos os poderes sinistros voltaram às suas regiões.
Capítulo 57
Jesus faz um sacrifício diante dos seus discípulos
1 E Jesus e seus discípulos permaneceram na montanha da Galiléia. E os discípulos lhe perguntaram: "Quando perdoarás nossos pecados e nos farás dignos do reino de teu Pai?"
2 E Jesus respondeu: "Em verdade vos digo que não só posso redimir vossos pecados mas também fazer-vos dignos do reino de ateu Pai. E, ainda, que posso conceder-vos o poder de perdoar os pecados, para que os que perdoardes em terra sejam perdoados nos céus. E para os que atardes na terra sejam atados nos céus. E vos darei o mistério do reino dos céus para que o façais conhecer aos homens."
3 E disse Jesus: 'Trazei-me fogo e ramos de palmeira'.
4 E eles lhe trouxeram o que lhes pedia. E Jesus colocou uma jarra de vinho à sua esquerda e outra à sua direita. E colocou o cálice de vinho diante da jarra de vinho que estava à sua esquerda. E enfileirou os pães em meio aos cálices. E pós o cálice de água junto aos pães.
5 E Jesus, mantendo-se diante da oferenda, colocou atrás de si seus discípulos, que estavam todos vestidos de linho. E tinha em suas mãos o selo do nome do Pai de todos os Tesouros da Luz.
6 E bradou, dizendo: "Escuta-me, Pai meu, Pai de todas as paternidades, a quem escolhi para perdoar todos os pecados.
7 "Perdoa os pecados dos meus discípulos, e purifica-os, para que sejam dignos de entrar no reino do meu Pai. Pai do Tesouro da Luz, sê propício aos que me seguiram e observaram os meus mandamentos. Que venham, Pai de toda paternidade, aqueles que perdoam os pecados.
8 "Perdoa os pecados e extingue as faltas destas almas, para que sejam dignas de ser admitidas no reino do meu Pai, Pai da luz, porque eu conheço tuas grandes potências. E eu as invoco: Aner, Bebiô, Athroni, Heoureph, Heôné, Souphen, Kuitousouchreôph, Manônbi, Mnenor, Jonôni, Chôcheteôph, Chôchê, Anêmph, perdoai os pecados destas almas.
9 "Extingui suas faltas, as que foram praticadas com conhecimento e as que foram praticadas sem conhecimento. Que os que participam desta oferenda sejam dignos de entrar em teu reino, ó meu santo Pai! E se me ouves, Pai meu, e lhes perdoas seus pecados, e os consideras dignos de entrar em teu reino, dá me um sinal."
10 E o sinal foi dado.
Capítulo 58
Os discípulos pedem a Jesus que lhes revele os últimos mistérios
1 E Jesus disse a seus discípulos: "Regozijai-vos, porque vossos pecados vos são perdoados e vossas faltas eliminadas, e vós sois dignos de entrar no reino do meu Pai."
2 E quando Jesus acabou de falar assim os discípulos sentiram uma grande alegria. E disse Jesus: "Este é o mistério que transmitirei aos homens sinceros e de coração limpo. E suas faltas e pecados lhes serão perdoados até o dia em que lhes comunicardes este mistério, mas não revelai este mistério senão ao homem que siga os preceitos que vos dei, e porque é o batismo da primeira oferenda que conduz à região da verdade e à região do interior da luz."
3 E disseram os discípulos: "Mestre, revela-nos os mistérios da luz de teu Pai, porque te ouvimos dizer: 'Há um batismo de fumaça, e um batismo do sopro da luz santa, e há a unção fluídica, que conduz as almas ao Tesouro da Luz'. Ensina-nos esses mistérios para que entremos na posse do reino do teu Pai."
4 E disse-lhes Jesus: "Nenhum mistério existe maior do que o que quereis conhecer, porque ele conduzirá vossas almas à luz das luzes e às regiões da verdade e da bondade.
5 "E às regiões do Santo de todos os Santos, e às regiões em que não há homem, nem mulher, nem forma alguma, mas apenas uma luz constante e inefável, porque nada há mais sublime que esses mistérios que quereis conhecer, porque são os mistérios dos sete caminhos e das quarenta e nove potências.
6 "E não há nenhum nome mais elevado do que o nome que contém todos os nomes e todas as luzes e todas as potências.
7 "E àquele que conhecer este nome, ao sair do seu corpo material, não poderão perturbá-lo trevas, nem arcontes, nem arcanjos, nem potências, porque se disser esse nome ao fogo, o fogo se apagará; se às trevas, as trevas se dissiparão. E se o disser aos demônios e aos satélites das trevas exteriores, e aos arcontes e às potências das trevas, todos perecerão, para que sua chama arda, e clamarão: 'Santo és, santo és, santo de todos os santos'.
8 "E se se diz este nome aos satélites dos castigos, e às suas dignidades, e a todas as suas forças, e a Barbelo, e ao Deus invisível, e aos três deuses das tríplices potências, cairão uns sobre os outros e serão destruídos, e clamarão: `Luz de toda a luz das luzes infinitas, lembra-te de nós e purifica-nos'."
9 E quando Jesus acabou de dizer essas palavras todos os discípulos lançaram grandes gritos e soluçavam.
Capítulo 59
Jesus explica a seus discípulos os castigos reservados aos maledicentes
1 "E a conduzirão ao caminho do meio para que os arcontes a atormentem durante seis meses e oito dias, e quando a esfera girar, a entregará a seus satélites, para que a arrojem à esfera dos éons. E os satélites da esfera a conduzirão até a água do interior da esfera, para que o fogo a devore e seja grandemente atormentada. E virá Ialukam, o servidor de labaoth Adamas, que dá às almas o cálice do esquecimento, levará um cálice cheio de água do esquecimento, para dá-lo a esta alma, para que beba e esqueça todas as regiões que percorreu, e seja arrojada ao corpo que lhe corresponde, e se aflija constantemente em seu coração."
2 E disse Maria: "Senhor, o homem que perseverar na maledicência, para onde irá e qual será o seu castigo?"
3 E Jesus disse: "Quando o que perseverar na maledicência sair do seu corpo, Abiuth e Carmon, servidores de Ariel, virão e ficarão com ele três dias mostrando-lhe todas as criaturas do mundo e o levarão ao inferno e o farão sofrer tormentos durante onze meses e vinte e um dias.
4 "E depois o levarão para o caos, com Ialdabaoth e seus quarenta e nove demônios, para que cada um destes passes ali onze meses e vinte e um dias, fazendo-o sofrer o castigo da fumaça.
5 "E o retirarão dos rios de fumaça e o conduzirão aos lagos de fogo para fazê-lo sofrer durante onze meses e vinte e um dias, e o conduzirão outra vez ao caminho do meio, para que cada arconte o atormente, fazendo-o sofrer suplícios durante onze meses e vinte e um dias.
6 "E o levarão ao templo da luz, onde se faz a separação dos justos e dos pecadores.
7 "E quando girar a esfera, a entregarão a seus satélites para que a arrojem à esfera dos éons. E os satélites da esfera o conduzirão à água do interior da esfera, para que a fumaça o devore e seja grandemente atormentado. E Ialuham, servidor de Sabaoth Adamas, dará a esta alma a água do esquecimento, para que esqueça as regiões que atravessou.
8 "E este é o castigo do maledicente."
Capítulo 60
Jesus explica os castigos reservados aos ladrões
1 E Maria disse: "Malditos sejam os pecadores."
2 E Salomé disse: "Senhor, que castigo recebe um homicida que não tenha cometido mais do que esse homicídio?"
3 E disse Jesus: "Quando um homicida que não houver cometido outro pecado deixa seu corpo, os satélites de Ialdabaoth o entregam a um grande demônio em forma de cavalo,para que durante três dias percorra com ele o mundo. E o levarão a lugares cheios de neve e gelo, para permanecer ali três anos e seis meses.
4 "E o conduzirão depois ao caos, com os quarenta e nove demônios de Ialdabaoth, para que cada um o atormente durante três anos e seis meses. E o levarão depois a Perséfone, para que o atormente durante três anos e seis meses. E o conduzirão ao caminho do meio, para que cada arconte o faça sofrer os suplícios de suas regiões durante três anos e seis meses.
5 "E o conduzirão à região da luz, onde se faz a separação dos justos e dos pecadores. E quando a esfera girar será arrojado nas trevas exteriores, até que, dissipadas as trevas do meio, seja dissolvido.
6 "E este é o castigo do que mata."
7 E disse Pedro: "Senhor, Tu respondeste à pergunta das mulheres e também nós queremos interrogar-te."
8 E Jesus disse a Maria e às mulheres: "Deixai lugar para os vossos irmãos."
9 E Pedro disse: "Senhor, qual é o castigo para um ladrão que Persevera em seu pecado?"
10 "Quando seu tempo estiver completado, os servidores de Adónis virão ter com ele e agarrarão o seu corpo e o farão Percorrer o mundo durante três dias, para mostrá-lo às suas criaturas. E o levarão aos demônios de Caldauoth, para que cada um o atormente três meses, oito dias e duas horas.
11 "E o levarão aos arcontes do meio, para que cada um o atormente três meses, oito dias e duas horas. E o levarão ao inferno, e o farão sofrer os suplícios durante três meses, oito dias e duas horas.
12 "E o levarão à virgem da luz, onde são separados os justos dos pecadores, e quando a esfera girar será entregue aos éons da esfera. E eles o conduzirão à água do interior da esfera e o farão sofrer grandes tormentos. E virá Ialuham, e lhe dará o cálice do esquecimento, e o fará esquecer quanto viu, e entrará no corpo de um coxo, cego e aleijado."
Capítulo 61
Castigo dos soberbos e dos blasfemos
1 E disse André: "Que castigo sofrerá o soberbo?"
2 E Jesus respondeu: "Quando seu tempo estiver completado, os satélites de Ariel levarão sua alma durante três dias e a farão ver as criaturas do universo e a levarão ao inferno, onde será atormentada durante vinte meses. E a levarão a Iudalbaoth, e a seus quarenta e nove demônios, para que cada um a atormente durante vinte meses. E a levarão ao caminho do meio, para que cada arconte a atormente outros vinte meses.
3 "E a levarão à virgem da luz, para separá-la, e quando a esfera girar será arrojada aos eons da esfera e será levada à água do interior da esfera, e sua fumaça a atormentará. E Ialuham lhe dará a água do esquecimento, para que não se lembre quanto viu. E será arrojada em um corpo [...] para que todos a desprezem.
4 "E este é o castigo do homem soberbo."
5 E Tomé disse: "Que castigo sofre o homem que constantemente blasfema?"
6 E Jesus disse: "Quando seu tempo se houver completado, os satélites de Ialdabaoth chegarão a ele e o atarão pela língua a um grande demônio em forma de cavalo, que o fará percorrer o mundo durante três dias, sob tormentos. E o levarão a um lugar cheio de neve e frio, para atormentá-lo durante onze anos.
7 "E o levarão ao caos de Ialdabaoth e de seus quarenta e nove demônios, para que cada um o atormente durante onze anos. E o conduzirão às trevas exteriores, até que seja entregue ao, grande arconte em figura de dragão que percorre as trevas. E sua alma será deixada nas trevas para que pereça.
8 "Porque tal é o castigo do blasfemo."
Capítulo 62
Bartolomeu, Tomé e João fazem várias perguntas a Jesus
1 E Bartolomeu disse: "Que pena sofre o homem que peca contra a natureza?"
2 E disse Jesus: "O castigo deste homem é o mesmo do blasfemo. E quando seu tempo se completar", os satélites de laldabaoth levarão sua alma para os quarenta e nove demônios, para que cada um a atormente por onze anos. E a levarão a rios de fumaça e a lagos de piche fervente, cheios de demônios, e aí será atormentada durante onze anos. E depois a levarão às trevas exteriores para que pereça."
3 E Tomé disse: "Soubemos que há homens que comem hóstias feitas com sêmen de homem e sangue menstrual de mulheres e dizem: 'Confiamos em Jacó'. Isto é lícito?"
4 E Jesus, nesse momento, leve uma grande cólera contra o mundo e disse a Tomé: "Em verdade vos digo que nenhum pecado pode superar esse. E os que o cometerem serão conduzidos às trevas exteriores. E não serão trazidos de volta ás esferas, e sim perecerão nas trevas exteriores, em um lugar em que não há luz nem misericórdia, apenas pranto e ranger de dentes. Porque todas as almas que forem conduzidas às trevas exteriores perecerão."
5 E João disse: "Que será do homem que não cometeu nenhum pecado mas não encontrou os mistérios?"
6 E Jesus disse: "Quando o tempo desse homem tiver sido Completado, os servidores de Bainchóôôch, que é um dos três Puderes divinos, virão e conduzirão sua alma para a alegria. E Percorrerão com ela todo o mundo durante três dias para mostrá-la com gosto a todas as criaturas do mundo. E a levarão ao inferno para mostrar-lhe os seus suplícios, mas não a farão sofrê-los. Mas o vapor da chama dos tormentos a roçará. E a levarão à via do meio para mostrar-lhe os tormentos, e o vapor da chama a roçará.
7 "E a conduzirão à virgem da luz, e a colocarão diante de Iabaoth, o menor, que pertence ao meio, até que a esfera gire e Zeus e Afrodite venham sob a forma da virgem da luz e Cronos e Aries venham com ela.
8 "E a alma deste justo será entregue aos satélites de Sabaoth, e a levarão aos éons da esfera, para que a conduzam à água do interior da esfera, para que sua fumaça ardente entre nela e a consuma, e a faça sofrer grandes tormentos.
9 "E Ialuham, o que dá às almas o cálice do esquecimento, virá e lhe dará a beber a água do esquecimento, para que esqueça tudo quanto viu. E depois o servidor de Sabaoth o menor, o dom, trairá um vaso cheio de prudência e sabedoria, e o que contém a aflição e o dará para bebei" a esta alma, e será colocada em um corpo onde não poderá dormir mas poderá esquecer, pela beberagem de aflição que lhe deram.
10 "E seu coração se purificará, a fim de que possa procurar os mistérios da luz, até que os encontre, segundo a ordem da virgem da luz, e para que entre na posse da luz eterna."
Capítulo 63
Derradeira invocação dos discípulos
1 E Maria disse: "Um homem que tiver cometido um pecado ou uma falta qualquer,e não encontrai" os mistérios da luz, será submetido a esses diversos suplícios?"
2 E Jesus disse: "Sofrê-los-á. E se cometeu três pecados, sofrerá três castigos."
3 E disse João: "Pode salvar-se um homem que houver cometido todos os pecados e todas as faltas, se, por fim, encontrar os mistérios da luz?"
4 E disse Jesus: "O que tiver cometido todos os pecados e todas as faltas e encontrar, enfim, os mistérios da luz, será perdoado de todos os pecados e        faltas, e entrará na posse de todos os Tesouros da Luz."
5 E disse Jesus a seus discípulos: "Quando a esfera girar e for mudada, de maneira que Cronos e Aries cheguem juntos à virgem da luz, e Zeus e Afrodite cheguem à virgem, girando em suas órbitas, esse será um dia de gozo, ao ver estas duas estrelas de luz diante dela.
6 "E neste instante, as almas com que ela povoa os Círculos das esferas dos éons para que venham ao mundo, serão boas e justas, e se converterão nos mistérios da luz, até que sejam enviadas outra vez à busca dos mistérios da luz.
7 "E se Aries e Cronos chegarem à virgem, deixando atrás dela Júpiter e Afrodite, para que não os veja, as almas que neste momento forem lançadas à esfera serão propensas à cólera e à perversidade e não descobrirão os mistérios da luz."
8 E quando Jesus acabou de falar assim aos discípulos no meio do inferno, eles clamaram e disseram, chorando: "Malditos, malditos sejam os peca-dores que sofrem o esquecimento e a indiferença dos arcontes até que saiam dos seus corpos para sofrer estes tormentos. Tem piedade de nós, filho de santo, tem piedade de nós, para que sejamos preservados dos castigos e dos suplícios reservados aos pecadores. Tem piedade de nós, ainda que tenhamos pecado, Senhor nosso e luz nossa!" Saiu de seus olhos como um grande relampejar." Fim

Livro 2º -  Evangelhos Apócrifos

Testamento de Nephtali

Da Bondade
  
Capítulo 1
1 Transcrição do testamento emitido por Nephtali nos seus últimos dias, aos cento e trinta e dois anos de idade. No quarto dia do sétimo mês compareceram para junto dele os seus filhos; ele estava ainda são, e ofereceu-lhes uma refeição e um banquete, por suas próprias mãos. Ao levantar-se, na manhã seguinte, falou-lhes: "Eu vou morrer". Eles porém não acreditaram.
2 Mas ele louvara a Deus, repetidamente, porque, após aquele festim do dia anterior, iria morrer. E principiou assim a falar aos seus filhos: "Escutai, meus filhos, filhos de Nephtali! Ouvi as palavras do vosso pai! Eu sou filho de Baila. Pois Rachel, procedendo ardilosamente, entregou-a a Jacó ao invés dela mesma. Assim Balla me engendrou, em lugar do ventre de Rachel. Por isso fui chamado Nephtali.
3 "E Rachel me amava, porque eu nascera noutro ventre por sua vontade. Meu rosto era delicado; ela beijava-me, dizendo: `Eu gostaria de dar-te um irmão que se pareça contigo'. De fato, José foi semelhante a mim em todos os traços, de acordo com as súplicas de Rachel. Portanto, Baila é minha mãe: filha de Rotheu, um irmão de Deborah, aia de Rebecca. Ela viera ao mundo no mesmo dia em que nasceu Rachel.
4 "E Rotheu era da descendência de Abraão, um caldeu, temente a Deus, livre e nobre. Ele fora feito prisioneiro na guerra; depois Labão resgatou-o. Deu-lhe sua escrava Enna por mulher. Esta gerou-lhe uma filha que foi chamada de Zilpa, exatamente o nome daquela aldeia em que ele fora preso. Mais tarde, Enna gerou Balia, e disse: `Minha filha é ávida do que é novo; pois, mal apenas nascida, já começou a sugar avidamente'.
Capítulo 2
1 "Eu tinha pés ligeiros como um cervo, e o meu pai Jacó sempre me escolhia para levar qualquer recado, qualquer mensagem. Eu tinha também a sua bênção, por minha qualidade de cervo, pois, assim como o oleiro entende de vasos, quanto podem conter, qual a quantidade da argila necessária, assim também o Senhor faz o corpo à medida do espírito, e nele o derrama segundo a sua capacidade de contê-lo. Um corresponde ao outro, na exatidão que se aproxima da espessura de um terço de cabelo. Toda criatura é feita segundo medida, regra e peso.
2 "E assim como o oleiro conhece a serventia de cada vaso, assim também o Senhor conhece, em relação ao corpo, o quanto alcança no bem e quando começa a entrar no mal. Não há nenhum desejo e nenhuma intenção que não sejam do conhecimento do Senhor; Ele criou cada homem segundo a Sua imagem. Segundo a força do homem, assim também a sua obra; segundo o seu entendimento, assim o ato; segundo sua intenção, assim o comportamento; segundo o seu coração, assim a boca; segundo os seus olhos, assim o sono; segundo a sua alma, assim a palavra. Isso tanto na Lei do Senhor, quanto nas obras de Belial.
3 "Assim como há diferença entre a luz e as trevas, entre o ver e o ouvir, assim também existe diferença entre um homem e outro, entre uma mulher e outra. Não se pode dizer que um seja parecido com outro.
Deus, no seu ordenamento, fez tudo bem feito; na cabeça colocou os cinco sentidos. Deu à cabeça o pescoço; cabelos por adorno; um coração para pensar; um ventre para expelir; um estômago para digerir; canais de ar para a respiração; um fígado para a ira; uma bile para o amargor; um baço para o riso; rins para a sutileza; coxas para a força; pulmões para haurir o alento; e quadris para a energia e outras coisas mais.
4 "Portanto, meus filhos, fazei tudo com reta intenção e no temor de Deus, e nada façais na desordem, seja por futilidade, seja a exemplo! Pois, se disseres ao olho que escute, ele não conseguirá; da mesma forma, não podereis, na escuridão, praticar as obras da luz.
Capítulo 3
1 "Não vos dediqueis a corromper as vossas obras pela cobiça de possuir, nem enganeis vossa alma mediante palavras fúteis! Se ficardes em silêncio, na pureza de coração, havereis de entender o quanto é bom permanecer fiel à vontade de Deus e repelir a vontade do Demônio. O sol, a lua e as estrelas não alteram a sua ordem; da mesma forma, vós não deveis alterar a Lei divina, pela desordem dos vossos atos. Os pagãos, desencaminhados, abandonaram o Senhor e modificaram a sua ordem, obedeceram a pedras e a madeiras, seguindo os espíritos da sedução.
2 "Vós, porém, meus filhos, não vos comporteis assim! Pelo firmamento, pela terra, pelo mar e por todas as criaturas, podeis reconhecer o Senhor, que tudo criou. Do contrário, sereis semelhantes a Sodoma, na perversão da natureza. Da mesma forma, os Guardiões outrora subverteram a ordem da natureza. Por isto foram amaldiçoados por Deus pelo dilúvio, e por causa deles a terra ficou deserta de habitantes e de frutos.
Capítulo 4
1 "Isto eu digo, meus filhos, porque eu li nos livros do Enoque que vós também havereis de afastar-vos do Senhor, andar nos caminhos da impiedade dos pagãos, cometer todos os pecados de Sodoma. O Senhor vos mandará ao cativeiro. Lá devereis servir aos vossos inimigos, sereis mergulhados na opressão e na indigência, até serdes aniquilados pelo Senhor.
2 "E quando fordes reduzidos a um pequeno número, vos convertereis e reconhece-reis de novo o vosso Deus e Senhor; Ele vos de volverá uma vez mais à vossa terra, segundo a Sua grande clemência. Mas, uma vez de volta à terra dos vossos pais, novamente esquecer-vos-eis do Senhor, para andar nos caminhos da impiedade. Após isso, o Senhor vos dispersará por toda a terra, até o dia em que virá a sua Compaixão, um Homem que cumprirá a Justiça, perto e longe, e se mostrará misericordioso para com todos.
Capítulo 5
1 "Aos meus quarenta anos de idade, tive uma visão, pelo lado do Oriente, sobre o Monte das Oliveiras, em Jerusalém: lá estavam parados o sol e a lua. Então o pai do meu pai, Isaac, disse-nos: Correi! Cada um os agarre segundo suas forças! Os que deles se apossarem, possuirão o sol e a lua!'
2 "Assim, todos nós corremos na direção da montanha, e Levi agarrou o sol, e antes dele Judá agarrou a lua. Em seguida, ambos foram levados para o alto, com o sol e a lua. Sendo Levi como o próprio sol, um jovem entregou-lhe doze ramos de palmeira. E Judá brilhava como a lua; doze raios partiam dos seus pés.
3 "Então Levi e Judá correram um em direção do outro e abraçaram-se. E sobre a terra havia um touro de grandes chifres, tendo nos seus costados asas de águia. Quando eles quiseram agarrá-lo, não o conseguiram, pois José chegou primeiro, apoderou-se dele e foi com ele para as alturas. Eu vi isso, pois estava presente. Depois apareceu-nos uma escritura sagrada, que dizia: Assírios, medos, persas, elimeus, gelaseus, caldeus, bem como sírios, levarão as doze tribos de Israel ao cativeiro.
Capítulo 6
1 "E outra visão eu tive, após sete dias, onde vi o nosso pai Jacó em Jamnia, junto ao mar; nós estávamos com ele. Aproximou-se então um navio, velejando em nossa direção; não tinha nem piloto nem marinheiros. E trazia a seguinte inscrição: `O navio de Jacó'. Disse-nos pois o nosso pai: Vamos embarcar no nosso navio!
2 "Nós embarcamos. Veio então uma forte borrasca, seguida de grande tempestade. E nosso pai, que estava ao leme, abandonou-nos. E nós, como joguetes do temporal, éramos arremessados de cá para lá sobre o mar. O navio encheu-se de água, e pela força do embate das ondas, despedaçou-se.
3 "José evadiu-se num bote. Nós outros permaneceram sós, agarrados a nove pranchas. Levi e Judá estavam um ao lado do outro. Fomos dispersados até os mais distantes confins da terra. Então Levi cingiu-se com um saco e orou por todos nós ao Senhor. Com isso, a tempestade amainou e o navio chegou calmamente à terra. Nosso pai Jacó então veio a nós. Nós todos nos alegramos com isso.
Capítulo 7
1 "Relatei os dois sonhos ao meu pai. Ele disse-me: A seu tempo, isto se cumprirá, depois que Israel tiver passado por grandes sofrimentos. Falou-me depois o meu pai: Tenho fé que José esteja vivo; sempre vejo que o Senhor o conta dentre vós.
2 "E em prantos, exclamou: 'Tu vives, meu filho, meu José; eu porém não te vejo, e tu não vês a Jacó, teu pai'. Com estas palavras, ficamos comovidos até às lágrimas. Em meu coração, eu ardia de vontade de revelar abertamente que ele fora vendido. Mas tinha medo dos meus irmãos.
Capítulo 8
1 "Mostrei-vos os tempos últimos, meus filhos, da forma como tudo acontecerá em Israel. Recomendai, portanto, aos vossos filhos que permaneçam unidos a Levi e Judá. Por intermédio de Judá virá a Salvação para Israel, e nele Jacó será abençoado. Por meio da sua estirpe, Deus aparecerá sobre a terra, habitará entre os homens, para salvar a geração de Israel. Chamará para junto de si os justos de entre os pagãos.
2 "Praticai o bem, meus filhos, e então sereis abençoados pelos. "Assim, há um tempo para o coito marital e um tempo para a continência, para orar. Desta forma, o mandamento é duplo, e se não for cumprido segundo a ordem resulta em pecado para o homem. Assim também é em relação aos demais manda-mentos. Sede então sábios e prudentes diante de Deus! Ele conhece a ordem dos seus Mandamentos, as leis, os comportamentos; assim, o Senhor vos amará."
Capítulo 9
1 Muitas coisas mais ele frisou-lhes. Depois pediu-lhes que transportassem o seu corpo para o Hebron e o sepultassem junto do seu pai.
Em seguida ele ainda comeu e bebeu com o coração alegre; depois obscureceu-se-lhe a face, e morreu. E os seus filhos cumpriram tudo conforme seu pai Nephtali lhes ordenara. Fim

Livro 3º II Testamento de Nephtali

Segundo a crônica hebraica de Jerchmeel

 Capítulo 1
1 Esta é a última vontade de Nephtali, filho de Jacó. Ultima vontade de Nephtali, filho de Jacó, que foi dado àquela escrava de Rachel, Bilha, "batalha de Deus". Quando Nephtali tomou-se um ancião, chegando bem conservado a uma bela idade, andando porém curvado há bastante tempo, decidiu dar algumas recomendações aos filhos. Disse-lhes: "Aproximai-vos, queridos filhos! Escutai as exortações do vosso pai!" Falaram-lhe eles: "Estamos preparados para ouvir, e desejamos cumprir tudo segundo nos ordenas".
2 Falou-lhes ele então: "Nenhuma recomendação vos faço em relação à minha prata, ao meu ouro ou a qualquer outro bem que debaixo deste sol vos deixo. E nada vos ordeno de tão difícil, que não possais cumprir. Ao contrário, ordeno-vos algo muito fácil, ao vosso perfeito alcance". Com isso, pela segunda vez retrucaram-lhe os seus filhos: "Fala, querido pai! Estamos prontos a ouvir".
3 Ele falou-lhes: "Nada mais vos recomendo a não ser o temor do Senhor. Servi-O! Aderi a Ele!" Então disseram-lhe eles: "Em que medida Ele necessita do nosso serviço?" Respondeu-lhes: "Ele mesmo não necessita de criatura alguma; mas sim as criaturas do seu mundo d'Ele necessitam. Ele não criou o seu mundo em vão. Suas criaturas devem temê-lO, e ninguém faça ao seu próximo o que não deseja que façam a si mesmo!"
4 Então disseram-lhe eles: "O querido pai! Por acaso observaste que alguma vez nós nos afastamos dos teus caminhos, ou dos caminhos dos nossos ancestrais?" Respondeu-lhes: "O Senhor e eu somos testemunhas de que é tal como dizeis. Mas eu temo pelo futuro. Podereis desencaminhar-vos, seguindo os ídolos de povos estranhos, comportando-vos segundo as sentenças dos pagão se unindo-vos aos filhos de José, em vez de aos filhos de Levi e Judá".
5 Disseram-lhe eles então: "Que tens em mente, pai, ao fazer-nos tal exortação?" Respondeu-lhes: "Eu sei que os filhos de José afastar-se-ão do Senhor, o Deus dos seus Pais, induzindo com isso os filhos de Israel ao pecado. Serão eles os culpados por os filhos de Israel abandonarem a sua boa terra para irem viver no estrangeiro. Nós também, por causa dele, tivemos outrora de emigrar e servir como escravos no Egito.
Capítulo 2
1 "Desejo agora falar-vos da visão que tive na minha cabana de pastor. Eu vi, sim. Éramos doze irmãos que pastoreávamos no campo. Chegou então nosso pai para junto de nós e exclamou: 'Correi, meus filhos! Agarre cada um o que puder agarrar!' Nós porém lhe retrucamos: `Mas que devemos agarrar? Não vemos nada a não ser o sol, a lua e as estrelas'.
2 "Devolveu-nos ele: 'Agarrai-os!' Ao ouvir isso, Levi tomou de um bastão em suas mãos, saltou sobre o sol, assentou-se sobre ele e cavalgou-o. Judá, ao vê-lo, fez o mesmo. Tomou de um bastão, saltou sobre a lua e cavalgou-a.
3 "Assim procederam todas as outras estirpes. Cada uma montou sobre sua estrela e seu planeta no céu. Apenas José sobrou sozinho sobre a terra. Então nosso pai Jacó perguntou-lhe: `Por que, meu filho, não fizeste como os teus irmãos?' Ao que ele respondeu: `Meu pai! O que tem a fazer no céu o nascido de mulher? Eles deverão finalmente assumir o seu lugar na terra'.
Capítulo 3
1 "Enquanto José ainda assim falava, apareceu ao seu lado um touro gigantesco. Possuía grandes asas, semelhantes às da cegonha, e seus chifres erguiam-se ao alto, como os chifres de um boi bravio. Jacó disse-lhe: `Vamos, José! Sobe! Cavalga-o, meu filho!' Então José atirou-se sobre o touro. Em seguida, nosso pai Jacó afastou-se de nós.
2 "E José imperou por quatro horas sobre o touro, que ora caminhava a passo, ora corcoveava. Depois voou com ele para o alto, até chegar às proximidades de Judá. Então José, empunhando a bandeira em sua mão, bateu em seu irmão Judá. Perguntou-lhe então Judá: `Por que me bates, meu irmão?' Respondeu-lhe: `Estão em tuas mãos doze cetros; e eu tenho apenas um. Dá-me agora dez deles! Pois então haverá paz!'
3 "Mas Judá recusou-se a entregar-lhes. Então José bateu nele, até tomar-lhe à força os dez cetros; nas mãos de Judá ficaram apenas dois. Em seguida, José perguntou aos dez irmãos: 'Por que seguis Judá e Levi? Abandonai-os e segui a mim!' Ao ouvirem isso, os irmãos de José unanimemente abandonaram Levi e Judá, para acompanharem José. Com Judá permaneceram apenas Benjamim e Levi. Ao perceber isso, Levi desceu do sol, com grande apreensão.
4 "E José falou ao seu irmão Benjamim: 'Ah, caro irmão Benjamim! Por acaso não és tu plenamente meu irmão? Então, vem tu também comigo!' Contudo, Benjamim recusou-se a acompanhar seu irmão José. Ao anoitecer, sobreveio uma grande tempestade, e esta separou completamente José dos seus irmãos, de tal sorte que nem dois deles ficaram juntos. Ao ter eu presenciado aquela visão, relatei-a ao meu pai Jacó. Este então disse-me: 'Meu filho! Isso foi um sonho sem importância; e ele não se repetirá'.
Capítulo 4
1 "Passado pouco tempo, outra visão foi-me revelada. Estávamos todos junto ao grande mar, com o nosso pai Jacó. E no meio do mar circulava um navio, sem piloto ou comandante. Então nosso pai perguntou-nos: 'Estais vendo o que eu vejo?' Respondemos: 'Sim'. Retrucou-nos então: 'Fazei o que me virdes fazer!' Em seguida, nosso pai tirou suas roupas e atirou-se ao mar; nós todos procedemos como ele. Levi e Judá porém levaram dianteira sobre todos os outros e saltaram para o navio, com Jacó.
2 "Dentro do navio encontravam-se todos os bens deste mundo. Então o nosso pai Jacó disse a nós: 'Olhai o que está escrito no mastro! Não há nenhum navio que não tenha inscrito no seu mastro o nome do seu dono'. Levi e Judá então observaram atentamente e perceberam que havia a seguinte inscrição: 'Este navio, com todos os bens nele contidos, pertence ao filho de Barakel'.
3 "Ao ouvir isso, nosso pai alegrou-se grandemente, inclinou-se e deu graças a Deus. E disse: `Não foi suficiente ter-me Ele abençoado sobre a terra; abençoa-me agora também sobre o mar'. Logo a seguir, falou a nós todos: `Agarrai, meus filhos, o que cada um puder pegar, será dele!' Levi imediata-mente saltou sobre o grande mastro do navio e assentou-se. E Judá, em segundo lugar, saltou sobre o segundo mastro, que se situava perto do mastro de Levi, e igualmente assentou-se sobre ele. Cada um dos meus outros irmãos empunhou o seu remo, e nosso pai Jacó tomou em suas mãos os dois remos-leme, dirigindo assim o navio.
4 "Somente José ficou sobrando. Disse-lhe então nosso pai: 'Meu filho! Meu José! Empunha tu também o teu remo!' Mas José recusou-se. Ao ver meu pai que José não pegava o seu remo, disse-lhe: 'Vem cá, meu filho! Toma um dos remos-leme que seguro em minhas mãos, e conduze assim o navio! Possam teus irmãos inclinar-se sobre os remos, até que todos chegueis em terra firme!' Então instruiu a cada um de nós, dizendo-nos: 'Assim deveis conduzir o navio agora! Não tenhais medo das ondas do mar, tremendo ao rugir da tempestade ao vosso redor!'
Capítulo 5
1 "Depois de assim ter-nos advertido, desapareceu da nossa presença. Nesse momento, José empunhou os dois remos-leme, um com a mão direita, outro com a mão esquerda; e meus demais irmãos remavam. Assim o navio seguia e navegava sobre as águas.
2 "E sobre os dois mastros em que se assentavam, Levi e Judá observavam o rumo que o navio devia seguir. Pelo tempo em que durava o entendimento entre José e Judá, este instruindo José sobre o caminho a seguir, e este dirigindo nessa direção, o navio navegava em segurança, sem bater em escolhos.
3 "Passado algum tempo, todavia, ocorreu uma desavença entre José e Judá. E José deixou de conduzir o navio segundo as recomendações do nosso pai e segundo as instruções de Judá. Então a nave começou a ziguezaguear em todas as direções, até ser finalmente arremessada pelas ondas contra os recifes, despedaçando-se.
Capítulo 6
1 "Levi e Judá desceram dos mastros, buscando salvar-se. Também nós, os outros irmãos, salvamo-nos todos na praia. Em seguida, chegou o nosso pai Jacó e encontrou-nos todos desgarrados, cada um para o seu lado. Falou-nos: 'Que aconteceu convosco, meus filhos? Com certeza não conduzistes o navio da forma como era preciso, segundo vos ordenei'.
2 "Dissemos-lhe: 'Pela vida dos teus servos! De forma alguma nós nos afastamos das tuas ordens. A culpa toda cabe a José; não pilotou o navio segundo as tuas instruções e segundo a orientação de Judá e Levi. Ele tinha ciúmes deles'. Perguntou-nos ele então: 'Mostrai-me onde está o navio!' Viu então que apenas eram visíveis os mastros da nave que afundava. Em seguida meu pai assoviou e nós todos reunimo-nos em tomo dele.
3 "Ele então arremessou-se ao mar, como da primeira vez, e trouxe o navio de volta e repreendeu José, com as seguintes palavras: 'Meu filho! Não sejas tão insidioso! Não sejas tão invejoso de teus irmãos! Por pouco todos eles teriam perecido, por tua causa'.
Capítulo 7
1 "Narrei esta visão ao meu pai. Ele juntou suas mãos, suspirando, enquanto lágrimas se derramavam dos seus olhos. Aguardei por longo tempo; ele porém não me disse palavra. Tomei então a mão do meu pai, acariciando-a e beijando-a, e disse-lhe: 'O tu, servo do Senhor! Por que vertem lágrimas os teus olhos?'
2 "Falou-me: 'Meu filho! Fico abalado porque uma vez mais tiveste esta visão, e tenho arrepios por causa do meu filho José. De fato, eu o amava mais do que a vós todos. Todavia, por causa da sua perversidade, sereis arrastados ao cativeiro e dispersados no meio de povos pagãos. A tua primeira e a tua segunda visão significam ambas a mesma coisa; trata-se de uma única visão. Por isso ordeno-vos, meus filhos, que não vos junteis nunca aos filhos de José, mas tão-somente aos filhos de Levi e Judá'.
Capítulo 8
1 "Anuncio-vos ainda: Ser-me-á destinada a parte mais bela do centro da terra; lá podereis comer e saciar-vos das delícias dos seus frutos. Admoesto-vos, porém, para não decairdes, na vossa felicidade, para não vos tornardes renitentes, para não contestardes os Mandamentos do Senhor, Ele que vos alimenta com os dons da sua terra.
2 "Não esqueçais o Senhor, vosso Deus, Deus dos vossos Pais, o Deus que foi escolhido por nosso pai Abraão, quando nos dias de Peleg as gerações se separaram. Pois outrora, o Senhor desceu do seu céu altíssimo e trouxe consigo setenta Anjos servidores, comandados por Miguel. Ordenou-lhes que ensinassem setenta línguas, exatamente aos setenta povos que se originaram das coxas de Noé. Os Anjos desceram imediatamente e cumpriram as ordens do Criador. A língua sagrada, todavia, o hebraico, permaneceu exclusivamente na casa de Sem e Heber, bem como na casa do nosso pai Abraão, retendo-a como a língua ancestral.
Capítulo 9
1 "Naquele dia, Miguel transmitiu uma mensagem do Santo, dizendo a todos aqueles setenta povos: 'Conheceis a apostasia por vós cometida, bem como as traições perante o Senhor do céu e da terra. Por isso, escolhei agora! A quem desejais servir? Quem deverá ser o vosso Patrono nas alturas do céu?'
2 "Falou então o iníquo Nirnrod: 'Para mim não há nenhum outro maior do que o mestre meu e do meu povo, que numa hora ensinou-nos a língua cuchita'. Da mesma forma falaram também Put, Misraim, Tubal, Javan, Mesek e Tiras; e cada povo escolheu o seu Anjo. Mas nenhum deles mencionou o nome do Santo.
3 "Miguel dirigiu-se em seguida ao nosso pai Abraão: 'A quem escolhes, Abraão? A quem desejas servir?' Respondeu Abraão: 'A nenhum outro escolho e adoto a não ser Aquele que pronunciou uma palavra, e o mundo foi criado. Unicamente Aquele que me plasmou no ventre de minha mãe, corpo dentro de outro corpo, e que colocou em mim espírito e alma. A Esse eu escolho. A Ele desejo aderir, tanto eu quanto todos os meus, por toda a eternidade'.
Capítulo 10
1 "Dessa forma, o Altíssimo dividiu as nações, distribuindo a cada povo o que lhe cabia. Desde aquele tempo, todos os povos da terra separaram-se do Senhor. Somente a casa de Abraão permaneceu junto ao seu Criador, servindo-O; assim também o fizeram depois Isaac e Jacó. Por isso, advirto-vos, meus filhos. Não apostateis! A nenhum outro.
Deus sirvais, a não ser o Deus que foi escolhido por vossos Pais!
2 "Pois tendes perfeito conhecimento de que nenhum outro se Lhe compara. Nenhum outro pode fazer, como Ele fez, as obras do céu e da terra. Nenhum outro pode operar tais maravilhas, que são a prova do Seu poder. Podeis ver na criação do homem uma amostra do Seu imenso poder. Quão grandes maravilhas nele estão reunidas!
3 "Foi criado por Ele, da cabeça aos pés. Com seus ouvidos escuta; com seus olhos vê; com seu cérebro pensa; com seu nariz cheira; com seus canais respiratórios produz sons; com sua goela ingere comida e bebida; com sua língua fala; com sua boca ensina; com suas mãos realiza trabalhos; com o seu entendimento medita; com o seu baço ri; com seu fígado irrita-se; com o seu estômago digere; com os seu pés anda. Os pulmões aí estão para respirar; com os seus rins ele se aconselha.
4 "E nenhum dos seus membros altera a sua função; cada um deles guarda o seu domínio. Portanto, convém que o homem considere Quem o criou, Quem o plasmou no corpo da mulher, a partir de uma gota malcheirosa, Quem o trouxe à luz do mundo, Quem lhe deu a luz dos olhos e a capacidade de andar com os seus pés, Quem o colocou ereto, firmando-o sobre as suas bases, Quem predispôs boas ações na sede do seu entendimento, Quem infundiu-lhe o alento da vida e um espírito puro, que d'Ele proveio.
5 "Feliz daquele que não corrompe o Espírito Santo de Deus, que por Este lhe foi infundido. Salve, se puder devolvê-lo tão puro ao seu Criador como no dia em que lho foi confiado!"
6 Foram estas as palavras de Nephtali, filho de Israel, outrora repassadas aos seus filhos. Foram mais doces ao paladar do que o mel de abelha. E assim. chega ao fim o último desejo de Nephtali, filho de Jacó. Fim

Livro 4º- A Assunção de Moisés - Testamento de Moisés



O TESTAMENTO de Moisés acerca das coisas que ele coordenou nos seus cento e vinte anos de vida por volta do ano dois mil e quinhentos desde a criação do mundo: Que de acordo o cálculo oriental dois mil e setecentos e quatro depois da partida da Fenícia, quando o povo tinha feito o Êxodo que foi feito por Moisés para Amã que fica além do Jordão, na profecia que foi feita por Moisés no livro do Deuteronômio: e ele chamou a para junto de si a Josué, o filho de Nun, um homem aprovado por Deus, para que pudesse ser o ministro do povo e do tabernáculo do testemunho com todas as suas coisas santas, e que ele poderia levar o povo à terra dada aos seus pais, para que lhe fosse dada de acordo com o pacto e o juramento que Ele fez no tabernáculo de confiá-lo a Josué: dizendo a Josué estas palavras: (Sê forte) e de boa coragem para que se cumpra através de ti tudo aquilo que lhe foi ordenado para que possas ser imaculado diante de Deus. Assim diz o Senhor do mundo. Porque Ele criou o mundo em favor de seu povo. Mas Ele não se agradou em manifestar este propósito da criação desde a fundação do mundo, para que os Gentios pudessem ser convencidos, sim, para que por sua própria humilhação pudessem por argumentos convencer uns aos outros. Adequadamente Ele projetou e planejou, e me preparou antes da fundação do mundo, para que eu fosse o mediador do seu pacto. E agora eu vos declaro que o tempo dos anos de minha vida se cumpriram e estou falecendo para dormir com meus pais na presença de todo o povo. E receba esta escritura pois tu saberás como preservar os livros que eu te entregarei: e tu fixarás estes em ordem e os ungirá com óleo de cedro e os guardará em recipientes de barro no lugar que Ele fez desde o princípio da criação do mundo para que o seu nome fosse invocado até o dia do arrependimento na visitação na qual Deus os visitará na consumação do fim dos dias.
2 E agora eles entrarão por meio de ti na terra que Ele determinou e prometeu dar aos seus pais, na qual tu abençoarás e darás individualmente a eles e os confirmará a sua herança em mim e estabelecerá para eles o reino, e tu os designará magistrados locais de acordo com a boa vontade do seu Senhor em julgamento e retidão. E cinco anos depois que eles entrarem na terra, depois que forem regidos pelos chefes e reis durante dezoito anos, e durante dezenove anos fugirão as dez tribos. E as doze tribos descerão e transferirão o tabernáculo do testemunho. Então o Deus do céu fará o tribunal do seu tabernáculo e a torre do seu santuário, e as duas tribos santas serão (lá) estabelecidos: mas as dez tribos estabelecerão reinos para eles de acordo com as suas próprias ordenanças. E eles oferecerão sacrifícios ao longo de vinte anos: e sete fortificarão as paredes, e eu protegerei nove, mas quatro transgredirão o pacto do Senhor, e profanarão o juramento que o Senhor fez com eles. E eles sacrificarão seus filhos a deuses estranhos, e eles montarão ídolos no santuário, para os adorar. E na casa do Senhor eles cometerão impiedade e gravarão toda forma de bestas, até mesmo muitas abominações.
3 E por esses dias um rei do leste virá contra eles e a sua cavalaria cobrirá a terra. E ele queimará a sua colônia com fogo junto com o templo santo de Deus, e ele levará todos os recipientes santos. E expulsará todo o povo, e os levará para a sua terra natal, sim ele levará as duas tribos com ele. Então as duas tribos chamarão as dez tribos, e marcharão como uma leoa nas planícies arenosas, quando faminta e sedenta. E eles chorarão em voz alta: Justo e santo é o Senhor, porque, já que pecastes, nós também, de certa forma, fomos levados convosco, junto com nossos filhos. Então as dez tribos lamentarão ao ouvir as repreensões das duas tribos, e elas dirão: O que vos fizemos, irmãos? Esta tribulação não veio sobre toda a casa de Israel? 'E todas as tribos lamentarão, clamando aos céus e dizendo: Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacó, lembre-se do teu pacto o qual fizeste com eles, e do juramento que fizestes por Ti mesmo com eles, de que sua semente jamais fracassaria na terra que Tu a deste. Então eles se lembrarão de mim, naquele dia, tribo a tribo e cada homem ao seu vizinho, dizendo: `Não é isto aquilo que Moisés nos declarou em profecias, que sofreram muitas coisas no Egito e no Mar Vermelho e no deserto durante quarenta anos: e seguramente chamou céu e terra para testemunhar contra nós, para que nós não transgredíssemos suas ordens, no que ele foi um mediador para nós? Vejam que estas coisas nos aconteceram depois da sua morte de acordo com a sua declaração, como ele nos declarou naquele tempo, sim, vejam que estas coisas aconteceram até que fossemos levados cativos para fora para o país do leste. E também estaremos em escravidão durante aproximadamente setenta e sete anos.
4 Então entrarão em um que está acima deles, e ele espalhará as suas mãos, e se ajoelhará e orará dizendo acerca de seu comportamento: `Senhor de tudo, Rei no alto trono que rege o mundo e fez com que este povo fosse Seu povo eleito, então (realmente) Tu fizeste com que fosses chamado o seu Deus, de acordo com o pacto que fizeste com seus pais. E mesmo assim eles entraram em cativeiro em outra terra com suas esposas e seus filhos, e ao redor dos portões de povos estranhos e onde há grande vaidade. Considere e tenha compaixão deles, O Senhor do céu.' Então Deus se lembrará deles por causa do pacto que fez com seus pais. E Ele também manifestará sua compaixão naquele tempo. E Ele porá isto na mente de um rei para que tenha compaixão deles, e ele os enviará de volta para a sua terra e país. Então algumas porções das tribos subirão e eles virão para o lugar a eles designado, e eles cercarão novamente o lugar com muros. E as duas tribos continuarão em sua fé prescrita, tristes e lamentando porque eles não poderão oferecer sacrifícios ao Senhor dos seus pais. E as dez tribos aumentarão e multiplicarão entre os Gentios durante o tempo do seu cativeiro.
5 E quando o tempo do castigo estiver perto e a vingança surgir por meio dos reis que compartilham em sua culpa e os castigam, eles mesmos também estarão divididos quanto à verdade. Portanto, isto tem sido dito: Eles deixarão de lado a retidão e se aproximarão da iniqüidade, e eles se sujarão com as poluições da casa de sua adoração, e [porque] eles se prostituirão com deuses estranhos. Porque eles não seguirão a verdade de Deus, mas alguns poluirão o altar com os (mesmos) presentes que eles oferecem ao Senhor, os quais não são sacerdotes mas escravos, filhos de escravos. E muitos naquele tempo terão respeito para com pessoas desejáveis e receberão presentes, e o julgamento pervertido [com presentes recebidos]. E nesta ocasião a colônia estará cheia os limites da sua habitação estarão repletos de iniqüidades e atos ilegítimos: aqueles que impiamente deixarem o Senhor serão os juízes: eles estarão prontos para julgar mediante corrupção como cada um pode desejar.
6 Então serão levantados aos reis que suportam a regra, e eles se chamarão sacerdotes do Deus Altíssimo: e cometerão iniqüidade no santo dos santos. E um rei insolente os sucederá, um que não será da raça dos sacerdotes, um tipo de homem ousado e desavergonhado, e ele os julgará como merecem. E ele cortará seus homens principais com a espada, e os destruirá em lugares secretos, de forma que ninguém pode saber onde seus corpos estão. Ele matará o velho e o jovem, e ele não se poupará. Então o temor de sua presença lhes será amargo em sua própria terra. E ele executará julgamentos sobre eles como os egípcios já havia executado, durante trinta e quatro anos, e ele os castigará. E produzirá filhos, (que) o sucedendo regerão por períodos mais curtos. A suas coortes um rei poderoso do oeste virá, e os conquistará: e ele os levará cativos, e queimará uma parte do seu templo com fogo, (e) crucificará alguns ao redor da sua colônia.
7 E quando isto for feito chegará o fim dos tempos, em um momento o (segundo) curso será (findado), às quatro horas virão. Eles serão forçados... E, no tempo destes, homens destrutivos e incrédulos regerão dizendo que são justos. E estes incitarão o veneno de suas mentes, pois serão homens traiçoeiros, egoístas, dissimula-dores em todos os seus negócios e amantes de banquetes a toda hora do dia. Comilões... Devoradores dos bens do (pobre) dizendo que eles fazem assim com base em sua justiça, mas na verdade querem destruí-los, estes são queixosos, enganadores, que se escondem para que não sejam reconhecidos, incrédulos, cheios de impiedade cometendo iniqüidade de sol a sol: dizendo: Nós teremos banquetes e luxo, enquanto comemos e bebemos, e nós nos estimaremos como príncipes. E apesar de suas mãos e mentes tocarem coisas imundas, no entanto, suas bocas falarão grandes coisas, e eles dirão também: Não me toque para que não me polua em meu lugar (onde eu estou)...
8 E virá sobre eles uma segunda visitação e ira, como não os aconteceu desde o princípio até aquele tempo, tempo no qual Ele moverá contra eles o rei dos reis da terra e um que rege com grande poder, que crucificará aqueles que confessarem à sua circuncisão: e esses que esconderem (isto) ele torturará e os entregará para que sejam amarrados e lançados na prisão. E as suas esposas serão dadas aos deuses entre os Gentios, e os seus filhos jovens serão operados pelos médicos para apresentar o seu prepúcio. E outros entre eles serão castigados com torturas, fogo e espada, e eles serão forçados a suportar em público aos seus ídolos, sendo poluídos como aqueles que já o são. E eles serão forçados igualmente por aqueles que os torturam a entrar no santuário interno, e eles serão forçados por ferros a blasfemar com insolência contra a palavra, e depois destas coisas as leis e o que eles tiverem sobre o altar.
9 Então naquele dia haverá um homem da tribo de Levi, cujo nome será Taxo que tendo sete filhos falará com eles exortando-os: Observem, meus filhos, vejam um segundo cruel (e) uma visitação impura que veio sobre o povo, e um castigo impiedoso e muito maior que o primeiro. Pelo qual a nação ou a região ou o povo daqueles que são ímpios diante do Senhor, e que cometeram muitas abominações, que sofreram tão grandes calamidades como nos aconteceu? Agora, portanto, meus filhos, ouçam-me: notem e saibam que nem os pais nem os antepassados deles tentaram a Deus, para transgredir as suas ordens. E para que tu saibas que esta é nossa força, e assim nós faremos. Jejuemos por três e no quarto entremos em uma caverna que está no campo, e morramos ao invés de transgredir as ordens do Senhor dos Senhores, o Deus de nossos pais. Porque se nós fizermos isto e morrermos, nosso sangue será vingado diante do Senhor.
10 E então o reino dele aparecerá através de toda Sua criação, e então Satanás não mais existirá, e a tristeza partirá com ele. Então serão enchidas as mãos do anjo que foi designado principal, e ele os vingará dos seus inimigos. Porque o Único Divino surgirá do seu trono real, e Ele sairá de sua santa habitação com indignação e ira por causa dos Seus filhos. E a terra tremerá: até os seus confins será estremecida: E as montanhas altas serão baixadas e as colinas sacudirão e cairão. E serão quebrados os chifres do sol e ele será transformado em escuridão; E a lua não dará a sua luz, e será completamente transformada em sangue. E o círculo das estrelas será perturbado. E o mar descansará no abismo, e as fontes de águas falharão, e os rios secarão. Porque Altíssimo surgirá, o único Deus Eterno, e Ele aparecerá para castigar os Gentios, e destruirá todos seus ídolos. Então tu, O Israel, ficará contente, e montará nos pescoços e asas da águia, e eles serão exterminados. E Deus te exaltará, e o fará se aproximar do céu das estrelas, no lugar da sua habitação. E tu olharás do alto e verá seus inimigos no Geenna e os reconhecerá e se alegrará, e dará graças e confessará ao teu Criador. E tu; Josué (filho de) Nun, guarde estas palavras e este livro; Porque de minha morte [assunção] até o Seu advento haverá 250 vezes [= ano-semanas = 1750 anos]. E este é o curso dos tempos que eles procurarão até que eles estejam consumados. E eu irei dormir com meus pais. Portanto, Josué (filho de) Nun, (sê forte e) tenha bom ânimo; (porque) Deus (o) escolheu para ser o ministro deste mesmo pacto.
11 E quando Josué ouviu as palavras de Moisés que foram assim escritas na sua escritura tudo aquilo que ele tinha dito antes, rasgou suas roupas e se lançou aos pés de Moisés. E Moisés o confortou e chorou com ele. E Josué lhe respondeu e disse: Por que tu me confortas, (meu) senhor Moisés? E como eu serei confortado com respeito à palavra amarga que tu falaste a qual foi adiante de tua boca, que está cheia de lágrimas e lamentação, com a qual deixas o teu povo? (Mas agora) que lugar o receberá? Ou qual será o sinal que marcará o (seu) sepulcro? Ou quem ousará mover seu corpo de lá como se fosse um mero homem? Porque todos os homens quando morrem tem de acordo com a idade os seus sepulcros na terra; mas seu sepulcro é da subida ao pôr-do-sol, e do sul aos confins do norte: todo o mundo é seu sepulcro. Meu senhor, estás partindo, e quem alimentará este povo? Ou quem há que tenha compaixão deles e quem será seu guia pelo caminho? Ou quem orará por eles, sem omitir um único dia, para que eu possa os conduzir na terra dos seus antepassados? Como então eu nutrirei este povo como um pai (o dele) sendo apenas filho, ou como uma mão a sua filha, uma virgem que está sendo preparada para ser entregue ao marido que ela venerará, enquanto ela guarda sua pessoa do sol e (toma cuidado) para que seus pés não fiquem descalços por correr no chão. (E como) eu os proverei com comida e bebida de acordo com o prazer da vontade deles? Porque eles devem ser por volta de 600.000 (os homens), porque estes se multiplicaram a este ponto por causa de suas orações, (meu) senhor Moisés. E que sabedoria ou entendimento tenho eu para que eu deva julgar ou responder através da palavra na casa (do Senhor)? E os reis do Amoreus também quando eles ouvem que nós estamos os atacando, acreditarão que não estará mais entre eles o espírito santo que era digno do Senhor, múltiplo e incompreensível, o senhor da palavra, que era fiel em todas as coisas, o profeta principal de Deus ao longo da terra, o mestre mais perfeito do mundo, [que não está mais entre eles], dirão "Marchemos contra eles. Se o inimigo apenas uma vez agiu impiamente contra o seu Deus, eles não têm nenhum defensor para oferecer suas orações, como Moisés o grande mensageiro que todos os dias de dia e de noite teve os seus joelhos fixados na terra, orando e procurando a ajuda dEle para que regesse todo o mundo com compaixão e justiça, fazendo-o lembrar do pacto dos pais e propiciando o Deus com juramento." Porque eles dirão: "Ele não está com eles: vamos então e os destruamos e os lancemos para fora da face da terra." O que restará então deste povo, meu senhor, Moisés?"
12 E quando Josué terminou (estas) palavras, ele se lançou novamente aos pés de Moisés. E Moisés tomou sua mão e o elevou ao assento diante dele, e lhe respondeu e disse: Josué, não menospreze a ti mesmo; mas fixe sua mente, e ouça minhas palavras. Todas as nações que estão na terra Deus as criou assim como a nós, Ele as previu assim como a nós desde o princípio da criação da terra até o fim dos tempos, e nada foi negligenciado por Ele mesmo a coisa mais insignificante, e todas as coisas Ele previu e fez tudo acontecer. (Sim) todas as coisas que estão nesta terra Deus previu e, veja, elas são apresentadas (à luz... O Senhor) as tem usado e me designou para (orar) pelos seus pecados e (fazer intercessão) por eles. Não por qualquer virtude ou força minha, mas de sua boa vontade tem ele compaixão e longanimidade encerrado minha sorte. Porque eu vos digo, Josué: não é por causa da piedade deste povo que tu lançará fora as nações. As luzes do céu, os fundamentos da terra foram feitos e foram aprovados por Deus e estão debaixo do anel de sinete da sua mão direita. Então, esses que fazem e cumprem as ordens de Deus aumentarão e prosperarão: mas esses que pecam e fixam e negligenciam as ordens estarão sem as bênçãos mencionadas, e eles serão castigados com muitos tormentos pelas nações. Mas lançar fora completamente e os destruir não é permitido. Porque Deus irá adiante pois previu todas as coisas para sempre, e o seu pacto foi estabelecido pelo juramento que...

Livro 5º - A História de José Carpinteiro



CERTA VEZ aconteceu que muitos meninos seguiam Jesus para divertirem-se em sua companhia. Mas havia um pai de família que, irado ao ver que seu filho ia com Jesus, e para que não o seguisse mais, prendeu-o numa torre fortíssima e muito sólida, sem buraco nem entrada alguma além da porta e de uma janelinha estreitíssima, que apenas deixava passar um pouquinho de luz; e a porta estava bem escondida e trancada. E aconteceu que um dia Jesus aproximou-se dali com seus companheiros para brincar. Ao ouvi-1os, o menino encarcerado pôs-se a gritar junto à janela da seguinte maneira: "Jesus, queridíssimo companheiro, ao ouvir tua voz minha alma regozijou-se e senti-me cheio de alívio. Por que me deixas aqui encarcerado?" Jesus foi até ele e lhe disse: "Estende-me uma mão ou um dedo pelo buraco". E tendo feito isto, Jesus pegou a mão daquele menino e o tirou através daquela estreitíssima janelinha. E o menino foi embora em sua companhia. Jesus disse-lhe: "Reconhece o poder de Deus e na tua velhice conta o que Deus te fez na tua infância". Ao tomar conhecimento do que havia acontecido, o pai de família primeiro dirigiu-se até a porta. E ao encontrá-la ainda fechada, gritou e disse que era um fantasma. E que os seus olhos estavam fechados para não reconhecer o poder divino.
2 Este mesmo pai de família, que era o mais velho dentre os juízes da sinagoga e dos fariseus e dos escribas e dos doutores, foi até José para queixar-se de Jesus, que havia feito novas maravilhas entre o povo, de maneira que já era venerado como Deus; e, exaltando-se, disse: "Olha que nossos jovens, entre os quais está meu filho, estão seguindo Jesus até o campo de Sicar". E, cheio de raiva, pegou um pau com intenção de bater em Jesus, e seguiu-o até um monte em cujo sopé estende-se uma plantação de favas. Jesus, porém, escapou da sua ira dando um pulo do cume da montanha até um ponto distante, como a flecha de um arco. E os outros meninos, querendo dar o mesmo salto, caíram no precipício, fraturando pernas, braços e pescoços. E por esse motivo levantou-se um enorme protesto diante de Maria e José; Jesus, porém, curou a todos e deixou-os mais sadios ainda que antes. Ao ver isto, então, o arquissinagogo, que era o pai do rapaz preso, e todos os outros presentes, adoraram por sua vez a Deus Adonai. E o lugar onde Jesus deu o salto chama-se até hoje o "Salto do Senhor".
3 E aconteceu que, sendo época de semeadura, José saiu para semear o trigo. E Jesus seguiu-o. Depois José começou sua faina, e espalhou as sementes até o limite da propriedade. Depois José veio ceifar no tempo da colheita. E também Jesus veio recolher as espigas que havia semeado, e sua colheita foi de cem alqueires de riquíssimo trigo, quantidade que nem três ou quatro campos juntos produziam. E José disse: "Chamai os pobres, órfãos e viúvas e reparti com eles o trigo da minha colheita". E assim se fez. Mas, ao distribuí-lo, sobreveio um extraordinário e inesperado aumento. Os pobres que foram com ele supridos abençoaram o Senhor de todo o coração, dizendo que o Senhor Deus de Israel havia visitado o seu povo.
4 De novo aconteceu em um dia de semeadura que Jesus ia atravessando a Ásia e viu um lavrador que semeava certa espécie de legume chamado grão-de-bico, em uma propriedade próxima ao túmulo de Raquel, entre Jerusalém e Belém. Jesus lhe disse: "Homem, que estás semeando?" Mas ele, com raiva e zombando do fato de que um jovem daquela idade lhe fazia tal pergunta, respondeu: "Pedras". E Jesus, por sua vez, lhe disse: "Tens razão, porque efetivamente são pedras". E todos aqueles grãos-de-bico transformaram-se em duríssimas pedras, que ainda conservam a forma de grãos-de-bico, a cor, bem como o pequeno olho na cabeça. E desta maneira todos aqueles grãos, tanto os já semeados quanto aqueles que iriam ser semeados, transformaram-se em pedras. E até hoje, procurando-as com cuidado, pode-se encontrar as tais pedras nesse campo.
5 Outro dia de manhã, quando o orvalho ainda suavizava o calor do sol, José e Maria vinham subindo do lado de Tiro e Sidon em direção a Nazaré. E à medida que o sol ia subindo, Maria sentia-se cada vez mais sufocada, até que sentou-se no chão muito cansada. E disse a José: "Continua subindo esta temperatura que me afoga; que se poderá fazer? Não vejo por aqui nenhuma sombra onde possa proteger-me". E levantando suas mãos aos céus, orou dizendo: "Oh Virtude do Altíssimo! Segundo aquela doce palavra que ouvi uma vez e que vinha de ti, protege-me com tua sombra; que minh'alma viva e me seja dado o teu refrigério". E Jesus, ao ouvir essas palavras, alegrou-se e fincou no solo um pau seco que levava na mão para servir-lhe de bastão, dizendo com voz imperiosa: "Proporciona neste momento uma sombra agradável para minha mãe". E no mesmo instante aquela vara converteu-se em uma árvore copada e frondosa, que lhes ofereceu um doce refrigério para seu descanso.
6 Um dia de inverno fazia um sol esplêndido, e um raio de sol estendeu-se e veio, pela janela, incidir na parede da casa de José. E por ali estavam os jovens da vizinhança, companheiros de Jesus, correndo pela casa; Jesus montou o raio de sol e, colocando suas vestes em cima dele, sentou-se como se estivesse acomodado sobre uma firmíssima viga. Ao ver isso, seus companheiros pensaram que seriam capazes de fazer o mesmo. E tentaram subir para sentar-se com Jesus, imitando-lhe o jogo. Mas despencaram gritando: "Estamos nos fazendo em pedaços". Jesus, porém, atendendo aos rogos de Maria e de José, pôs-se a curar as lesões de todos os feridos soprando levemente no lugar machucado, dizendo: "O Espírito assopra onde quer e devolve a saúde a quem lhe apraz". E todos foram embora curados. E contaram todas estas coisas a seus pais, sendo o fato conhecido em Jerusalém e nos mais remotos confins de Judá. Com o que a fama de Jesus estendeu-se por todas as províncias. E vieram para render-lhe graças e serem, por sua vez, abençoados por ele. E lhe disseram: "Bem-aventurado o ventre que te carregou e os seios que te amamentaram".
José e Maria deram graças a Deus por todas as coisas que haviam visto e ouvido.
7 Numa outra ocasião, Maria disse ao seu filho: "Olha, filho, vai à fonte de Gabriel, tira água e traze-a neste cântaro". E submisso às ordens da mãe, foi. E os meninos da sua idade seguiam-no para vê-lo, levando cada um o seu cântaro. E, já de volta, Jesus jogou com força o seu cântaro contra uma rocha que havia no caminho, sem que se rompesse ou produzisse muito barulho. Ao ver isto os demais fizeram a mesma coisa com os seus, quebrando cada um o seu cântaro e derramando a água que haviam ido buscar na fonte. Então sobreveio um tumulto e levantaram-se queixas, mas Jesus recolheu os fragmentos, recompôs os vasilhames e devolveu-os a cada um cheios de água. E elevou seus olhos ao céu, dizendo: "Pai, desta mesma maneira hão de ser consertados os homens que confusos pereceram". Ficaram todos estupefatos diante daquele feito e diante daquelas palavras e o louvaram dizendo: "Bendito o que vem em nome do Senhor. Amém".


A História de José Carpinteiro

ASSIM JOSÉ, o Carpinteiro, pai de Cristo segundo a carne, abandonou esta vida mortal e viveu cento e doze anos. Quando nosso Salvador contou toda a sua vida aos apóstolos, reunidos no monte das Oliveiras, eles escreveram as suas palavras, e depois guardaram-nas na biblioteca de Jerusalém, e além disso, deixaram consignado que o dia no qual o santo ancião separou-se do seu corpo foi o dia 26 de Epep, na paz do Senhor. Amém.
Capítulo 1
1 E estava um dia nosso bom Salvador no monte das Oliveiras com os discípulos à sua volta e dirigiu-se a eles com estas palavras: "Meus queridos irmãos, filhos de meu amado Pai, escolhidos por Ele entre todos do mundo!
2 Bem sabeis o que tantas vezes vos repeti: é necessário que eu seja crucificado e que experimente a morte; que ressuscite de entre os mortos; que vos transmita a mensagem do Evangelho para que vós, de vossa parte, o pregueis por todo o mundo; que eu faça descer sobre vós uma força do alto, a qual vos impregnará com o Espírito Santo; e que vós, finalmente, pregueis para todas as pessoas desta maneira: `Fazei penitência'.
3 Porque vale mais um copo de água na vida vindoura que todas as riquezas deste mundo;
4 e vale mais pôr somente o pé na casa de meu Pai que toda a riqueza deste mundo;
5 e mais ainda: vale mais uma hora de regozijo para os justos que mil anos para os pecadores, durante os quais hão de chorar e lamentar, sem que ninguém preste atenção nem console seus gemidos.
6 Quando, pois, meus queridos amigos, chegue a hora de ir-vos, pregai, que meu Pai exigirá contas com balança justa e equilibrada e examinará até as palavras inúteis que possais haver dito.
7 Assim como ninguém pode escapar à mão da morte, da mesma maneira\ninguém pode subtrair-se de seus próprios atos, sejam eles bons ou maus.
8 Além disso, vos tenho dito muitas vezes, e repito agora, que nenhum forte poderá salvar-se por sua própria força e nenhum rico pelo tamanho da sua riqueza.
9 E agora, escutai, que narrar-vos-ei a vida de meu pai José, o abençoado ancião carpinteiro.
Capítulo 2
1 "Havia um homem chamado José que veio de Belém, essa vila judia que é a cidade do rei Davi.
2 Impunha-se pela sua sabedoria e pelo seu oficio de carpinteiro.
3 Este homem, José, uniu-se em santo matrimônio com uma mulher que lhe deu filhos e filhas: quatro homens e duas mulheres, cujos nomes eram: Judas e Josetos, Tiago e Simão; suas filhas chamavam-se Lísia e Lídia.
4 E a esposa de José morreu, como está determinado que aconteça a todo homem, deixando seu filho Tiago ainda menino de pouca idade.
5 José era um homem justo e dava graças a Deus em todos os seus atos. Costumava viajar para fora da cidade com freqüência para exercer o oficio de carpinteiro em companhia de seus dois filhos, já que vivia do trabalho de suas mãos conforme o que estabelecia a lei de Moisés.
6 Este homem justo, de quem estou falando, é José,meu pai segundo a carne, com quem se casou na qualidade de consorte, minha mãe, Maria.
Capítulo 3
1 "Enquanto meu pai José permanecia viúvo, minha mãe, a boa e bendita entre as mulheres, vivia por sua parte no templo servindo a Deus em toda a santidade, e havia já completado doze anos. Passara os seus três primeiros anos na casa de seus pais, e os nove restantes no templo do senhor.
2 E, ao ver que a santa donzela levava uma vida simples e plena de temor a Deus, os sacerdotes conversaram entre si e disseram: `Busquemos um homem de bem e celebremos o casamento com ele até que chegue o momento de seu matrimônio, que não seja por descuido nosso que lhe sobrevenha o período de sua purificação no templo, nem que venhamos a incorrer num pecado grave.
Capítulo 4
1 "Convocaram então as tribos de Judá e escolheram entre elas doze homens correspondendo ao número das doze tribos.
2 A sorte recaiu sobre o bom velho José, meu pai segundo a carne.
3 Disseram, então, os sacerdotes à minha mãe, a Virgem: Vai com José e permanece submissa a ele até que chegue a hora de celebrar teu matrimônio.
4 Então José levou Maria, minha mãe, para sua casa. Ela encontrou o pequeno Tiago na triste condição de órfão e o cobriu de carinhos e cuidados. Esta foi a razão pela qual a chamaram Maria a mãe de Tiago.
5 Então, depois de tê-la acomodado em sua casa, José partiu para o local onde exercia o ofício de carpinteiro.
6 E minha mãe Maria viveu dois anos em sua casa até que chegou o feliz momento.
Capítulo 5
1 "E no décimo quarto ano de idade Eu, Jesus, Vossa Vida, vim habitar nela por meu próprio desejo.
2 E aos três meses de gravidez o solícito José voltou de suas ocupações. Porém, ao encontrar minha mãe grávida, presa à turbação e ao medo, pensou secretamente em abandoná-la. E foi tão grande o desgosto, que não quis comer nem beber naquele dia.
Capítulo 6
1 "Eis, porém, que durante a noite, mandado por meu Pai, Gabriel, o arcanjo da alegria, lhe apareceu numa visão e lhe disse: 'José, filho de Davi, não tenhas cuidado em admitir Maria, tua esposa, em tua companhia. Saberás que o que foi concebido em seu ventre é fruto do Espírito Santo.
2 Dará, então, à luz um filho, a quem tu porás o nome de Jesus. Ele apascentará os povos com o cajado de ferro'.
3 Finalmente o anjo desapareceu. E José, voltando do sono, cumpriu o que lhe havia sido ordenado, admitindo Maria consigo.
Capítulo 7
1 "E então o imperador Augusto fez proclamar que todos deveriam comparecer ao recenseamento, cada um conforme seu lugar de origem.
2 Também o bom velho se pôs a caminho e levou Maria, minha virgem mãe, até a sua cidade de Belém. E, como o par-to já estava próximo, ele fez o escriba anotar seu nome da seguinte maneira: 'José, filho de Davi; Maria, sua esposa, e seu filho Jesus, da tribo de Judá'.
3 E Maria, minha mãe, trouxe-me ao mundo quando retomava de Belém, perto do túmulo de Raquel, a mulher do patriarca Jacó, a mãe de José e Benjamim.
Capítulo 8
1 "Satanás deu um conselho a Herodes o Grande, pai de Arquelau, aquele que fez decapitar meu querido parente João.
2 E assim ele me procurou para tirar-me a vida, porque pensava que meu reino era deste mundo.
3 Meu Pai manifestou isto a José numa visão, e este pos-se imediatamente em fuga levado consigo a mim e à minha mãe, em cujos braços eu ia deitado. Salomé também nos acompanhava. Descemos, então, até o Egito e ali permanecemos por um ano, até que o corpo de Herodes foi presa da corrupção como castigo justo pelo sangue dos inocentes que ele havia derramado, e dos quais já nem se lembrava.
Capítulo 9
1 "Quando o iníquo Herodes deixou de existir, voltamos a Israel e fomos viver em uma vila da Galiléia chamada Nazaré.
2 E meu pai José, o bendito ancião, continuava exercendo o oficio de carpinteiro, graças ao quê podíamos viver. Jamais poder-se-á dizer que ele comeu seu pão de graça, mas sim que se conduzia de acordo com o prescrito na lei de Moisés.
Capítulo 10
1 "E, depois de tanto tempo, seu corpo não se mostrava doente, nem tinha a vista fraca, nem havia sequer um só dente estragado em sua boca. Nunca lhe faltou a sensatez e a prudência e sempre conservou intacto o seu sadio juízo, mesmo já sendo um venerável ancião de cento e onze anos.
Capítulo 11
1 "Seus dois filhos mais velhos, Josetos e Simão, casaram-se e foram viver em seus próprios lares. Da mesma forma suas duas filhas se casaram, como é natural entre os homens, e José ficou com o seu pequeno filho Tiago.
2 Eu, de minha parte, desde que minha mãe me trouxe a este mundo, estive sempre submisso a ele como um menino, e fiz o que é natural entre os homens, exceto pecar.
3 Chamava Maria de 'minha mãe' e José 'meu pai'. Obedecia-os em tudo o que me pediam, sem ter jamais me permitido replicar-lhes com uma palavra, mas sim mostrar-lhes sempre um grande carinho.
Capítulo 12
1 "Chegou, porém, para meu pai José a hora de abandonar este mundo, que é a sorte de todo homem mortal.
2 Quando seu corpo adoeceu, veio um anjo anunciar-lhe: 'Tua morte dar-se-á neste ano'.
3 E, sentindo sua alma cheia de turbação, ele fez uma viagem até Jerusalém, entrou no templo do Senhor, humilhou-se diante do altar e orou desta maneira:
Capítulo 13
1 O Deus, pai de toda misericórdia e Deus de toda carne, Senhor da minha alma, de meu corpo e do meu espírito!
2 Se é que já se cumpriram todos os dias da vida que me deste neste mundo, rogo-te, Senhor Deus, que envies o arcanjo Michael para que fique do meu lado até que minha desditada alma saia do corpo sem dor nem turbação.
3 Porque a morte é para todos causa de dor e turbação, quer se trate de um homem, de um animal doméstico ou selvagem, ou ainda de um verme ou um pássaro;
4 em uma palavra, é muito dolorosa para todas as criaturas que vivem sob o céu e que alentam um sopro de espírito para suportar o transe de ver sua alma separada de seu corpo.
5 Agora, então, meu Senhor, faz com que o teu anjo fique do lado da minha alma e do meu corpo, que esta recíproca separação se consuma sem dor.
6 Não permitas que aquele anjo que me foi dado no dia em que saí de teu seio volte seu rosto irado para mim ao longo deste caminho que empreendo até vós, mas sim que ele se mostre amável e pacífico.
7 Não permitas que aqueles cujas faces mudam dificultem a minha ida até vós.
8 Não consintas que minha alma caia em mãos do Cérbero e não me confundas em teu formidável tribunal.
9 Não permitas que as ondas deste rio de fogo, nas quais serão envolvidas todas as almas antes de ver a glória de teu rosto, voltem-se furiosas contra mim.
10 Oh Deus! que julgais a todos na Verdade e na Justiça, Oxalá tua misericórdia sirva-me agora de consolo, já que sois a fonte de todos os bens, e a ti se deve toda a glória pela eternidade das eternidades! Amém.'
Capítulo 14
1 "E aconteceu que, ao voltar à sua residência habitual de Nazaré, viu-se atacado pela doença que havia de levá-lo ao túmulo.
2 Esta apresentou-se de forma mais alarmante do que em qualquer outra ocasião de sua vida, desde o dia em que nasceu.
3 Eis aqui, resumida, a vida de meu querido pai José:
4 Ao chegar aos quarenta anos, contraiu matrimônio, no qual viveu outros quarenta e nove. Depois que sua mulher morreu, passou somente um ano.
5 Minha mãe logo passou dois anos em sua casa, depois que os sacerdotes confiaram-na com estas palavras: 'Guarda-a até o tempo em que se celebre vosso matrimônio'.
6 Ao começar o terceiro ano de sua permanência ali — tinha nessa época quinze anos de idade — trouxe-me ao mundo de um modo misterioso, que ninguém entre toda a criação pode conhecer, com exceção de mim, meu Pai e o Espírito Santo, que formamos uma unidade.
Capítulo 15
1 "A vida de meu pai José, o abençoado ancião, compreendeu cento e onze anos, conforme determinara meu bom Pai.
2 O dia em que se separou do corpo foi o dia 26 do mês de Epep.
3 Então o ouro acentuado de sua carne começou a desfazer-se, e a prata da sua inteligência e razão sofreu alterações.
4 Esqueceu-se de comer e de beber, e a destreza no desempenho de seu oficio passou a declinar.
5 E aconteceu que, ao amanhecer do dia 26 de Epep, enquanto estava em seu leito foi tomado de uma grande agitação: gemeu forte, bateu palmas três vezes e, fora de si, pôs-se a gritar dizendo:
Capítulo 16
1 'Ai miserável de mim! Ai do dia em que minha mãe trouxe-me ao mundo!
2 Ai do seio materno do qual recebi o germe da vida! Ai dos peitos que me amamentaram!
3 Ai do regaço em que me reclinei! Ai das mãos que me sustentaram até o dia em que cresci e comecei a pecar!
4 Ai de minha língua e de meus lábios que proferiram injúrias, enganos, infâmias e calúnias!
5 Ai dos meus olhos, que viram o escândalo!
6 Ai dos meus ouvidos que escutaram conversações frívolas!
7 Ai das minhas mãos que subtraíram coisas que não lhes pertenciam!
8 Ai do meu estômago e do meu ventre que ambicionaram o que não era deles! Quando alguma coisa lhes era apresentada, devoravam-na com mais avidez do que poderia fazê-lo o próprio fogo.
9 Ai dos meus pés que fizeram um mau serviço ao meu corpo, já que o levaram por maus caminhos!
10 Ai do meu corpo todo que deixou a minha alma reduzida a um deserto, afastando-a de Deus que a criou!
11 Que farei agora? Não encontro saída em parte alguma.
12 Em verdade é que pobres dos homens que são pecadores!
13 Esta é a angústia que se apoderou de meu pai Jacob em sua agonia, a qual veio hoje a ter comigo, infeliz.
14 Mas oh Senhor, meu Deus, que és o mediador de minha alma e de meu corpo e de meu espírito, cumpre em mim a tua divina vontade.'
Capítulo 17
1 "Quando terminou de dizer essas palavras, entrei no local onde ele se encontrava e ao vê-lo agitado de corpo e de alma, disse-lhe: `Salve, José, meu querido pai, ancião bom e abençoado'.
2 Ele respondeu, ainda tomado por um medo mortal: 'Salve mil vezes, querido filho. Ao ouvir tua voz, minha alma recupera sua tranqüilidade.
3 Jesus, meu Senhor; Jesus, meu verdadeiro rei, meu salvador bom e misericordioso; Jesus, meu libertador; Jesus, meu guia; Jesus, meu protetor; Jesus, em cuja bondade encontra-se tudo; Jesus, cujo nome é suave e forte na boca de todos; Jesus, olho que vê e ouvido que ouve verdadeiramente: escuta-me hoje, teu servidor, quando elevo meus rogos e verto meus lamentos diante de ti.
4 Em verdade tu és Deus. Tu és o Senhor, conforme me tem repetido muitas vezes o anjo, sobretudo naquele dia em que suspeitas humanas se aninharam em meu coração ao observar os sinais de gravidez da Virgem sem mácula, e eu havia decidido abandoná-la.
5 Mas, quando eu estava pensando nisto, um anjo apareceu-me em sonhos e me disse: José, filho de Davi, não tenhas receio em receber Maria como esposa, pois o que há de dar à luz é luto do Espírito Santo.
6 Não guardes suspeita alguma a respeito de sua gravidez. Ela trará ao mundo um filho e tu dar-lhe-ás o nome de Jesus'.
7 Tu és Jesus Cristo, o salvador da minha alma, de meu corpo e de meu espírito. Não me condenes, teu servo e obra de tuas mãos.
8 Eu não sabia nem conhecia o mistério de teu maravilhoso nascimento e jamais havia ouvido que uma mulher pudesse conceber sem a obra de um homem e que uma virgem pudesse dar à luz sem romper o selo de sua virgindade.
9 Oh meu Senhor! Se não tivesse conhecido a lei deste mistério, não teria acreditar em ti, nem em teu santo nascimento, nem rendido honras a Maria, a Virgem, que te trouxe a este mundo.
10 Recordo ainda aquele dia em que um menino morreu por causa da mordida de uma serpente.
11 Seus familiares vieram a ti com intenção de entregar-te a Herodes.
12 Mas tua misericórdia alcançou a pobre vítima e lhe devolveste a vida para dissipar aquela calúnia que te faziam, como causador da sua morte. Pelo que houve uma grande alegria na casa do defunto.
13 Então eu te peguei pela orelha e te disse: 'Não sejas imprudente, meu filho'.
14 E tu me ameaçaste desta maneira: 'Se não fosses meu pai segundo a carne, dar-te-ia a entender que é isto o que acabas de fazer'.
15 Sim, pois, ó meu Senhor e Deus, esta é a razão pela qual vieste em tom de juízo e pela qual permitiste que recaíssem sobre mim estes terríveis presságios, suplico-te que não me coloques diante do teu tribunal para lutar comigo.
16 Eis que eu sou teu servo e filho de tua escrava.
17 Se houveres por bem romper meus grilhões, oferecer-te-ei um santo sacrifício, que não será outro senão a confissão da tua divina glória, de que tu és Jesus Cristo, filho verdadeiro de Deus e, por outro lado, filho verdadeiro do homem'.
Capítulo 18
1 "Quando meu pai disse estas palavras, eu não pude conter as lágrimas e me pus a chorar, vendo como a morte vinha apoderando-se dele pouco a pouco e ouvindo, sobretudo, as palavras cheias de amargura que saíam da sua boca.
2 Naquele momento, meus queridos irmãos, veio-me ao pensamento a morte na cruz que haveria de sofrer pela vida de todo mundo.
3 E então Maria, minha querida mãe, cujo nome é doce para todos os que me amam, levantou-se e disse-me, tendo seu coração inundado na amargura: 'Ai de mim, filho querido! Então está à morte o bom e abençoado ancião José, teu pai querido e adorado?'
4 Eu lhe respondi: 'Oh, minha mãe querida! E quem entre os humanos ver-se-á livre da necessidade de ter de encarar a morte?
5 Esta é dona de toda a humanidade, oh, mãe bendita!
6 E mesmo tu hás de morrer como todos os outros homens.
7 Mas nem tua morte nem a de meu pai José pode chamar-se propriamente morte, mas vida eterna ininterrupta.
8 Também eu hei de passar por este transe por causa da carne mortal com a qual estou revestido.
9 Agora, porém, mãe querida, levanta-te e vai até onde está o abençoado ancião José para que possas ver o lugar que o aguarda lá no alto'.
Capítulo 19
1 "Levantou-se, então, entrou no local onde ele se encontrava e pôde apreciar os sinais evidentes da morte que já se refletiam nele.
2 Eu, meus queridos, postei-me em sua cabeceira, e minha mãe aos seus pés.
3 Ele fixava seus olhos no meu rosto, sem poder sequer dirigir-me uma palavra, já que a morte apoderava-se dele pouco a pouco.
4 Então, elevou seu olhar até o alto e deixou escapar um forte gemido.
5 Eu segurei suas mãos e seus pés durante um longo tempo, e ele me olhava suplicando-me que não o abandonasse nas mãos dos seus inimigos.
6 Eu coloquei minha mão sobre seu peito e notei que sua alma já havia subido até a sua garganta para deixar seu corpo. Mas ainda não havia chegado o momento supremo da morte, caso contrário, não teria podido agüentar mais. Não obstante, as lágrimas, a comoção e o abatimento que sempre a precedem já se faziam presentes.
Capítulo 20
1 "Quando minha mãe querida viu-me apalpar o seu corpo, quis ela de sua parte apalpar os pés, e notou que o alento havia fugido juntamente com o calor.
2 Então dirigiu-se a mim e disse-me ingenuamente: 'Obrigada, filho querido, pois desde o momento em que puseste tua mão sobre seu corpo, a febre o abandonou.
3 Vê, seus membros estão frios como o gelo'.
4 Eu chamei os seus filhos e filhas e lhes disse: `Falai agora com vosso pai, que este é o momento de fazê-lo, antes que sua boca deixe de falar e seu corpo fique hirto'.
5 E seus filhos e filhas falaram com ele. Mas sua vida estava minada por aquela doença mortal que provocaria sua saída deste mundo.
6 Então Lísia, filha de José, levantou-se para dizer aos seus irmãos: 'Juro, queridos irmãos, que esta é a mesma doença que derrubou a nossa mãe e que não voltou a aparecer por aqui até agora.
7 O mesmo acontece com o nosso pai José, para que não voltemos a vê-lo senão na eternidade".
8 Então os filhos de José irromperam em lamentos, Maria, minha mãe, e eu, de nossa parte, unimo-nos ao seu pranto pois, efetivamente, já havia chegado a hora da sua morte.
Capítulo 21
1 "Pus-me a olhar para o sul e vi a morte dirigir-se à nossa casa. Vinha seguida de Amenti, que é seu satélite, e do Diabo, a quem acompanhava uma multidão de esbirros vestidos de fogo, cujas bocas vomitavam fumaça e enxofre.
2 Ao levantar os olhos, meu pai deparou-se com aquele cortejo que o olhava com rosto colérico e raivoso, do mesmo modo que costuma olhar todas as almas que saem do corpo, particularmente aquelas que são pecadoras e que considera como propriedade sua.
3 Diante da visão deste espetáculo, os olhos do bom velho anuviaram-se de lágrimas.
4 Foi este o momento em que meu pai exalou sua alma com um grande suspiro, enquanto procurava encontrar um lugar onde se esconder e salvar-se.
5 Quando observei o suspiro de meu pai, provocado pela visão daquelas forças até então desconhecidas para ele, levantei-me rapidamente e expulsei o Diabo e todo seu cortejo.
6 E eles fugiram envergonha dos e confusos.
7 E ninguém entre os presentes, nem mesmo minha própria mãe Maria, apercebeu-se da presença daqueles terríveis esquadrões que saem à caça de almas humanas.
8 Quando a morte percebeu que eu havia expulsado e mandado embora as potestades infernais, para que não pudessem espalhar armadilhas, encheu-se de pavor.
9 Levantei-me apressadamente e dirigi esta oração a meu Pai, o Deus de toda misericórdia:
Capítulo 22
1 'Meu Pai misericordioso, Pai da verdade, olho que vê e ouvido que ouve: escuta-me, que eu sou teu filho querido; peço-te por meu pai José, a obra de vossas mãos. Envia-me um grande coro de anjos juntamente com Michael, o administrador dos bens, e com Gabriel, o bom mensageiro da luz, para que acompanhem a alma de meu pai José até que se tenha livrado do sétimo éon tenebroso. De forma que não se veja forçado a empreender esses caminhos infernais, terríveis para o viajante por estarem infestados de gênios malignos e saqueadores, e por ter de atravessar esse lugar espantoso por onde corre um rio de fogo igual às ondas do mar.
2 Sede, além disso, piedoso para com a alma de meu pai José quando ela vier repousar em vossas mãos, pois é este o momento em que mais necessita da tua misericórdia'.
3 Eu vos digo, veneráveis irmãos e abençoados apóstolos, que todo homem que, chegando a discernir entre o bem e o mal, tenha consumido seu tempo seguindo a fascinação dos seus olhos, quando chegue a hora de sua morte e tenha de libertar o passo para comparecer diante do tribunal terrível e fazer sua própria defesa, ver-se-á necessitado da piedade de meu bom Pai.
4 Continuemos, porém, relatando o desenlace de meu pai, o abençoado ancião.
Capítulo 23
1 "E quando eu disse amém, Maria, minha mãe, respondeu na língua falada pelos habitantes do céu.
2 E no mesmo instante Michael, Gabriel e anjos, em coro, vindos do céu, voaram sobre o corpo de meu pai José.
3 Em seguida, intensificaram-se os lamentos próprios da morte, e soube então que havia chegado o momento desolador.
4 Sofria meu pai dores parecidas com as de uma mulher no parto, enquanto que a febre o castigava da mesma maneira que um forte furacão ou um imenso fogo devasta um espesso bosque.
5 A morte, cheia de medo, não ousava lançar-se sobre o corpo de meu pai para separá-lo da alma, pois seu olhar havia dado comigo, que estava sentado à sua cabeceira com as mãos sobre suas têmporas.
6 E, quando me apercebi de que a morte tinha medo de entrar por minha causa, levantei-me, dirigi meus passos até o lado de fora da porta e encontrei-a só e amedrontada, em atitude de espera.
7 Eu disse-lhe: 'á tu, que vens do Meio-dia, entra rapidamente e cumpre o que ordenou-te meu Pai.
8 Porém, guarda José como a menina dos teus olhos, posto que é meu pai segundo a carne e compartilhou a dor comigo durante os anos da minha infância, quando teve de fugir de um lado para outro por causa das maquinações de Herodes, e ensinou-me como costumam fazer os pais para o proveito dos seus filhos'.
9 Então Abbadão entrou, tomou a alma de meu pai José e separou-a do corpo no mesmo instante em que o sol fazia sua aparição no horizonte, no dia 26 do mês de Epep, em paz.
10 A vida de meu pai compreendeu cento e onze anos.
11 Michael e Gabriel pegaram cada qual em um extremo de um pano de seda e nele depositaram a alma de meu que-rido pai José depois de tê-la beijado reverentemente.
12 Enquanto isso, nenhum dos que rodeavam José havia percebido a sua morte, nem sequer minha mãe Maria.
13 Eu confiei a alma do meu querido pai José a Michael e Gabriel, para que a guardassem contra os raptores que saqueiam pelo caminho, e encarreguei os espíritos incorpóreos de continuarem cantando canções até que, finalmente, depositaram-no junto a meu Pai no céu.
Capítulo 24
1 "Então inclinei-me sobre o corpo inerte de meu pai. Cerrei seus olhos, fechei sua boca e levantei-me para contemplá-lo.
2 Depois disse à Virgem: 'á Maria, minha mãe, onde estão os objetos de artesanato feitos por ele desde sua infância até hoje? Neste momento todos eles passaram, como se ele não tivesse sequer vindo a este mundo'.
3 Quando seus filhos e filhas ouviram-me dizer isto a Maria, minha mãe virginal, perguntaram-me com vozes fortes e lamentos: 'Será que nosso pai morreu sem que nós nos apercebêssemos?'
4 Eu lhes disse: 'Efetivamente, morreu; mas sua morte não é morte, porém vida eterna.
5 Grandes coisas esperam nosso querido pai José. Desde o momento em que sua alma saiu do seu corpo, desapareceu para ele toda espécie de dor. Ele se pôs a caminho do reino eterno, deixou atrás de si o peso da carne, com todo este mundo de dor e de preocupações, e foi para o lugar de repouso que tem meu Pai nesses céus que nunca serão destruídos.
 6 Mas ao dizer a meus irmãos: 'Vosso pai José, o abençoado ancião, morreu', eles levantaram-se, rasgaram suas vestes e o choraram durante um longo tempo.
Capítulo 25
1 "Quando os habitantes de Nazaré e de toda a Galiléia enteiraram-se da triste nova, acudiram em massa ao lugar onde nos encontrávamos. De acordo com a lei dos judeus, passaram todo o dia dando sinais de luto até que chegou a nona hora.
2 Então despedi todos, derramei água sobre o corpo de meu pai José, ungi-o com bálsamo e dirigi ao meu Pai amado, que está nos céus, uma oração celestial que havia escrito com meus próprios dedos antes de encarnar-me nas entranhas da Virgem Maria.
3 E ao dizer' Amém' veio uma multidão de anjos. Mandei que dois deles estendessem um manto para depositar nele o corpo de meu pai José para que o amortalhassem.
Capítulo 26
1 "Pus então minhas mãos sobre o seu corpo e disse: `Não serás vítima da fetidez da mor te. Que teus ouvidos não sofram corrupção. Que não emane podridão de teu corpo. Que não se perca na terra a tua mortalha nem a tua carne, mas que fiquem intactas, aderidas ao teu corpo até o dia do convite dos dois mil anos. Que não envelheçam, querido pai, esses cabelos que tantas vezes acariciei com minhas mãos. E que a boa sorte esteja contigo.
2 Aquele que se preocupar em levar uma oferenda ao teu santuário no dia de tua comemoração, eu o abençoarei com afluxos de dons celestiais.
3 Assim mesmo, a todo aquele que der pão a um pobre em teu nome, não permitirei que se veja agoniado pela necessidade de quaisquer bens deste mundo durante todos os dias de sua vida.
4 Conceder-te-ei que possas convidar ao banquete dos mil anos a todos aqueles que no dia de tua comemoração ponham um copo de vinho na mão de um forasteiro, de uma viúva ou de um órfão.
5 Hei de dar-te de presente, enquanto vivam neste mundo, a todos os que se dediquem a escrever o livro da tua saída deste mundo e a consignar todas as palavras que hoje saíram de minha boca; e, quando abandonarem este mundo, farei com que desapareça o livro no qual estão escritos seus pecados e que não sofram nenhum tormento, além da inevitável morte e do rio de fogo que está diante do meu Pai para purificar toda a espécie de almas.
6 E se acontecer que um pobre, não podendo fazer nada do que foi dito, ponha o nome de José em um de seus filhos em tua honra, farei com que naquela casa não entre a fome nem a peste, pois o teu nome habita ali de verdade'.
Capítulo 27
1 "E então os anciãos da cidade apresentaram-se na casa enlutada acompanhados daqueles que procediam ao sepultamento à maneira judia.
2 E encontraram o cadáver já preparado para o enterro. A mortalha se havia aderido fortemente ao seu corpo, como se a houvessem atado com grampos de ferro, e não puderam encontrar sua abertura quando removeram o cadáver.
3 Em seguida, passou. se a conduzir o morto até seu túmulo.
4 E quando chegaram até ele e estavam já preparados para abrir sua entrada e colocá-lo junto aos restos de seu pai, veio-me à mente a lembrança do dia em que me levou até o Egito e das grandes preocupações que assumiu por mim, não pude deixar de atirar-me sobre o seu corpo e chorar por um longo tempo, dizendo:
Capítulo 28
1 'Ah morte, de quantas lágrimas e lamentos és causa! Esse poder, porém, vem d'Aquele que tem sob o seu domínio todo o universo.
2 Por isso tal reprovação não vai tanto contra a morte senão contra Adão e Eva.
3 A morte não atua nunca sem uma prévia ordem de meu Pai.
4 Existem aqueles que viveram mais de novecentos anos e outros ainda muito mais tempo.
5 Entretanto, nenhum deles disse: 'Eu vi a morte' ou 'vinha de tempos em tempos atormentar-me'.
6 Senão que ela traz uma só vez a dor, e ainda assim é meu bom Pai quem a envia.
7 E, quando vem em busca do homem, ela sabe que tal resolução provém do céu.
8 Se a sentença vem carregada de raiva, a morte também se manifesta colérica para cumprir sua incumbência, pegando a alma do homem e entregando-a ao seu Senhor.
9 A morte não tem atribuições para atirar o homem ao inferno nem para introduzi-lo no reino celestial.
10 A morte cumpre de fato a missão de Deus, ao contrário de Adão, que, ao não submeter-se à vontade divina, come-teu uma transgressão. Ele irritou meu Pai contra si por haver preferido dar ouvidos à sua mulher antes de obedecer à sua missão, e assim todo ser vivo ficou implacavelmente conde-nado à morte.
11 Se Adão não houvesse sido desobediente, meu Pai não o teria castigado com esta terrível sina.
12 O que impede agora que eu faça uma oração ao meu bom Pai para que envie um grande carro luminoso para elevar José, a fim de que não prove das amarguras da morte e que o transporte ao lugar de repouso, na mesma carne que trouxe ao mundo, para que ali viva com meus anjos incorpóreos?
13 A transgressão de Adão foi a causa de sobrevirem esses grandes males sobre a humanidade juntamente com o irremediável da morte.
14 E embora eu mesmo carregue também esta carne concebida na dor, devo provar com ela da morte para que possa apiedar-me das criaturas que formei'.
Capítulo 29
1 "Enquanto eu dizia essas coisas abraçadas ao corpo de meu pai José e chorando sobre ele,
2 abriram a entrada do sepulcro e depositaram o cadáver junto ao de seu pai Jacob.
3 Sua vida foi de cento e onze anos, sem que ao fim de tanto tempo um só dente tivesse ficado estragado em sua boca ou sem que seus olhos se tornassem fracos, senão que todo o seu aspecto assemelhava-se ao de um afetuoso menino.
4 Nunca esteve doente, senão que trabalhou continua-mente em seu oficio de carpinteiro até o dia que sobreveio a doença que haveria de levá-lo ao sepulcro."
Capítulo 30
1 E quando nós, os apóstolos, ouvimos tais coisas dos lábios de nosso Salvador, pusemo-nos em pé cheios de prazer e passamos a adorar suas mãos e seus pés, dizendo com o êxtase da alegria: "Damos-te graças, nosso Senhor e Salvador, por te haveres dignado a presentearmos com essas palavras saídas de teus lábios.
2 Mas não deixamos de admirar, ó bom Salvador, pois não entendemos como, havendo concedido a imortalidade a Elias e a Enoque, já que estão desfrutando dos bens na mesma carne com que nasceram sem que tenham sido vítimas da corrupção,
3 e agora, tratando-se do bendito ancião José o Carpinteiro, a quem concedeste a grande honra de chamá-lo teu pai e de obedecê-lo em todas as coisas, a nós mesmos nos encarregaste: 'Quando fordes revestidos da mesma força recebereis a voz de meu Pai, isto é, o Espírito Parácleto, e sereis enviados para pregar o evangelho, e pregai também ao meu querido pai José';
4 e, ainda: 'Consignai estas palavras de vida no testamento de sua partida deste mundo';
5 e 'lê as palavras deste testamento nos dias solenes e festivos';
6 e 'quem não tiver aprendido a ler corretamente, não deve ler este testamento nos dias festivos';
7 e, finalmente, 'quem suprimir ou adicionar algo a estas palavras de maneira a fazer-me embusteiro, será réu de minha vingança'.
8 Admira-nos, repetimos, aquele que, havendo chamado teu pai segundo a carne desde o dia em que nasceste em Belém, não lhe tenhas concedido a imortalidade para viver eternamente".
Capítulo 31
1 Nosso Salvador respondeu dizendo-lhes: "A sentença pronunciada por meu Pai contra Adão não deixará de ser cumprida, já que este não foi obediente aos mandamentos.
2 Quando meu Pai destina a alguém ser justo, este vem a ser imediatamente o seu eleito.
3 Se um homem ofende a Deus por amar as obras do demônio, acaso ignora que um dia virá a cair em suas mãos se seguir impenitente, mesmo se lhe concederem longos dias de vida?
4 Se, ao contrário, alguém vive muito tempo fazendo sempre boas obras, serão exata-mente elas que o farão velho.
5 Quando Deus vê que alguém segue o caminho da perdição, costuma conceder-lhe um curto prazo de vida e o faz desaparecer na metade dos seus dias.
6 Quanto aos demais, hão de ter o exato cumprimento das profecias ditadas por meu Pai acerca da humanidade, e todas as coisas hão de suceder de acordo com elas.
7 Haveis citado o caso de Enoque e de Elias: `Eles', dizeis, 'continuam vivendo e conservam a carne que trouxeram a este mundo; por que, então, em se tratando de teu pai, não lhe permitiste conservar seu corpo?'
8 Então eu digo que, mesmo que houvesse chegado a ter mais dez mil anos, sempre incorreria na mesma necessidade de morrer.
9 Mais ainda, eu asseguro que sempre que Enoque e Elias pensam na morte, desejariam já havê-la sofrido a verem-se assim, livres da necessidade que lhes é imposta, já que deverão morrer num dia de turbação, de medo, de gritos, de perdição e de aflição.
10 Pois haveis de saber que o anticristo há de matar estes homens e derramar seu sangue na terra como a água de um copo por causa das incriminações que lhe imputarão quando os acusarem".
Capítulo 32
1 Nós respondemos dizendo: "Nosso Senhor e Deus, quem são esses dois homens dos quais disseste que o filho da perdição matará por um copo de água?"
2 Jesus, nosso Salvador e nossa vida, respondeu: "Enoque e Elias".
3 E, ao ouvir estas palavras da boca de nosso Salvador, se nos encheu o coração de prazer e de alegria. Por isso lhe rendemos homenagens e graças como nosso Senhor, nosso Deus e nosso Salvador, Jesus Cristo, por meio de quem vão para o Pai toda glória e toda honra juntamente com Ele e com o Espírito Santo vivificador, agora, por todo o tempo e pela eternidade das eternidades. Amém. Fim


Livro 6º - Caverna dos Tesouros

Criação do Mundo

 Capítulo 1
COM A GRAÇA de nosso Senhor Jesus, o Messias, iniciamos o livro sobre o desenvolvimento das estirpes, isto é, a "caverna dos tesouros". O livro foi composto pelo senhor Santo Efrém.
2 Senhor! Ampara-me com a tua força! Amém.
3 No princípio, no primeiro dia, no domingo santo, o primogênito de todos os dias, Deus criou o céu e a terra, a água, o ar e a Luz, isto é, os Anjos e os Arcanjos, os Tronos, os Príncipes, as Dominações e as Potestades, os Querubins e Serafins, as ordenações e coortes dos Espíritos, e além disso, as trevas, a luz, a noite, o dia, os ventos e as tempestades. Tudo isso foi criado no primeiro dia.
4 Naquele domingo, pairou sobre as águas o Espírito Santo, uma das Pessoas da Unidade Trina. E em virtude do seu flutuar sobre a superfície da água, esta foi abençoada, de modo a tornar-se geradora. Toda a natureza da água ficou cálida e fervente, e assim foi composto o fermento da Criação.
5 Assim como uma ave transmite o calor às suas crias estendendo sobre elas as suas asas protetoras, de sorte que o calor que elas emanam sobre os ovos possa formar os filhotes assim também, pela força do Espírito Santo, o fermento da Criação foi unido à água, no momento em que Ele, o Parácleto, pairou sobre ela.
6 No segundo dia, Deus criou o céu inferior, e chamou o de firmamento. Isso revela que este não tem a mesma natureza do céu superior, e que a sua aparência difere da do céu acima dele, isto é, do céu superior, de fogo. Aquele segundo céu é feito de luz, e este que se encontra abaixo dele é composto de substância concreta; chama-se firmamento porque possui uma natureza espessa, aquosa.
7 E Deus, no segundo dia separou as águas das águas isto é, as águas superiores das águas inferiores. E no segundo dia, elas levantaram-se para o alto do céu como uma densa massa de névoa; subiu e localizou-se acima do firmamento, no espaço. Mas não se movia nem se derramava para lado algum.
8 No terceiro dia, Deus ordenou às águas abaixo do firmamento que se ajuntassem num lugar, e que aparecesse a parte seca. Quando então a cobertura da água foi retirada da superfície da terra, revelou-se que esta não era consistente e firme, mas sim que possuía uma natureza úmida e flácida.
9 A água então agregou-se nos mares, mas também debaixo da terra, e sobre a terra, e acima da terra. E Deus criou no seio dela corredores, veios e canais, para o fluxo das águas, e também para os vapores que emanam da terra, a partir desses veios e cursos; criou também os calores e os frios, para o melhor benefício da terra. Pois, na sua profundidade, a terra é como uma esponja, porque se apóia sobre as águas.
10 No mesmo terceiro dia, Deus ordenou à terra que fizesse brotar ervas por baixo dela. E assim, no seu seio, ela ficou prenhe de árvores, sementes, plantas e raízes. No terceiro dia, Deus criou o sol, a lua e as estrelas.
11 E quando o calor do sol se estendeu sobre a superfície da terra, esta endureceu a sua moleza, pois foi-lhe retirada a umidade e a fluidez das águas. Quando esquentou o pó da terra, esta fez brotar árvores, plantas, sementes e raízes, que no terceiro dia foram engendradas no seu selo.
12 No quinto dia, Deus deu ordens às águas, e estas produziram toda espécie de peixes possíveis e frutos do mar, as baleias, o Leviatã e outros animais de aparência horrorosa, bem como os pássaros do ar e as aves aquáticas.
13 No mesmo quinto dia, Deus criou da terra todo o gado, os animais selvagens e os animais predadores, cada um segundo a sua espécie.
14 No sexto dia, na sexta-feira, Deus formou Adão do pó da terra, e Eva da sua costela.
15 No sétimo dia, Deus descansou do seu trabalho, e assim esse dia foi chamado Sabbath.
Capítulo 2
A Criação do Homem
1 A criação de Adão ocorreu da seguinte maneira:
2 Quando no sexto dia, sexta-feira, reinava a paz sobre todas as ordenações das Potestades, Deus disse: "Vamos! Façamos o homem à nossa imagem e semelhança!" Com isso Ele dava a existência às excelsas Pessoas.
3 Quando os Anjos escutaram essa palavra, encheram-se de medo e tremor, e disseram entre si: "Hoje veremos um grande prodígio, a forma de Deus, nosso criador". E eles viram a mão direita de Deus estender-se e alongar-se, e tudo o que foi criado abrangeu-se na sua direita.
4 Então eles viram como Ele, de toda a terra, tomou uma pitada de pó, de todas as águas uma gotícula, de todos os ventos um pequeno sopro, e de todo o fogo um diminuto halo de calor. E os anjos viram como esses quatro débeis elementos, frio, calor, secura e umidade, foram depositados no côncavo da sua mão. Então Deus plasmou Adão.
5 Mas com que outro objetivo teria Deus criado Adão desses quatro elementos, a não ser para que todas as coisas do mundo lhe fossem submetidas?
6 Tomou um grãozinho de terra, para que todos os seres que procedem do pó servissem a Adão; uma gota de água, para que tudo o que existe nos mares e nos rios se lhe fosse apropriado; um sopro de vento, para que todas as coisas do ar lhe fossem entregues; e um halo de calor, para que todas as naturezas e forças ígneas estivessem a seu serviço.
7 E Deus plasmou Adão com as suas mãos santas, segundo a sua imagem e semelhança. Quando os Anjos constataram o seu aspecto magnífico, ficaram tocados pela beleza da sua figura. Pois viram que a imagem do seu semblante era luminosa como o brilho do sol, a luz dos seus olhos irradiava raios como a luz solar, e o brilho do seu corpo era como o do cristal.
8 Ele se alongou e pôs-se de pé no centro da terra. E colocou os seus pés naquele mesmo lugar em que foi erguida a cruz do nosso Salvador: daí é que Adão foi criado em Jerusalém. Ali é que ele se revestiu das vestes da realeza; ali foi-lhe colocada a coroa real sobre a cabeça. Ali ele foi constituído rei, sacerdote e profeta; ali Deus fê-lo assentar-se sobre o trono da sua glória. Ali Deus deu-lhe o domínio sobre toda a Criação.
9 Lá reuniram-se todos os animais selvagens, bem como o gado e as aves, e apresentaram-se diante de Adão; então ele deu um nome a cada um e eles curvaram a cabeça diante dele. Todas as espécies respeitavam-no e serviam-no.
10 Os Anjos e as Potestades ouviram a voz de Deus, quando falou a ele: "Adão! Eu te constituí rei, sacerdote e profeta, bem como senhor, chefe e guia de todos os seres vivos e de toda a Criação. Todas as criaturas deverão servir-te como coisa tua; dei-te o domínio sobre tudo o que foi por mim criado".
11 Ao ouvirem essas palavras, os Anjos todos puseram-se de joelhos e o adoraram.
Capítulo 3
Adão e Eva no Paraíso
1 Quando o Chefe da ordem inferior viu a grandeza que foi conferida a Adão, teve inveja dele a partir daquele dia, não quis reverenciá-lo, e falou assim aos seus potentados: "Não o adoreis, nem vos submetais a ele corno os anjos o fizeram! Convém a ele adorar a mim, que persisto na luz e no espírito; não convém a mim adorar o barro, adorar aquele que foi formado de um grãozinho de pó".
2 Assim propôs o Orgulhoso e tornou-se insubmisso; dessa forma, ele afastou-se de Deus, por seu livre-arbítrio. Então ele foi expulso e caiu, ele com todas as suas hostes. A sua queda ocorreu no sexto dia, na segunda hora. Foram-lhe tiradas as vestes da sua glória. O seu nome passou a ser Satanás, porque se apartou; e Scheda, porque foi precipitado; e Daiwa, porque perdeu as vestes da sua glória.
3 A partir daquele dia, até hoje, eles ficaram nus e despidos, com uma aparência horripilante. Enquanto Satã era expulso do céu, Adão era exaltado, sendo levado ao Paraíso num carro de fogo. Aos louvores dos Anjos, às glorificações dos Querubins, aos benditos dos Serafins, Adão deu entrada no Paraíso, sob júbilo e cânticos honoríficos.
4 Quando ele chegou lá no alto, foi-lhe determinado de qual árvore não poderia comer os frutos. A sua ascensão ao Paraíso ocorreu na terceira hora de sexta-feira.
5 Deus então infundiu-lhe um sono, e ele adormeceu. Em seguida, Deus tomou uma das suas costelas do lado do fígado, e com ela formou Eva. Quando, ao acordar, Adão viu Eva, alegrou-se grandemente com ela. Adão e Eva permaneceram por três horas no Paraíso, revestidos de glória e de esplendor.
6 O Paraíso porém situava-se lá no alto, três pés acima das mais altas montanhas, segundo a medida do Espírito. E o profeta Moisés disse: "Deus plantou o Paraíso no meio do Éden, e nele colocou Adão, que Ele havia plasmado". Mas o Éden é a santa Igreja, e a Igreja é a misericórdia de Deus, que Ele guardava preparada para estendê-la a todos os homens.
7 Porquanto Deus soubesse, na sua sabedoria paternal, o que Satã planejava contra Adão, antecipou-se e acolheu Adão no seio da sua misericórdia, segundo d'Ele fala o piedoso Davi no salmo: "O Senhor! Tu te tornaste uma morada para nós, para todo o sempre". Isto é: "Permitiste que morássemos na tua misericórdia".
8 E quando ele suplicava a Deus pela libertação dos homens, dizia: "Recorda-te da tua Igreja, que de antemão fundaste!" Isso quer dizer: Recorda-te da tua misericórdia, que havias preparado, para esparzi-la sobre a nossa fraca geração. O Éden é a santa Igreja, e o Paraíso é o lugar da paz e a herança da vida, que Deus preparou para todos os homens santos.
Capítulo 4
A Tentação do Paraíso
1 Sendo Adão sacerdote, rei e profeta, Deus estabeleceu-o nas alturas do Paraíso, para servir com honra, como o sacerdote na santa Igreja, e de que piedoso Moisés dá testemunho: "Que ele a edifique", a saber, com o serviço sacerdotal e louvores, "e que o guarde", isto é, o Mandamento que lhe foi transmitido pela misericórdia divina. E Deus deixou Adão e Eva morarem no Paraíso.
2 Verdadeira é essa palavra, e anunciadora da verdade: Aquela Árvore da Vida no meio do Paraíso era o prenúncio da cruz da Salvação, a Árvore da Vida propriamente dita, e esta foi erigida no meio da terra.
3 Quando Satã viu que Adão e Eva viviam em esplendor no Paraíso, ele, o Rebelde, ficou dilacerado e morto de inveja. Então introduziu-se na serpente, e nela morou; voou com ela pelo espaço até os limites do Paraíso.
4 Por que introduziu-se na serpente e nela se escondeu? Porque ele sabia que o seu aspecto era horripilante. Se Eva tivesse visto a sua aparência, teria dele fugido imediatamente. Quando alguém deseja ensinar o grego a um pássaro, busca um espelho grande e coloca-o entre si e a ave; começa então a falar com ela. Tão logo a ave escuta a sua voz, volta-se para trás, e vê a sua própria imagem no espelho; e fica satisfeita de ver a suposta companheira falando com ela.
5 Presta naturalmente atenção e escuta as palavras daquele que está a falar com ela; observa e apura o ouvido, e assim aprende a falar grego. Assim fez Satã, introduzindo-se na serpente e morando nela; aguardou o momento certo, e quando viu que Eva estava sozinha, chamou-a pelo nome.
6 Quando esta se voltou, viu nele a sua própria imagem; e ele dirigiu-lhe a palavra e enganou-a com as suas palavras mentirosas, pois a natureza da mulher é fraca. Quando ouviu da sua boca as coisas sobre a árvore, correu imediatamente para ela e colheu o fruto da desobediência, da árvore da transgressão do Mandamento, e comeu-o.
7 Imediatamente apareceram nuas as suas vergonhas, e ela viu a feiúra da sua nudez. Então ela fugiu nua e foi esconder-se sob uma outra árvore, e cobriu a sua nudez com as folhas dessa árvore. Em seguida ela chamou Adão, e este foi até junto dela; então ofereceu-lhe a mesma fruta, e ele também comeu-a.
8 Depois de haver comido, as suas vergonhas também ficaram nuas. Então fizeram para si aventais de folhas de figueira. E ficaram por três horas vestidos com os aventais da vergonha.
9 Ao meio-dia, receberam a sentença definitiva. E Deus teceu para eles roupas de cascas arrancadas das árvores, exatamente de fibras das árvores; pois nas plantas do Paraíso havia fibras delicadas, mais delicadas do que o linho e as vestes reais de seda. E Ele cobriu-os com esse tecido fino, que era como uma capa a encobrir um corpo de dor.
Capítulo 5
A Expulsão do Paraíso
1 Na terceira hora, eles deram entrada no Paraíso; por três horas gozaram suas delícias; por três horas ficaram nuas as suas vergonhas, e na hora nona aconteceu a sua expulsão.
2 Depois que saíram do Paraíso em grande tristeza, Deus falou com Adão, consolou-o e disse: "Não te aflijas; Adão. Eu haverei de restabelecer a tua herança. Considera que é grande o amor por ti! Por tua causa eu amaldiçoei toda a terra; mas a ti eu preservei da maldição. Encerrei as pernas da serpente na sua barriga, e dei-lhe como alimento o pó da terra, e coloquei sobre Eva o jugo da submissão.
3 "Com certeza, tu transgrediste o meu Mandamento. Assim, deves sair; mas não fiques aflito! Depois de cumpridos os tempos que estabeleci para vós, em que deveis ficar fora, como estranhos sobre o mundo maldito, eu enviarei o meu Filho. Ele virá para trazer-te a Salvação; habitará numa virgem e se revestirá de um corpo. Por seu intermédio ocorrerá a tua libertação e o teu retorno.
4 "Mas ordena aos teus filhos que depois da tua morte unjam o teu corpo com mirra e aloés e o depositem na Caverna! Nela permito-vos morar pelo tempo em que devereis viver fora dos limites do Paraíso, na terra que se situa no exterior. E aquele que restar naqueles dias, levará consigo o teu corpo e o depositará no centro da terra, num lugar que eu lhe mostrarei. Pois lá acontecerá a Salvação para ti e para todos os teus filhos."
5 E Deus revelou a Adão todo o futuro, e que o Filho haveria de sofrer em seu lugar. Depois que Adão e Eva saíram do Paraíso, foram fechadas as suas portas, e um Querubim postou-se diante delas com uma espada de dois gumes. Adão e Eva desceram do monte do Paraíso; encontraram uma caverna no alto de uma colina, entraram nela, e lá se esconderam. Adão e Eva eram virgens.
6 Quando Adão sentiu desejo de conhecer Eva, foi buscar nos limites do Paraíso ouro, mirra e incenso, colocou-os na caverna, abençoando-a e consagrando-a, para que fosse a casa de oração para si e seus filhos, e chamou-a a "Caverna dos Tesouros". Depois disso, Adão e Eva desceram daquela colina santa até os seus limites inferiores, e lá Adão conheceu a sua mulher Eva.
7 Esta concebeu e deu à luz Caim, juntamente com sua irmã Lebuda. Depois engravidou mais uma vez, e deu à luz Abel e sua irmã Celimat. Quando os filhos já estavam crescidos, disse Adão a Eva: "Caim deverá casar-se com Celimat, que nasceu junto com Abel, e Abel, com Lebuda, nascida com Caim!"
8 Então Caim falou para sua mãe Eva: "Eu me casarei com a minha irmã, e Abel deve casar-se com a sua". Lebuda era realmente bonita. Quando Adão escutou essas palavras ficou grandemente irado e disse: "Se casares com a irmã que nasceu contigo, será uma transgressão do Mandamento.
9 "Tomai convosco frutos das árvores e jovens ovelhas, subi ao cume da colina santa; entrai na Caverna dos Tesouros, e oferecei lá o vosso sacrifício! Grai então na presença de Deus, e uni-vos depois às vossa mulheres."
10 Depois que Adão, o primeiro sacerdote, subiu ao cume da colina com os seus filhos Caim e Abel, Satã entrou em Caim, insinuando-lhe que matasse o seu irmão Abel, por causa de Lebuda, mas também porque o seu sacrifício não fora aceito, mas repudiado por Deus, enquanto que o sacrifício de Abel foi aceito. E em Caim recrudesceu a inveja de seu irmão.
11 Quando desceram à planície, Caim levantou-se contra o seu irmão Abel e matou-o, golpeando-o com uma pedra de piquete. Imediatamente caiu sobre ele uma sentença de morte. Viveu na angústia todos os dias da sua vida, e Deus expulsou-o para as terras de Nod. Então ele tomou sua irmã consigo e foi morar naquela região.
Capítulo 6
A Morte de Adão
1 Adão e Eva prantearam Abel durante cem anos. Depois Adão conheceu Eva mais uma vez, e ela deu à luz Seth, que foi um homem bonito, agigantado, perfeito como Adão. Ele foi o pai de todos os gigantes que antecederam o dilúvio.
2 De Seth nasceu Enos. Enos gerou Cainan, e Cainan gerou Mahalaleel. Estes são os Patriarcas que nasceram no dias de Adão. Adão viveu nove centos e trinta anos, até os cento e trinta e cinco anos de Mahalaleel.
3 Aproximou-se então o dia da sua morte. Vieram até ele seu filho Seth, acompanhado de Enos, Cainan e Mahalaleel: foram abençoados por ele, que também rezou por eles. Então ordenou ao seu filho Seth, dizendo-lhe: "Meu filho Seth presta atenção ao que vou dizer! No teu último dia deverá transmitir esta ordem a Enos este a Cainan, e Cainan Mahalaleel! Esta ordem dever passar a todas as gerações!
4 "Quando eu estiver mor to, deverão embalsamar-me com canela e aloés, e deposita o meu corpo na Caverna dos Tesouros! Aquele dentre todo os vossos descendentes que estiver vivo naqueles dias, deverá, ao afastar-se destas terras da proximidade do Paraíso, levar consigo o meu corpo depositá-lo no centro da terra. Pois lá acontecerá a minha redenção, para mim e para todo os meus descendentes.
5 E tu, meu filho Seth, sejas o guia dos filhos do teu povo conduze-os no temor de Deus de maneira pura e santa! Mantém os teus descendentes afastados dos descendentes do assassino Caim!"
6 Ao ter-se notícia da morte próxima de Adão, foram ter com ele todos os seus descendentes, seu filho Seth com Enos, Cainan e Mahalale e todos eles, suas mulheres, filhos e filhas. Ele então abençoou a todos, e rezou por eles.
7 No ano novecentos e trinta, contados a partir da Criação, Adão despediu-se deste mundo, aos quatorze dias de Nisan, à hora nona, numa sexta-feira. Na mesma hora em que o Filho do Homem, na cruz, entregou o seu Espírito ao Pai, também o nosso pai Adão devolveu a sua alma ao Criador, e separou-se deste mundo.
8 Quando Adão morreu, o seu filho Seth ungiu-o com mirra, canela e aloés, segundo o que lhe havia ordenado. Tendo sido ele o primeiro morto sobre a terra, foi grande o luto por ele. A sua morte foi pranteada durante cento e quarenta dias; depois disso, o seu corpo foi levado e sepultado na Caverna dos Tesouros.
9 Após ter sido inumado Adão, as famílias e os troncos dos filhos de Seth separaram-se dos filhos do assassino Caim. Seth tomou o seu primogênito Enos, com Cainan, Mahalaleel, suas mulheres e filhos, e conduziu-os ao alto da Montanha Sagrada, para onde fora levado Adão.
10 Caim, porém, e seus descendentes permaneceram embaixo, na planície, onde Caim matara Abel.
Capítulo 7
Seth e a sua Geração
1 Seth era então o guia dos filhos do seu povo, e conduziu-os na retidão e santidade. Por causa de sua retidão e santidade, receberam um nome que era mais honroso do que todos os outros nomes; foram chamados "filhos de Deus", tanto eles como suas mulheres e filhos.
2 Assim, eles permaneceram sobre aquela montanha, em toda a pureza, santidade e temor de Deus. Eles subiram lá no alto a fim de louvar a Deus, nos limites do Paraíso, em vez das hostes dos Demônios que foram precipitados do céu.
3 Lá eles permaneciam na paz e no ócio, e não tinham nenhum outro trabalho e ocupação a não ser louvar e bendizer a Deus, juntamente com as coortes dos Anjos; pois eles ouviam constantemente a voz deles, quando entoavam hinos de louvor no Paraíso. Este não se situava muito acima deles, apenas cerca de trinta pés, segundo a medida do Espírito.
4 Eles não tinham lá qualquer trabalho ou preocupação, e não precisavam nem semear nem colher; alimentavam-se daqueles frutos amáveis das belas árvores de toda a espécie, e deliciavam-se com o agradável perfume que emanava do Paraíso. Eram santos, porque foram santificados; suas mulheres eram honradas, seus filhos puros e suas filhas castas e honestas.
5 Entre eles não havia tumultos, nem inveja, nem rancor, nem inimizade; entre suas mulheres e filhas não existia nenhum desejo impuro, nem palavras lascivas. Nem entre eles se ouviam quaisquer blasfêmias ou mentiras. O seu único juramento era: "Pelo sangue inocente de Abel!"
6 Todos os dias, pela manhã bem cedo, subiam ao alto da montanha, com suas mulheres e filhos, para orar na presença de Deus. Ficavam então abençoados pelo corpo do seu pai Adão; levantavam os olhos, olhavam para o Paraíso e louvavam a Deus. Assim faziam todos os dias de sua vida.
7 Seth viveu novecentos e doze anos; depois adoeceu para a morte. Foram então para junto dele seu filho Enos, com Cainan, Mahalaleel, Jared e Enoque, acompanhados de todas as suas mulheres e filhos. Foram abençoados por ele; orou por eles, transmitiu-lhes encargos e adjurou-os com as seguintes palavras: "Conjuro-vos pelo sangue inocente de Abel, a que nenhum de vós descerá desta montanha santa para junto dos filhos do assassino Caim; bem conheceis a nossa inimizade com eles, desde o dia em que ele matou Abel".
8 Então, ele abençoou o seu filho Enos, transmitindo-lhe a incumbência em relação ao corpo de Adão; constituiu-o guia dos filhos do seu povo, enquanto adjurava-o pelo sangue inocente de Abel a que os conduzisse na pureza e santidade, para que eles permanecessem constantemente fiéis ao corpo de Adão, jamais dele se afastando.
9 Após isso, Seth morreu com a idade de novecentos e doze anos, aos vinte e sete dias do mês abençoado de Ab, numa segunda-feira, na terceira hora, contando Enoque vinte anos.
10 Seu primogênito Enos embalsamou o seu corpo e depositou-o na Caverna dos Tesouros, junto ao seu pai Adão. Foi pranteado durante quarenta dias.
Capítulo 8
A Morte de Caim
1 Enos assumiu diante de Deus o serviço na Caverna dos Tesouros; tomou-se o guia do seu povo e seus filhos e observou todos os Mandamentos que lhe foram transmitidos por seu pai Seth. Assim, ele conduziu os filhos do seu povo com toda pureza e santidade, exortando-os à constância na oração.
2 Nos dias de Enos, no seu oitocentésimo vigésimo ano, Lamech, o cego, matou o assassino Caim nos campos de Nod. Sua morte ocorreu da seguinte maneira: Lamech guiava-se pelo seu filho, um menino, e esse menino dirigia-lhe o braço em direção da caça, toda vez que descobria alguma. Foi quando ouviu-se a voz de Caim, que perambulava pelo mato, pois em parte alguma ele tinha paz.
3 Lamech, porém, cego, tomou-o por uma fera que perambulava pelos matos. Então levantou o braço, preparou seu. arco, retesou-o e disparou naquela direção. Acertou Caim entre os olhos, e este caiu e morreu. Contudo Lamech julgava haver acertado uma fera, e disse ao menino: "Vamos até lá para ver que animal acertamos!'
4 Quando chegaram e verificaram o ocorrido, disse-lhe o rapaz que o guiava: "Ai, meu senhor! Tu mataste Caim." Então ele fez um gesto, batendo as suas mãos uma contra a outra, e com isso acertou o menino, que morreu na hora.
5 Enos viveu novecentos e cinco anos; depois adoeceu de morte. Então chegaram junto dele o seu primogênito Cainan, com Mahalaleel, Jared, Enoque e Matusalém, acompanhados das suas mulheres e filhos.
6 Todos foram abençoados por ele; orou por eles e adjurou-os dizendo: "Eu vos conjuro, pelo sangue inocente de Abel, a que nenhum de vós desça deste monte santo para a planície, na área dos filhos do assassino Caim, e que não vos mistureis com eles. Guardai-vos disso! Bem conheceis a inimizade que temos com eles, desde o dia em que ele matou Abel."
7 Então ele abençoou o seu filho Cainan, transmitiu-lhe as incumbências relativas ao corpo de Adão, para que servisse na sua presença todos os dias da sua vida e guiasse os filhos do seu povo na pureza e santidade. Enos morreu com a idade de novecentos e cinco anos, no terceiro dia do primeiro Ticbri, num Sabbath, quando Matusalém contava cinqüenta em três anos.
8 Então o seu primogênito Cainan embalsamou-o e enterrou-o na Caverna dos Tesouros, junto de Adão e do seu pai Seth. E foi pranteado durante quarenta dias.
Capítulo 9
Cainan e Mahalaleel
1 Cainan assumiu na presença de Deus o serviço da Caverna dos Tesouros. Ele era um homem honrado e prudente, conduziu os filhos do seu povo no temor de Deus, e cumpriu todas as recomendações do seu pai Enos. Cainan viveu novecentos e vinte anos; depois adoeceu de morte.
2 Então chegaram junto dele todos os Patriarcas, seu filho Maco anos, no segundo dia de Nisan, num domingo, na hora terça, quando Noé contava trinta e quatro anos. O seu primogênito Jared embalsamou-o e sepultou-o na Caverna dos Tesouros. Foi pranteado por quarenta dias.
6 Então Jared assumiu o serviço de Deus. Ele era um homem íntegro e perfeito em todas as virtudes, constante-mente voltado para a oração, tanto de dia quanto de noite. Por causa da sua excelente direção do povo, Deus deu-lhe uma vida mais longa do que a dos seus antecessores.
7 Aos quinhentos anos de Jared, os descendentes de Seth quebraram o juramento com que os seus pais os adjuraram, e começaram a descer da montanha para os lugares da maldade dos filhos do assassino Cromo.
8 Assim deu-se a queda dos filhos de Seth. Quando Jared havia completado quarenta anos, encerrava-se o primeiro milênio, que abrangia de Adão até Jared.
Capítulo 10
Deterioração da Humanidade
1 Naqueles dias surgiram os cúmplices do pecado e os discípulos de Satanás; este era o seu mestre e introduziu-se neles, habitou neles, e neles espalhou os efeitos do erro, pelos quais se operou a queda dos filhos de Seth.
2 Jubal e Tubalcaim, dois irmãos e filhos de Lamech, o cego, o que havia matado Caim, praticavam toda espécie de música. Jubal construiu flautas, citaras e pífaros. E os demônios introduziram-se neles, e ali se instalaram.
3 Quando eram sopradas, as flautas davam voz aos demônios; e quando eles tangiam as cítaras, os demônios cantavam por elas. E Tubalcaim construiu címbalos, matracas e tambores. E assim recrudescia a depravação dos filhos de Caim, bem como a sua devassidão, e de outra coisa não se ocupavam a não ser da luxúria.
4 Não se submetiam mais a dever algum, e não tinham nem chefe nem guia. Em contrapartida reinava o comer, o beber, a intemperança, a bebedeira, a dança, a cantoria, a risota demoníaca e as gargalhadas que davam prazer ao diabo, bem como o vozerio insano dos homens guinchando atrás das mulheres.
5 E com isso alegrava-se sobremaneira Satanás, por ter encontrado a maneira de espalhar os efeitos da desordem; por meio disso conseguiu atrair os filhos de Seth para baixo da Montanha Sagrada. Enquanto que lá no alto eles serviam a Deus, em contraste com aquela horda de decaídos, e eram amados por Deus, honrados pelos Anjos e chamados filhos de Deus, segundo deles fala o piedoso Davi nos salmos: "Eu disse que sois deuses, e todos em conjunto filhos do Altíssimo".
Capítulo 11
Cainitas e Sethitas Depravados
1 E reinava a impudicícia entre os filhos de Caim; as mulheres corriam atrás dos homens sem a menor vergonha e misturavam-se com eles numa orgia selvagem; praticavam a fornicação abertamente, sem pudor algum. Dois, até três homens caíam em cima de uma mulher; e da mesma forma as mulheres corriam atrás dos homens, pois lá naquele lugar estavam reunidos todos os demônios.
2 Os espíritos impuros meteram-se dentro das mulheres, e as mais velhas entre elas eram ainda mais assanhadas que as, jovens. Os pais e os filhos conspurcavam suas mães e suas irmãs; os filhos não reconheciam os seus pais, e os pais não distinguiam os seus filhos. Satanás tornou-se o chefe desse antro.
3 Sopravam as flautas em meio ao vozerio, tocavam as cítaras sob o influxo dos demônios, percutiam os tambores e as matracas, em colaboração com os espíritos maus. E o ruído das gargalhadas elevava-se nos ares, e foi ouvido no alto da Montanha Sagrada. Quando os filhos de Seth escutaram aquele poderoso vozerio e aquelas gargalhadas, vindos do campo dos filhos de Caim, cem dentre eles, homens fortes e vigorosos, reuniram-se e tomaram a resolução de descer até a área dos filhos de Caim.
4 Jared, ao ter conhecimento dessa decisão, ficou grandemente perturbado e esconjurou-os dizendo: "Adjuro-vos, pelo sangue inocente de Abel, a que nenhum de vós desça desta Montanha Sagrada. Lembrai-vos dos juramentos aos quais nos ligaram os nossos pais Seth, Enos, Cainan e Mahalaleel!"
5 Então Enoque também dirigiu-lhes a palavra: "Ouvi, ó filhos de Seth! Todo aquele que transgredir a ordem de Jared e violar os juramentos dos nossos Pais, descendo desta montanha, nunca mais poderá retomar a ela!"
6 Mas eles não quiseram ouvir nem a ordem de Jared, nem as palavras de Enoque, mas tiveram audácia de desobedecer ao mandamento. Dessa forma, cem homens, varonis e fortes, desceram da montanha.
7 Lá embaixo viram as filhas de Caim, que eram de bonita aparência, e que descobriam as suas vergonhas sem o mínimo pudor. Então os filhos de Seth atiraram-se à perdição, por meio da fornicação com as filhas de Caim.
8 Mas depois disso pretendiam ainda voltar à Montanha Sagrada, apesar de decaídos por terem-na abandonado. Nesse momento, porém, diante de seus olhos, os rochedos do monte sagrado revestiram-se de fogo.
9 Depois de se haverem conspurcado com a imundícia da luxúria, Deus não permitiu mais que voltassem ao lugar sagrado. E uma vez mais, muitos outros tiveram o atrevimento de seguir-lhes o exemplo, e desceram a montanha; também eles caíram.
Capítulo 12
Jared e Enoque
1 Jared viveu novecentos e sessenta anos; depois aproximou-se o dia do seu falecimento. Então foram ter com ele todos os chefes de família, seu primogênito Enoque, Matusalém, Lamech e Noé, com todas as suas mulheres e filhos.
2 Ele abençoou a todos, orou por eles, e disse: "Eu vos conjuro, pelo sangue inocente de Abel, que não havereis de descer desta montanha santa. Todavia, eu sei que Deus não vos deixará ficar mais por muito tempo neste lugar sagrado. Vós havereis de transgredir o mandamento dos vossos Pais; sereis afastados para as terras estrangeiras e não vos será mais permitido habitar nas proximidades do Paraíso.
3 "Recomendo-vos porém todo o zelo para que aquele dentre vós que [for o último a] sair deste lugar santo leve consigo o corpo do nosso pai Adão, juntamente com aqueles objetos de culto que se encontram na Caverna dos Tesouros, para que sejam transportados para aquele lugar que foi determinado por Deus, e ali sejam depositados. Tu, meu filho Enoque, não te afastes nunca do corpo de Adão, e serve a Deus de maneira pura e santa todos os dias da tua vida!"
4 Jared morreu com a idade de novecentos e sessenta anos, aos trinta dias de Ijjar, numa sexta-feira à noite, quando Noé contava trezentos e sessenta e seis anos. Então seu filho Enoque embalsamou-o e sepultou-o na Caverna dos Tesouros. E guardaram luto por ele durante quarenta dias. Então Enoque assumiu o ministério de Deus na Caverna dos Tesouros.
5 Mas os filhos de Seth desviaram-se do caminho reto e desejaram descer. Então Enoque, Matusalém, Lamech e Noé afligiram-se por eles. E Enoque serviu diante de Deus durante cinqüenta anos, até o tricentésimo quinto ano de Noé.
6 Quando Enoque percebeu que Deus queria chamá-lo a si, convocou Matusalém, Lamech e Noé, e falou-lhes: "Eu sei que Deus está irado com esta geração, e que recairá sobre ela uma sentença sem piedade. Vós sois os cabeças e os remanescentes dessa geração, pois nesta montanha não nascerá mais nenhum outro homem para ser o guia do seu Povo. Mas tende todo empenho para servirdes diante de Deus em pureza e santidade!"
7 Depois que Enoque pronunciara essas palavras, Deus transportou-o para as regiões da Vida, nas belas moradas que se encontram no Paraíso, na terra que se situa acima da morte.
Capítulo 13
Noé
1 De todos os filhos de Seth, sobraram na montanha gloriosa somente esses três Patriarcas, Matusalém, Lamech e Noé; os demais haviam descido para as terras dos filhos de Caim.
2 Quando Noé viu que os pecados da sua raça eram grandes, conservou sua alma na virgindade durante quinhentos anos. Então Deus falou com ele e disse: "Casa-te com Haikal, a filha de Namos, irmão de Matusalém, e neta de Enoque!
3 E Deus fez-lhe uma revelação a respeito do dilúvio, que tencionava mandar, e disse: "Quando forem transcorridos cento e trinta anos, provocares um dilúvio. Constrói para ti uma arca para salvar os filho da tua casa! Mas faze-a lá em baixo, na terra dos filhos de Caim! Todavia, a madeira de verá ser colhida na montanha santa!
4 "Deve ser edificada da seguinte maneira: o seu comprimento será de trezentos côvados, segundo a medida do: teus côvados, a sua largura de cinqüenta côvados, e sua altura de trinta. Do seu topo abatê-las um côvado! Faze três compartimentos no seu interior; o de baixo será para os animais selvagens e para o gado, o do meio para os pássaros e o de cima para os filhos da tua casa!
5 "Constrói também no seu interior uma câmara para os utensílios e uma para depósito dos alimentos! Faze também um sino de ébano imune ao caruncho! O seu comprimento deverá ser de três côvados e sua largura de um e meio! De dentro dele deverá pender um martelo! Tocarás esse sino três vezes durante o dia, uma de manhã para que se reúnam os operários da construção da arca, uma ao meio-dia para o seu almoço, e outra à tarde para que se dirijam ao seu descanso!
6 "Ao ouvirem o som do sino, tão logo por ti tocado, perguntarão: Que foi que fizeste?' Responde-lhes: Deus prepara-se para mandar um dilúvio de águas'." E Noé fez segundo Deus lhe ordenara.
7 Então, no espaço de cem anos, nasceram-lhe três filhos, Sem, Cam e Jafet, e escolheu para eles mulheres dentre as filhas de Matusalém. Lamech viveu setecentos e setenta anos, e morreu deixando seu pai Matusalém, ainda vivo, quarenta anos antes do dilúvio, aos vinte e um dias de Elul, numa quinta-feira, quando Sem, o primogênito de Noé, contava sessenta e oito anos de idade. Então seu primogênito, Noé, embalsamou-o, sepultou-o na Caverna dos Tesouros; e foi pranteado durante quarenta dias.
Capítulo 14
Os Gigantes
1 A partir de então, somente Matusalém e Enoque permaneceram sobre o monte, porquanto todos os demais filhos de Seth abandonaram as fronteiras do Paraíso e desceram para a planície, para junto dos filhos de Caim. Os filhos homens de Seth então misturaram-se com as filhas de Caim. Elas engravidaram e deram à luz homens avantajados, uma raça de gigantes, semelhantes a torres.
2 Por esse motivo, escribas antigos incorreram em erro quando escreveram que os Anjos desceram do céu, uniram-se às filhas dos homens, que por essa união geraram aqueles gigantes. Isso não é verdade; falaram disso sem terem conhecimento. Vede bem, meus irmãos, ao lerdes isso, e ficai cientes de que algo assim não está na natureza de seres espirituais!
3 E nem isso está na natureza dos demônios impuros, que praticam malefícios e se comprazem com o adultério. Não existem entre eles os gêneros masculino e feminino; e desde a sua queda, o número deles não aumentou nem em um sequer. Pudessem os demônios unir-se sexualmente com as mulheres, não teriam deixado inviolada nenhuma virgem em toda a raça humana.
Capítulo 15
A Incumbência de Noé
1 Matusalém viveu novecentos e sessenta e nove anos; aproximou-se então o dia do seu falecimento. Chegaram para junto dele Noé,
Sem, Cam e Jafet, com suas mulheres. Pois de todos os descendentes de Seth que não haviam descido da montanha restavam somente essas oito pessoas; e até a chegada do dilúvio, não lhes nasceu mais nenhum filho.
2 Reuniram-se ao redor de Matusalém e foram por ele abençoados; abraçou a cada um e beijou-os com muitas lágrimas, enquanto deplorava a queda dos filhos de Seth. Então orou por eles e disse-lhes: "De todas as famílias e gerações dos nossos Pais sobraram apenas oito pessoas. Que o Senhor, Deus dos nossos Pais, vos abençoe!
3 "O Deus, que por si só criou os nossos Pais Adão e Eva — e eles foram fecundos e multiplicaram-se, e assim foi por eles enchida toda a terra santa das imediações do Paraíso — faça-vos também fecundos e numerosos, e seja toda a terra preenchida por vós, e possais ser salvos do terrível Julgamento da Ira que cairá sobre essa geração provocadora!
4 "Que Ele esteja convosco e vos proteja! Que o dom que Deus outorgou ao nosso Pai Adão vos acompanhe ao sairdes deste lugar santo! E que a bênção tríplice que Deus conferiu ao vosso Pai Adão, a saber, a Realeza, o Sacerdócio e a Profecia seja o fermento que permanecerá infundido na vossa estirpe e na estirpe dos vossos filhos.
5 "Ouve bem, Noé, tu, e predileto do Senhor! Eu me separo agora deste mundo, como todos os meus Pais. Apenas vós sereis salvos, tu e teus filhos, tua mulher e as mulheres deles. Cumpre tudo o que hoje te ordeno! Deus mandará vir um dilúvio.
6 "Quando eu morrer, unge o meu corpo e sepulta-o na Caverna dos Tesouros, junto dos meus Pais! Toma contigo a tua mulher, os teus filhos e as mulheres dos teus filhos, e desce desta Montanha Sagrada! Leve contigo o corpo do nosso Pai Adão, juntamente com esses três objetos sagrados, o ouro, e incenso e a mirra; deposita o corpo de Adão no meio da Arca e sobre ele os objetos!
7 "Tu e teus filhos ficarão na Arca do lado do nascente tua mulher e as mulheres dói teus filhos ficarão do lado do poente! Vossas mulheres não deverão procurar-vos, nem vós: a elas! Não comereis nem bebereis com elas, nem com ela: vos deitareis, até o dia em que sairdes da Arca! Pois essa geração provocou a ira de Deus, É é indigna de permanecer nas proximidades do Paraíso e dos Anjos.
8 "Quando tiverem baixado as águas do dilúvio, saí da Arca e habitai aquela terra; mas, tu, Noé, bem-amado do Senhor não deverás afastar-te da Arca e do corpo do nosso Pai Adão! Mas serve a Deus dentro da Arca, de maneira pura e santa, todos os dias da tua vida!
9 "Aqueles objetos sagrados deverão ser depositados no Oriente! Ordena ao teu primogênito Sem que, após a tua morte, leve consigo o corpo do nosso Pai Adão e o transporte ao centro da terra! Lá deixe permanecer um homem da sua descendência, para ali prestar serviço! Este deverá permanecer casto durante todos os dias da sua vida, não poderá tomar mulher nem derramar sangue; e nem lá poderá haver casa de moradia!
10 "Lá ele também não poderá oferecer sacrifícios de animais selvagens ou de pássaros, mas oferecerá a Deus pão e vinho! Pois ali realizar-se-á a salvação de Adão e de todos os seus filhos. O Anjo do Senhor o precederá e mostrar-lhe-á a salvação de Adão e de todos os seus filhos. O Anjo do Senhor o precederá e mostrar-lhe-á o lugar que representa o ponto central da terra.
11 "E aquele que entra para o serviço do corpo de Adão deverá vestir-se de peles de animais; não poderá aparar os cabelos da sua cabeça, nem cortar as suas unhas; deverá também permanecer solitário, por ser um servidor do Deus Altíssimo."
Capítulo 16
A Partida de Noé
1 Quando Matusalém acabou de dar essas incumbências a Noé, faleceu com lágrimas nos olhos e tristeza no coração. Ao morrer, no décimo quarto dia de Adar, num domingo, ele contava novecentos e sessenta e nove anos de idade, no septuagésimo nono ano de vida de Sem, filho de Noé.
2 Então seu neto Noé ungiu o corpo de Matusalém com mirra, canela e aloés; depois Noé e seus filhos sepultaram-no na Caverna dos Tesouros, e prantearam-no durante quarenta dias. Passados os dias de luto por ele, Noé penetrou na Caverna dos Tesouros e abraçou e beijou os corpos santos de Seth, Enos, Cainan, Mahalaleel, Jared, e do seu pai Lamech, enquanto seus olhos derramavam lágrimas de grande dor.
3 Então Noé tomou o corpo de nosso Pai Adão, bem como o de Eva; seu primogênito Sem carregou o ouro, Cam a mirra e Japhet o incenso; e assim abandonaram a Caverna dos Tesouros.
4 Ao descerem da Montanha Sagrada, prorromperam num choro convulsivo, por verem-se privados do lugar sagrado e da morada dos seus Pais. Ergueram os seus olhos para o Paraíso, choraram com dor, deploraram com tristeza, dizendo: "Descansa em paz, ó tu, Paraíso santo, morada do nosso Pai Adão, que te perdeu ao ser privado da glória por contaminar-se de pecado!
5 "Vê, inclusive na sua morte ele é expulso das tuas fronteiras, e juntamente com seus filhos, exilado no estrangeiro, na terra cheia de vícios, sendo os seus descendentes empurrados de cá para lá, na dor, na doença, no trabalho, no cansaço e na desgraça. Descansa em paz, ó Caverna dos Tesouros!
6 "Descansa em paz, ó morada e herança dos nossos Pais! Descansai em paz, O, vós, amigos e bem-amados do Deus vivo! Rezai pelo resto, os que sobraram de todos os vossos descendentes! Rogai por nós em vossa prece, ó vós, nossos intercessores junto a Deus!
   7 "Descansa em paz, Seth, tu, o cabeça dos Pais! Descansa em paz, Enos, guia da retidão! Descansai em paz Cainan, Mahalaleel, Jared, Matusalém, Lamech e Enoque, servos de Deus! Implorai com pena de nós!
8 "Descansa em paz, tu, Montanha Sagrada! Descansa em paz, ó porto e abrigo dos Anjos! O Pais, rogai por nós em dor, pois que ficaremos privados do vosso convívio! E nós haveremos de lamentar-nos com grande tristeza, por sermos atirados a uma terra estéril, onde teremos de conviver com os animais selvagens."
9 Enquanto desciam da montanha santa, beijavam suas rochas e abraçavam suas belas árvores. Assim, enquanto derramavam lágrimas amargas, com grande dor e profundamente contristados, chegaram à planície.
10 Então Noé entrou na Arca e depositou o corpo de Adão no meio dela, e sobre ele as oferendas sagradas. Naquele mesmo ano em que Noé deu entrada na Arca, encerrava-se o segundo milênio; este abrangia o período a partir da descendência de Adão até o dilúvio, segundo nos transmitiram aqueles setenta escribas sábios.
Capítulo 17
O Dilúvio
1 Em uma sexta-feira, no décimo sétimo dia do mês abençoado de Ijjar, Noé entrou na Arca. Pela manhã entraram no compartimento inferior os animais selvagens e os animais domésticos; ao meio-dia, os pássaros e todos os insetos, no compartimento do meio; e à tarde, Noé e seus filhos se dirigiram à parte oriental da Arca e sua mulher com as mulheres dos seus filhos para a parte ocidental.
2 O corpo de Adão foi colocado entre eles, porque todos ali representavam os mistérios da Igreja, pois, nas igrejas, as mulheres ficam do lado do poente e os homens do lado do nascente, para que os homens não vejam o rosto das mulheres e as mulheres não vejam o rosto dos homens.
3 Assim, na Arca, os homens ocupavam a parte oriental, e as mulheres a parte ocidental. E assim como o púlpito se erige no meio, o corpo de Adão também foi colocado no meio.
4 E da mesma forma como nas igrejas reina a paz entre os homens e as mulheres, assim também reinava a paz na Arca, entre os animais selvagens, os pássaros e os demais seres vivos.
5 Assim como lá, reis, sacerdotes, pobres e mendigos permanecem em pé de igualdade, em unidade e paz, da mesma forma na Arca leões, panteras e outros animais ferozes viviam em perfeita paz com os animais domésticos, os fortes com os inferiores e fracos, o leão com o boi, o urso com o cordeiro, o filhote do leão com o bezerro, a cobra com a pomba, o gavião com o pardal.
6 Quando Noé com os seus filhos, sua mulher e as mulheres dos seus filhos haviam entrado na Arca, no décimo sétimo dia de Ijjar, à tarde, foram fechadas as portas, e Noé juntamente com seus filhos encontraram-se numa triste prisão.
7 Uma vez cerradas às portas da Arca, abriram-se às comportas do céu, rasgaram-se os abismos e irrompeu a massa oceânica das grandes águas que circundam a terra. Abertas as comportas do céu, escancarados os abismos da terra, foram soltos os ventos, romperam as tempestades e o oceano rugia e transbordava.
8 Então os filhos de Seth, contaminados pela imundície da luxúria, correram para a Arca e suplicaram a Noé que lhes abrisse as portas.
E quando viram o volume das águas que os cercavam e que prorrompiam de todos os lados, foram tomados de terrível angústia e procuraram subir à montanha do Paraíso; mas não conseguiram.
9 A Arca estava fechada e lacrada, e na sua cobertura estava postado um Anjo do Senhor, como timoneiro. E enquanto as ondas rugiam ao seu encontro, e eles começavam a submergir na massa revolta e terrível, cumpria-se a seu respeito a palavra de Davi: "Eu disse: Vós sois deuses, todos filhos do Altíssimo; mas por terdes feito isso e desejado a fornicação com as filhas de Caim, assim vós também, como aqueles, sereis destruídos e morrereis da mesma forma que eles morreram".
Capítulo 18
Fim do Dilúvio
1 A Arca, pela grande força da água, foi levantada acima da terra. Então afogaram-se todos os homens, bem como os animais selvagens, os pássaros, o gado e os insetos; de modo geral, tudo o que se encontrava sobre a terra pereceu. E as águas do dilúvio elevaram-se vinte e cinco côvados acima de todos os cumes das altas montanhas, segundo a medida do Espírito. As torrentes avançaram e a água levou a Arca para o alto, até alcançar as imediações do Paraíso.
2 Quando as águas foram abençoadas e purificadas pelo Paraíso, volveram atrás, beijaram as rochas do Paraíso e partiram para a devastação de toda a terra. E a Arca flutuou pelas asas do vento sobre as águas, do Oriente para o Ocidente, do Norte para o Sul, descrevendo assim uma cruz sobre as ondas. A Arca pairou cento e cinqüenta dias sobre a água, e no sétimo mês, ou seja, no décimo sétimo dia de Tischri, chegou a um lugar de pouso, sobre o monte Cardo.
3 Então Deus ordenou que as águas se separassem. As águas superiores voltaram ao seu lugar no alto do céu, de onde procederam; as águas que romperam das profundezas da terra dirigiram-se para os abismos inferiores; e as águas do oceano a ele tornaram.
4 Sobre a terra ficaram apenas aquelas águas que desde o princípio lhe foram destinadas, por aceno divino, para a sua necessidade; as outras, até o décimo mês, Schebat, tinham baixado gradativamente.
5 No primeiro dia de Schebat, começaram a aparecer os cumes das montanhas mais altas, e passados quarenta dias, aos dez de Adar, Noé abriu a janela oriental da Arca e despediu um corvo, para que lhe trouxesse notícias. Ele voou e não mais voltou.
6 Quando as águas diminuíram um pouco mais sobre a terra, ele soltou uma pomba; mas esta não encontrou nenhum lugar de pouso, e voltou para junto de Noé, na Arca. Depois de sete dias, ele despediu mais uma vez a pomba; e ela voltou, trazendo no bico um ramo de oliveira.
7 Essa pomba representa para nós os dois Testamentos. No primeiro, o Espírito que falava pelos Profetas, junto àquele povo que provocou a ira de Deus, não encontrou pousada;mas no segundo, Ele baixou tranqüilamente sobre os povos, através das águas do Batismo.
Capítulo 19
A Aliança com Noé
1 No seiscentésimo ano de vida de Noé, no primeiro dia de Nisan, haviam secado as águas na superfície de toda a terra. No segundo mês, ou seja em Ijjar, no mesmo em que Noé tinha entrado da Arca, no décimo sé-timo dia, num domingo santo, deixaram a Arca ele, sua mulher, seus filhos e suas mulheres.
2 Quando deram entrada na Arca, entraram separadamente, Noé com os seus filhos, sua mulher com as mulheres dos seus filhos. E os homens não conheceram suas mulheres, até saírem da Arca. Naquele mesmo dia abandonaram a Arca todos os animais selvagens, os animais domésticos, todos os pássaros e os restantes seres vivos.
3 Depois de haverem descido da Arca, Noé começou a cultivar a terra. Construíram também uma cidade e chamaram-na Temanon, por causa das oito pessoas que saíram da Arca. Depois Noé erigiu um altar e ofereceu sobre ele ao Senhor um sacrifício de animal puros e pássaros, e Deus acolheu o seu sacrifício. E Ele estabeleceu com Noé uma Aliança por todos os tempos, e jurou "Nunca mais permitirei que aconteça um dilúvio".
4 Da seguinte forma Eli estabeleceu a Aliança com Noé afastou do arco a flecha da ira, nas nuvens, desprendeu dele a corda da indignação e estendeu-o sobre as nuvens; e nele não mais havia nem flecha nem corda; pois quando antigamente esse arco estava retesado no firmamento contra a geração dos filhos do assassino Caim, estes viram a flecha da ira, assestada à corda da indignação.
Capítulo 20
A Maldição de Cam
1 Após o dilúvio, e após terem saído da Arca, eles semearam, plantaram uma vinha e espremeram o vinho novo; aproximou-se então Noé e bebeu dele; depois que tomou, ficou embriagado. Enquanto dormia, descobriram-se as suas vergonhas; então o seu filho Cam viu a nudez do pai, não a cobriu, mas riu-se e fez troça.
2 Saiu e foi chamar os seus irmãos, para que eles também rissem do seu pai. Porém, quando Sem e Japhet ouviram isso, ficaram muito perturbados; tomaram de um manto e entraram, caminhando de costas, procurando esconder o rosto para não verem a nudez do seu pai. Jogaram o manto sobre ele e o cobriram.
3 Quando Noé acordou do sono do vinho, sua mulher contou-lhe tudo o que havia acontecido; mas ele mesmo já sabia o que se tinha passado. Então irou-se profundamente contra o seu filho Cam e disse: "Maldito seja Canaã! Que ele seja o servo dos servos dos seus irmãos!"
4 Por que motivo, pela culpa de Cam, justamente Canaã foi amaldiçoado? Quando ele era um rapaz crescido e chegara ao uso da razão, Satã introduziu-se nele e passou a ser o seu mestre no pecado. Ele renovou a obra da casa de Caim, confeccionou flautas e cítaras.
5 Então os diabos e demônios entraram nelas e lá se estabeleceram; tão logo o vento soprava dentro delas, os demônios cantavam e emitiam a sua voz forte. E quando as cítaras eram tangidas, os diabos atuavam por meio delas.
6 Noé, ao tomar conhecimento dessas práticas de Canaã, entristeceu-se profundamente, pois que se renovavam as obras da perversidade pelas quais ocorrera a queda dos filhos de Seth, pois pela cantoria, dança e pelo assanhamento dos filhos de Caim, Satã levou os "Filhos de Deus" à perdição. E, pela música das flautas avolumaram-se os pecados da geração antiga, a ponto de Deus irar-se e mandar o dilúvio.
7 Agora Canaã, por ter tido o atrevimento de fazer isso, foi amaldiçoado, e a sua descendência passou a ser a serva dos servos; trata-se dos egípcios, etíopes e mysios. E por ter sido Cam atrevido e zombeteiro em relação ao seu pai, foi denominado e conhecido até hoje como "o impudico".
8 Noé, porém, por intermédio do sono da sua embriaguez, indica a cruz do Messias, como dele fala o piedoso Davi no salmo: "O Senhor despertou como alguém que dormia, como um homem que lançou pela boca o seu vinho."
9 Ousam dizer os hereges que "Deus foi crucificado". Mas Davi nesse passo chama-o "Senhor", como também diz o apóstolo Pedro: "Deus constituiu-o Senhor e Messias", referindo-se a esse Jesus, que vós crucificastes. Não diz "Deus", mas "Senhor", com o que está a mencionar a unidade hipostática, que se juntam numa única filiação.
10 Mas Noé, ao despertar do seu sono, amaldiçoou Canaã e rebaixou os seus descendentes à condição de servos; depois dispersou-os entre os povos. E quando Nosso Senhor ressuscitou da morada dos mortos, Ele amaldiçoou os judeus e espalhou os seus descendentes entre os povos.
11 Mas, como dito, os descendentes de Canaã foram os egípcios; eles foram disseminados por toda a terra para servir como servos dos servos.
12 E o que significava a servidão da servidão? Esses egípcios serão escorraçados por toda a terra, e carregarão fardos no pescoço. Os outros, aos quais foi imposto o jugo da submissão, não andam a pé, ao serem mandados em viagem pelos seus amos, e não carregam fardos no pescoço, mas montam a cavalo com honra, semelhantemente aos seus senhores.
13 Mas os descendentes de Cam são os egípcios que carregam fardos e que ao viajar andam a pé, e com isso seu pescoço se curva sob o peso. Assim, eles são enxotados das portas dos filhos dos seus irmãos.
14 Esse castigo foi imposto aos descendentes de Cam por causa da insensatez de Canaã, tornando-se dessa forma os servos dos servos.
Capítulo 21
O Testamento de Noé
1 Depois de sair da Arca, Noé viveu mais trezentos e cinqüenta anos; depois ele adoeceu para morrer, e reuniram-se junto dele Sem, Cam, Japhet. Arpachsad e Salé.
2 Então Noé chamou perto de si o seu filho primogênito Sem, e falou-lhe em segredo: "Escuta bem, meu filho, o que agora vou dizer-te! Quando eu estiver morto, entra na Arca em que fostes salvos e retira de lá o corpo do nosso Pai Adão! Mas não deverás ser visto por homem algum.
3 "Toma contigo pão e vinho, como provisão de viagem Em seguida, leva contigo Melchizedek, o filho de Malach pois, de todos os teus descendentes, ele foi por Deus escolhido para servir, na sus presença, ao corpo do nosso Pai Adão!
4 "Depois parte e deposita o no ponto central da terra, e faze com que Melchizedek habite! O Anjo do Senhor ir adiante de vós, para mostrar-vos o caminho que devereis seguir bem como o lugar onde devei ser colocado o corpo de Adão, a saber, no ponto central da terra.
5 "Lá se concentram quatro extremidades, pois quando Deus criou a terra, emanou d'Ele a sua força, e a terra brotou dessa força prolongando-se em quatro direções, como polias e colunas. Mas nesse ponto a sua força se fixou e permaneceu em repouso. Ali realizar-se-á a redenção de Adão e de todos os seus filhos. Essa história foi transmitida geração após geração, desde Adão até nós.
6 "Adão passou essa incumbência a Seth, Seth a Enos, este a Cainan, este a Mahalaleel, este a Jared, este a Enoque, este a Matusalém, este a Lamech e Lamech a mim; e assim, transmito-te hoje essa mesma incumbência. Essa história nunca mais será contada entre os vossos descendentes. Tu, porém, aviate e deposita secretamente o corpo de Adão lá onde Deus te indicar, até o dia da Redenção!"
7 Após Noé ter transmitido tudo isso ao seu filho Sem, morreu com a idade de novecentos e cinqüenta anos, no segundo dia de Ijjar, em um domingo.
Capítulo 22
Inumação de Adão por Sem no Gólgota
1 Depois da morte de Noé, Sem cumpriu o que o seu pai lhe ordenara. Penetrou de noite na Arca, retirou o corpo de Adão, depois lacrou-a de novo com o selo de seu pai, sem que fosse percebido por ninguém.
2 A seguir, chamou Cam e Japhet e disse-lhes: "Irmãos! Meu pai ordenou-me que eu partisse para as terras além do mar, para ver a situação da terra e dos rios, e tomasse depois para junto de vós. Minha mulher e os filhos da minha casa ficarão convosco, sob vossos cuidados!"
3 Responderam-lhe então os seus irmãos: "Leva contigo um bom número de homens! Pois a região é infértil e desabitada; também existem lá animais selvagens". Respondeu-lhes Sem: "O Anjo do Senhor irá comigo e proteger-me-á de todo o mal".
4 Disseram então os seus irmãos: "Assim sendo, vai em paz! Que o Senhor, Deus dos nossos Pais, esteja contigo!" Então Sem disse a Malach, filho de Arpachsad e pai de Melchizedek, bem como à sua mãe Jozadak: "Dai-me Melchizedek, para que me acompanhe e me sirva de companhia ao longo da viagem!"
5 Disseram-lhe então os pais Malach e Jozadak: "Fique ele contigo, e vai em paz!" Então Sem ordenou aos seus irmãos dizendo-lhes: "Irmãos! Quando o meu pai morreu, obrigou-me por juramento a que nem eu nem qualquer um dos vossos descendentes penetrasse na Arca, e foi selada com o seu selo". E disse-lhes ainda: "Homem algum poderá dela aproximar-se".
6 Em seguida, Sem tomou o corpo de Adão e, juntamente com Melchizedek, abandonou o seu povo, de noite. Então apareceu-lhes o Anjo do Senhor, que foi à frente deles; o caminho lhes era muito leve, porque o Anjo do Senhor dava-lhes forças, até chegarem àquele lugar.
7 Chegados ao Gólgota, o ponto central da terra, o Anjo indicou o lugar a Sem. Quando este depositou o corpo do nosso Pai Adão no alto desse lugar, o chão abriu-se em quatro direções, na forma de uma cruz; nele Sem e Melchizedek colocaram o corpo de Adão.
   8 Tão logo ali o depositaram, os quatro lados do chão moveram-se e cobriram o corpo do nosso Pai Adão; então fecharam-se as portas da terra exterior. E esse lugar foi chamado "Calvário", porque ali fora depositada a cabeça de todos os homens; "Gólgota", porque era redondo; "Aterro", porque sobre ele foi pisada a cabeça da serpente má, Satã; e "Sábata", porque ali seriam reunidos todos os povos.
9 Disse então Sem a Melchizedek: "Tu és o servidor do Deus Altíssimo, pois Deus escolheu unicamente a ti para prestares serviço na sua presença neste lugar. Permanece aqui para sempre, e por toda a tua vida não te afastes deste lugar!
10 "E também não tomes mulher! Não cortes teus cabelos! Não derrames sangue aqui! Não sacrifiques nem animais selvagens, nem pássaros, mas oferece constantemente pão e vinho! E não construas nenhuma casa neste lugar! O Anjo do Senhor descerá sempre e cuidará de ti."
11 Então Sem abraçou Melchizedek, beijando-o e abençoando-o; depois disso, voltou para junto dos seus irmãos. Então os pais de Melchizedek, Malach e Jozadak, perguntaram: "Onde está o menino?" ele respondeu-lhes: "Morreu durante a viagem, e eu o enterrei". Então eles o prantearam com muitas lágrimas.
Capítulo 23
A Geração de Sem
1 Sem viveu seiscentos anos; depois morreu. Seu filho Arpachsad, com Salé e Heber, sepultaram-no. Arpachsad havia gerado Salé com a idade de trinta e cinco anos; o total da sua vida alcançou quatrocentos e trinta anos.
2 Ele morreu e foi enterrado por seu filho Salé e Heber e Peleg na cidade de Arpachsad, que ele havia edificado em seu nome. Salé gerou Heber, na idade de trinta anos; o total da sua vida alcançou quatrocentos e trinta anos.
3 Quando morreu, o seu filho Heber, com Peleg e Regu, sepultaram-no na cidade de Selichon, que ele edificara em seu nome. Heber, com a idade de trinta e quatro anos, gerou Peleg; a sua vida inteira alcançou quatrocentos e sessenta e quatro anos. Ele morreu e foi enterrado pelo seu filho Peleg, Regu e Serug, na cidade de Heberin, que ele havia edificado em seu nome. Peleg, com a idade de trinta anos, gerou Regu; a sua vida inteira chegou a duzentos e trinta e nove anos; e depois morreu.
4 Nos dias de Peleg, todas as estirpes e descendência dos filhos de Noé transferiram-se do Oriente e assentaram-se numa planície na região de Senaar; lá habitaram e tinham unidade de palavras e língua. Desde Adão, todos eles falavam a mesma língua, a saber, a língua siríaca, que é o aramaico; pois essa é a rainha de todas as línguas.
5 Erram os escribas antigos quando dizem que o hebraico foi a primeira das línguas, e com isso misturaram o erro da ignorância aos seus escritos, pois todas as línguas do mundo procederam do siríaco, e todas as palavras dos livros relacionam-se com essa língua.
6 Na escrita dos sírios, o lado esquerdo prolonga o direito, e da direita de Deus aproximam-se todos os filhos da esquerda, os gregos, os romanos e os hebreus; a direita aqui prolonga a esquerda.
7 Nos dias de Peleg foi construída a torre em Babel; lá confundiram-se as suas línguas, e dali foram espalhados por toda a terra. Esse lugar chamou-se Babel, porque lá foram confundidas as línguas. Depois da separação das línguas, Peleg morreu em grande tristeza, com lágrimas nos olhos e dor no coração, porque nos seus dias a terra ficou dividida.
8 Foi enterrado por seu filho Regu, Serug e Nachor, na cidade de Pelegin, por ele edificada em seu nome.
9 Havia então sobre a terra setenta e duas línguas e setenta e duas cabeças de estirpe, e cada nação de língua diferente escolheu para si um cabeça como rei. A linhagem de Japhet abrangia trinta e sete povos e reinos: Gomer, Javan, Madai, Tubal, Mesech e Tiras, bem como todos os reinos dos alaneus; todos esses são descendentes de Japhet.
10 Filhos de Cam são Cus, Misraim, Put e Canaã, com todos os seus descendentes. Os filhos de Sem são Elam, Assur, Arpachsad, Lud e Aram, com todos os seus descendentes. Os filhos de Japhet ocupam os confins do Oriente, do monte Nod, nos limites orientais, até o Tigre, e, pelos limites do Norte, da Báctria ao Gadir.
11 Os filhos de Sem habitam desde o Pars, no Oriente, até o mar, no Ocidente; a eles pertence o ponto central da terra; possuem o reino e a realeza. Os filhos de Cam ocupam toda a parte Sul, e ainda uma pequena parte do Oeste.
12 Regu viveu duzentos e trinta anos, e gerou Serug. Nos dias de Serug, no seu centésimo trigésimo ano, reinou o primeiro rei sobre a terra, Nirnrod, o gigante, que imperou durante sessenta e nove anos; a capital do seu reino foi Babel.
13 Ele viu no céu algo que se parecia com uma coroa; mandou então chamar o tecelão Sisan, e este teceu-lhe uma semelhante e a colocou sobre a sua cabeça. Por isso se diz que a coroa lhe veio do céu. Nos dias de Regu, chegou ao término o terceiro milênio.
Capítulo 24
Início do Culto dos ídolos
1 Nos seus dias, os misreus, isto é, os egípcios, elegeram para si o seu primeiro rei, chamado Puntos; reinou sessenta e oito anos sobre eles. Nos dias de Regu reinou também um rei em Sabá, Ophir e Chavila. Em Sabá reinaram sessenta das filhas de Sabá, e durante muitos anos reinaram mulheres em Sabá, até o reinado do filho de Davi, Salomão.
2 Sobre os filhos de Ophir reinou o rei Leforão, que construiu Ophir em pedras de ouro; pois todas as pedras de Ophir são de ouro. Sobre os filhos de Chavila reinou Chavil, construtor de Chavila. Regu morreu com a idade de duzentos e trinta e nove anos; foi enterrado por seu filho Serug, mais Nachor e Tharé, na cidade de Orgin, que ele erigira em seu nome.
3 Serug viveu trinta anos, e então gerou Nachor; sua vida inteira alcançou duzentos e trinta anos. Nos dias de Serug sobreveio no mundo o receio em face dos ídolos; pois nos seus dias, os homens começaram a fabricar imagens para si.
4 Mas a introdução dos ídolos no mundo começou porque os homens estavam espalhados por toda parte, e não possuíam nem mestres nem legisladores, nem qualquer outro que lhes mostrasse o caminho da verdade, por onde deviam caminhar.
Por isso é que caíram em erros audaciosos.
5 Alguns deles, no seu desvio, adoravam o sol, outros a lua e as estrelas, outros a terra e os animais selvagens, os pássaros, os insetos, as árvores, as rochas, os animais marinhos, as águas e os ventos. Por essa forma, Satã cegou os seus olhos, fazendo com que errassem nas trevas do engano, por não terem esperança na Ressurreição.
6 Quando alguém deles morria, fabricavam uma imagem que se parecesse com ele e colocavam-na sobre a sua sepultura, para que não se desvanecesse dos seus olhos a sua lembrança. Quando o erro se havia disseminado sobre toda a terra, esta estava repleta de ídolos de toda espécie, masculinos e femininos.
7 Serug faleceu com a idade de duzentos e trinta anos, e foi sepultado por seu pai Nachor, Tharé e Abraão, na cidade de Saregin, que em seu nome havia construído. Nachor gerou Tharé, na idade de vinte e nove anos. Nos dias de Nachor, no seu septuagésimo ano, quando Deus viu que os homens adoravam os ídolos, aconteceu um grande terremoto. Todos cambaleavam, caíam e perdiam o juízo; mas outra coisa não fizeram a não ser aumentar a sua iniqüidade.
8 Nachor morreu aos cento e quarenta e sete anos de idade; foi enterrado por seu filho Tharé e por Abraão. Tharé, aos setenta e cinco anos, gerou Abraão.
Capítulo 25
O Surgimento das Imagens dos Ídolos
1 Nos dias de Thares, aos seus noventa anos, surgiram as poções e magias sobre a terra, na cidade de Ur, que Horon, filho de Ebers, havia construído. Nessa cidade morava um homem muito rico, que morrera naquele tempo, e seu filho então fez dele uma imagem em ouro, colocou-a sobre a sua sepultura e postou ali um jovem para que a vigiasse.
2 Então Satã introduziu-se na estátua e habitou nela e começou a falar com o jovem através da imagem do pai. Entretanto, vieram os ladrões e levaram embora tudo o que o — jovem guardava; então ele atirou-se sobre a sepultura do pai e começou a chorar.
3 Então Satã, falando com ele, disse: "Não chores na minha presença, mas vai, traze o teu filhinho e imola-o para mim em sacrifício! Ser-te-á então restituído tudo o que te foi tirado".
4 Ele então fez tudo conforme Satã lhe dissera; sacrificou o seu filhinho e banhou-se no seu sangue. Então Satã saiu imediatamente daquela imagem e entrou no jovem e começou a ensinar-lhe poções, magias, passes, a arte dos caldeus, fados, sortilégios e destinos.
5 Naquele tempo, os homens começaram a sacrificar os seus filhos aos demônios e a invocar os ídolos, pois os malignos entravam em todas as imagens e lá habitavam.
6 Aos cem anos de Nachor, ao ver Deus que os homens sacrificavam os seus filhos aos demônios e que adoravam os ídolos, abriu os reservatórios dos ventos e a porta das tempestades. Então um ciclone invadiu toda a terra, quebrou as imagens e os lugares de sacrifício dos demônios, ajuntou os ídolos, as imagens e os altares, acumulando-os em grandes outeiros até os dias de hoje.
7 Os mestres denominam esse ciclone o "dilúvio de vento". Há pessoas todavia que deliram, dizendo que esses outeiros surgiram nos dias do dilúvio; quem assim diz, erra longe da verdade, pois antes do dilúvio não existiam ídolos sobre a terra, e ele não foi mandado por causa de deuses falsos, mas por causa da impudicícia das filhas de Caim.
8 De outro lado, naquele tempo não existiam homens naquela terra, sendo ela vazia e deserta; pois os nossos Pais já anteriormente haviam sido expulsos para o estrangeiro, por não serem dignos de permanecer nas proximidades do Paraíso. Eles foram levados pela Arca às montanhas de Kardo, e a partir de lá espalharam-se por toda a terra.
9 Esses outeiros porém surgiram por causa dos ídolos, e debaixo deles escondem-se todas as imagens de falsos deuses daquele tempo. Também os demônios, que habitavam os ídolos, estão nesses outeiros; não há nenhum outeiro que não contenha demônios.
Capítulo 26
Surgimento do Culto do Fogo
1 Nos dias do gigante Nimrod, apareceu um fogo que saía da terra. Então Nimrod desceu, viu o fogo e invocou-o; e estabeleceu sacerdotes para lá prestarem serviço e esparzir incenso. Desde aquele tempo, os persas começaram a venerar o fogo, até os dias de hoje.
2 O Reisisan encontrou uma fonte em Derogin; construiu um cavalo branco e colocou-o sobre ela, e todo aquele que ali se banhava adorava o cavalo. Desde esse tempo, os persas começaram a venerar esse cavalo.
3 Nimrod foi a Jokdora, que vem a ser Nod. Quando chegou junto ao mar, encontrou ali Jetã, filho de Noé. Ele desceu e banhou-se nesse mar; depois ofereceu um sacrifício e adorou Jetã.
4 Então disse-lhe Jetã: "Tu és rei, e a mim veneras?" Respondeu-lhe então Nimrod: "Por tua causa eu vim até aqui". Então Jonton ensinou a Nimrod a sabedoria e a ciência dos oráculos, e disse-lhe: "Não tomes mais a mim!"
5 Quando ele voltou para o Leste e começou a utilizar esse oráculo, muitos se admiraram. Idascher, o sacerdote, servia junto àquele fogo que nasceu da terra. Viu como agora Nimrod se ocupava com aquelas altas e velhas artes. Então ele suplicou ao demônio, que apareceu junto àquele fogo, lhe ensinasse a sabedoria de Nimrod.
6 E como os demônios soem desgraçar pelo pecado todos os que deles se aproximam, disse o maligno a esse sacerdote: "Nenhum homem pode tomar-se sacerdote ou mago a não ser que antes se deite com sua mãe, com sua filha e com sua irmã". O sacerdote Idascher assim o fez.
7 A partir desse momento, os sacerdotes, os magos e os persas começaram a fornicar com suas mães, irmãs e filhas. Esse mago Idascher começou por perscrutar as constelações, bem como os fados, destinos, acasos, e todas essas coisas das práticas dos caldeus.
8 Todo esse ensinamento do erro pertence aos demônios, e todo aquele que o põe em prática será castigado com eles. Mas nenhum mestre ortodoxo se opôs àqueles oráculos de Nimrod, porque foi-lhe ensinado por Jetã; eles mesmos o utilizavam. Os persas chamavam-no oráculo, os romanos astronomia.
9 A astrologia, porém, praticada pelos magos é bruxaria, ensino do erro e dos demônios. Há todavia pessoas que dizem existir na realidade a sorte, o destino, mas estão equivocadas.
10 Nirnrod edificou no Leste cidades-fortes: BabeI, Nínive, Resen, Selêucia, Atesiphon e Aserbadschan; construiu também três fortalezas.
Capítulo 27
Abraão
1 Tharé, pai de Abrão, viveu duzentos e cinqüenta anos; depois morreu. Abrão e Lot sepultaram-no em Haran. Ali Deus falou com Abrão e disse-lhe: "Abandona a terra e a casa da tua família e vai para a terra que eu te indicarei!"
2 Então ele tomou os filhos da sua casa, sua mulher Sarai e o filho do seu irmão, Lot, e subiu para a região dos amoritas. Contava setenta e cinco anos, quando se encaminhou para o oeste do rio Eufrates.
3 Oitenta anos tinha ele quando perseguiu os reis e resgatou o seu sobrinho Lot. Naquele tempo todavia ele não tinha filhos, porque Sarai era estéril.
4 Quando ele voltou do combate com os reis, os desígnios de Deus chamaram-no, e ele se dirigiu ao alto do monte Jebus. Lá o rei de Salém, Melchizedek, o sacerdote do Deus Altíssimo, foi ao seu encontro. Quando Abrão viu Melchizedek. correu para junto dele, caiu sobre a sua face e venerou-o: depois ergueu-se do chão, abraçou-o e beijou-o; em seguida foi por ele abençoado.
5 Depois que Melchizedek abençoou Abrão, este deu-lhe a décima parte de tudo o que possuía, para que lhe permitisse participar dos santos mistérios, do pão do sacrifício e do vinho da Salvação.
6 Após abençoado por Melchizedek, e recebidos os santos mistérios, Deus falou a Abrão, dizendo-lhe: "Grande é o teu prêmio; recebeste agora a bênção de Melchizedek e a comunhão do pão e do vinho. Eu também agora desejo abençoar-te e fazer com que seja numerosa a tua descendência".
7 Quando Abrão tinha oitenta e seis anos de idade, nasceu-lhe Ismael, de Agar. O faraó tinha dado Agar a Sarai por serva. Sarai porém era irmã de Abrão por parte de pai; pois Tharé havia desposado duas mulheres.
8 Quando Jauna, a mãe de Abrão, morreu, Tharé tomou outra mulher e chamou-a Naharjath; desta nasceu Sarai. Por isso é que ele disse: "Ela é minha irmã, filha do meu pai, mas não filha de minha mãe".
Capítulo 28
O Sacrifício de Isaac
1 Abraão tinha noventa e nove anos de idade quando Deus entrou em sua casa e deu a Sara um filho. Cem anos tinha Abraão quando nasceu-lhe Isaac. Isaac contava vinte e dois anos, quando o seu pai o levou consigo ao monte Jebus, junto de Melchizedek, o servo do Deus Altíssimo.
2 O monte Jebus situa-se de fato nas montanhas dos amoreus, e sobre esse lugar foi erigida a Cruz do Messias. Ali brotou uma árvore, que carregou o cordeiro que salvou Isaac. Esse lugar é o ponto central da terra, a sepultura de Adão, o Altar de Melchizedek, Gólgota, Calvário, Sábata.
3 Lá Davi viu o Anjo que portava a espada de fogo, e lá Abraão levou o seu filho Isaac, para imolá-lo; ele viu a Cruz do Messias e a redenção do nosso Pai Adão. A árvore era o prenúncio da Cruz de Nosso Senhor, o Messias, e o cordeiro nos seus ramos representava o mistério da Encarnação do Verbo único.
4 Por isso Paulo exclamou, dizendo: "Se eles tivessem tido entendimento, não teriam crucificado o Rei da Glória". Cale-se a boca dos hereges, que em seu delírio atribuem sofrimentos Aquele que é eterno! Quando o Messias tinha oito dias de idade, José, esposo de Maria, decidiu circuncidar o menino, segundo a Lei; circuncidou-o, de acordo com os usos da Lei. E assim também Abraão levou o seu filho para o sacrifício, representando com isso a morte na Cruz do Messias.
5 Por isso é que o Messias anunciou abertamente diante dos judeus reunidos: "Abraão, vosso Pai, desejou ardentemente presenciar os meus dias; ele os viu e alegrou-se com isso". Lá revelou-se a Abraão o dia da redenção de Adão; ele o viu e alegrou-se profundamente; e foi-lhe mostrado também que o Messias sofreria em lugar de Adão.
Capítulo 29
A Fundação de Jerusalém
1 No mesmo ano em que Abraão levou o seu filho para a imolação, Jerusalém foi fundada. O início da edificação começou da seguinte forma: quando Melchizedek apareceu e se mostrou aos homens, vieram ter com ele Abimelech, rei de Gedar, Arnraphel, rei de Sinear, Arioch, rei de Delassar,
Kedor Laomer, rei de Elam. Tarel, rei dos geleus, Bera, rei de Sodoma, Birsa, rei de Gomorra, Sineag, rei de Dama, Gemair, rei de Seboim, Salach. rei de Bela, Tabik, rei de Darfos, e Baktor, rei do Deserto.
2 Esses doze reis chegaram a Melchizedek, rei de Salém e servo do Deus Altíssimo, e quando eles viram a sua figura e ouviram as suas palavras, suplicaram-lhe que fosse junto com eles. Ele respondeu-lhes: "Não tenho permissão de afastar-me daqui para um outro lugar".
3 Então apressaram-se em mútuas consultas para a decisão de construir-lhe uma cidade, enquanto comentavam entre si: "Ele é na realidade o rei de toda a terra e pai de todos os reis". Assim, eles edificaram-lhe uma cidade e constituíram Melchizedek seu rei, e ele chamou-a Jerusalém.
4 Quando Magog, o rei do Sul, ouviu falar disso, veio ter com ele, admirou o seu porte, conversou com ele e fez-lhe oferendas e deu-lhe presentes. Dessa forma, Melchizedek era honrado por todos os povos e chamado de "pai dos reis".
5 E isso que foi dito pelo Apóstolo: "Os seus dias não têm começo e não têm fim". Aos néscios todavia pareceu que ele não foi um homem, e dele afirmaram erroneamente que era Deus.
6 Absolutamente não! Mas os seus dias não têm nem começo, nem fim, pois, não é dita uma palavra sobre como ele foi levado da casa dos seus pais por Sem, filho de Noé, nem sobre sua idade quando partiu para o Oriente, nem sobre os seus anos quando partiu deste mundo.
7 Por ter sido ele o filho de Malach e neto de Arpachsad, filho de Sem, e não o filho de um dos Patriarcas, diz o Apóstolo que nenhum homem da estirpe de seu pai serviu diante do Altar. O nome do seu pai não está consignado no registro das gerações, porque os evangelistas Mateus e Lucas só mencionaram os Patriarcas. Por isso também é que os nomes do seu pai e de sua mãe são desconhecidos.
8 O Apóstolo contudo não diz que ele não tinha pais, mas tão-somente que no registro genealógico de Mateus e Lucas os seus nomes não constam.
9 No centésimo ano de Abraão, apareceu no Oriente um rei por nome Kurnros. Este construiu Somosata e Caludias, segundo o nome da sua filha Kalod, e Perre, segundo o nome do seu filho Poron. No qüinquagésimo ano de Regus, Nirnrod subiu e construiu Nísibe e Edessa.
10 Cercou Haran, que é Edessa, com o muro de Haranith, mulher de Dasan, o sacerdote da montanha. Os habitantes de Haran erigiram para ela uma estátua e passaram a venerá-la. Baltin foi entregue a Tammuz; mas porque Beelschemin a amava, Tammuz fugiu dele. Então ela ateou o fogo e Haran ardeu.
Capítulo 30
Isaac
1 Quando morreu Sara, mulher de Abraão, este tomou por esposa a Cetura, filha de Baktor, rei do Deserto. Dela nasceram-lhe Simron, Jaksan, Medan e Midian, Jesbak e Suach. Destes procederam aos árabes.
2 Quando Isaac chegou aos quarenta anos de idade, Eliezer, um dos descendentes de Abraão, foi ao Oriente buscar Rebecca; Isaac então tomou-a por esposa. Quando Abraão morreu, Isaac sepultou-o ao lado de Sara. Quando Isaac tinha sessenta anos, Rebecca ficou grávida de Esaú e Jacó.
3 Nas suas angústias antes do parto, ela foi procurar Melchizedek. Este rezou por ela, e depois disse: "Dois povos estão no teu ventre, e duas nações serão segregadas das tuas coxas, isto é, procederão do teu corpo; e uma será mais forte do que a outra, e a mais velha deverá ser submetida a mais nova", isto é, Esaú deverá servir a Jacó.
4 Quando Isaac tinha sessenta e sete anos de idade, foi construída Jericó por obra de sete reis, a saber, o rei dos hititas, o rei dos amoreus, o rei dos gergestitas, o rei dos jebuseus, o rei dos cananeus, o rei dos hititas e o rei dos fereseus.
5 Cada um deles ergueu um muro ao redor da cidade. Anteriormente porém já o filho do rei do Egito, Mesrin, havia fundado a cidade de Jericó. No deserto, Ismael converteu o moinho manual em moinho de trabalho escravo.
6 No centésimo ano de vida de Isaac, este abençoou a Jacó, que contava quarenta anos de idade. Depois de recebida essa bênção do seu pai, ele desceu ao Oriente. Quando certo dia ele foi ao deserto de Beerseba, ali pegou no sono; ao adormecer, tomou de uma pedra para servir-lhe de encosto para a cabeça.
7 Então em sonho ele presenciou uma visão: da terra partia uma escada e a sua extremidade alcançava o céu. Os Anjos de Deus desciam e subiam por ela, e no alto dela estava o Senhor. Então Jacó acordou do seu sono e disse: "Em verdade, esta é a morada de Deus".
8 Depois tomou a pedra que lhe servira de encosto, ergueu um altar, ungiu-o com óleo, fez uma promessa, dizendo: "De tudo o que possuo oferecerei uma décima parte a esta pedra".
9 Para os que entendem, é evidente: a escada vista por Jacó representa a Cruz do Redentor; os Anjos que por ela subiam e desciam são os servidores, como Zacarias, Maria, os Magos e os Pastores. O Senhor postado no alto da escada é o Messias, que pende do alto da Cruz, para depois descer ao mundo inferior e redimir-nos.
10 Depois de haver Deus mostrado ao piedoso Jacó a Cruz do Messias, através da escada e dos Anjos, bem como sua descida aos infernos para a nossa salvação, a Igreja, a casa de Deus, e o altar da pedra, a oferta dos dízimos e a unção pelo óleo, Jacó seguiu o seu caminho para o Oriente, e lá Deus mostrou-lhe o Batismo, pois ele viu três rebanhos que estavam junto a um poço.
11 Uma grande pedra estava colocada na abertura do poço; Jacó foi lá e removeu a pedra, dando de beber às ovelhas do irmão de sua mãe. Depois de haver! dado de beber às ovelhas, ele tomou Rachel e beijou-a.
12 O "poço" era o Batismo, que ficara oculto às gerações e às estirpes. O piedoso Jacó e os três rebanhos de ovelhas dão-nos a imagem das três subdivisões do Batismo, o dos homens, o das mulheres e o das crianças.
13 O fato de Jacó ter visto Rachel, que vinha com as ovelhas, mas não havê-la abraçado e beijado antes de ter removido a pedra da boca do poço e dado de beber às ovelhas, indica a lei dos membros da Igreja, segundo a qual só abraçam e beijam as ovelhas do Messias após o Batismo, depois de terem imergido e se revestido da força da água; só então abraçam e beijam os filhos da Igreja.
14 Durante sete anos Jacob serviu a Labão, e só então lhe foi concedida aquela que ele amava; isto significa que aos judeus, que prestaram servidão ao faraó, rei do Egito, e depois saíram desse país, não foi concedido o testamento da Igreja esposa do Messias, mas somente o velho testamento, gasto e deteriorado.
 15 Isso representa a primeira filha recebida por Jacob: os seus olhos eram feios, enquanto que os olhos de Rachel eram bonitos e o seu rosto brilhante. Sobre o primeiro testa-mento fora estendido um véu, de sorte que os filhos de Israel não puderam ver a sua beleza; o segundo testamento, porém, é pura luz.
Capítulo 31
Jacó e seus Filhos
1 Jacó tinha setenta e sete anos de idade quando recebeu a bênção de seu pai. Na idade de oitenta e nove anos, gerou de Lia o seu primogênito, Ruben. São os seguintes os filhos de Jacob: Ruben, Simeão, Levi, Judá, Issacar e Zebulon; esses foram gerados por Lia: José e Benjamim são os filhos de Rachel; Dan e Naphtali são de BaIla, escrava de Rachel.
2 Passados vinte anos, Jacó tomou para junto do seu pai Isaac. A vida toda de Isaac alcançou cento e oitenta anos, tendo Levi trinta e um anos de idade; faleceu quando Jacó contava cento e vinte anos. Vinte e três anos após a volta de Jacó de Haran, José foi vendido aos madianitas; isso aconteceu em vida de Isaac, e todos deploraram profundamente.
3 Quando Isaac morreu, Jacó e Esaú, e seus outros filhos, sepultaram-no junto de Abraão e Sara. Sete anos mais tarde, faleceu Rebecca, e foi enterrada junto de Abraão, lsaac e Sara. Rachel também morreu e foi sepultada junto deles.
4 Judá, filho de Jacó, casou-se com a Cananéia Batsua; seu pai. Jacó, entristeceu-se por ter ele tomado uma mulher da estirpe de Canaã. Falou então Jacó a Judá: "Não permita o Deus dos nossos pais Abraão e Isaac que a geração de Canaã se misture com os meus descendentes!"
5 Da Cananéia Batsua nasceram-lhe Her, Onan e Sela. Judá escolheu Thamar para seu primogênito Her, como esposa; mas por este viver em coito sodomita com ela, Deus o fez morrer.
6 Então Judá entregou Thamar a Onan; mas cada vez que este tinha o seu sêmen quente, a ponto de introduzi-lo em Thamar, lançava-o fora; então Deus fê-lo morrer também. Assim, Deus não permitiu que a estirpe de Canaã se misturas-se com a estirpe de Jacó; pois este havia suplicado ao Senhor que a geração de Canaã, primogênito de Cam, "o impudico", não se mesclasse com os descendentes do tronco dos Pais.
7 Deus fez com que Thamar fosse para a rua; então Judá deitou-se com ela de maneira impura. Ela engravidou e deu à luz Farés e Zeracho Jacó, com todos os seus descendentes, desceu ao Egito, para junto de José, e lá permaneceu por dezessete anos.
8 Morreu aos cento e quarenta e sete anos de idade; José tinha cinqüenta e seis anos quando o seu pai morreu, noduodécimo ano de Kahat. Os médicos sábios do Faraó embalsamaram-no e José levou-o de volta, sepultando-o junto de Abraão e do seu pai lsaac.
Capítulo 32
Os Troncos de Jacó
1 Existem escritores que afirmam que, a partir da morte de Jacó, as estirpes se intercalaram e misturaram-se entre si; mas assim não procede à luz da verdade, pois há dois ramos de gerações: uma "das estirpes" e outra "dos filhos de Israel".
2 Quando saíram do Egito, Judá gerou Farés, este gerou Hesron, este Aram, Aram gerou Aminadab, e este Nahasson, que foi príncipe em Judá. Aminadab deu a irmã de Nahasson a Eleazar, o filho do sacerdote Aarão; dela nasceu o sumo sacerdote Piuechas; este, com a sua oração, manteve afastada a peste.
3 Mostrei-te, portanto, que de Aminadab, pela irmã de Nahasson, procedeu o sacerdócio dos filhos de Israel, e do irmão dela, Nahasson, a realeza. Dessa forma, o sacerdócio e a realeza dos filhos de Israel são oriundos de Judá.
4 Nahasson gerou Selia, e Selia gerou Boaz. Observa agora como a realeza procedeu de Boaz e da moabita Ruth, pois Boaz, já velho, casou-se com Ruth, para que Lot, sobrinho de Abraão, pudesse participar do ramo da realeza!
5 Assim, Deus não recusou ao justo Lot a recompensa pelo seu trabalho; pois sacrificara-se em terra estrangeira. juntamente com Abraão, e acolhera em paz o Anjo do Senhor. Lot. o justo, também não foi censurado por ter deitado com suas filhas.
6 Deus concedeu à semente desses dois, que dela se originasse o ramo dos reis. Dessa forma, o Messias nasceu da semente de Lot e de Abraão, pois, da moabita Ruth nasceu Obed, de Obed nasceu Isai, de Isai Davi, e de Davi, Salomão. Estes procedem da linhagem da moabita Ruth, filha de Lot.
7 Da amonita Naema, outra das filhas de Lot, que Salomão tomou por mulher, nasceu Jeroboão, que foi re: depois de Salomão. Salomão teve muitas mulheres, setecentas por casamento e trezentas como concubinas; porém, das mil mulheres que tomou não gerou filhos, a não ser da amonita Naema.
8 Por que Deus não lhe concedeu nenhum filho das outras` Para que a má semente dos cananeus, jebuseus, amoreus heteus, gergeseus, e de outros povos repudiados por Deus, não se misturasse à linhagem genealógica do Messias.
Capítulo 33
Moisés
1 Os ramos de gerações do: filhos de Israel são os seguintes: Levi, Amram, Moisés Josué, filho de Nun, e Caleb filho de Jephunne. Estes nasceram no Egito.
2 Quando Moisés nasceu foi colocado no rio. Então a egípcia Sipor, filha do Faraó, recolheu-o, e ele permaneceu na casa do Faraó por quarenta anos. Depois disso, ele matou o egípcio Phetkom, chefe dos padeiros do Faraó.
3 Quando a corte do Faraó ficou sabendo, e como Makri, a filha do Faraó conhecida por "a trombeta do Egito" que havia criado Moisés já tivesse morrido, ele teve medo e fugiu para Madian, para junto do cushita Reguei, sacerdote de Madian.
4 Desposou a cushita Sipora, filha do sacerdote; dela nasceram dois filhos, Gerson e Eliezer, e quando Moisés contava cinqüenta e dois anos de idade, nasceu no Egito Josué, filho de Nun. Moisés estava com oitenta anos quando Deus falou-lhe da sarça ardente, e de temor diante d'Ele a sua língua ficou presa. Por isso ele disse a Deus: "Vê, meu Senhor! Desde o dia em que me dirigiste a palavra, fiquei gago".
5 Ele permaneceu quarenta anos no Egito; quarenta anos na casa do sacerdote de Madian; e outros quarenta como condutor do povo. Morreu com a idade de cento e vinte anos, sobre o monte Nebo. Josué, filho de Nun, foi condutor dos filhos de Israel durante vinte e sete anos.
6 Depois da morte de Josué, Cusan, o cruel, assumiu o comando dos filhos de Israel durante oitenta anos. Depois, pelo período de quarenta anos, Israel foi conduzido por Athniel, filho de Cena e irmão de Caleb, filho de Jephunne.
7 Depois, por dezoito anos, os filhos de Israel ficaram submetidos aos moabitas. Em seguida, Ehud, filho de Gera, dirigiu os israelitas pelo espaço de oitenta anos, e quando Ehud chegou aos vinte seis anos de idade, o quarto milênio terminou.
Capítulo 34
Os Juizes, Davi e Salomão
1 Nabin, o estéril, deteve então o poder por vinte anos; Deborah e Barak por quarenta anos. Depois, os israelitas ficaram submetidos aos madianitas por sete anos, e Deus os libertou por meio de Gedeão; este os conduziu durante quarenta anos.
2 Em seguida, reinaram seu filho Abimelech durante três anos; Thola, filho de Pua, durante vinte e três anos; e o gileadita Jair durante vinte e dois anos. Depois, uma vez mais, os israelitas foram subjugados pelos amonitas, durante dezoito anos. Deus libertou-os por intermédio de Jephta, que sacrificou sua filha; ele os conduziu por seis anos.
3 Ebzan, que é Nahasson, conduziu-os depois por sete anos; Elon, que procedia de Zebulon, por dez anos; e Adbon por oito. Em seguida, os israelitas foram submetidos pelos filisteus, por quarenta anos; Deus libertou-os por obra de Sansão, que depois os conduziu durante vinte anos.
4 Após isso, passaram dezoito anos sem um chefe; em seguida apresentou-se o sacerdote Heli, que os dirigiu durante quarenta anos. Depois veio Samuel, e conduziu-os por vinte anos; nos dias de Samuel, os israelitas provocaram a ira de Deus, que os havia libertado da escravidão do Egito.
5 Escolheram Saul, filho de Cis, como seu rei, e ele reinou quarenta anos. No tempo de Saul vivia Golias, o gigante dos filisteus; apresentava-se com arrogância, ofendendo Israel e blasfemando contra Deus.
6 Então ele foi morto por Davi, filho de Isai, e por causa disso, ele foi glorificado pelas filhas de Israel, e sucedeu Saul. Saul foi morto pelos filisteus, porque abandonou Deus, buscando refúgio junto aos demônios.
7 Davi reinou quarenta anos sobre os israelitas, e depois dele Salomão, igualmente por quarenta anos. Salomão realizou grandes maravilhas. Também mandou buscar o ouro das montanhas auríferas de Ophir; o transporte em navios durou trinta e seis meses.
8 Edificou Tadmor, no deserto, e lá executou obras portentosas e magníficas. Quando Salomão chegou nos limites das montanhas de Seir, encontrou o altar que Pirozakar, Pioraza e Jazdod haviam erguido. Estes haviam sido mandados pelo gigante Nirnrod junto ao sacerdote da montanha Seir, Bileam, pois ouvira dizer que este escrutava as constelações.
9 Quando chegaram nos confins de Seir, ergueram lá um altar ao sol. Salomão, depois de ver esse altar, mandou construir ali uma cidade e chamou-a de Heliópolis, isto é, cidade do sol. Edificou também Aradus, no meio do mar.
10 Ele era famoso e enaltecido, e a fama de sua sabedoria alcançou todos os cantos da terra. E a rainha de Sabá foi procurá-lo. Salomão tinha especial consideração pelo rei de Tiro, Hiram.
11 Hiram reinou quinhentos anos em Tiro, desde os dias do reinado de Davi até os de Sedecias e de todos os reis israelitas, e chegando a esquecer que era um homem, blasfemou e disse: "Eu sou Deus, e sentou no trono de Deus no meio do mar". Foi morto pelo rei Nabucodonosor.
Capítulo 35
O Esplendor de Salomão
1 Nos dias de Hiram foi estabeleci da a púrpura como a vestimenta dos reis. Isso porque um dia, um cachorro passeava na beira do mar e viu um molusco purpúreo que saía da água. Mordeu-o, e imediatamente o seu focinho ficou tinto do sangue do molusco.
2 Isso foi presenciado por um pastor, que pegou lã e limpou o focinho do cachorro. Com essa lã ele confeccionou para si uma coroa e colocou-a sobre a sua cabeça. Enquanto ele passeava ao sol, todos que o viam acreditavam que de sua cabeça faiscavam raios de fogo.
3 Quando Hiram ouviu falar disso, mandou buscá-lo: ao  ver aquela lã, ficou pasmado e admirado. Reuniram-se então todos os tintureiros e admiraram-se com o fato; saíram para pesquisar o assunto, encontraram tais moluscos e ficaram muito contentes; Salomão entusiasmou-se sobremaneira.
4 A comida da mesa de Salomão constava diariamente de quarenta bois, cem ovelhas, cento e trinta medidas de farinha de trigo, sessenta medidas de outra farinha e trezentos cântaros de vinho, afora os veados, corças, gamos e o produto da caça do campo.
5 Ele se tornou ousado, transgrediu a Lei e deixou de observar os mandamentos do seu pai. Tomou mil mulheres, de todos os povos odiados por Deus.
6 Na sua velhice, entregou o seu coração às mulheres, que com isso se divertiam; escutava as suas palavras, atendia às suas vontades e renegou o Deus do seu pai Davi. Ergueu altares aos demônios, oferecia sacrifícios a ídolos e imagens e adorava a obra das mãos humanas.
7 Deus então desviou dele a Sua face, e ele morreu. Reinou em Jerusalém pelo período de quarenta e um anos; depois dele subiu ao trono o seu filho Roboão.
Capítulo 36
Roboão e os seus Sucessores
1 Este chegou ao reinado aos quarenta e um anos de idade. Levou a infâmia a Jerusalém com seu despudor, com altares aos demônios.
2 Riram reinou quinhentos anos em Tiro, desde os dias do reinado de Davi até os de Sedecias e de todos os reis israelitas, e chegando a esquecer que era um homem, blasfemou e disse: "Eu sou Deus, e sento no trono de Deus no meio do mar". Foi morto pelo rei Nabucodonosor.
Capítulo 37
O Esplendor de Salomão
1 Nos dias de Riram foi estabeleci da a púrpura como a vestimenta dos reis. Isso porque um dia, um cachorro passeava na beira do mar e viu um molusco purpúreo que saía da água. Mordeu-o, e imediatamente o seu focinho ficou tinto do sangue do molusco.
2 Isso foi presenciado por um pastor, que pegou lã e limpou o focinho do cachorro. Com essa lã ele confeccionou para si uma coroa e colocou-a sobre a sua cabeça. Enquanto ele passeava ao sol, todos que o viam acreditavam que de sua cabeça faiscavam raios de fogo.
3 Quando Riram ouviu falar disso, mandou buscá-lo; ao ver aquela lã, ficou pasmado e admirado. Reuniram-se então todos os tintureiros e admiraram-se com o fato; saíram para pesquisar o assunto, encontraram tais moluscos e ficaram muito contentes; Salomão entusiasmou-se sobre-maneira.
4 A comida da mesa de Salomão constava diariamente de quarenta bois, cem ovelhas,cento e trinta medidas de farinha de trigo, sessenta medidas de outra farinha e trezentos cântaros de vinho, afora os veados, corças, gamos e o produto da caça do campo.
5 Ele se tomou ousado, transgrediu a Lei e deixou de observar os mandamentos do seu pai. Tomou mil mulheres, de todos os povos odiados por Deus.
6 Na sua velhice, entregou o seu coração às mulheres, que com isso se divertiam; escutava as suas palavras, atendia às suas vontades e renegou o Deus do seu pai Davi. Ergueu altares aos demônios, oferecia sacrifícios a ídolos e imagens e adorava a obra das mãos humanas.
7 Deus então desviou dele a Sua face, e ele morreu. Reinou em Jerusalém pelo período de quarenta e um anos; depois dele subiu ao trono o seu filho Roboão.
Capítulo 38
Roboão e os seus Sucessores
1 Este chegou ao reinado aos quarenta e um anos de idade. Levou a infâmia a Jerusalém com seu despudor, com altares aos demônios e com o cheiro do paganismo. E o reino de Davi foi partido.
2 No quinto ano do seu governo, o rei do Egito, Sisak, marchou contra Jerusalém e saqueou todos os tesouros do serviço do Templo do Senhor, bem corno todos os tesouros reais de Davi e Salomão, os vasos de ouro e de prata, enquanto se vangloriava e dizia: "Eu não tiro a vossa propriedade, mas somente as riquezas que os vossos pais levaram do Egito".
3 Roboão morreu na impiedade do seu pai Salomão; depois dele reinou o seu filho Abias. Ele arruinou Jerusalém com a impureza e impiedade, porque a filha de Absalão, Maecha, era sua mãe. Morreu na impiedade do seu pai.
4 Depois dele, reinou em Jerusalém o seu filho Asa, por quarenta anos. Ele fez o que agradava aos olhos do Senhor, baniu de Jerusalém a impudicícia e manteve o seu povo afastado da impiedade; pois ele era observante dos Mandamentos de Deus.
5 Expurgou o seu reino da impiedade e dela zombava diante de todo o povo, por causa dos sacrifícios oferecidos a ídolos. Zerach levantou-se contra ele; mas Deus humilhou-o diante de Asa. Asa morreu na sua retidão, como o seu antepassado Davi.
6 Depois dele, subiu ao trono o seu filho Josaphat. Este andou nos caminhos do seu pai Asa e agiu de acordo com o que era agradável a Deus. Entretanto, Deus irou-se com ele, porque amava a casa de Achab; por isso, não lhe foi concedido por Deus buscar o ouro de Ophir.
7 Ele construiu navios, na intenção de expedi-los; mas elegi se despedaçaram em Asiongaber. Quando subiu ao trono ele tinha trinta e dois anos; sua mãe foi Asuba, filha de Silchis. Josaphat morreu na sua retidão; depois dele reinou o seu filho Jorão.
8 Tinha trinta e dois anos quando chegou ao poder, e reinou em Jerusalém durante oito anos; não fez o que era agradável aos olhos de Deus. Fazia sacrifícios nos altares do diabo, e morreu na impiedade.
9 Depois dele reinou o seu filho Ocozias; chegou ao poder com a idade de vinte e dois anos, e ficou um ano em Jerusalém. Nesse único ano obrou grandes males diante do Senhor. Por causa do exercício da maldade e impiedade, Deus entregou-o nas mãos dos seus inimigos, que o mataram.
10 Depois da sua morte, sua mãe mandou matar todos os filhos da casa real de Davi; pensava poder assim extirpar a realeza dos judeus. Não deixou vivo nenhum rebento da casa real, a não ser Joás, que Joseba, filha de Jorão e neta de Josaphat, havia salvo secretamente e escondido em sua própria casa.
11 Assim, a irmã de Achab reinou sete anos em Jerusalém, e conspurcou-a de impudicícia, pois ordenou que as mulheres praticassem a formicação abertamente e sem receio, e que os homens cometessem o adultério com as mulheres do seu próximo, porque nenhuma culpa lhes seria imputada.
12 Ela agiu em Jerusalém com todo o despudor de Jezabel e com a impiedade da casa de Achab.
Capítulo 39
Joás e seus Sucessores
1 Depois de sete anos, os habitantes de Jerusalém começaram a pensar quem escolheriam como rei. Quando o sacerdote Jojada ouviu falar disso, reuniu todo o povo na Casa do Senhor, no Templo edificado por Salomão.
2 Quando todos estavam reunidos, falou-lhes o sacerdote Jojada da seguinte maneira: "Quem pensais que deve ser rei e assentar-se no trono de Davi, a não ser um rei e filho de rei?" Quando ele lhes apontou o próprio, alegraram-se profundamente, e então os chefes de cem e os chefes de mil encaminharam-se até lá.
3 Os ordenanças e soldados da guarda conduziram o rei à Casa do Senhor, cercado de todos os corpos militares de armas em guarda. então o sacerdote Jojada fê-lo assentar-se sobre o trono do seu pai Davi.
4 Ele tinha sete anos de idade quando foi proclamado rei. Reinou por quarenta anos em Jerusalém; sua mãe era Sibea, de Beerseba; mas Atalja havia sido assassinada. Joás, todavia, afastou-se do agir correto que o sacerdote Jojada lhe havia recomendado; depois que este morreu, derramou o sangue inocente dos seus filhos.
5 Joás morreu, e depois dele reinou o seu filho Amasias. Ele tinha vinte e cinco anos quando chegou ao poder, e reinou vinte e nove anos em Jerusalém; sua mãe chamava-se Joadan. Quando Amasias morreu, sucedeu-lhe o seu filho Ozias (Azarias).
6 Ele tinha dezesseis anos quando chegou ao trono, e reinou durante cinqüenta anos em Jerusalém; sua mãe chamava-se Jechalja. Ele praticou o bem diante do Senhor. Foi porém muito audacioso, penetrou no Santo dos Santos, tomou o turíbulo das mãos do sacerdote de Deus e passou a incensar o Templo do Senhor.
7 Por ter feito isso, o seu corpo ficou coberto de lepra. E ao Profeta Isaías foi retirado o dom da profecia, por não havê-lo exortado; depois azias morreu. Depois dele, reinou o seu filho Jothan; contava vinte e cinco anos quando chegou ao poder, e reinou dezesseis anos em Jerusalém; sua mãe foi Jerusa, filha de Zadok. Ele praticou o bem diante do Senhor.
8 Jothan morreu, e depois dele reinou o seu filho Acaz; tinha vinte anos quando subiu ao trono. Reinou dezesseis anos em Jerusalém; sua mãe era Aphin, filha de Levi. Ele praticou o mal diante do Senhor, e fazia sacrifícios aos demônios.
9 Contra ele levantou-se o rei da Assíria, Tiglatpilesar. O próprio Acaz, em um escrito, declarou-se seu servo, e assim o assírio o subjugou. Mandou ao rei da Assíria ouro e prata retirados da Casa do Senhor; durante o seu reinado, os israelitas foram levados ao cativeiro.
10 E o rei mandou que o povo de Babel ocupasse aquela terra, em lugar dos israelitas: então leões ameaçavam matá-los. Por isso, o rei da Assíria enviou-lhes o sacerdote Uri, que lhes ensinou leis.
Capítulo 40
Ezequias
1 Acaz morreu, e depois dele reinou o seu filho Ezequias. Ezequias tinha vinte e cinco anos quando chegou ao poder. Reinou vinte e nove anos em Jerusalém; sua mãe foi Abi, filha de Zacarias. Ele praticou a retidão diante do Senhor, derrubou os altares e quebrou a serpente de bronze que Moisés havia feito no deserto, pois os israelitas a adoravam, e baniu de Jerusalém a impiedade.
2 No seu quarto ano, o rei dos assírios, Salmanassar, invadiu Jerusalém e levou para o cativeiro o resto de Israel; arrastou-os para Madian, além da Babilônia. No vigésimo ano de Ezequias, irrompeu Senaquerib, rei dos assírios, e apossou-se de todas as cidades e povoados de Judá; somente Jerusalém foi poupada, por causa da oração de Ezequias.
3 Ele porém ficou mortal-mente doente; estava profunda-mente triste e chorava muito. Existem pessoas que o censuram; mas não procuram saber qual era o motivo da sua profunda tristeza. A razão do abatimento de Ezequias era que ele não tinha nenhum filho que pudesse sucedê-lo, no momento em que se sentia à morte.
4 Quando com os olhos da sua alma percebeu que não tinha nenhum filho que pudesse reinar depois dele, entristeceu-se profundamente, e chorando disse: "Ai de mim! Morrerei sem filhos: e aquela bênção que possuíamos ao longo de quarenta e seis gerações ser-me-á tirada hoje, e por meu intermédio extinguir-se-á a realeza de Davi. Comigo encerra-se hoje o ramo das gerações dos reis de Judá".
5 Era essa a tristeza de Ezequias. Depois de ficar restabelecido da sua enfermidade, decorreram mais quatorze anos, quando então nasceu-lhe Manassés. Ezequias morreu em grande sossego. por deixar um filho que se assentaria sobre o trono de seu pai Davi.
Capítulo 41
Manassés e seus Sucessores
1 Manassés tinha doze anos de idade quando chegou ao poder, e reinou vinte e cinco anos em Jerusalém: sua mãe chamava-se Hephsiba. Ele foi pior e mais ímpio que todos os seus antecessores; ergueu altares aos diabos, fazia sacrifícios aos ídolos, encheu Jerusalém de sacrilégios e provocou a ira de Deus.
2 Ao ser advertido pelo Profeta Isaías, perseguiu-o e mandou atrás dele pessoas perversas. Essas serraram o profeta Isaías com um serrote, da cabeça aos pés, sobre um cepo. Ele tinha cento e vinte anos quando o serraram, e durante noventa anos foi profeta de Deus.
3 Mas Manassés arrependeu-se por ter mandado matar lsaías: vestiu uma roupa de penitência, impôs-se um jejum, e durante o resto da sua vida comeu o pão com lágrimas, por ter praticado o mal e ter matado o Profeta. Manassés morreu, e o seu filho Amon passou a ser o rei.
4 Este tinha vinte e dois anos quando subiu ao poder, e reinou dois anos em Jerusalém: sua mãe foi Mesulemeth. Amon praticou o mal diante do Senhor, e mandou os seus filhos caminharem sobre o fogo. Morreu, e depois dele reinou o seu filho Josias, que contava oito anos quando subiu ao trono, e reinou trinta e um anos em Jerusalém; sua mãe era Jedida, a filha de Adaja de Baskat.
5 Ele praticou o bem diante do Senhor, e caminhou nas sendas do seu pai Davi; não se desviava nem à esquerda, nem à direita. Foi morto pelo Faraó, o Coxo, e depois da sua morte, reinou o seu filho Joacaz.
6 Tinha vinte e dois anos quando chegou ao poder, e reinou por três meses em Jerusalém; sua mãe era Amital, a filha de Jeremias de Libna. Ele praticou o mal diante do Senhor, como o fizera Manassés. O rei do Egito, Faraó o Coxo, fê-lo prisioneiro em Riblat, terra de Hemat, ainda quando era rei em Jerusalém, e impôs ao país um tributo de cem talentos de prata e dez talentos de ouro.
7 Em seguida Faraó, o Coxo, estabeleceu como rei a Eliachim, filho de Josias, ao invés do seu pai, e deu-lhe o nome de Joiakim. Quanto a JoAcaz, levou-o embora; chegou ao Egito, e lá morreu. Joiakim deu ao Faraó ouro e prata; mas por ordem do Faraó, distribuiu o tributo por todo o país. Assim, cada pessoa da terra trazia ouro e prata, conforme suas posses, segundo determinação do Faraó, o Coxo.
Capítulo 42
A Queda de Jerusalém
1 Joiakim tinha vinte e cinco anos quando foi colocado no poder, e reinou por onze anos em Jerusalém; sua mãe era Zebida, filha de Fadaías de Ruma. Praticou o mal diante do Senhor, como o fizeram seus pais.
2 No seu tempo, Nabucodonosor, rei da Babilônia, invadiu Jerusalém. Joiakim permaneceu três anos submetido a ele. Depois se rebelou e levantou-se contra ele. Então Deus, por causa dos seus delitos, permitiu que marchassem contra ele legiões de soldados.
3 Depois Joiakim morreu e foi para junto dos seus pais; depois dele reinou o seu filho Jojakin. O rei do Egito, porém, nunca mais saiu dos limites do seu país, pois o rei da Babilônia tirou-lhe tudo o que possuía, desde o rio do Egito até o rio Eufrates.
4 Jojakin tinha dezoito anos quando chegou ao poder, e reinou três meses em Jerusalém: sua mãe foi Nechusta, filha de Elnatan de Jerusalém. Praticou o mal diante do Senhor, como o fizera seu pai. Nesse tempo, Nabucodonosor, rei da Babilônia, marchou contra Jerusalém.
5 E esse rei arrastou o seu povo ao cativeiro, no ano oitavo do seu reinado. Saqueou também todo o tesouro do Templo do Senhor bem como os tesouros do palácio real. Levou para a Babilônia toda Jerusalém, Jojakin, sua mãe, suas mulheres, seus principais e todos os guerreiros válidos; a todos levou à Babilônia, como prisioneiros.
6 Então o rei da Babilônia estabeleceu em seu lugar o tio dele, Matanias, como rei; e deu-lhe o nome de Sedecias. Sedecias tinha vinte anos quando foi colocado no poder, e reinou onze anos em Jerusalém; sua mãe foi Amital, filha de Jeremias, de Libna.
7 Praticou o mal diante do Senhor, como havia feito Jojakin. Assim, fez recair a ira do Senhor sobre Jerusalém. E Sedecias rebelou-se contra o rei da Babilônia. Então, no nono ano do seu reinado, Nabucodonosor, rei da Babilônia, irrompeu contra Jerusalém.
    8 A cidade foi então fechada e sitiada, até o undécimo ano do reinado de Sedecias. Quando depois foi invadida, todos os seus defensores fugiram, de noite, na direção dos campos rasos. Mas a legião dos caldeus perseguiu o rei e rendeu-o na planície de Jericó.
9 Então ele foi apartado de toda a sua corte e. como prisioneiro, foi arrastado à presença do rei da Babilônia, em Riblat; e ali foi sentenciado. Os filhos do rei Sedecias, por ordem do rei caldeu, foram trucidados sob os seus olhos. Depois o rei vazou os olhos do próprio Sedecias, acorrentou-o e levou-o para a Babilônia.
Capítulo 43
Ciro
1 Então Simeão, o sumo sacerdote, fez um pedido ao chefe militar, pois este lhe assegurava a liberdade de palavra. Devolveu-lhe então todos os livros das escrituras sagradas, e não os queimou. A seguir Simeão, o sumo sacerdote, amarrou-os todos juntos e atirou-os numa cisterna.
2 Jerusalém foi depois destruída e completamente devastada, e ninguém mais sobrou dentro dela a não ser o Profeta Jeremias, que ali morava, e que durante vinte anos proferiu lamentações sobre ela. Passado esse tempo, o Profeta Jeremias morreu, na Samaria; foi enterrado pelo sacerdote ar em Jerusalém, cumprindo juramento que o Profeta lhe solicitara.
3 Até a última destruição de Jerusalém, os escribas hebreus, gregos e sírios detiveram a verdade e reuniram condições de apresentar o registro das gerações dos troncos e dos povos. Mas, a partir dessa destruição, não houve mais nenhuma verdade nos seus escritos; assinalaram apenas os Patriarcas das tribos e não mostraram de onde procedia a linhagem dos sacerdotes.
4 Jojakin ficou prisioneiro durante trinta e sete anos; após a sua libertação, casou-se com Gulith, filha de Eliachim, e dela gerou Salatiel, na Babilônia. Jojakin morreu; e Salatiel casou-se depois com Hetbath, filha de Helkana, e dela gerou Zorobabel.
5 Zorobabel casou com Malkat, filha do escriba Esdras; mas não chegou a gerar dela nenhum filho, na Babilônia, pois nos dias de Zorobabel, príncipe de Judá, reinava na Babilônia Ciro, o persa. Ciro casou-se com a filha de Salatiel, e irmã de Zorobabel, segundo a lei persa, e fé-la rainha.
6 Então ela pediu a Ciro que permitisse o retomo dos israelitas. Zorobabel era seu irmão; por isso ela estava tão zelosa. e preocupada com a volta do cativeiro. Ciro amava sua mulher como a si mesmo, e cumpriu sua vontade.
7 Despachou arautos por toda a terra da Babilônia, anunciando que todos os israelitas se ajuntassem. Quando estavam reunidos, falou Ciro a Zorobabel, irmão de sua mulher: "Prepara-te para conduzir de volta os filhos do teu povo! Torna em paz a Jerusalém! Reconstrói a cidade dos teus Pais; habita nela e sejas o seu rei!"
8 Por ter Ciro possibilitado o retorno dos israelitas, Deus disse: "Eu inscrevi o meu servo Ciro entre os justos". E Ciro foi denominado "Meu pastor, o ungido do Senhor", porque sua semente, através de Mesainat, irmã de Zorobabel, foi incorporada à semente de Davi.
9 Os israelitas partiram então da Babilônia, sendo Zorobabel o seu rei, e sendo sumo sacerdote Josué, filhos de Josadak, um descendente de Aarão, segundo o Anjo indicou ao Profeta, dizendo-lhe: "Estes são filhos da unção". Quando saíram do cativeiro, no segundo ano de Ciro, chegava ao fim o quinto milênio.
Capítulo 44
Esdras e Zorobabel
1 Ao partirem, eles não possuíam mais nenhum escrito dos profetas. Então o escriba Esdras dirigiu-se àquela cisterna e lá encontrou um fumigador ardendo, e dele emanava uma fumaça perfumada.
2 Tomou então por três vezes daquela cinza dos livros sagrados, e levou-a à boca. De imediato foi-lhe concedido por Deus o espírito da profecia, e assim ele pôde restabelecer todos os escritos dos profetas. A luz que se encontrava naquela cisterna era a luz da santidade do Templo do Senhor.
3 Zorobabel era o rei em Jerusalém, Josué, filho de Josadak, o sumo sacerdote, e Esdras, o escriba do Pentateuco e dos Profetas. Quando os israelitas saíram da Babilônia, celebraram uma Páscoa. Os israelitas celebraram durante sua vida as três seguintes Páscoas: uma no Egito, nos tempos de Moisés; outra, sob o reinado de Josias; e a terceira, quando foram libertados da Babilônia.
4 Depois a Páscoa foi-lhes abolida por toda a eternidade. Desde o primeiro cativeiro de Jerusalém, em que Daniel foi lançado à prisão, até o reinado do persa Ciro, decorreram setenta anos, segundo a profecia de Jeremias.
5 Os israelitas iniciaram a reconstrução do Templo nos dias de Zorobabel, de Josué, filho de Josadak, e do escriba Esdras. A reconstrução durou quarenta e seis anos, como está escrito no santo Evangelho. Mas a linhagem das sucessivas gerações uma vez mais foi perdida de vista pelos escribas; não conseguiram mostrar-nos de quem os cabeças das estirpes tomaram as suas mulheres, nem de onde estas procederam.
6 Eu, porém, conservei a série verdadeira, e a todos posso mostrar a realidade dos fatos: No tempo em que os israelitas retomaram da Babilônia, Zorobabel gerou Abiud, de Malkat, filha do escriba Esdras. Abiud casou com Sakiat, filha do sacerdote Josué, que foi filho de Josadak, e dela gerou Eliachim.
7 Eliachim casou com Halab, filha de Domib, e dela gerou Azor; Azor casou com Jalpat, filha de Hasor, e dela gerou Zadok; Zadok casou com Celtin, filha de Domim, e dela gerou Achin; Achin casou com Heskat, filha de Tail, e dela gerou Eliud; Eliud casou com Bestin, filha de Hasol, e dela gerou Eleazar.
8 Eleazar casou com Dihat, filha de Tola, e dela gerou Matthan; Matthan casou com Sabrat, filha de Pinechas, e dela gerou dois filhos gêmeos, Jacó e Joaquim; Jacó casou com Hadbit, filha de Eleazar, e dela gerou José; Joaquim casou com Dina, filha de Pachod, e dela gerou Maria, da qual nasceu o Messias.
Capítulo 45
Registro das Gerações após o Exílio
1 Já que nenhum dos escribas antigos encontrou os ramos das gerações dos descendentes de seus Pais, os judeus instaram junto aos filhos da Igreja para que comprovassem que os pais da bem-aventura — da Maria fazem parte daquelas gerações.
2 Insistiram para que os filhos da Igreja pesquisassem a linhagem dos Pais, para comprovar a verdade dos fatos; pois eles diziam que Maria era filha adulterina. Agora. porém, calar-se-á a boca dos judeus, e eles deverão admitir que Maria procede da casa de Davi e de Abraão.
3 Os judeus não possuem o registro das gerações, que lhes proporcionaria a verdade sobre a linhagem masculina dos seus pais, porque por três vezes os seus escritos foram queimados pelo fogo: a primeira vez ocorreu nos dias de Antíoco, que promoveu uma perseguição contra eles, profanou o Templo do Senhor e obrigou-os a fazer sacrifícios aos ídolos; a segunda vez, nos dias a terceira vez, nos dias de Herodes, quando Jerusalém foi arrasada.
4 Os judeus estavam em grande aflição, pois não possuíam nenhum ramo verdadeiro da geração dos descendentes dos seus pais. Procuravam com grande empenho descobrir a verdade dos fatos, mas não conseguiram.
5 Muitos eram os seus escribas, mas cada um escrevia à sua maneira. Não chegavam a um acordo, por não terem como apoiar-se nas bases da verdade. Mas os nossos escribas, os filhos da Igreja, também não tinham condições de mostrar-nos a verdade segura e indiscutível, nem mesmo em relação à maneira como o corpo de Adão fora transportado até o Gólgota, nem quanto à identidade dos pais de Melchizedek, e nem quanto à procedência dos pais da bem-aventurada Maria.
6 Quando os israelitas, pressionados pela Igreja, não conseguiram encontrar a verdade, apressaram-se a escrever erros e fantasias, e isso [...] para nós [...] essa série de sessenta e três gerações; ela começa com Abraão e chega até o Messias. Mas onde cada um deles foi buscar sua mulher e de quem ela era filha, isso nem os escribas gregos, nem hebreus, nem sírios conseguiram mostrar.
7 Mas assim como cada um dos mestres divinos da Igreja pôde estabelecer uma verdade que servisse de fundamento — e ofereceram aos fiéis uma arma com a qual pudessem lutar e combater os seus inimigos — assim também o Messias concedeu-nos a graça de poder esclarecer, no seu rico tesouro, aquilo que para eles era impossível.
8 Empenhamo-nos com todo zelo em fazer aquilo que para eles era impossível, acompanhando o diligente esforço do nosso irmão Nemésio, ilustre no Messias.
9 Embora tivesse eu sido prejudicado por minha própria inconstância, tu não te afastastes um momento sequer do amor pelo ensino, mas com certeza pela benévola simpatia que manifestas para comigo, esforcei-me sinceramente no cumprimento da incumbência que me deste, e assim posso dar-te notícia por escrito do resultado.
10 Escuta, meu irmão Nemésio! Esses ramos de gerações que te transcrevo não foram ainda descobertos por nenhum dos outros mestres. As mencionadas sessenta e três gerações, das quais deriva a humanidade do Messias, conheceram a seguinte sucessão:
11 Adão gerou Seth. Seth casou-se com Celimat, que nasceu junto com Abel, e dela gerou Enos. Enos casou-se com Anna, filha de Jobal e neta de Choch, filha de Seth, e dela gerou Cainan. Cainan casou com Perjat, filha de Kotim e neta de Jarbal, e dela gerou Mahalaleel. Este casou-se com Sechatpar, filha de Enos, e dela gerou Jared. Jared casou-se com Sebida, filha de Kuchlone neta de Cainan, e dela gerou Enoque.
12 Enoque casou-se com Sadkin, filha de Topich e neta de Mahalaleel, e dela gerou Matusalém. Este casou-se com Sakut, filha de Sokin e neta de Enoque, e dela gerou Lamech. Lamech casou-se com Cipa, filha de Tautab e neta de Matusalém, e dela gerou Noé. Este casou-se com Haikal, filha de Namos, e dela gerou Sem, Cam e Japhet. Sem gerou Arpachsad, este Salé, este Heber, este Peleg, este Regu, este Serog, que gerou Tharé.
13 Tharé casou-se com duas mulheres, Jona e Salmut; de Jona gerou Abraão e de Salmut, Sara. Abraão casou-se com Sara e gerou Isaac. lsaac casou-se com Rebecca e gerou Jacó, que se casou com Lia e gerou Judá. Judá gerou Farés, de Thamar. Farés gerou Hesron.
14 Hesron gerou Aram, este Aminadab, este Nahasson, este Salmon, e Salmon gerou Boaz, de Rahab. Boaz casou-se com Ruth, a filha de Lot, e gerou Obed. Obed gerou Isai, e este gerou o rei Davi, que se casou com Betsabá e dela gerou Salomão. Salomão gerou Roboão, este Abias, este Asa, este Josaphat, este Jorão, este Ocozias, este Joás, este Amasias, este azias, este Jotham, este Acaz, este Ezequias, este Manassés, este Amon, este Josias, este Joiakim, este Jeconias, este Salatiel, este Redabja, este Zorobabel, este Abiud, este Eliachim, este Azor, este Zadok, este Achim, este Eliud, este Eleazar, este Matthan, e este a Sibrat, filho de Pinechas; ele gerou Jacó e Joaquim.
15 Jacó casou-se com Hadbit, filha de Eleazar, e gerou José, noivo de Maria. Joaquim casou-se com Dina, que vem a ser Anna, filha de Pachod; sessenta anos depois de casados, ela deu à luz Maria, da qual nasceu o Messias. Sendo José filho do tio de Maria, a ele foi ela entregue por ordem divina para que ficasse sob os seus cuidados, pois Deus sabia que Maria seria perseguida pelos judeus.
16 Vês agora, irmão Nemésio, como os pais da bem-aventurada Maria procederam da linhagem genealógica dos descendentes de Davi? Vê! Situei-te agora sobre os fundamentos da verdade, a que nenhum dos outros escribas conseguiu chegar. Podes constatar como essas sessenta e três gerações se sucedem, desde Adão até o nascimento do Messias! Também para os judeus é uma satisfação poder averiguar a descendência das estirpes dos seus Pais.
17 Vês, irmão Nemésio, que foi nos dias de Ciro que chegou ao fim o quinto milênio? De Ciro até a Paixão de nosso Salvador transcorreram quinhentos anos, segundo a previsão de Daniel, que profetizou — e disse: "Após sessenta e duas semanas, o Messias será morto". Essas semanas correspondem aos quinhentos anos.
18 Vês por que deve calar-se a boca dos judeus, pois ousaram dizer que o Messias até hoje ainda não veio, então devem eles necessariamente escolher de duas uma: ou aceitam a profecia de Daniel, ou rejeitam-na. A sua profecia, na realidade, cumpriu-se, e as semanas transcorreram; o Messias foi morto e a Cidade Santa foi destruída por obra de Vespasiano.
Capítulo 46
O Messias
1 Vês agora, nosso irmão Nemésio, amante do saber, que no quadragésimo segundo ano do Império de Augusto nasceu o Messias, em Belém de Judá, como está escrito no santo Evangelho. Dois anos antes do nascimento do Messias apareceu a estrela aos Magos; viram no firmamento uma estrela que brilhava mais do que todas as outras.
2 No meio dela havia uma jovem, que trazia no colo um menino, e este tinha uma coroa na sua cabeça. Era costume dos reis antigos e dos magos caldeus escrutar nas constelações tudo quanto iria ocorrer.
3 Quando eles viram a estrela, turbaram-se grandemente e se encheram de temor, e a Pérsia toda entrou em alvoroço. Os reis, os magos, os sábios caldeus e persas ficaram abalados, encheram-se de temor em face do sinal que presenciavam, e disseram: "Teria o rei de Nínive declarado guerra ao país de Nimrod?"
4 Os magos e os caldeus apressaram-se em ler os seus livros de sabedoria; pela força da sabedoria dos seus escritos conseguiram o seu objetivo e chegaram a uma conclusão que se apoiava no chão firme da verdade. Efetivamente, pois, os magos caldeus, através do curso daquela estrela, que reputavam um sinal zodiacal, leram a verdade dos fatos, antes mesmo de conhecê-los pessoalmente.
5 Também os natuas detêm esse conhecimento, de tal sorte que, antes da vinda de um tufão ou da armação de uma tempestade, reconhecem pelo curso das estrelas o perigo que os ameaça. Quando então os Magos leram os oráculos de Nimrod, encontraram neles que em Judá haveria de nascer um rei. E assim, foi-lhes revelado todo o curso do plano de Salvação do Messias.
6 Imediatamente eles partiram do Oriente, segundo as tradições que herdaram dos seus pais; subiram na direção das montanhas de Nod, que se encontram no Norte e que abrem o caminho para o Ocidente, e lá tomaram ouro, mirra e incenso.
7 Daí podes reconhecer, irmão Nemésio, que eles conheceram antes todo o mistério do plano de Salvação do nosso Redentor, o que se revela pelos presentes que traziam: o ouro para um rei, a mirra para um médico e o incenso para um sacerdote.
8 Eles tiveram ciência da sua natureza, e reconheceram que era ao mesmo tempo rei, médico e sacerdote, pois quando o filho do rei de Sabá era ainda menino, seu pai levou-o a um rabino, e ele então entendeu o livro dos hebreus melhor do que todos os seus comandados e concidadãos.
9 Ele disse aos seus servidores que também em todos os livros jubilares estava escrito que o Rei haveria de nascer em Belém. Foram os seguintes os que ofereceram presentes ao Rei; eram reis e filhos de reis: Hormizd de Makozdi, rei da Pérsia, chamado o "rei dos reis", e que residia lá abaixo, em Adhorgin; Jazdegerd, rei de Sabá; e Peroz, rei de Seba, que se localiza no Oriente.
10 Quando eles se dispuseram a partir, o reino dos gigantes, um exército forte, ficou agitado e intranqüilo; igualmente, todas as cidades do Oriente ficaram em alvoroço por causa da atitude deles. Também Jerusalém e Herodes espantaram-se com a chegada deles. Herodes, por seu lado, recomendou-lhes: "Ide em paz e procurai diligentemente o menino, e quando o tiverdes encontrado, vinde a mim e dizei-me, para que eu também possa ir até lá e adorá-lo!" Ele, porém, apenas guardava astúcia no seu coração, e suas palavras apenas fingiam uma intenção de venerá-la.
Capítulo 47
Os Três Magos
1 Quando os Magos se puseram a caminho, havia em Judá uma grande movimentação por causa do édito de César Augusto, ordenando que cada homem se recenseasse em sua terra e em sua cidade de origem. Por isso é que Herodes ficou tão preocupado. e disse aos magos: "Ide e informai-vos bem!"
2 Eles se chamavam Magos por causa dos trajes que todos os reis pagãos portavam; quando faziam sacrifícios e traziam oferendas aos seus deuses, vestiam uma vestimenta dupla, por baixo a da realeza e por cima a da magia. Assim também eles, quando chegaram até o Messias, portavam os dois trajes, para poderem oferecer os seus presentes.
3 Quando se afastaram de Jerusalém e de Herodes, apareceu-lhes a estrela, que era o guia a indicar-lhes o caminho, e alegraram-se profundamente. A estrela ia adiante deles. até que chegaram a uma gruta: então eles viram o Menino envolto em panos e depositado numa manjedoura.
4 Enquanto subiam, imaginavam consigo pelo caminho que presenciariam um espetáculo grandioso ao lá chegarem, a pompa real e as instalações de um palácio de governo. Pois nascido o Rei, assim pensavam, encontrariam no país de Israel uma corte real, aposentos lavrados em ouro, o Rei e o filho do Rei vestidos de púrpura, divisões do exército e corpos de guarda obedientemente às ordens do Rei, e no palácio a presença dos grandes da terra que o honravam com seus presentes, a mesa real preparada com finos manjares, com ser-vos e servas reverentemente a postos.
5 E isso que os Magos pensavam encontrar. Mas nada disso encontraram, ao contrário, viram algo de muito mais grandioso. tão logo entraram na gruta. Viram José ali sentado cheio de admiração e Maria de olhos contemplativos. Mas não havia instalações luxuosas preparadas para eles, nenhuma mesa posta e sinal algum de pompa real à mostra.
6 Apesar de toda essa humildade e pobreza, não tiveram nenhuma dúvida em seus corações; aproximaram-se com reverência, adoraram-no e mandaram trazer os seus presentes: ouro, incenso e mirra. Maria e José ficaram muito constrangidos por nada terem a oferecer-lhes; mas os magos alimentaram-se das suas provisões de viagem.
7 O Messias havia completado oito dias quando os Magos Lhe trouxeram os presentes. Ao mesmo tempo em que José circuncidava o Menino, Maria recebia os presentes. José circuncidara-o de fato segundo a Lei.
8 E chamou isso de circuncisão, embora nada fosse subtraído ao Menino, pois assim como um ferro que penetra uma chama de fogo, separa-a mas não a corta, assim também foi a circuncisão do Messias, sem que nada Lhe fosse tirado.
9 Nos três dias em que os Magos permaneceram junto d'Ele, viram as Potestades celestes subindo e descendo junto ao Messias, e ouviam o coro dos Anjos, que louvavam dizendo: "Santo, santo, santo é o Senhor, Deus Todo-Poderoso; o céu e a terra estão cheios de sua Glória". Foram possuídos então de grande temor, acreditaram verdadeiramente no Messias e disseram: "Este é o Rei que desceu do céu e se fez Homem".
10 E Peroz disse-lhes: "Agora eu sei que a profecia de Isaias é verdadeira; pois, quando eu estava na escola dos hebreus, li Isaías e lá encontrei o seguinte: `Um menino nos nasceu; um filho nos foi dado; o seu nome é Admirável, Conselho, Deus, Eterno, Herói'.
11 "Em outro lugar está escrito: Vede, uma virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e o seu nome é Emmanuel, isto é, Deus conosco. Mas sendo Ele como um homem, e os Anjos do céu descendo até junto d'Ele, isso mostra que na realidade Ele é o Senhor dos Anjos e dos homens."
12 E todos os Magos creram e disseram: "Este é verdadeiramente Deus; pois, sobre a terra já nos nasceram tantas vezes reis, heróis e filhos de heróis; mas nunca ouviu-se dizer que os Anjos desceram até eles." Em seguida levantaram-se e adoraram-na como Senhor e Rei de todo o mundo. Prepararam depois as suas provisões e voltaram para sua terra, pelo caminho do deserto.
Capítulo 48
Herodes
1 Há pessoas que discutem sobre onde estava o Messias quando foram assassinados os meninos. Mas está escrito que Ele não se encontraria na terra de Judá. Por isso Ele foi para o Egito, para que se cumprisse a Escritura: "Do Egito eu chamei o meu Filho".
2 Saibais! Quando o Messias chegou ao Egito, os ídolos daquela terra foram derrubados, caíram ao chão e quebraram-se, para que se cumprisse a Escritura: "Vede, o Senhor caminhou sobre nuvens ligeiras e chegou ao Egito e os deuses egípcios tremeram diante dele". Ele não voltou do Egito, mas lá permaneceu até a morte de Herodes; depois deste, subiu ao trono o seu filho Arquelau.
3 Lembra-te, irmão Nemésio, de que eu disse que todos os homens, súditos de Herodes, estavam num recenseamento! Este foi completado no prazo de cinqüenta dias. Antes que o recenseamento fosse terminado e concluído, e antes que Herodes o tivesse lacrado e enviado a Roma, a César Augusto, Herodes não procedeu à busca do Messias, e até aquele momento não haviam sido assassinadas as crianças; foi no decurso daquela movimentação do censo que o Messias nasceu.
4 Passados quarenta dias depois do seu nascimento, Ele chegou ao Templo do Senhor, onde o ancião Simeão, filho de Josué e neto de Josadak, O tomou nos braços. Nos dias de Simeão ocorreu a volta dos prisioneiros da Babilônia; ele tinha quinhentos anos quando segurou nos seus braços o Messias.
5 Então falou o Anjo a José: "Levanta-te, toma o Menino e sua mãe, e foge para o Egito!" Quando terminou o recenseamento, os judeus foram liberados, de sorte que cada um pôde voltar para a sua região e lugar de domicílio. Então Herodes indagou sobre os Magos e foi-lhe dito: "Eles voltaram para suas terras".
7 Diante disso, ficou profundamente irritado e mandou de imediato seus emissários com a ordem de matar todos os meninos de Belém e das vilas circunvizinhas. Ao inspecionar as crianças, e não encontrando entre elas João, filho de Zacarias, disse: "Realmente, o filho dele reinará em Israel." Pois ele tinha ouvido algo do que fora dito pelo Anjo a Zacarias, quando lhe prometera João.
8 Assim, ele mandou um emissário a Zacarias, com a ordem de dizer-lhe: "Traze-me João!" Zacarias respondeu: "Eu sou sacerdote e sirvo no Templo do Senhor; não sei onde estão o menino e sua mãe". Por esse motivo, Zacarias foi morto entre os degraus e o Altar.
9 Izabel tomou consigo João e foi para o deserto. Herodes foi imediatamente atingido pelo castigo de Deus, sem compaixão; caiu doente. Seu hálito era pestilento e seu corpo estava sendo devorado pelos vermes; assim, ele foi castigado com um tormento indizível, a ponto de as pessoas não conseguirem mais aproximar-se dele por causa do seu cheiro horrível.
10 Nesse cruel sofrimento, sua alma foi descansar nas trevas exteriores. Mas ainda antes de morrer conseguiu praticar grande maldade, pois ordenara ao seu filho Arquelau e à sua irmã Salomé: "Tão logo eu estiver morto, sejam eliminados todos aqueles que eu mandei colocar na prisão!"
11 Na realidade, ele havia separado uma pessoa de cada casa e posto na cadeia, dizendo: "Eu sei muito bem que os judeus alegrar-se-ão imensamente com a minha morte. Mas para que eles não exultem enquanto estareis tristes e em pranto, todos os encarcerados deverão ser mortos, para que após a minha morte todos guardem luto, embora não o queiram !"
12 As suas ordens foram cumpridas. Isso feito, não houve uma única casa em toda Judá onde não reinasse o luto, como aconteceu no Egito no tempo de Moisés.
Capítulo 49
Batismo, Vida Pública e Morte do Messias
1 Quando Herodes morreu e José recebeu a notícia da sua morte, voltou para a Galiléia. Chegando aos seus trinta anos, o Messias foi batizado por João, que esteve toda a sua vida no deserto, alimentando-se de uma raiz, chamada Camus, e que era mel silvestre.
2 No duodécimo ano do Império de Tibério, o Messias padeceu. Como podes reconhecer agora, irmão Nemésio, nos dias de Jared, no seu quadragésimo ano, chegou ao fim o primeiro milênio; no sexcentésimo ano de Noé, o fim do segundo milênio; no septuagésimo quarto ano de Regu, o fim cio terceiro milênio; no vigésimo sexto ano de Eliud, o fim do quarto milênio; no segundo ano de Ciro, o fim do quinto milênio; e no ano quinhentos do sexto milênio padeceu o Messias na sua Humanidade!
3 Saibas também que o Messias em Nazaré viveu no seio de Maria, que nasceu em Belém e foi depositado numa manjedoura, que Simeão segurou-o nos seus braços no Templo de Salomão, que foi criado na Galiléia, e que foi ungido por Maria Magdalena! Celebrou a Páscoa na casa de Nicodemos, irmão de José de Arimatéia; foi preso na casa de Anás; na casa de Caifás foi açoitado com uma cana.
4 Abraçado às colunas do Pretório de Pilatos foi flagelado com um açoite. Na primeira sexta-feira, no décimo quarto dia de Nisan, nosso Salvador padeceu. Na primeira hora de sexta-feira, Deus formou Adão do barro, e na primeira hora de sexta-feira o Messias recebeu a cusparada dos filhos de Adão.
5 Na segunda hora de sexta-feira, reuniram-se os animais selvagens, os animais domésticos e os pássaros ao redor de Adão, e ele deu-lhes o nome, enquanto eles curvavam a cabeça; e na segunda hora de sexta-feira, congregaram-se os judeus contra o Messias, rangendo os dentes contra Ele,segundo a palavra do piedoso Davi: "Touros grandes me rodearam, bois gordos me cercaram".
6 Na terceira hora de sexta-feira, foi colocada a coroa da Glória na cabeça de Adão: e na terceira hora de sexta-feira foi colocada a coroa de espinhos sobre a cabeça do Messias. Três horas esteve Adão no Paraíso, em esplendor e glória; três horas esteve o Messias no Foro, quando foi chicoteado com um açoite.
7 Na sexta hora Eva subiu à árvore da transgressão do Mandamento; na sexta hora o Salvador subiu à Cruz, a Árvore da Vida. Na sexta hora Eva deu a Adão o fruto da morte amarga; na sexta hora a turba ímpia deu ao Messias vinagre e fel.
8 Por três horas Adão esteve sob a árvore da sua vergonha, nu por três horas o Messias esteve na haste da Cruz, nu. Do flanco direito de Adão procedeu Eva, a mãe cujo filho era mortal; do flanco direito do Messias procedeu o Batismo, cujos filhos são imortais.
9 Numa sexta-feira Adão e Eva pecaram; numa sexta-feira o seu pecado foi redimido. Numa sexta-feira Adão e Eva morreram; numa sexta-feira eles reviveram. Numa sexta-feira a morte assumiu o poder sobre eles; numa sexta-feira foram libertados do seu poderio.
10 Numa sexta-feira Adão e Eva saíram do Paraíso; numa sexta-feira nosso Senhor desceu à sepultura. Numa sexta-feira foram desnudadas as vergonhas de Adão e Eva: numa sexta-feira o Messias fez com que voltassem a se vestir.
11 Numa sexta-feira Satanás revelou as vergonhas dos dois; numa sexta-feira o Messias desnudou Satanás e todas as forças, cobrindo-os publicamente de vergonha. Numa sexta-feira as portas do Paraíso foram fechadas; numa sexta-feira elas foram abertas, e por elas entrou o bom ladrão.
12 Numa sexta-feira foi entregue ao Querubim a espada de dois gumes; numa sexta-feira o Messias triunfou pela lança e quebrou o fio da espada. Numa sexta-feira foram dados a Adão o sacerdócio, a realeza e a profecia; numa sexta-feira o sacerdócio, a realeza e a profecia foram subtraídos aos judeus.
13 Na hora nona de sexta-feira Adão desceu das alturas do Paraíso para as terras planas; na hora nona de sexta-feira o Messias desceu do alto da Cruz para as regiões inferiores da terra, junto àqueles que jaziam no pó.
Capítulo 50
O Gólgota
1 Como vês, o Messias foi em tudo semelhante a Adão, como está escrito. No lugar em que Melchizedek servia como sacerdote, em que Abraão levou seu filho Isaac para imolá-lo, lá foi plantada a haste da Cruz. Esse lugar é o ponto central da terra, e lá é o ponto de encontro de suas quatro partes.
2 Pois, quando Deus criou a terra, irradiou de Si a sua força, e a terra preencheu-se dessa força. Lá no alto do Gólgota permaneceu a força de Deus, e ficou em repouso, e lá juntaram-se os quatro cantos do mundo; esse lugar representa as extremidades da terra.
3 Quando Sem transportou o corpo de Adão para lá, aquele lugar era o portão da terra; ele abriu-se. Depois que Sem e Melchizedek haviam depositado o corpo de Adão no ponto central da terra, as suas quatro partes abriram-se e o cobriram.
4 E fechou-se novamente o portão, de sorte que nenhum dos filhos de Adão pudesse abri-lo. Quando sobre ele foi erguida a Cruz do Messias, a Cruz do Redentor de Adão e de sua descendência, abriram-se as portas daquele lugar por sobre Adão.
5 E estando plantada sobre ele a haste da Cruz, e o Messias através da lança alcançou a vitória, fluiu do seu lado sangue e água, derramando-se abaixo na boca de Adão, e assim representando para ele o Batismo; por essa forma, ele foi batizado.
6 Depois que os judeus pregaram o Messias no lenho da Cruz, repartiram entre si, aos pés dela, as suas vestes, segundo está escrito. Sua túnica era de púrpura, vestimenta de um rei. Quando o cobriram com o manto da realeza, Pilatos não permitiu que fosse uma veste simples, mas sim uma vestimenta real, de púrpura ou escarlate.
7 Tanto por uma quanto por outra, foi manifestada a sua realeza, pois nenhum outro homem, a não ser um rei, pode vestir-se de púrpura. Diz um dos evangelistas: "Vestiram-na com um manto de púrpura"; essa palavra é verdadeira e inteiramente digna de crédito.
8 Outro diz que era' de escarlate; também este disse a verdade. "A de escarlate" representa para nós o sangue, e "a de púrpura", a água; a vermelha era como o sangue, a purpúrea, pálida como a água. "A de escarlate" anuncia-nos a natureza feliz e imortal; "a de púrpura", a humanidade triste e mortal.
9 Observa bem, irmão Nemésio, que o escarlate simboliza a vida! Diziam os clientes da prostituta Rahab: "Deixa dependurada a corda escarlate janela abaixo"; precisamente a corda pela qual haviam de descer, após terem sido alegremente recebidos por ela. Isso representa uma imagem de nosso Senhor, o Messias, e a corda escarlate é a imagem do seu sangue precioso e vital.
Capítulo 51
A Redenção
1 Teceram uma coroa de espinhos, colocaram-na sobre a sua cabeça e vestiram-na com um manto real; mas não tinham consciência do que estavam fazendo. Dobravam os joelhos, adoravam-na, e sem serem coagidos por ninguém diziam com a sua boca: "Salve, Rei dos judeus!"
2 E nota bem, meu irmão! Nem depois da sua morte Ele foi privado das prerrogativas reais. Os judeus e os soldados. os guardas de Herodes e de Pilatos discutiam sobre como cortar a túnica do Messias e reparti-la entre si, porque a beleza dela a todos agradava.
3 Igualmente o centurião, que montava a guarda junto à Cruz, testemunhou e disse diante de todos os presentes: "Verdadeiramente, este Homem é o Filho de Deus". Disse-lhes também: "As leis não permitem cortar a túnica real. Lançai as sortes sobre ela, para ver a quem toca!"
4 Quando os judeus e os servos do rei lançaram os dados, a sorte recaiu para um sol-dado, guerreiro de Pilatos. A túnica de Nosso Senhor não tinha costuras, tecida integralmente de alto a baixo.
5 Quando, no lugar em que estava depositada e guardada, havia falta de chuva, traziam-na ao céu limpo, e na mesma hora em que era erguida ao céu, chovia copiosamente. Igualmente o próprio soldado, a quem ela coube pela sorte, sempre que a cidade necessitava de chuva, trazia-a para fora e ela operava o milagre.
6 Por isso, ela lhe foi tirada à força por Pilatos, e este a mandou ao imperador Tibério. Essa túnica simboliza para nós a fé verdadeira, que povo algum pode cindir. Três dádivas muito preciosas foram antigamente concedidas aos judeus: a realeza, o sacerdócio e a profecia.
7 A profecia através de Moisés, o sacerdócio através de Aarão, e a realeza através de Davi. Esses três dons, de que as gerações e estirpes dos israelitas se beneficiaram durante um longo período, foram-lhes subtraídos num só dia.
8 As três coisas se acabaram e tornaram-se alheias a eles: a profecia pela Cruz, o sacerdócio pela intenção de rasgar a túnica e a realeza pela coroa de espinhos. Também o Espírito da Reconciliação, que habitava no Santo dos Santos do Templo, abandonou-os, afastou-se e rasgou o véu do Santo em duas partes. Igualmente a Páscoa desvaneceu-se e os abandonou; não tinham mais Páscoa a festejar.
9 Saibas, irmão! Quando Pilatos quis impeli-los a entrar no palácio oficial, eles retrucaram-lhe: "Nós não podemos pisar no Pretório, porque ainda não celebramos a Páscoa". Ao obterem a permissão de Pilatos quanto à execução de nosso Senhor, eles correram rapidamente ao Santuário e de lá retiraram as Tábuas e a Arca da Aliança, e com elas construíram a Cruz para o Messias.
10 Em verdade, convinha que as mesmas tábuas que carregaram o Testamento carregassem também o Senhor do Testamento. A Cruz do Messias compunha-se de duas hastes, ambas da mesma altura, profundidade, comprimento e largura.
11 O apóstolo Paulo esforçou-se com razão para mostra aos povos a força da Cruz, e soubessem todos que sua altura, sua profundidade, sua largura e seu comprimento abrangiam toda a terra. Quando eles ergueram o Messias, Luz brilhante de toda a terra, e O colocaram na luminária da Cruz, apagou-se e escurece a luz do sol, e um manto de trevas estendeu-se sobre toda a terra.
12 Três cravos foram pregados no corpo do nosso Salvador, dois em suas mãos e um em ambos os pés. Os cravos dos ladrões eram dois, um na mão direita e outro na mão esquerda.
Capítulo 52
A Culpa dos Judeus
1 Ofereceram-lhe vinagre e fel numa esponja. Pelo vinagre que Lhe deram, ficava indicado que a antiga vontade deles modificara-se, passando do caminho reto para o caminho da maldade; e através do fel indicava-se o amargor da ser-pente obstinada, que neles habitava.
2 Comprovaram que também eles Lhe pertenceram, a Ele, que é a vinha boa da qual os Profetas, os Reis e os Sacerdotes beberam o vinho que alegra os corações. Mas, por serem maus herdeiros, não quiseram trabalhar na "vinha do meu amor".
3 Em vez de uvas, produziram abrolhos; e o vinho que espremeram dos abrolhos era azedo. Quando pregaram o Herdeiro na Cruz, misturaram para Ele essa borra com o seu vinho ruim, e deram-lhe de beber do vinho da videira dos povos; mas Ele recusou. "Dai-me da vinha que o meu Pai trouxe do Egito!"
3 O Messias sabia que n'Ele haveria de realizar-se a profecia de Moisés, que dizia-lhe respeito: "Vossas uvas são uvas amargas, e os seus bagos são fel; vosso veneno é o veneno dos dragões e a vossa cabeça é a de uma víbora; é isso que retribuís ao Senhor".
4 Vês, irmão Nemésio, como o piedoso Moisés previu com os olhos do espírito o que no futuro haveria de acontecer ao Messias: "E isso que retribuís ao Senhor". A vinha era um espinheiro, a saber, a comunidade dos crucificadores; suas filhas eram as uvas amargas e seus filhos os frutos azedos.
5 Caifás, seu chefe, a víbora traiçoeira; todos eles maus, cheios do veneno de Satanás, que é o dragão monstruoso. Ao invés da água da rocha que eles beberam no deserto, deram-lhe vinagre por bebida; em lugar do maná e das codornas, fel.
6 Mas não lhe deram de beber numa taça, e sim numa esponja, indicando assim que a bênção dos seus pais se afastara deles. Isso está a significar o seguinte: quando um receptáculo está vazio e tendo acabado o seu vinho, ele é lavado e purificado com uma esponja. Assim também quando os judeus crucificaram o Messias, Ele esvaziou sua realeza, seu sacerdócio e sua profecia, bem como a messianidade, e retirou-os deles. Dessa maneira, restaram apenas os vasos dos seus corpos, espoliados e vazios.
7 Quando se cumpriu a Lei e o tempo dos Profetas, e quando Adão foi despertado e viu a vertente de água viva que lhe fora derramada do alto para a sua salvação, o Messias triunfou pela lança, e do seu flanco escorreram sangue e água. Mas estes não estavam misturados.
8 Por que verteu primeiro o sangue e depois a água? Por duas razões: primeiro, porque através do sangue seria dada a vida a Adão, e depois, após a vida e a Ressurreição, viria a água para o seu Batismo; em segundo lugar, Ele mostrou com isso que pelo sangue, existe a imortalidade, mas que pela água, é a mortalidade passível de sofrimento.
9 O sangue e a água fluíram para a boca de Adão, e assim ele foi redimido e revestiu-se das vestes da Glória. O Messias escreveu-lhe a carta da redenção com o seu próprio sangue e colocou-a nas mãos do ladrão.
Capítulo 53
De Adão até o Messias
1 Quando tudo se havia consumado, foi escrita à Comunidade uma carta de divórcio; ela foi repudiada e despojada das suas vestes de glória, como dela já havia dito Davi, pelo Espírito Santo: "Até as quatro quinas do Altar; até ali vigorarão as Festas dos Judeus".
2 "Até as quinas do Altar", isto é, até a Cruz do Messias. A saber: de Adão e Seth, de Seth a Enos, de Enos a Cainan, de Cainan a Mahalaleel, de Mahalaleel a Jared, de Jared a Enoque, de Enoque a Matusalém, de Matusalém a Lamech, de Lamech a Noé, de Noé a Sem, de Sem a Arpachsad, de Arpachsad a Salé, de Salé a Heber, de Heber a Peleg, de Peleg a Regu, de Regu a Serug, de Serug a Nachor, de Nachor a Tharé, de Tharé a Abraão, de Abraão a Isaac, de Isaac a Jacó, de Jacó a Judá, de Judá a Farés, de Farés a Hesron, de Hesron a Aram, de Aram a Aminadab, de Aminadab a Nahasson, de Nahasson a Salmon, de Salmon a Boaz, de Boaz a Obed, de Obed a Isai, de Isai a Davi, de Davi a Salomão, de Salomão a Jeroboão, de Jeroboão, a Abia, de Abia a Asa, de Asa a Josaphat, de Josaphat a Jorão, de Jorão a Ocozias, de Ocozias a Joás, de Joás a Amazias, de Amazias a azias, de azias a Jotham, de Jotham a Acaz, de Acaz a Ezequias, de Ezequias a Manassés, de Manassés a Amon, de Amon a Josias, de Josias, a JoAcaz, de JoAcaz a Joiakim, de Joiakim a Jojakin, de Jojakin a Salatiel, de Salatiel a Zorobabel, de Zorobabel a Abiud, de Abiud a Eliachim, de Eliachim a Azor, de Azor a Zadok, de Zadok a Achin, de Achin a Eliud, de Eliud a Eleazar, de Eleazar a Matthan, de Matthan a Jacó e Joaquim, de Joaquim a Maria, de Maria ao Presépio, do Presépio à Circuncisão, da Circuncisão ao Templo, do Templo ao Egito, do Egito à Galiléia, da Galiléia a Jerusalém, de Jerusalém ao Jordão, do Jordão ao Deserto, do Deserto à Judéia, da Judéia à Pregação, da Pregação ao Cenáculo, do Cenáculo à Páscoa, da Páscoa ao Pretório, do Pretório à Cruz, da Cruz ao Sepulcro, do Sepulcro ao Cenáculo, do Cenáculo ao Céu, e do Céu ao Trono, onde se assenta à direita de seu Pai.
3 Vês, irmão Nemésio, como se sucedem as gerações e estirpes? De Adão até os judeus, e dos judeus, uma após outra, até à morte na Cruz do Messias. A partir desse momento, cessaram as Festas dos judeus, segundo Davi já havia profetizado sobre elas: "Ligai as Festas com cadeias, até as pontas do Altar".
7 As cadeias são as estirpes, que se conectam umas às outras; o Altar é a Cruz do Messias. Até a Cruz do Messias, as Festas dos judeus eram realizadas com Sacerdócio, Realeza, Profecia e Páscoa.
8 A partir da morte na Cruz do Messias, todas elas foram subtraídas aos judeus, como dito acima, e para eles no futuro não haverá mais Rei, Sacerdote, Profeta e Páscoa, segundo a profecia de Daniel: "Após sessenta e duas semanas o Messias será morto, e a Cidade Santa ficará destruída até o fim da guerra," isto é, por todos os séculos dos séculos.
Capítulo 54
O Sepultamento do Messias
1 Cumprida a Lei e cumprido o tempo dos Profetas, e o Messias morto na Cruz, José, irmão de Nicodemos e de Cléofas, foi ter com Pilatos; pois ele era Conselheiro, possuía o selo de Pilatos e tinha grande liberdade de palavra junto dele. Pediu o corpo do nosso Salvador; Pilatos então ordenou que lhe fosse entregue.
2 Depois de haver retirado o corpo, Pilatos ordenou também que lhe fosse destinado o horto onde se encontrava o sepulcro de nosso Salvador. O horto na realidade era propriedade de José, tendo-lhe cabido por herança, pelo levita Pinechas, primo de José.
3 José era de Jerusalém, mas fora nomeado Conselheiro em Arimatéia; todas as correspondências emitidas durante o governo de Pilatos eram carimbadas com o selo que estava em poder dele. Quando o corpo de Nosso Senhor foi descido da Cruz, os judeus correram até lá, pegaram a Cruz e levaram-na ao Templo, porque ela era feita das tábuas da Arca da Aliança.
4 Nicodemos preparou o corpo de Nosso Senhor; José envolveu-o num pano de linho novo e puro, e depositou-o num sepulcro nunca antes usado, que fora construído para o sepultamento de Josué, filho de Nun. Este, todavia, tendo visto com os olhos do espírito, e tendo intuído o curso do plano de Salvação do Messias, tomara a pedra que acompanhou os israelitas no deserto e colocou-a na entrada da sepultura; por isso é que ele mesmo não foi enterrado ali.
5 Depois que José, Nicodemo e Cléofas sepultaram o Messias, colocaram essa pedra na entrada do sepulcro. Vieram então os sumos sacerdotes e a comitiva de Pilatos e lacraram a sepultura e a pedra.
6 Agora, irmão Nemésio, admira e louva a Deus por isso: as traves da Cruz do Messias foram incorporadas às tábuas da Arca do culto divino e ao recinto do Santuário da Reconciliação! Trata-se daquilo que Deus havia ordenado a Moisés. Devia fazer um corselete do julgamento e da paz: de julgamento, para os judeus que O crucificaram; de paz, para os que n'Ele acreditam.
7 A sua Cruz era da madeira do Santuário, e seu sepulcro era novo, destinado que fora para a sepultura de Josué, filho de Nun. A rocha, que é o Messias, distribuiu água no deserto para seiscentas mil pessoas; agora ela é um Altar que dá vida a todos os homens. Essa palavra do Apóstolo, dizendo que aquela pedra era o Messias, é verdadeira e muito digna de crédito.
8 José fora nomeado Conselheiro em Arimatéia, Nicodemo, Doutor da Lei em Jerusalém, e Cléofas, Escriba dos Judeus em Emaús. Nicodemo havia preparado para o Messias no Cenáculo tudo o que era necessário para a Páscoa.
9 José envolveu-O e sepultou-O na sua herança, e Cléofas recebeu-O em sua casa. Quando Ele ressurgiu do reino dos mortos, esses eram para Ele como irmãos na verdade e na pureza.
10 Quando José O desprendeu da Cruz, destacou também o letreiro que estava afixado por sobre a sua cabeça, isto é, no alto da Cruz do Messias; fora redigido por Pilatos em grego, latim e hebraico. Por que Pilatos não escreveu nenhuma palavra em siríaco?
11 Porque os sírios não tinham nenhuma participação no sangue do Messias, e porque Pilatos era um homem sábio e amante da verdade. Ele não quis escrever nenhuma mentira, como fazem os maus juizes; agiu muito mais de acordo com o que está na lei de Moisés: "Aqueles que condenam os justos..."
12 Na qualidade de assassinos de Deus, ali deveriam constar os seus nomes. E Pilatos escreveu isso, afixando a inscrição por sobre o Messias, que foi morto por Herodes, o grego, por Caifás, o judeu, e por Pilatos, o romano. Mas os sírios não tiveram nenhuma parte na sua morte; disso é testemunha Abgaro, o rei de Edessa. Ele quis marchar contra Jerusalém e destruí-la, por haver os judeus crucificado o Messias.
Capítulo 55
A Descida de Cristo aos Infernos e sua Ressurreição
1 A descida do Messias ao inundo inferior não foi em vão, mas ao contrário, foi a causa de muitos benefícios para a nossa geração. A sua descida aos lugares inferiores da terra eliminou o poder da morte e distribuiu o perdão àqueles que haviam pecado sem conhecerem a Lei.
2 Ela destruiu o mundo inferior, exterminou o pecado, envergonhou Satanás, perturbou os demônios, removeu os altares dos sacrifícios e holocaustos, preparou a volta de Adão e esvaziou as Festas dos judeus. Quando no terceiro dia ressurgiu do sepulcro, Ele apareceu a Cefas e a João.
3 Quando o Messias ainda estava no sepulcro, e os guardas sentados ao seu redor, Simão Cefas decidiu em seu coração oferecer vinho aos guardas, para que se embebedassem e caíssem no sono; ele queria depois abrir o sepulcro e retirar o corpo do Messias, sem danificar o lacre, para que os judeus não pudessem dizer: "Os seus discípulos o roubaram."
4 Enquanto os guardas comiam e bebiam, o Messias ressuscitou e mostrou-se a Cefas, que acreditou verdadeiramente que Ele era o Messias, o Rei do céu e da terra. Cefas, porém, não se aproximou do sepulcro. Depois disso, Ele apareceu abertamente aos guardas; dirigiu-se aos seus discípulos no Cenáculo; e ali foi tocado por Tomé.
5 Depois apareceu-lhes também sobre o mar. Por tê-la Simão Cefas negado três vezes diante dos judeus, Ele o confirmou por três vezes diante dos discípulos. Entregou nas suas mãos e confiou-lhe todo o seu rebanho, dizendo-lhe na presença dos seus discípulos: "Apascenta os meus cordeiros, as minhas ovelhas, os meus cordeirinhos!" Trata-se dos homens, das mulheres e das crianças.
6 Quarenta dias após a Ressurreição, Ele confiou aos Apóstolos a imposição de mãos do sacerdócio, subiu ao céu e assentou-se à direita de seu Pai. Em seguida, os Apóstolos se reuniram e foram ao Cenáculo com Maria, a Virgem Santa.
7 Simão Cefas batizou Maria e João, o jovem, e levou-a para sua casa. Decidiram jejuar, até receberem todos juntos o Espírito, o Paráclito, no dia de Pentecostes, ali mesmo onde estavam reunidos. Foram-lhes distribuídas línguas, e cada um partiu para ensinar os povos, de acordo com a língua que lhes fora dada; e assim não houve desentendimento entre eles por toda a eternidade.
8 Fim da escrita do presente livro sobre o ordenamento e a seqüência das gerações, desde Adão até o Messias. Ele se chama "Caverna dos Tesouros".
9 Honra seja dada a Deus por toda a eternidade! Amém. Fim


 Livro 7º - Contos dos Patriarcas

Paráfrase
Frag.1 Col. 1
Tu deverias deixar sua raiva e suas lágrimas (?)... e quem é o homem que... a fúria de sua raiva... e esses que foram destruídos e mortos, roubados e... e     agora eu detive os prisioneiros... o Grande Santo... tudo aquilo que ele...
Frag.1 Col 2:
dia de... tudo... terra de... e o mal para...
Frag. 2
...e eles foram batidos por detrás... em frente ao senhor
Col. 1
...e com o semear... nem mesmo o mistério de mal que... o mistério que
Col. 2.[1]
Eu pensei, em meu coração, que a concepção era o trabalho dos que Guardam a gravidez do Único Santo e que pertenceu aos Gigantes [2]... e meu coração estava perturbado por isto... Eu, Lamech, virei-me para minha esposa Bitenosh e disse... Me jure pelo Deus Altíssimo, Grande Senhor, Rei do Universo [3] ...os filhos dos céus, para que tu me contes verdadeiramente tudo, se... Tu me falarás sem mentiras... Então Bitenosh, minha esposa falou severamente e chorou... e disse: Oh meu irmão e senhor' Lembre-se de meu prazer... o tempo de amor, ofegante (?). Eu lhe contarei verdadeiramente tudo... e então meu coração começou a doer... Quando Bitenosh percebeu que meu humor tinha mudado... Então ela reteve sua raiva e disse-me: Oh meu senhor e irmão! Lembre-se de meu prazer. Eu juro-te pelo Grande Santo, o Rei do céus... Que esta semente, gravidez, e plantação de frutas vem de ti e não de um estranho.. Guarda, ou filho do céu... Por que sua expressão mudou e seu espírito se entristeceu... Eu falo honestamente contigo... Então eu, Lamech, fui para meu pai.. Matusalém, e lhe contei tudo de forma que ele soubesse a verdade porque lhe gostam bem... e ele é bem com o Único Santo e  eles compartilham tudo com ele. Matusalém foi a Enoque para descobrir a verdade... ele. E ele foi para Parvaim onde Enoque vivia... Ele disse-lhe. Oh meu pai e senhor, a quem eu... Eu lhe falo! Não se ire porque eu vim aqui a ti... temo diante de ti...
Col 3
Porque nos dias de Jared, meu pai... [4]
Col 5
Enoque... não dos filhos do céu, mas de Lamech seu filho... Eu lhe falo agora... e eu revelo a ti... Vá contar a seu filho Lamech... Quando Matusalém ouviu isto... E com o seu filho Lamech, falou... Agora quando eu, Lamech, ouvi estas coisas... O qual ele saiu de mim
Col 6 [5]
Eu me privei de injustiça e no útero de minha mãe que me concebeu eu procurei verdade. Quando eu emergi do útero de minha mãe, eu vivi todos meus dias em verdade e andei no caminho de verdade eterna. E o Único Santo estava comigo... na verdade de meus caminhos passei a me advertir de... da mentira que conduz à escuridão... Eu suportei meus lombos com a visão de verdade e da sabedoria... caminhos de violência. Então, eu Noé me tornei um homem que agarrado à verdade e preso... Eu tomei Amzara, sua filha como minha esposa. Ela concebeu e me nasceram três filhos e filhas. Eu levei as esposas da família de meu irmão para meus filhos, e eu dei minhas filhas a meus sobrinhos de acordo com a lei do preceito eterno que o Altíssimo ordenou aos filhos dos homens. E em meus dias, quando de acordo com meu cálculo... tinham sido completados dez jubileus, o tempo veio para meus filhos levarem as esposas para si... céu, eu vi em uma visão e me foi explicado e feito conhecidas as ações dos filhos do céu e... os céus. Então eu ocultei este mistério em meu coração e não o expliquei a ninguém. ...para mim e um grande e... e em uma mensagem do Santo... e ele falou comigo em uma visão e ele se levantou antes de mim... e a mensagem do Grande Santo convocou-me: "A ti dizem eles, Oh Noé,..." e eu considerei toda a conduta dos filhos da terra. Eu soube e expliquei tudo... duas semanas. Então o sangue que os Gigantes tinham derramado... Eu estava à vontade e esperei até... o santo com as filhas do homem... eu Noé, achei graça, grandeza e por minha vida inteira eu me comportei justamente... eu, Noé, um homem...
Col. 7
Deus falou para Noé que ele regeria sobre a terra e os mares e tudo que eles cercam. Noé estava jubiloso com a idéia.
Col. 10
A arca descansou sobre o monte Ararat (Hurarat). Noé expiou pela terra e queimou incenso no altar [6].
Col. 11
Deus faz um pacto com Noé dizendo-lhe que ele não poderia mais comer sangue de qualquer espécie.
Col. 12
Eu coloquei meu arco na nuvem e ele se tornou um sinal para mim na nuvem... a terra... foi revelada para mim nas montanhas [7]... um vinhedo nas montanhas de Ararat...
Depois da inundação Noé e os seus filhos desceram da montanha. Eles viram a devastação difundida na terra. Depois da inundação os filhos de Noé começaram a ter netas [8]. Eles então plantaram na terra e puseram um vinhedo no Monte Lubar que produziu vinho depois de quatro anos: No primeiro dia do quinto ano, havia um banquete no qual o primeiro vinho era bebido. Noé reuniu sua família e eles foram ao altar e agradeceram a deus por tê-los salvo da destruição da inundação.
Col 13[9]
...Eles eram ouro cortante, prata, pedras, e barro e tomaram alguns para si. Eu vi o ouro e prata... ferro, e eles cortaram todas as árvores e levaram algumas. Eu vi o sol, a lua, e as estrelas cortando e levando algumas para si... Eu virei para ver a oliveira e eis que estava se levantando e durante muitas horas... muitas folhas... apareceram nela. Eu vi a oliveira e a abundância de suas folhas... eles se amarraram a ela. Eu estava pasmado pela árvore e suas folhas... os quatro ventos do céu estavam soprando fortemente e eles estavam rompendo e estavam esmagando os ramos da oliveira. O vento ocidental bateu primeiro, derrubando seu fruto e folhas e os espalhando em todos os lugares. Então...
Col 14
...Escute e ouça! Tu és o grande cedro... se levantando diante de ti em um sonho nos topos monteses... verdade. O salgueiro que pula e sobe alto (estes são) três filhos... E o que tu viste, o primeiro salgueiro foi preso ao toco do cedro... e madeira dele... nunca separará de ti. E entre este a posteridade... será chamada... cultivará uma planta maravilhosa.. sempre estará de pé. E o que viste, o salgueiro pegou o toco.. o último salgueiro... parte do seu ramo entrou [10] o ramo da primeira árvore, dois filhos... E o que tu viste, aquela parte do seu ramo entrou no ramo da primeira árvore... Eu expliquei-lhe o mistério...
Col 15
...E tu viste todos eles.. Eles passarão, a maioria dele será má. E isso que tu viste, que um homem veio o sul, com um foice em sua mão, e trazendo fogo com ele... que virá do sul da terra... E eles porão maldade no fogo, um;... E ele deveria vir entre... Quatro anjos... entre todas as nações. E eles vão a toda adoração e sejam confundidos... Eu explicarei honestamente a ti. E eu, Noé acordei de meu sono e o Sol [11].
Col. 16
Noé dividiu a terra entre os seus descendentes... toda a terra do norte até onde... este limite, as águas do Mediterrâneo... o Rio Tina.
Col. 17
Noé dividiu o Oeste da terra, para Asshur, mais adiante até o Tigre. Ele deu a terra de Aram até onde a fonte de.. esta Montanha do Touro, e ele, a cruzou para o oeste até onde.... onde as três partes se encontraram.... Para Arpachshad [12]... Ele deu Gomer [13] uma parte no nordeste do rio Tina... Para Magog [14]...
Col. 19
Eu, Abraão construí e (elevei um) altar (em Betel) e invoquei a deus, orando a ele. Eu fui então para a montanha Santa e para Hebron [15] onde ele viveu durante dois anos. Porque havia escassez na terra de minha família e viajei para o Egito onde o grão era abundante. Eu fui para o outro lado dos ramos do Nilo [16] para entrar no Egito, a terra dos filhos de Cam. Eu tive um sonho sobre uma árvore de cedro e uma palmeira. Quando as pessoas vieram cortar a árvore de cedro, a palmeira contestou, dizendo que eles eram crescidos de uma única raiz. A árvore de cedro foi poupada. Eu fiquei com receio do sonho e contei-lhe à minha esposa. Eu o expliquei como pertenceu a nós contando à Sara que os homens virão à ela e tentarão me matar. Eu a adverti que ela deve contar a todos que eu sou seu irmão para que minha vida possa ser poupada. Ela ficou assustada e não quis ir para Zoan por medo de ser vista. Cinco anos mais tarde [17], conselheiros da corte egípcia e do Faraó de Zoan [18] vieram, depois de terem ouvido as palavras de minha esposa. Eles trouxeram presentes e pediram conhecimento de mim. Eu li a eles do Livro das palavras de Enoque.
Col. 20[19]
Os homens voltam ao Faraó e descrevem as características de Sara: face bonita, cabelo flexível, olhos adoráveis, nariz agradável, rosto radiante [20]. Ele continuou a descrever seus seios bem formados, mãos perfeitas, e tudo mais até seus dedos longos e delicados. Os homens a compararam e a mediram como mais elevada que as virgens e pássaros, e todas as outras mulheres semelhantes. Ouvindo isto, e vendo a Sara, então o Faraó a quis e a levaram para ser sua esposa. Sara me salvou contando ao Faraó que eu era o seu irmão e aquela noite eu e meu sobrinho Ló choramos juntos e rezamos a Deus por justiça [21]. Eu quis que o Senhor se levantasse contra o Faraó e protegesse a Sara. Deus me ouviu e enviou um espírito mau à toda a casa para que impedisse ao Faraó de ter relações sexuais com Sara durante os dois anos que eles estiveram juntos. Ao término dos dois anos, as pestilências e aflições eram tão grandes que os mágicos e curandeiros foram chamados. Eles eram, natural-mente, ineficazes, e todos logo desistiram. Hyrcanos vieram a mim rogando ajuda contra a pestilência porque eu tinha sido visto em um sonho. Eu concordei em ajudar apenas quando minha esposa Sara fosse devolvida a mim. O Faraó ouviu isto e me confrontou, ele perguntou por que eu menti, dizendo que Sara era minha irmã. Ele concordou em devolver Sara e eu exorcizei o espírito mau da casa do Faraó. O Faraó me jurou que não tinha tocado Sara enquanto eles estavam juntos e deu seus presentes de ouro, prata, linho, e roupas púrpura. Sara e eu fomos conduzidos então para fora do Egito. Eu, Sara, Ló e a sua esposa levamos nossos rebanhos e o ouro e a prata que eu recebi [22] e viajamos juntos.
Col. 21
Eu fui para todas as minhas antigas áreas de acampa-mento até que alcancei Betel, o lugar onde eu construí uma vez um altar, e então eu construí outro e ofereci ofertas queimadas e ofertas de cereal ao Deus Altíssimo, e ali invoquei o nome do Senhor do Universo. Eu louvei o nome de Deus e o bendisse e dei graças ali a Ele por todos os rebanhos e bens e riqueza que ele me deu, pelo bem que ele fez a mim, e porque Ele tinha me devolvido seguramente a esta terra.
Depois deste dia, Ló me deixou por causa do comportamento de nossos pastores. Ele foi morar no Vale do Jordão e levou todos os seus rebanhos consigo. E eu também acrescentei grandemente ao que ele tinha. Ele pastoreou o seu rebanho e continuou movendo até que alcançou Sodoma [23] e comprou uma casa ali, enquanto eu ainda vivia na montanha de Betel. Me aborreci com nossa separação.
Deus veio a mim em um sonho e me disse: Suba a Ramat Hazor [24] que está a norte de Betel, o lugar que estás vivendo agora, e olha ao leste, oeste, sul e para o norte. Olhe para a terra que eu estou te dando a ti e a teus descendentes. Na manhã seguinte subi a Ramat Hazor e olhei para a terra daquela altura, do rio do Egito até o Líbano e Senir [25], e do Grande Mar até Hauran [26], e toda a terra de Gebel [27] à Qadesh[28], e todo o Grande Deserto [29], até o Eufrates e ele me disse: Eu darei toda essa terra para teus descendentes; e eles a herdarão para sempre. Eu multiplicarei teus descendentes como o pó da terra ao qual ninguém pode contar. Seus descendentes serão inúmeros. Levante-se, caminhe ao redor, vá "ver quanto tempo e quão amplo é, porque eu dar-te-ei a ti e a teus descendentes depois de ti, para sempre.
Então eu, Abraão, saí para viajar em um circuito para inspecionar a terra. Eu comecei o circuito no rio Gihion [30], eu fui ao longo do Mar Mediterrâneo até que eu alcancei a Montanha do Touro [31], eu circulei da costa deste grande mar de água salgada de rio, margeando a Montanha do Touro, e continuou para o leste pela sua amplitude até que cheguei ao rio de Eufrates. Eu viajei ao longo do Eufrates até que eu cheguei ao mar vermelho no leste, de onde eu segui a costa do Mar Vermelho até que eu cheguei a um ramo deste [32], sobressaindo do Mar Vermelho. De lá eu completei o circuito, movendo-me para o sul até chegar ao Rio de Gihon. Então eu voltei para casa em segurança e descobri que tudo estava bem com meus homens. Então eu fui e me estabeleci próximo aos carvalhos de Mamre [33] que está a nordeste de Hebron. Lá eu construí um altar e ofereci ofertas queimadas e uma oferta de cereais ao Deus Altíssimo. Ali comi e bebi, eu e todos os homens de minha casa, e convidei a Mamre, Arnem, e Eshkol, três irmãos Amoritas e meus amigos. Eles comeram e beberam junto comigo. Antes dos dias de Chedorlaomer, o rei de Elam, Amraphel, o rei de Babilônia, Arioch, o rei da Capadócia [34], e Tidal o rei de Goiim [35] que está entre os dois rios que vinham. Eles tinham feito guerra contra Bera, o rei de Sodoma, Birsha, o rei de Gomorra, Shinab, o rei de Admah, Shemiabad, o rei de Zeboim, e o rei de Bela. Todos estes formaram uma aliança para batalhar no Vale de Sidim. Agora o rei de Elam, e os reis com ele provaram ser mais forte que o rei de Sodoma e impuseram-lhe tributo. Por mais de doze anos eles continuaram pagando o tributo ao rei de Elam, mas no décimo terceiro eles se rebelaram contra ele. Assim o décimo quarto ano no rei de sairão de Elam com todos os seus aliados, e eles subiram pelo caminho do deserto [36]. Eles golpearam e saquearam a começar pelo Eufrates. Eles continuaram a golpear Rephaim que estava no Asteroth - Kernaim [37], o Zumzammin que era Aman, o Emim [38] que estava em Shaveh — Hakerioth, e o Horites que estava na montanha de Gebal — até que alcançassem El — Paran, no deserto. Eles devolveram... em Hazazontamar [39]. O rei de Sodoma saiu para encontrá-lo, junto com o rei de Gomorra, Admah, Zeboim e o rei de Bela. Eles se ocuparam da batalha no vale de Sidim contra Chedorlaomer, e os aliados que estavam com ele. O rei de Sodoma foi derrotado e pôs-se em fuga enquanto o rei de Gomorra caiu nas covas... O rei Elam saqueou toda a propriedade de Sodoma e de Gomorra e capturaram Ló. Fim


Livro 8º - José e Asenath

Capítulo 1
Asenath
1 No quinto dia do segundo mês, no primeiro ano dos sete anos gordos, o Faraó ordenou a José que fizesse um giro por toda a terra do Egito. Assim, no décimo oitavo dia do quarto mês do primeiro ano José chegou à região de Heliópolis, a fim de recolher o trigo todo da terra, a qual se assemelhava às areias do mar.
2 Havia um homem naquela cidade por nome Pentephres. Era sacerdote em Heliópolis e sátrapa do Faraó, o principal dentre todos os seus príncipes e sátrapas. Esse homem era incomensuravelmente rico, prudente e manso de coração. Conselheiro do Faraó, era o mais sábio de todos os seus príncipes.
3 Pentephres tinha uma filha, chamada Asenath, virgem de dezoito anos, esbelta e viçosa, que sobrepujava em beleza todas as jovens do país. Efetivamente, Asenath não se parecia em nada com as moças egípcias; parecia-se muito mais comas filhas dos hebreus. Era tão esbelta quanto Sara, tinha o frescor de Rebeca e a beleza de Rachel.
4 A fama de sua beleza percorreu toda a terra, até os confins do mundo. Todos os filhos dos grandes e dos sátrapas, e até os filhos dos reis soberanos, queriam pedi-la em casamento. Todos jovens e vigorosos, entre eles nasceu logo grande porfia por" causa dela e até já se hostilizavam entre si.
5 Também o filho primogênito do Faraó ouviu falai" de Asenath e pediu ao pai que ela lhe fosse dada em casamento, falando-lhe assim: "Meu pai! Dá-me por esposa Asenath, a filha de Pentephres, o homem mais importante de Heliópolis!" Respondeu-lhe então o Faraó: "Por que procuras tu uma mulher que está abaixo da tua condição, se vais ser o rei de todo este pais? Por acaso a filha de Joachim, rei de Moab, não é tua noiva? Ela será efetivamente uma rainha, e é bela acima de toda medida. A ela, pois, escolhe por tua esposa!"
Capítulo 2
Adornos e morada de Asenath
1 Asenath, porém, era avessa a todos os homens e os repudiava. inacessível no seu orgulho, homem algum chegava sequer a vê-la. Na mansão de Pentephres havia uma torre, muito grande e muito alta, em cuja parte superior havia um solar constituído de dez cômodos.
2 O primeiro aposento era sobremodo grande e bonito, marchetado de pedras purpúreas, com paredes em pedras nobres, de variada cor; e o forro era de ouro, inúmeras divindades egípcias, de ouro e prata, estavam reunidos nesse quarto. E Asenath a todas adorava, com grande reverência, oferecendo-lhes sacrifícios todos os dias.
3 No segundo aposento recolhiam-se todos os adornos de Asenath, bem como todos os seus pertences. Nele se depositavam muito ouro e muita prata, numerosos vestidos bordados com ouro, pedras preciosas raras e vestes de linho, a par de todos os demais enfeites de uma jovem. O quarto de provisões de Asenath constituía o terceiro compartimento e continha todos os melhores gêneros da terra.
4 Nos restantes sete quartos moravam sete jovens virgens, cada qual em seu quarto,para servirem a Asenath. Eram todas da mesma idade e nascidas como Asenath numa mesma noite. Ela as amava muito; eram maravilhosamente belas, comparáveis às estrelas do céu. Nem homem nem jovem jamais lhes dirigiu a palavra.
5 Havia três janelas no aposento maior, onde a donzela Asenath Cultivava e embalava a sua virgindade. A primeira janela era muito ampla e dava para o pátio, na face leste; a segunda dava para o sul e a terceira, para a rua.
6 Uma cama de ouro ocupava o quarto, do lado do nascente. O leito tinha cobertas de púrpura com arremates de ouro, tecidas em escarlate e de finíssimo pano de linho. Nessa cama Asenath dormia sozinha. Jamais se deitara nela um homem, nem outra mulher, mas tão-somente Asenath.
7 A casa era circundada de um amplo pátio cercado de altos muros, construídos com grandes blocos de pedra. O pátio tinha quatro portões forte-mente guarnecidos de ferro. Neles montavam guarda dezoito soldados armados, jovens e vigorosos. Junto ao muro, na parte interna do pátio, cresciam árvores frutíferas de espécies variadas e preciosas, carregadas de frutos maduros da estação.
8 No lado direito do pátio havia uma rica fonte de água, e abaixo dela um tanque de considerável proporção que recolhia as águas da fonte. A partir dele, semelhantemente a um córrego, as águas fluíam no pátio todo e irrigavam suas plantas.
Capítulo 3
Chegada de José
1 No dia vinte e oito do quarto mês, no primeiro dos sete anos gordos, José chegou à região de Heliópolis para recolher o trigo daquela terra. Ao aproximar-se da cidade, destacou doze homens para que fossem à sua frente levai-a Pentephres, sacerdote de Heliópolis, a seguinte mensagem: "Chegarei hoje à tua casa, pois se faz meio-dia e é hora de refeição; também grande é o calor do sol; por isso aprazer-me-á refrigerar-se sob o teto da tua casa".
2 Quando Pentephres ouviu essas palavras, alegrou-se grandemente e falou: "Louvado seja o Senhor, o Deus de José! Meu Senhor! José me julga digno!" Então Pentephres mandou vir o administrador da casa e falou-lhe: "Por depressa minha casa em ordem e prepara um almoço festivo, porque hoje José, o herói de Deus, chegará à nossa morada.
3 Asenath, ao perceber que o pai e a mãe acabavam de voltar para casa, vindos da sua propriedade rural, disse com toda alegria: "Eu vou e quero ver o pai e a mãe, que voltam do campo". Era o tempo da colheita.
4 Ela correu ao quarto onde guardava as suas roupas, vestiu um finíssimo vestido de linho, debruado em escarlate e ouro, cingiu-se com um cinto dourado, colocou braceletes nos braços e correntes de ouro nus tornozelos. No pescoço pôs um colar valiosíssimo de pedras preciosas polidas de todos os lados e levando inscritos os nomes dos deuses egípcios, que também estavam gravados nos braceletes e nas demais jóias. Colocou o turbante na cabeça, aplicou um diadema às têmporas e cobriu a cabeça com um véu.
Capítulo 4
Asenath e seus tais
1 Asenath saiu do solar, desceu rapidamente as escadas, aproximou-se do pai e da mãe e os saudou. Pentephres e sua mulher alegraram-se profundamente com a presença da filha e por vê-la assim tão enfeitada e radiosa, como uma noiva divina.
2 Tomaram dos gêneros que haviam trazido da sua propriedade e os ofereceram à filha. E Asenath ficou encantada com esses bens: frutas, como uvas, tâmaras, romãs e figos, todas maduras e apetitosas. Nesse momento, Pentephres chamou Asenath: "O filha". Ela respondeu: "Sim, meu Senhor". Disse-lhe ele: "Senta-te aqui, entre teu pai e tua mãe! Desejo dizer-te o que vai no meu pensamento".
3 Ela sentou-se entre eles. Pentephres estendeu sua mão direita, tomou a mão direita dela, beijou-a e disse: "Filhinha querida!" Ela retrucou: "Sim, meu senhor e pai".
4 Pentephres continuou: "José, o herói de Deus, chegará hoje à nossa casa. Ele é o príncipe soberano de toda a terra do Egito. O rei Faraó constituiu-o administrador de todo o nosso pais, a toda esta terra ele distribui alimentos para salvá-la da fome que [lá de vir. José é um homem temente a Deus, virgem, como és tu hoje, homem forte em sabedoria e conhecimentos; o espírito de Deus está com ele e a graça do Senhor" nele habita. Vem, pois, filha querida! Vou oferecer-te a ele como esposa, e tu serás sua esposa, e ele será o teu esposo para todo sempre".
5 Ao ouvir tais palavras do seu pai, o rosto de Asenath cobriu-se de suor. Tomada de grande indignação, olhou de soslaio para o pai e falou: "Por que me falas tais coisas, meu senhor e pai? Queres entregar-me como prisioneira a um homem estranho, que foi um fugitivo, a um homem que, além de tudo, foi vendido? Por acaso não é ele o filho de um pastor de Canaã? Não foi, enfim, por ele repudiado? Não é aquele que, tendo deitado com sua ama, foi lançado por seu patrão numa prisão escura, de onde o Faraó o fez libertar por haver ele interpretado os seus sonhos, como fazem as velhas feiticeiras do Egito? Não! Prefiro casar-me com o filho primogênito do Faraó, pois este será o rei de todo o país".
6 Tudo o entusiasmo de Pentephres para continuar a falar com sua filha Asenath sobre José esmoreceu, pois ela acabava de responder-lhe com muita ira e grande orgulho.
Capítulo 5
A visita de José
1 Nesse momento entrou a correr um jovem serviçal e falou assim a Pentephres: "José já está às portas do pátio". Ao ouvir estas palavras, Asenath fugiu da presença do seu pai e da mãe, subiu as escadas do solai", entrou no seu quarto e postou-se à grande janela que dava para o nascente, para poder ver José quando entrasse na casa paterna.
2 Então Pentephres e sua mulher saíram a saudar José, acompanhados de todos os parentes e dos serviçais. Ao ser aberto o portão do pátio que dava para o oriente, José fez sua entrada. Viajava no segundo carro do Faraó, rica carruagem acabada em ouro puro e puxada por quatro cavalos brancos como a neve, com bridas douradas.
3 José vestia uma maravilhosa túnica branca e se cobria com um manto de púrpura, de um fino linho bordado a ouro. Sobre a cabeça, uma coroa de ouro com doze pedras preciosas que coruscavam em reverberações douradas. Na mão direita portava um cetro real e um ramo de oliva carregado de frutos.
4 Quando José entrou no pátio, os portões foram fechados e todas as pessoas estranhas, homens e mulheres, tiveram de permanecer do lado de fora. Apresentam-se então Pentephres e sua mulher, e todos os parentes, menos a filha Asenath. Prostraram-se no chão diante de José. Então José desceu do carro e, com um aperto de rirão, a todos saudou.
Capítulo 6
Asenath impressiona-se com José
1 Tendo Asenath visto José, ficou fortemente perturbada no seu íntimo. Seu coração palpitava e seus joelhos vacilaram. Todo o seu corpo tremia e uma grande angústia apossou-se dela. Com fortes suspiros, assim falou em seu coração: "Para onde eu, desgraçada, deverei fugir agora? Onde esconder-me da sua face? Como poderá José, esse filho de Deus, volver os seus olhos para mim, eu que tanto mal falei dele?
2 "Ai de mim, desafortunada! Aonde irei esconder-me? Pois ele vê tudo o que está escondido, sabe todas as coisas e nada do que está oculto lhe escapa, por causa da grande luz que traz dentro de si. Seja neste momento o Deus de José clemente comigo, pois sem saber pronunciei coisas tão graves contra ele! Que devo fazer, ó mísera de mim?
3 "Por acaso eu não disse que ele é filho de um pastor de Canaã? Agora vem ele a nós, semelhante a um sol divino, em seu carro, dando entrada em nossa casa e iluminando-a como a luz que ilumina toda a terra. Eu, porém, fui tão tola e atrevida, a ponto de proferir contra ele coisas graves, sem saber que José é um filho de Deus.
4 "Pois que homem sobre a terra pôde gerar tamanha beleza, e que ventre materno pôde dar à luz tamanho esplendor? Como fui infeliz e tola, respondendo ao meu pai com palavras tão perversas! ó pai, entrega-me a José como sua serva, melhor ainda, como sua escrava! Sim, desejo ser sua escrava para sempre."
Capítulo 7
Entrada de José na casa dos pais
1 E José entrou na casa de Pentephres e assentou-se sobre um trono. Lavaram-lhe os pés e prepararam-lhe uma mesa em separado, porque José não comia com os egípcios: isso significava para ele abominação. Nisso, José, levantando os olhos, viu Asenath; notou como ela o espiava furtivamente, e então falou a Pentephres: "Quem é essa mulher postada à janela do solar? Quero que saia desta moradia!" José pensava, e temia, que ela quisesse importuná-lo.
2 Acontecia que todas as mulheres e filhas dos príncipes e sátrapas do Egito lhe eram incômodas, por causa da insistência em se manterem junto dele. E não havia mulher egípcia, casada ou solteira, que não se apaixonasse por José por causa da sua beleza. Aos mensageiros que as mulheres enviavam a ele com presentes valiosos, de ouro e prata, José expulsava com indignação e ameaças, fiel ao seu princípio: "Jamais haverei de pecar contra Deus, o Senhor, nem contra a face do meu pai, Israel".
3 José realmente tinha Deus sempre diante dos olhos, e constantemente lembrava as advertências de seu pai. Muitas vezes Jacó disse a José e inculcou em seu coração e no de todos os seus outros filhos: "Filhos, guardai-vos das mulheres estrangeiras! Nunca deixeis que elas vos envolvam! A relação com elas é desgraça e perdição". Foi por isso que José falou: "Que esta mulher se retire desta casa!"
4 Ao que Pentephres retrucou: "Meu Senhor! Aquela que vês postada no solar não é uma estranha; ela é nossa filha, que tem desprezado todos os homens. Ela nunca viu outro homem até hoje, a não ser tu. Se for do teu agrado, Senhor, ela se apresentará e te dirigirá a palavra, pois nossa filha é como se fosse tua irmã".
5 Essas palavras alegravam o coração de José. Sabendo pelo próprio Pentephres que ela era virgem, e mais, que desconhecia e desprezava os homens, José disse a Pentephres e sua mulher: "Se essa é vossa filha e é virgem, que venha pois até aqui. Nesse caso, ela é minha irmã, e a partir deste momento, eu a amarei como tal".
Capítulo 8
Encontro de José com Asenath
1 Ao ouvir essas palavras, a esposa de Pentephres subiu ao solar e conduziu Asenath até José. Pentephres disse a ela: "Saúda o teu irmão! Ele é virgem, como tu também o és hoje, e ele se aborrece com toda mulher estranha assim como tu também te aborreces com todos os homens estranhos".
2 Então Asenath falou a José: "Sejas bem-vindo, Senhor, o abençoado do Deus altíssimo!" E José assim respondeu: "Jovem! Que te abençoe Deus, que a todas as coisas dá a vida!" Pentephres disse então à sua filha Asenath: "Vamos. Beija o teu irmão!"
3 Quando Asenath se dispunha a beijar José, este a reteve com um gesto da mão direita, que colocou sobre o peito. E disse: "Não convém a um homem temente a Deus, que com sua boca louva o Deus vivo e come o sagrado pão da vida, e bebe a bebida sagrada da imortalidade, beijar uma mulher estranha, a qual com a boca louva deuses mortos e mudos, que da sua mesa come alimentos sufocados, que das suas bebidas rituais bebe o cálice da impostura, e que se unge com a unção da desgraça.
4 "O homem temente a Deus, muito mais há de beijar sua mãe e sua irmã, filha de sua mãe, e sua irmã da mesma linhagem e sua esposa, que compartilha seu leito e que com sua boca louva o Deus vivo. Da mesma forma, não convém a uma mulher temente a Deus beijar um homem estranho, pois isso, diante de Deus, o Senhor, é uma abominação."
5 Quando Asenath ouviu de José tais palavras, ficou muito perturbada e sua respiração se acelerou. E como José a encarasse com olhar aberto e firme, os seus olhos encheram-se de lágrimas. Ao ver José que ela assim chorava, compadeceu-se dela profundamente, pois percebeu a sua doçura e bondade e o seu temor a Deus.
6 Colocou então a mão direita sobre a cabeça da jovem e disse: "Senhor Deus dos pais de Israel! O tu, altíssimo e forte Deus, que a tudo conferes a vida, que a tudo tiras das trevas e trazes à luz, que tudo conduzes do erro para a verdade, da morte para a vida. Ah, abençoa também esta jovem! Dá-lhe a vida, renova-a pela força do teu espírito santo, permite-lhe provar do teu pão da vida e beber do cálice da tua bênção, e conta-a entre o teu povo, que tu escolheste, antes que tudo fosse criado! Conduze-a à morada da tua paz, que preparas-te para os teus eleitos! Permite-lhe viver para sempre no seio da tua vida eterna!"
Capítulo 9
Partida de José
1 Asenath alegrou-se profundamente com a bênção de José. A toda pressa subiu ao solar e, exausta, atirou-se sobre a cama. No seu intimo reinavam ao mesmo tempo a alegria, a tristeza e a angústia. Ainda ecoavam em seus ouvidos aquelas palavras de José falando lhe em nome do Deus altíssimo. Prorrompeu então num choro alto e amargo e, cheia de arrependimento, aborreceu os seus deuses, que adorava, e as imagens dos seus ídolos, que já começava a maldizer, e assim permaneceu até o cair da noite.
2 José comeu e bebeu e a seguir ordenou aos seus servos que atrelassem os cavalos ao seu carro, a fim de continuar a percorrer a região. Falou então Pentephres a José: "Permanece hoje aqui, meu Senhor! Segue amanhã o teu caminho". Mas José lhe respondeu: "Não, eu irei hoje; pois este é o dia em que o Senhor iniciou a criação de todas as coisas. No oitavo dia eu voltarei, e então permanecerei convosco".
Capítulo 10
Arrependimento de Asenath
1 Quando José partiu, Pentephres dirigiu-se para o campo, acompanhado de todos os seus. Só Asenath e as suas sete virgens permaneceram em casa. Mas Asenath ficou alheia a tudo e debulhada em lágrimas, até o pôr-do-sol. Não comeu pão nem bebeu água; e quando todos já estavam mergulhados no sono, só ela permanecia acordada, derramando lágrimas e batendo repetidamente no peito.
2 Em dado momento levantou-se e desceu as escadas do solar. Junto à porta de entrada encontrou a guardiã adormecida nas suas dependências, juntamente com as suas crianças. Então habilmente desprendeu o cortinado da porta, encheu-o de cinzas, carregou-o até o solar e, chorando e suspirando, espalhou as cinzas pelo chão.
3 Aquela jovem, que era a que mais amava Asenath, percebeu os seus suspiros. Levantou-se mais que depressa e foi postar-se à porta, após ter acordado também as outras virgens; mas Asenath havia trancado a porta e corrido o ferrolho. Ouvindo que não cessavam os suspiros e as lamentações de Asenath, chamou-a do lado de fora, dizendo: "O que está acontecendo, minha senhora? O que tanto te entristece? O que assim te atormenta? Abre a porta, para que possamos ver-te".
4 De dentro, Asenath respondeu: "Um sofrimento muito grande e muito pesado abateu-se sobre mim; estou estirada sobre meu leito e não consigo levantar-me para abrir-vos a porta, pois doem-me todos os membros. Que todas voltem para seus quartos, descansem e me deixem em paz!"
5 Quando as jovens tornaram a recolher-se, Asenath levantou-se, abriu silenciosa-mente a porta do seu aposento Jose, dirigiu-se até o segundo compartimento, onde se guardavam os seus adornos, e abriu os baús. Apanhou um vestido preto e sombrio que vestira por ocasião da morte do seu irmãozinho mais velho, levou-o ao seu quarto e cerrou e novo cuidadosamente a porta, correndo a tranca de ferro.
6 Então tirou suas vestimentas reais e vestiu o vestido de luto. Desprendeu o cinto de ouro e cingiu-se com uma corda tirou o turbante, o diadema, os braceletes e as fitas de ouro e amontoou tudo isso no chão. Então agarrou o seu vestido de luxo, bem como o cinto de ouro, o turbante e o diadema, e atirou tudo aos pobres pela janela que dava para o norte.
7 Depois, reuniu o grande número das estátuas de seus deuses leitos de ouro e prata, que se encontravam no quarto, quebrou-os em mil pedaços e atirou-os pela janela, aos mendigos e necessitados. Em seguida, Asenath tomou suas provisões reais, carnes gordas, peixe e assados de vitela, bem como todas as oferendas dos seus deuses, também os utensílios e as reservas de vinho, e atirou tudo aos cachorros pela janela que dava para o norte.
8 Feito isso, tomou o cortinado com as cinzas e esvaziou-o completamente pelo chão. Tomou uma roupa de penitência, envolveu com ela os rins, soltou as tranças dos cabelos e espalhou cinzas sobre a cabeça. Como havia esparzido as cinzas pelo chão, sentou-se no meio delas, batendo-se no peito repetidamente com os punhos cerrados; chorou e suspirou amargamente pelo resto da noite, até o amanhecer.
9 Quando, pela manhã, Asenath se deu conta, viu que as cinzas do chão haviam-se convertido em lodo, tantas as lágrimas derramadas. Então, mais uma vez, atirou-se com a face por terra, e assim permaneceu até o pôr-do-sol. Assim procedeu durante sete dias, não se alimentando de uma migalha sequei".
Capítulo 11
Conversão de Asenath
1 No oitavo dia, ao alvorecer, quando os passarinhos começavam a cantar e os cachorros a latir para os transeuntes, Asenath soergueu-se um pouco do monte de cinzas em que se assentava. Esgotada pelo prolongado jejum, sentiu os membros entorpecidos e fracos e aniquiladas sua energia e suas forças. Recostou-se então contra a parede, sob a janela onde estava sentada, do lado do nascente, deixou pender a cabeça, em penitência, e colocou os dedos da mão direita sobre o joelho direito. Sua boca permanecia fechada; nenhuma vez a abrira nos sete dias e sete noites do seu jejum. E no seu íntimo ela falou, sem entreabrir a boca: "Que deverei fazer, ó pobre de mim? Aonde irei? Junto a quem refutar-me-ei? Com quem poderei falar agora, desamparada, solitária, por todos abandonada e virgem desprezada?
2 "Ninguém mais terá consideração por mim, nem meu pai, nem minha mãe, porque repudiei os seus deuses, fi-los em pedaços e os dei aos pobres como objeto de destruição. Assim dirão meu pai e minha mãe: `Esta não é a nossa filha Asenath'. Também me odiarão todos os parentes e as demais pessoas, porque destruí os deuses deles.
3 "Por acaso também eu não desprezei todos os homens e todos os meus pretendentes? Assim agora eu também, neste meu estado de fraqueza, serei simplesmente desprezada; todos se alegrarão com o meu infortúnio. O Senhor e Deus do herói José, porém, aborrece todos os adoradores de deuses falsos, pois Ele é, segundo ouvi dizer, um Deus colérico e terrível para com todos aqueles que veneram divindades estranhas.
4 "Também a mim Ele odiou, porque adorei e louvei estátuas de deuses mortos e mudos. Agora eu repudiei os seus sacrifícios e a minha boca absteve-se da sua mesa. Contudo, não tenho a coragem de invocar o Senhor, o Deus do céu, o Altíssimo, o poderoso Deus do herói José, porque minha boca esteve contaminada pelas oferendas dos falsos deuses.
5 "Mas muito ouvi falar que o Deus dos hebreus é um Deus verdadeiro, um Deus vivo, um Deus misericordioso, compassivo, indulgente, remitente, suave, que não leva em conta os pecados de quem agiu principalmente por ignorância, e que não exige satisfação pela culpa de uma pessoa em grande aflição e necessidade. Agora também eu, ó pobre de mim, me aventuro a voltar-me para Ele, e nele refugiar-me, e diante dEle reconhecer todos os meus pecados e derramar todas as minhas súplicas; Ele terá compaixão da minha profunda indigência.
6 "Vendo-me agora tão humilhada, tão solitária em minha alma, quem sabe Ele terá piedade de mim? Quem sabe agora, vendo a virgem abandonada que sou, de tudo carente, Ele me protegerá, pois, como ouço dizer, Ele é o pai dos órfãos, o consolador dos aflitos, o refúgio dos perseguidos. Sim, ousarei, eu pobre, clamar por Ele."
7 Então Asenath ergueu-se de junto à parede em que esteve recostada, pôs-se sobre os joelhos na direção do nascente, olhou para o céu, abriu a boca e falou a Deus.
Capítulo 12
Oração de Asenath
1 Prece e confissão de Asenath: "ó Senhor, Deus dos justos, Tu que criaste os mundos e que a tudo desta vida, que concedeste o espírito da vida a todo o criado, que trouxeste à luz o invisível; Tu, que a tudo deste origem, que desvelaste o que era oculto, que és o autor dos altos céus, que firmaste a terra sobre as águas, que deste fundamentação às grandes rochas nas profundezas do mar, a fim de que não desapareçam nos abismos, mas, ao contrário, cumpram a tua vontade até o fim dos séculos, porque Tu ordenaste, e tudo foi criado — a tua palavra, ó Senhor, é vida para todas as tuas criaturas.
2 "Junto de ti agora me refugio, senhor meu Deus: doravante eu clamo a Ti, Senhor, na tua presença reconheço os meus pecados, derramo as minhas súplicas, ó Senhor,e manifesto as minhas culpas e pecados. Poupa-me, Senhor! Peço perdão! Porque muito contra Ti pequei e transgredi tuas leis, comportei-me impiamente e falei coisas abomináveis diante da tua face.
3 "Minha boca está imunda, Senhor, das oferendas aos falsos deuses egípcios, das suas refeições sacrificiais. Eu pequei, Senhor, na tua presença; agi de modo profano, tanto consciente quanto inconscientemente, pois invoquei imagens de ídolos mortos e mudos. Não sou digna, Senhor, de abrir a boca na tua presença, pobre de mim, Asenath, a filha do sacerdote Pentephres, virgem e rainha, eu que já fui cheia de orgulho e suficiência, que pela minha riqueza paterna era mais feliz do que ninguém, mas que agora estou sozinha e deserdada, completa-mente abandonada de todos.
4 "Em Ti me refugio, Senhor; a Ti apresento a minha súplica e clamo: salva-me dos perseguidores, o Senhor, antes que eles me agarrem! Tal como uma criança que de alguém tem medo e recorre ao pai e à mãe, e o pai lhe estende as mãos e a aperta contra o seu peito, assim também Tu, Senhor, abre os teus braços puros e poderosos para mim, como um pai que ama os seus filhos, e arranca-me da mão do inimigo do meu espírito!
5 "Pois vê: o velho leão rude e selvagem me persegue, porque ele é o pai dos deuses egípcios, e os descendentes dele são os deuses dos possuídos por divindades falsas. Eu porém os destruí e odiei, porque são filhos do leão. Dessa forma, eu repudiei todos os deuses dos egípcios, e os reduzi a pedaços. O leão, porém, cujo pai é o demônio, ronda cheio de ira por mim e procura devorar-me. Mas Tu, Senhor, livra-me das suas garras, arranca-me das suas fauces, para não ser por" ele estraçalhada, para que eu não seja lançada ao fogo ardente, para que o fogo não me arrebate ao furacão, e o furacão não me arremesse às trevas, e eu não seja precipitada nas profundezas do mar; que eu não seja, enfim, tragada pelo grande e velho monstro e fique perdida para todo o sempre!
6 "Salva-me, Senhor, antes que tudo isso me aconteça. Salva uma pobre, solitária e desprotegida, pois meu pai e minha mãe já me renegaram. Eles disseram: 'Esta não é a nossa filha Asenath', pois eu quebrei e aniquilei os seus deuses e os repudiei completamente. Neste momento, sou totalmente órfã e abandonada. Outra esperança não me resta a não ser Tu, meu Senhor, e nenhum outro refúgio senão a tua piedade, ó Tu, o verdadeiro amigo dos homens. Apenas Tu és o pai dos órfãos, o protetor dos perseguidos, o auxilio dos torturados.
7 "tem pois piedade de mim, Senhor! Protege a virgem pura que se encontra na orfandade e no abandono! Só Tu, Senhor, és um pai doce, bom e suave. Quem, além de Ti Senhor, seda um pai tão doce e bom? Todos os presentes do meu pai Pentephres, que me foram dados como propriedade, são temporários e transitórios; porém, os dons da tua herança, ó Senhor, são duráveis e eternos.
Capítulo 13
Ainda a oração de Asenath
1 "Olha, Senhor, a minha indigência! Tem piedade desta órfã! Tem compaixão de mim, profundamente humilhada! Vê, Senhor, eu de todos fugi e refugiei-me em Ti, único amigo dos homens. Abandonei todos os bens terrenos e junto a Ti procuro abrigo, em saco e cinza, nua e só.
2 "Rejeitei as minhas roupas reais feitas de linho finíssimo e escarlate, bordadas de ouro, e cobri-me com uma escura veste de luto. Desprendi o meu cinto de ouro e atirei-o longe, e cingi-me com uma corda em sinal de penitência. Arranquei da minha cabeça o diadema e o turbante, e cobre-me de cinzas.
3 "O piso do meu quarto, revestido de pedras purpúreas e matizadas, o qual era tratado a óleo e polido com linho fino, está umidificado de minhas lágrimas, coberto de cinzas, imundo. As cinzas e as minhas lágrimas, ó Senhor, converteram meu aposento em lugar sórdido, como se fosse uma rua pública.
4 "Meu Senhor! Dei meus alimentos reais e minhas iguarias aos cachorros. Senhor! Estou em jejum há sete dias e sete noites, não comi pão, nem bebi água; minha boca está seca como um tambor, minha língua é como um chifre e meus lábios são como cacos de vidro; tenho o rosto completamente desfigurado e os teus olhos estão exauridos de tanto chorar.
5 "Senhor, meu Deus, livra-me das minhas inumeráveis culpas! Perdoa à virgem inexperiente, que tantos erros cometeu! Reconheci agora que todos aqueles deuses, que antes inocentemente eu adorava, não passam de ídolos mudos e mortos. Então a todos despedacei, embora de ouro e prata, para que fossem pisados pelos homens e roubados pelos ladrões. Junto de Ti, Senhor Deus, eu tire abriguei, pois Tu és o único e compassivo amigo dos homens.
6 "Perdoa-me, Senhor, por tanto haver pecado contra Ti, inconscientemente, e por haver falado coisas nefandas contra José. Coitada de mim, eu não sabia que ele é teu filho. Pessoas malignas e cheias de inveja disseram-me que José é um filho de pastores, procedente de Canaã. E eu, coitada, neles acreditei; deixei-me enganar e pouco caso fiz dele; falei muito mal a seu respeito, não sabendo de forma alguma que ele era teu filho.
7 "Quem dentre os homens pôde trazer ao mundo tamanha beleza? Quem poderia tê-la produzido? Que outro homem é tão sábio e poderoso como esse José maravilhosamente belo? Eu confesso, meu Senhor, eu o amo mais do que à minha própria alma. Conserva-o na sabedoria da tua graça, e entrega-me a ele como sua serva e escrava, para que eu possa lavar-lhe os pés, preparar-lhe a cama, e em tudo servi-lo com submissa atenção, como sua escrava, nada mais que escrava, por todos os dias da minha vida."
Capítulo 14
Visita do Arcanjo Miguel
1 Quando Asenath chegou ao término da sua confissão diante do Senhor, levantava-se do céu, no lado do nascente, a estrela da manhã. Asenath olhou para ela e sentiu grande alegria. E assim falou: "Terá Deus, o Senhor, ouvido a minha súplica, uma vez que essa estrela é arauto e mensageiro da luz do grande dia?"
2 Nesse momento, o céu fendeu-se junto à estrela da manhã e apareceu uma luz imensa e indizível. Ao vê-la, Asenath caiu com sua face sobre as cinzas. No mesmo instante, aproximou-se um homem do céu que emitia raios de luz e postou-se junto dela.
3 Como ela ainda estava prostrada sobre a face, o mensageiro do céu dirigiu-lhe a palavra: "Levanta-te, Asenath". Mas ela respondeu: "Quem é esse que me dirige a palavra, pois que está firmemente fechada a porta do meu quarto e a torre é muito alta? Como pode pois alguém peneirar no meu quarto?" Então o mensageiro chamou-a mais uma vez: "Asenath, Asenath!"
 4 Ela falou: "Sim, Senhor! Mas permite-me saber quem és tu". Então ele respondeu: "Eu sou o príncipe do Senhor Deus, o chefe das legiões do Altíssimo. Levanta-te e põe-te sobre os teus pés! Quero dirigir-te a palavra".
5 Ela então ergueu o rosto e olhou. Aí estava um homem, em tudo parecido com José, tanto pela sua vestimenta como pela sua coroa e pelo cetro real; só que o seu rosto era como o relâmpago, os seus olhos tinham o brilho do sol, seus cabelos eram como um facho aceso e as suas mãos e os seus pés eram como o ferro em brasa e emitiam faíscas.
6 Quando Asenath viu isso, caiu mais uma vez sobre a face, presa de grande temor, sem poder ter-se em pé. Todos os seus membros tremiam de imenso pavor. Então o homem falou-lhe deste modo: "tem coragem, Asenath, e nada receies. Levanta-te e fica de pé, para que eu possa transmitir-te a minha mensagem!"
7 Encorajada, Asenath ergueu-se e colocou-se em posição ereta. Então o Anjo falou-lhe assim: "Vai agora mesmo ao teu segundo quarto, desveste a roupa de luto com que te cobriste e tira dos teus quadris a veste de penitência! Remove as cinzas de tua cabeça! Lava as mãos e o rosto com água pura e veste uma roupa branca e intacta! Cinge os teus rins com o cinto puro e duplo da virgindade! Depois volta para junto de mim, para que eu possa transmitir-te a mensagem pela qual o Senhor me enviou a ti!"
8 Asenath dirigiu-se a toda pressa ao seu segundo quarto, repositório dos seus adornos, abriu a arca, retirou dela um vestido branco, fino e imaculado, e vestiu-o, depois de se desfazer da vestimenta preta e arrancar a corda e os andrajos de penitência que lhe envolviam os flancos. Depois colocou seu cinto duplo da virgindade, um nos quadris, outro no peito.
9 Isso feito, sacudiu as cinzas da cabeça, lavou as mãos e o rosto com água limpa, tomou também um véu fino e belíssimo e cobriu com ele a cabeça.
Capítulo 15
Palavras de Miguel
1 Asenath voltou então à presença do príncipe dos céus. E o Anjo do Senhor lhe disse: "Retira o véu da cabeça, porque tu és hoje unta virgem pura e tua cabeça é uma cabeça de criança". Asenath obedeceu e de novo falou-lhe o mensageiro de Deus: "tem coragem, Asenath, virgem pura! O Senhor Deus escutou a tua confissão e a tua súplica.
2 "Ele viu também a tua humilhação e a tua indigência nos sete dias do teu jejum, quando as tuas lágrimas sobre as cinzas provocaram grande imundície ao teu redor. Alegra-te e anima-te, ó tu, virgem pura Asenath! Teu nome foi inscrito no livro da vida e dele não será nunca mais cancelado.
3 "A partir de hoje renascerás e de novo serás plasmada, dotada de vida nova; comerás o pão abençoado da vida e beberás do cálice transbordante da imortalidade e com óleo santo da incorruptibilidade serás ungida. Anima-te, Asenath, virgem pura! No dia de hoje o Senhor te deu a José como sua noiva; ele será o teu esposo para sempre.
4 "Também, de hoje em diante, não te chamarás mais Asenath; teu nome será agora cidade do refúgio, pois muitos povos recorrerão a ti e encontrarão descanso sob tua égide, e muitos encontrarão em ti proteção. Dentro dos teus muros sentir-se-ão seguros todos aqueles que, arrependidos, se volvem para o Deus Altíssimo, e isso abrandará sempre o coração de Deus, tanto em relação a ti quanto em relação a todos aqueles que se dispõem a fazer penitência. E dEle que procede a graça da conversão. A penitência é a coroa e o amparo de todas as virgens. Ela é intima de vós todas e é vossa intercessora junto ao Altíssimo, intercessora também de todos os contritos de coração. Ela assegura uma morada de paz no céu e renova a vida dos homens arrependidos.
5 "A penitência é uma coisa muito bela; ela é virgem, pura, suave e delicada. Por isso, amara o Deus Altíssimo e todos os anjos prezam-na profundamente. Também eu a amo profundamente, porque é minha irmã, e por ela amar a vós todas, virgens, assim a todas vós eu amo. Vou logo ter com José e tudo isso lhe direi a teu respeito. Ele virá ainda hoje para junto de ti e alegrar-se-á com a tua aparência, e será possuído de amor por ti. Ele será teu esposo e tu serás sua esposa para todo o sempre.
6 "Agora escuta bem, Asenath! Veste o teu vestido nupcial, o Primeiro e o mais antigo, que há muito tempo está guardado no teu quarto! Enfeita-te com os teus mais seletos adornos! Prepara-te como uma verdadeira noiva e estejas pronta para recebê-lo! Ele virá ainda hoje em pessoa ao teu encontro e ficará maravilhado com a tua imagem."
7 Quando o anjo do Senhor, em forma humana, concluiu as suas palavras dirigidas a Asenath, ela encheu-se de alegria com tudo o que ouvira, e prostrou-se uma vez mais com a face no chão, beijou os pés do Anjo, e assim falou: "Louvado seja o Senhor, teu Deus, que te enviou para salvar-me das trevas e conduzir-me do mais profundo abismo para a luz! Louvado seja igualmente o teu nome para sempre. Se eu encontrei graça, meu Senhor, diante dos teus olhos, e se posso acreditar que todas as tuas palavras que diante de mim pronunciaste irão cumprir-se verdadeiramente, então a tua serva gostaria de dirigir-te uma palavra".
8 Disse-lhe então o Anjo: "Pois fala!" E ela falou: "Eu te peço, Senhor, senta-te um pouco sobre esta cama! Esta cama é pura e imaculada, pois nunca um homem ou outra mulher nela repousou. Vou preparar-te uma mesa com pão, para dar-te de comer. Trarei para ti também um vinho velho e bom, cujo perfume se exala ao céu. Bebe dele, pois! E em seguida segue o teu caminho!" E ele respondeu: "Anda logo, e traze isso sem demora".
Capítulo 16
A refeição admirável
1 Então Asenath arranjou a toda pressa uma mesa vazia e colocou-a diante dele. Mas quando se dispunha a buscar o pão, disse-lhe o anjo do Senhor: "traze-me também um favo de mel!" Ela ficou paralisada, embaraçada e triste, porque não havia favo de mel na câmara das suas provisões. Falou-lhe então o anjo de Deus: "Por que ficaste aí parada?"
2 Ela respondeu: "Meu Senhor! Mandarei agora mesmo uma das jovens à periferia da cidade, onde se encontra a propriedade rural dos meus pais. Ela estará bem depressa de volta com o favo, e então eu to apresentarei". Mas o anjo do Senhor lhe disse: "Vai simples-mente ao teu compartimento de provisões e sobre a mesa encontrarás um favo de mel. Toma-o e traze-o aqui!"
3 Ela disse: "Senhor, no meu quarto de provisões não há favo de mel!" Ele respondeu: Vai tranqüila! Tu o encontrarás".
4 Asenath então dirigiu-se à sua cela de provisões e efetiva-mente encontrou sobre a mesa um favo de mel. O favo era grande e branco como a neve, cheio de mel, e esse mel era como o orvalho do céu, e o seu perfume era como o perfume da vida. Diante disso, Asenath falou consigo, cheia de estupefação: "Será que este favo procederia da boca daquele homem?"
5 Tomou o favo e foi colocá-lo sobre a mesa. Então o Anjo lhe disse: "Dizias há pouco `no meu quarto não há favo de mel' e agora trazes-me aqui um favo desse tamanho"? Ela então disse: "Senhor! Nunca eu trouxe para o meu quarto um favo de mel; contudo, só ao falares sobre ele, ele apareceu. Por acaso não saiu ele da tua boca, pois que o seu perfume se assemelha ao perfume do bálsamo?"
6 Então o homem sorriu, por causa da perspicácia da mulher. Chamou-a para junto de si e quando ela se aproximou ele estendeu a mão direita, tomou a sua cabeça e moveu-a suave-mente. Mas Asenath sentiu medo da mão do Anjo, pois dela procediam radiações como as do ferro em brasa. Assim, ela fitava a mão do anjo o tempo todo ansiosa e trêmula.
"'7 Ele, porém, sorria, e falou assim: "Oh, feliz de ti, Asenath, pois segredos inefáveis de Deus te foram desvelados. Bem-aventurados são todos aqueles que, pela penitência, se aproximam do Senhor Deus, pois eles haverão de comer desse favo! Esse favo é na realidade o espírito da vida, e foi preparado pelas abelhas do paraíso das delícias, extraído do orvalho e das rosas da vida do paraíso de Deus, bem como de todas as suas outras florações. Dele se alimentam também os anjos e todos os escolhidos de Deus, e todos os que são seus filhos. Aquele que dele comer não morrerá para todo o sempre".
8 Então o anjo de Deus estendeu a sua mão, tomou uma pequena porção do favo e comeu. Com a própria mão tomou outra parte e chegou-a à boca de Asenath, dizendo: "Come tu também!" E ela comeu.
9 Então o Anjo pronunciou as seguintes palavras: "Agora comeste o alimento da vida e bebeste a bebida da imortalidade, e foste também ungida com o óleo da incorruptibilidade. Tua carne, doravante, graças ao renascimento por meio do Altíssimo, fará brotar flores de vida, e teus ossos produzirão cedros comparáveis aos do paraíso de delicias de Deus, e bem assim serás robustecida por forças novas. Além disso, tua juventude não conhecerá velhice e tua beleza nunca murchará. Serás para todos uma cidade, grandemente fortificada".
10 Então o Anjo aproximou sua mão do favo, e muitas abelhas apareceram nos seus alvéolos; os alvéolos eram inumeráveis, dez mil, cem mil. As abelhas eram brancas como a neve, e suas asas tinham a cor da púrpura e do escarlate, como o carmesim; elas possuíam ferrões afiados, mas a ninguém ofendiam.
11 Todas as abelhas pousaram sobre Asenath, desde a cabeça até os pés, e outras abelhas maiores, parecidas com suas rainhas, saíram do favo, pousaram na sua face e nos seus lábios, e prepararam na sua boca e nos seus lábios um favo parecido com o que se encontrava diante do Anjo. E todas aquelas abelhas alimentavam-se do favo preparado na boca de Asenath. Então o Anjo falou às abelhas: "Voltai agora ao vosso lugar!"
12 Então todas elas levantaram vôo e voltaram para o céu. Aquelas, porém, que quiseram ofender Asenath caíram todas mortas no chão. O Anjo estendeu o seu cetro sobre essas abelhas mortas e falou-lhes: "Levantai-vos e ide também vós ao vosso lugar!" Então todas aquelas abelhas mortas se avivaram e voaram para o pátio da casa de Asenath e pousaram sobre as árvores frutíferas.
13 Então o Anjo estendeu a mão e, com o dedo indicador, tocou o canto do favo do lado do nascente; e a linha deixada pelo seu dedo tomou a cor do sangue. Então pela segunda vez ele estendeu a mão, tocou o favo no seu lado voltado para o norte; e mais uma vez a linha do dedo tomou a cor do sangue. E Asenath postada à esquerda do Anjo, e viu tudo quanto ele realizou.
Capítulo 17
A benção de Miguel
1 Então o Anjo assim falou a Asenath: "Presenciaste tudo isso?" E ela disse: "Sim, meu Senhor, eu vi tudo perfeitamente". Falou-lhe a seguir o anjo de Deus: "Assim acontecerá com todas as minhas palavras que hoje te dirigi". Pela terceira vez o anjo do Senhor estendeu a mão direita e tocou um dos cantos do favo. Então da mesa rompeu uma chama rápida que consumiu todo o favo, sem danificar a mesa.
2 Do fogo do favo desprendeu-se um odor doce e bom, que encheu todo o quarto. Então Asenath falou ao anjo de Deus: "Tenho sete virgens, Senhor, criadas comigo desde a minha infância, nascidas como eu numa mesma noite; elas me servem, e a todas amo como minhas irmãs. Eu gostaria de chamá-las agora, para que as abençoasses como a mim abençoaste". Então disse o Anjo: "Sim, podes chamá-las!"
3 Asenath chamou as sete virgens e apresentou-as ao Anjo. O Anjo dirigiu-se a elas com as seguintes palavras: "Abençoe-as, ó Senhor, Deus altíssimo; havereis de ser sete colunas de amparo em sete cidades, e todos aqueles eleitos que nelas habitarem encontrarão em vós a paz por toda a eternidade!" O anjo de Deus em seguida falou a Asenath: "Podes agora levar embora esta mesa!"
4 E quando Asenath voltou-se para retirar a mesa ele desapareceu rapidamente dos seus olhos. Asenath apenas observou que algo parecido com um carro puxado por quatro cavalos subia para o céu. O carro, porém, era como chama de fogo, e os cavalos pareciam-se  raios, e o Anjo andava sobre aquele carro.
5 Então Asenath como que despertou, dizendo: "Como fui tola e parva, eu, pobrezinha, ao pronunciar-me como se aquele fosse apenas um homem superior que tivesse entrado no meu quarto. Na realidade, eu não percebi que aqui dera entrada um ser divino. Agora ele torna ao seu lugar, o céu. Falou então consigo mesma: "Tem piedade da tua escrava, Senhor! Poupa tua serva que, sem saber, pronunciou palavras temerárias na tua presença.
Capítulo 18
Noivado de José e Asenath
1 Enquanto Asenath se entretinha com tais pensamentos, havia chegado um jovem da comitiva de José, anunciando: "Hoje chegará até vós José, o herói de Deus". Asenath então mandou chamar depressa o administrador da casa e falou-lhe do seguinte modo: "Enfeita rapidamente a minha casa e prepara um lauto banquete! Pois hoje José, o herói de Deus, virá à nossa casa".
2 O administrador então olhou para a sua face — a face dela estava muito abatida pela carência, pelas lágrimas e pelo jejum de sete dias. Ele suspirou preocupado, tomou sua mão direita, beijou-a e disse: "Mas o que te aconteceu, minha senhora? O teu rosto está tão abatido!" Ela disse: "Muitas preocupações assaltaram o meu pensamento e o sono fugiu dos meus olhos".
3 O administrador afastou-se então e foi preparar a casa e a mesa. Asenath, entretanto, lembrando-se das palavras e das recomendações do Anjo, dirigiu-se depressa à sua segunda câmara, que continha o repositório dos seus adornos, e abriu a grande arca. Dela retirou o seu vestido primeiro, que era de um brilho fulgurante, e vestiu-o.
4 Cingiu-se com um cinto imaculado, de realeza, confeccionado em ouro e pedras preciosas. Colocou braceletes de ouro nos braços e fitas douradas nos tornozelos, no pescoço, enfeites preciosos, na cabeça, um diadema, igualmente de ouro. No diadema que circundava sua fronte estava incrustada uma grande safira e ao redor da safira havia seis pedras de raro valor; e cobriu a cabeça com um véu magnífico.
5 Nesse momento, Asenath lembrou-se das palavras do administrador: dissera ele que a sua fisionomia estava muito abatida. Ela então suspirou, cheia de preocupação, e disse: "Ai de mim, infeliz, com esta face tão horrível! Se José me vir assim, serei por ele desprezada". Falou então à sua governanta: "Traze-me água limpa da cisterna!"
6 E ela trouxe. Asenath derramou-a numa bacia e curvou-se sobre ela para lavar o rosto. Nesse momento, ela viu a sua própria imagem, luminosa como o sol, seus olhos eram como a estrela da manhã ao nascer e suas faces como as estrelas do céu. Seus lábios assemelhavam-se a rosas vermelhas; os cabelos eram como a parreira que no paraíso de Deus crescia farta de frutos; o pescoço parecia lavor talhado em cipreste.
7 Quando Asenath viu tudo isso, ficou muito surpresa com o esplendor da sua aparência e sentiu o coração encher-se de grande felicidade. Desistiu de lavar o rosto, considerando que a ablução da água poderia apagar uma beleza tão extraordinária e maravilhosa.
8 Nessa hora, apresentou-se de novo o administrador da casa, para comunicar-lhe: "As suas ordens já foram cumpridas". Mas quando ele a encarou, foi tomado de grande perturbação, começou a tremer fortemente e caiu aos seus pés, pronunciando as seguintes palavras: "Mas o que é isso, minha Senhora? Que milagre de beleza te envolve, tão fantástico e maravilhoso! Por acaso o Senhor, o Deus dos céus, escolheu-te para ser a noiva de José, o filho de Deus?"
Capítulo 19
Segunda visita de José
1 Enquanto eles ainda nisso se entretinham, veio a correr um serviçal, para anunciar a Asenath: "Vê, José já está às portas do pátio!" Ouvindo isso, Asenath chamou suas sete virgens, e todas desceram rapidamente as escadas do solar para receberem José; e ela mesma postou-se no átrio da sua casa.
2 Tendo José entrado no pátio, foram cerrados os portões, e todas as pessoas estranhas tiveram de permanecer do lado de fora. Asenath desceu ao encontro de José. Este, ao vê-la, ficou pasmado por causa da sua beleza e assim lhe falou: "Quem és tu, ó jovem? Dize-me depressa!"
3 Ela respondeu: "Senhor, eu sou Asenath, tua escrava; afastei de mim todas as imagens dos ídolos, eles não existem mais para mim. Do céu apareceu-me hoje um homem que deu-me a comer o pão da vida; dele comi e também bebi do cálice sagrado. Ele falou-me: `Entreguei-te hoje José como teu noivo, e ele será teu esposo para sempre. E o teu nome não será mais Asenath, mas sim 'cidade do refúgio', e Deus, o Senhor, reinará sobre muitos povos, por teu intermédio. E por meio de ti eles encontrarão proteção junto ao Altíssimo'.
4 "E o homem falou-me também: 'Eu irei ter com José, para sussurrar aos seus ouvidos as palavras que eu disse a teu respeito'. Por acaso senhor, aquele homem te procurou para falar-te a meu respeito?" José então dirigiu a Asenath as seguintes palavras:
"Tu és abençoada do Deus altíssimo, ó mulher. Louvado seja o teu nome para sempre, pois o Senhor Deus fortificou os teus muros, e os filhos do Deus vivo habitam a tua cidade de refúgio, e Deus, o Senhor, reinará sobre eles por todo o tempo futuro.
5 "Sim, eu confirmo que aquele homem veio hoje a mim, procedente do céu; e ele falou-me aquelas palavras a teu respeito. Vem pois para junto de mim, ó tu, virgem pura! Por que permaneces à distante?" José então abriu os braços e ela atirou-se neles, e ambos se abraçaram e beijaram-se longa-mente. Renasceram ambos no seu espírito. E José deu um beijo em Asenath, conferindo-lhe o espírito da Vida. Um segundo beijo, para dar-lhe o espírito da Sabedoria. E beijou-a pela terceira vez suavemente, transmitindo-lhe o espírito da Verdade.
Capítulo 20
O banquete
1 E assim, após longo abraço, de mãos dadas e firmemente seguras, Asenath falou José: "Vamos, senhor, entra em nossa casa! Mandei preparai para ti um grande banquete" Ela tomou-o pela mão direita conduziu-o para dentro de casa e indicou-lhe o trono do seu pai Pentephres para que nele tomasse assento. E para lavar-lhe os pés, mandou que trouxessem água.
2 José disse: "Que venha uma das jovens e me lave o pés!" Mas Asenath retrucou lhe: "Não, meu senhor! Pois ago ra tu és o meu amo e eu a tu serva. Por que propões que um outra jovem te lave os pés? Pois os teus pés já são os meus pé, as tuas mãos, minhas mãos, a tua alma, minha alma. Nenhuma outra, pois, lavar-te-á o pés!" Assim, Asenath lavou o pés de José, contra a vontade dele. Ele então pegou a mão direita dela e beijou-a docemente. Asenath, por sua vez, beijou sua fronte; em seguida, José fila sentar-se à sua direita.
3 Nessa hora, seu pai e sua mãe, e todos os parentes que voltavam do campo viram-na sentada ao lado de José, trajada com vestes núpcias. Todos ficaram maravilhados pela sua formosura, alegraram-se sobre-maneira e louvaram a Deus, que aos mortos torna a dar a vida. E assim, todos comeram e beberam com grande alegria. Falou em seguida Pentephres a José: "Procurarei amanhã todos os potentados e sátrapas da terra do Egito, com vistas aos preparativos do teu casamento. E então tomarás a minha filha Asenath por esposa".
4 A isso retrucou José: "Eu estarei amanhã com o Faraó, meu pai, que me estabeleceu como príncipe de toda esta terra. Eu lhe falarei de Asenath e pedirei que me conceda Asenath por esposa". Ao que Pentephres ponderou: "Pois então seja conforme a tua vontade!"
Capítulo 21
Casamento de José e Asenath
1 Naquele dia, José permaneceu na casa de Pentephres, mas não procurou Asenath, pensando consigo: "Não convém a um homem temente a Deus ficar com sua mulher antes do casamento". No dia seguinte, José levantou-se cedo, dirigiu-se imediatamente ao Faraó e falou-lhe: "Dá-me Asenath, a filha de Pentephres, sacerdote de Heliópolis, como esposa". Com essas palavras alegrou-se o Faraó, e disse a José: "Por acaso não te estava ela prometida desde toda a eternidade como tua esposa? Pois seja ela agora tua mulher, desde hoje para sempre".
2 Então o Faraó deu ordens e mandou que fosse chamado Pentephres à sua presença. Este compareceu, levando consigo Asenath, para apresentá-la ao Faraó. Ao vê-la, o Faraó ficou grandemente maravilhado com a beleza da jovem. E assim falou: "Sê abençoada do Senhor e Deus de José, que é meu filho; e que esta tua formosura permaneça para sempre. O Senhor e Deus de José escolheu-te para ser a sua noiva. E eu sei que José se parece com um filho do Altíssimo, e tu serás desde agora e para sempre a sua esposa".
3 A seguir, o Faraó chamou para junto de si José e Asenath e colocou sobre suas cabeças coroas-diademas de ouro, que se conservavam no palácio desde tempos antiqüíssimos. E colocou Asenath à direita de José. Então o Faraó impôs suas mãos sobre suas cabeças e falou-lhes: "Abençoe-vos o Senhor, Deus altíssimo! Que Ele vos fortaleça, exalte e glorifique por toda a eternidade!"
4 Depois disso, o Faraó fê-los voltarem-se face a face para que aproximassem os seus lábios, e eles se beijaram. Isso consumado, o Faraó mandou preparar as bodas com um grande banquete que duraria sete dias. Convidou todos os príncipes do Egito e todos os reis dos povos vizinhos; e mandou publicar um édito por toda a terra egípcia: "Aquele que trabalhar nos sete dias das bodas de José e Asenath será conde-nado à morte".
5 Após as comemorações do casamento, e terminados todos os festejos, José procurou Asenath. E Asenath engravidou de José e deu à luz Manassés e seu irmão Ephraim, na casa de José.
Capítulo 22
Asenath junto a Jacó
1 Terminados os sete anos gordos, começaram sete anos de fome. Então Jacó teve notícias do seu filho José. E pouco tempo depois transferiu-se com todo o seu clã para o Egito, no segundo dos anos magros, aos vinte e um dias do segundo mês, e foi estabelecer-se na terra de Gessem.
2 E Asenath falou a José: "Eu gostaria de conhecer o teu pai, pois o teu pai Israel é como se fosse o meu pai e Deus". José então disse-lhe: "Vem comigo e verás o meu pai". E José dirigiu-se com Asenath até junto de Jacó, na região de Gessem. E os irmãos de José vieram ao seu encontro e diante deles prostraram-se com a face por terra. Foram então ambos ter com Jacó, e encontraram-no sentado no seu leito; era um ancião de idade avançada.
3 Quando Asenath o viu, surpreendeu-se com a sua beleza, pois a aparência de Jacó era realmente muito bela. Sua velhice era muito mais como a juventude de um homem maduro. Era completamente branca como a neve a sua cabeça, mas os cabelos eram densos e fortes; sua barba era branca e chegava até o peito; seus olhos eram alegres e radiosos; seus músculos, seus ombros e seus braços pareciam os de um Anjo; suas coxas, suas pernas e seus pés eram como os de um gigante.
4 Diante dele Asenath ficou admirada e prostrou-se no chão sobre a sua face. Jacó então disse a José: "É esta minha filha, tua mulher? Seja ela abençoada pelo Deus altíssimo!" Então Jacó chamou-a para junto de si, deu-lhe a bênção e beijou-a. Asenath em seguida abriu os braços, enlaçou o pescoço de Jacó e beijou-o suavemente. Depois disso, comeram e beberam. Terminado o repasto, José e Asenath voltaram para casa.
5 Simão e Levi, filhos de Lia, foram os únicos que os acompanharam; os filhos de Baila e de Zelpha, as escravas de Lia e de Rachel, não fizeram o mesmo, pois tinham-lhes inveja e ódio. Levi colocou-se à direita de Asenath e Simão à sua esquerda.
6 Asenath tomou a mão direita de Levi, porque o estimava mais que a todos os irmãos de José; tinha-o como um vidente e homem temente a Deus; ele era em verdade um homem prudente e profeta do Altíssimo. Também sabia discernir os sinais do céu, lia-os e ensinava-os em segredo a Asenath. Do mesmo modo, Levi também nutria por Asenath uma estima profunda, e via nas alturas do céu a sua morada de paz.
Capítulo 23
Ameaça contra Asenath
1 Quando José e Asenath voltaram da sua viagem de visita a Jacó, foram vistos pelo filho primogênito do Faraó, por sobre os muros do palácio. Quando ele viu Asenath, ficou completamente transtornado pela sua formosura.
2 Mandou então emissários com a ordem de convocar Simão e Levi à sua presença. Quando eles chegaram e se postaram diante dele, assim falou-lhes o primogênito do Faraó: "Tenho pleno conhecimento de que vós sois ainda homens valentes, mais fortes do que todos os homens deste pais. Por vosso braço direito foi outrora arrasada a cidade dos siquemitas; por meio das vossas duas espadas foram exterminados 30 mil guerreiros.
3 "Pois hoje desejo contar-vos entre os meus aliados; dar-vos-ei ouro e muita prata, empregados, servas e casas, bem como extensas propriedades rurais. Basta que aceiteis ficar do meu lado e sejais amistosos comigo. Eu fui tratado com desprezo pelo vosso irmão José, por ter tomado para si como esposa Asenath, aquela que de há muito me estava prometida.
Ficai, portanto, do meu lado! Eu desejo entrar em luta com José, aniquilá-lo com esta minha espada e tomar Asenath por minha esposa. Vós então devereis ser como meus irmãos e fiéis amigos. Caso não concordardes comigo, eu vos matarei com esta minha espada".
4 Pronunciando essas palavras, arrancou sua espada e brandiu-a diante deles. Simão, homem intrépido e audaz, teve ímpetos de agarrar sua espada e golpear o filho do Faraó, diante de sua proposta inadmissível. Mas Levi percebeu as intenções de Simão, pois era um profeta, e com um toque de pé advertiu-o, dando-lhe a entender que devia abrandar sua ira.
5 E falando com calma a Simão, disse-lhe: "Por que te irritas contra esse homem? Afinal, somos homens tementes a Deus, e não convém retribuir o mal com o mal". Dito isso, Levi falou ao filho do Faraó, com altivez, mas ao mesmo tempo com mansidão: "Por que, senhor, nos dizes tais coisas? Nós somos homens tementes a Deus, nosso pai é amigo do Deus altíssimo, e nosso irmão se parece com um filho de Deus.
6 "Como poderíamos come-ter tamanha perversidade, pecar contra nosso Deus, contra nosso pai Israel e contra o nosso irmão José? Ouve, pois, minhas palavras: não convém a um homem temente a Deus causar prejuízo a quem quer que seja. Se alguém deseja fazer o mal a um homem temente a Deus, nenhum homem que teme a Deus se colocará do seu lado, e nas suas mãos não haverá espada. Guarda-te pois de falar tais coisas sobre o nosso irmão José. Se insistires no teu plano perverso, nossas espadas serão desembainhadas contra ti.
7 Simão e Levi sacaram então suas espadas, pronunciando as seguintes palavras: "Vês estas espadas? Com estas duas armas o Senhor vingou severamente a prepotência dos siquemitas. Pois Siquém, filho de Emmor, desonrou nossa irmã Dina, ofendendo assim os filhos de Israel".
8 Assim que o filho do Faraó viu as espadas desembainhadas, assustou-se muito e pôs-se a tremer, pois elas reluziam como chamas de fogo. Seus olhos escureceram e ele tombou com o rosto no chão, aos pés de Simão e Levi.
9 Diante disso, Levi estendeu sua mão e tocou-o, dizendo: "Levanta-te e não tenhas nenhum receio! Guarda-te apenas de dizer outras palavras más a respeito do nosso irmão José!" Com isso, Simão e Levi afastaram-se dele.
Capítulo 24
Conspiração contra o jovem casal
1 O filho do Faraó encheu-se de temor e tristeza, pois tinha medo dos irmãos de José; no entanto, voltaram-lhe de novo os pensamentos torpes por causa da beleza de Asenath, e, assim, consumia-se cada vez mais. Foi quando os seus servos sussurraram-lhe nos ouvidos: "Os filhos de Balla e os filhos de Zelpha, escravas de Lia e de Rachel, mulheres de Jacó, odeiam e abominam José e Asenath; eles estarão prontos a apoiar teus planos".
2 Ouvindo isso, o filho do Faraó enviou a toda pressa emissários até eles, chamando-os à sua presença. Na primeira hora da noite, eles apareceram e a ele se apresentaram. Ele então disse-lhes: "Ouvi dizer de muitas bocas que vós sois homens corajosos". A isso responderam-lhe Dan e Gad, os irmãos mais velhos: "Fale o nosso senhor aos seus servos o que deseja, para que os seus servos escutem, e faremos segundo a tua vontade!"
3 Com essa resposta alegrou-se o filho do Faraó, e disse aos seus imediatos: "Retirai-vos por alguns momentos. Desejo ter com estes homens um breve acerto, em particular". Todos se afastaram. Então o filho do Faraó, usando de mentiras, falou-lhes: "Considerai bem, está em vosso poder a bênção ou a maldição! Escolhei a bênção, ao invés da morte! Sois homens corajosos e não querereis morrer como mulheres. Sede, pois, audaciosos! Vingai-vos dos vossos inimigos!
4 "Escutei pessoalmente, certa vez, quando José, o vosso irmão, disse ao meu pai Faraó: Dan, Gad, Nephtali e Aser não são meus irmãos; eles são muito mais filhos das escravas do meu pai. Espero apenas que aconteça o falecimento do meu pai, para então exterminá-los da face da terra, tanto eles como a sua geração. Eles não terão nunca parte na nossa herança, porque são filhos de escravas! Também, outrora, eles me venderam aos israelitas, e por isso vou responder à prepotência com que me trataram. Para tanto, aguardo só que o meu pai chegue ao seu fim. "Meu pai, então, deu-lhe toda a razão e o louvou, dizendo-lhe: 'Falaste muito bem, meu filho! Poderás contar com meus homens fortes para castigá-los pelo que contra ti perpetraram. E nisso eu te darei todo o apoio'."
5 Quando Dan e Gad ouviram isso da boca do filho do Faraó, encheram-se de preocupação e de medo, e disseram-lhe: "Rogamos-te, senhor: dá-nos a tua ajuda! Doravante seremos teus servos e contigo desejamos morrer". Então disse o filho do Faraó: "Eu serei o vosso protetor, se escutardes as minhas palavras".
6 Eles então responderam-lhe: "Ordena-nos o que tu desejas! Faremos segundo a tua vontade". Então falou-lhes o filho do Faraó: "Ainda nesta noite eu matarei o meu pai Faraó, porque ele é como um pai para José, e porque prometeu-lhe ajudá-lo contra vós. A vós caberá matar José; então eu tomarei Asenath para mim como esposa. Vós sereis meus irmãos e juntamente comigo sereis herdeiros de tudo o que possuo. Basta que cumprais a proposta!"
7 Diante disso, responderam-lhe Dan e Gad: "A partir de hoje somos teus servos e faremos tudo o que ordenares. E, a propósito, ouvimos José falar a Asenath: `Vai amanhã à nossa propriedade, pois é tempo de colheita!' Mandou também que a acompanhassem seiscentos guerreiros e cinqüenta soldados ligeiros. Agora pedimos a tua atenção! Gostaríamos de uma palavra em particular com o nosso amo!" Então, em segredo, combinaram o plano com ele. A seguir, o filho do Faraó destacou quinhentos homens para cada um dos quatro irmãos e constituiu a estes como seus chefes e comandantes.
8 Dan e Gad então disseram a ele: "Somos hoje teus criados e faremos tudo de acordo com as tuas ordens; partiremos ainda estas noite e nos coloca-remos de emboscada junto ao desfiladeiro, escondendo-nos no espesso mato de juncos. Por tua parte, leva contigo flecheiros montados, mais ou menos em números de cinqüenta. E segue a uma boa distância em nossa frente. Quando Asenath se aproximar, ela cairá em nossas mãos. Daremos fim a todos os homens que a acompanham. Ela, porém, poderá fugir para a frente, no seu carro, e assim cairá nas tuas mãos. Então poderás fazer com ela o que o teu coração deseja. Após isso, mataremos também José, que estará a lamentar-se por Asenath. Da mesma forma, mataremos os seus filhos, diante dos seus próprios olhos." Quando o filho do Faraó ouviu isso tudo,encheu-se de grande satisfação e despachou-os com dois mil guerreiros.
9 Eles chegaram junto ao desfiladeiro e atocaiaram-se no juncai. Dividiram-se em quatro partes, em frente ao desfiladeiro, postando quinhentos homens de cada lado da estrada. Os demais também ficaram nas proximidades e esconderam-se no juncal; também eles, quinhentos de um lado e quinhentos do outro lado da estrada; entre eles passava o caminho, largo e cômodo.
Capítulo 25
Atentado contra o Faraó
1 No correr daquela noite, o filho do Faraó levantou-se e dirigiu-se aos aposentos do seu pai. Tinha a intenção de matá-lo com sua espada. Contudo, os guardas cio seu pai impediram-lhe o acesso e perguntaram: "Que ordenas, senhor?" Falou-lhes o filho do Faraó: "Desejo apenas ver meu pai, pois estou de partida para acompanhar o final da colheita da minha recente plantação de vinhas".
2 Os guardas, porém, responderam-lhe: "Teu pai não passa bem; esteve insone a noite inteira e só agora conseguiu repousar. Recomendou-nos que a ninguém deixássemos entrar, nem mesmo seu primogênito".
3 Ao ouvir isso, ele se afastou profundamente irado, convocou às pressas flecheiros montados, em número de cinqüenta, e partiu com eles, da forma como Dan e Gad haviam disposto.
4 Os irmãos mais jovens, Nephtali e Aser, falaram aos mais velhos Dan e Gad: "Mas por que afinal mais uma vez procedem com tanta maldade contra seu pai Israel e contra seu irmão José? A este Deus protege como à pupila dos seus olhos. Já não o venderam uma vez? E não é ele hoje o príncipe de toda a terra do Egito, um salvador e distribuidor de alimentos? Se mais uma vez pretendeis tratá-lo com ignomínia, ele chamará pelo Altíssimo e este mandará o fogo do céu para exterminar-vos, e os seus anjos virão para lutar contra vós".
5 Os irmãos mais velhos encheram-se de raiva contra eles e disseram: "Pensais então que aceitaremos morrer como mulheres? Jamais!"
Capítulo 26
A Salvação de Asenath
1 Asenath levantou-se bem cedo naquela manhã e falou a José: "Desejo ir até nossa propriedade, como tu disseste; no entanto, sinto muito medo pelo fato de tu não estares comigo". Mas José tranqüilizou-a: "Tem coragem e nada receies! Vai com alegria e de ninguém tenhas medo! O Senhor está contigo e Ele te protegerá de todo o mal, como a pupila dos seus olhos. Eu irei agora para a minha tarefa de distribuição de trigo, e o darei dos depósitos do Estado a todas as pessoas, para que no Egito ninguém morra de fome." Asenath então pôs-se a caminho, e José dirigiu-se para o seu trabalho de administração.
2 Entretanto, Asenath e os seiscentos homens de sua escolta já se aproximavam do desfiladeiro quando, de repente, os soldados do filho do Faraó saltaram do seu esconderijo e caíram em cima dos homens de Asenath, golpearam-nos com suas espadas, abatendo um a um, matando a todos os seus soldados ligeiros; e Asenath empreendeu a fuga, no seu carro.
3 Nesse momento, porém, Levi, o filho de Lia, teve uma premunição, pois era um profeta, e falou a seus irmãos sobre o perigo a que Asenath estava exposta. Rapidamente cada um apanhou sua espada, seu escudo e sua lança e partiram em marcha velocíssima atrás de Asenath.
4 Quando Asenath fugia estrada afora, veio-lhe ao encontro o filho do Faraó com os seus cinqüenta cavaleiros. Ao vê-lo, Asenath foi tomada de grande pavor e, estremecendo, invocou o nome do seu Deus e Senhor.
Capítulo 27
A batalha
1 Benjamim ia sentado no carro, à direita de Asenath. Era um jovem vigoroso de dezenove anos, de uma beleza extraordinária e de uma força como a de um leão novo; e era muito temente a Deus. Ele saltou rapidamente do carro, apanhou do riacho um seixo redondo e com a mão arremessou-o contra o filho do Faraó, acertando-o na têmpora esquerda e infligindo-lhe um grave ferimento.
2 Semimorto, o filho do Faraó caiu do cavalo e foi ao chão. Imediatamente, Benjamim subiu a uma rocha e gritou para o cocheiro de Asenath: "Traze-me pedras do riacho!" O cocheiro entregou-lhe cinqüenta seixos. Benjamim, com tiros certeiros, matou os cinqüenta homens da comitiva do filho do Faraó. Todos tiveram as têmporas atravessadas pelas pedras.
3 Nesse meio tempo, os filhos de Lia, Ruben, Simão, Levi, Judá, Isacar e Zabulão, lutavam contra os homens que haviam emboscado Asenath, caindo em cima deles com vigor e abatendo a todos. Assim, apenas seis homens mataram dois mil setecentos e seis. Mas os filhos de Baila e de Zelpha diante deles fugiram, dizendo as seguintes palavras: "Haveremos de perecer pela mão dos nossos irmãos? O filho do Faraó morreu pela mão do jovem Benjamim e todos os que com ele estavam foram também mortos por Benjamim. Vamos, pois! Vamos dar cabo de Asenath e Benjamim, e em seguida desapareceremos no juncai!"
4 Aproximaram-se então de Asenath com suas espadas desembainhadas e manchadas de sangue. E quando Asenath os viu foi tomada de grande medo e invocou o Senhor: "Senhor Deus! Tu me deste a vida e me livraste dos falsos deuses, da ruína mortal e me prometeste que minha alma viveria para sempre. Livra-me agora desses homens maus!"
5 E o Senhor Deus ouviu a voz de Asenath e no mesmo instante as espadas dos seus inimigos caíram de suas mãos ao chão e converteram-se em pó.
Capítulo 28
Magnanimidade de Asenath
1 Quando os filhos de Baila e Zelpha viram esse estranho prodígio, exclamaram, possuídos de pavor: "Agora o Senhor luta do lado de Asenath contra nós". Então caíram com suas faces por terra e prostraram-se aos pés de Asenath, pronunciando as seguintes palavras: "Tem piedade de nós, teus escravos, pois tu és nossa senhora e nossa rainha! Agimos perversamente contra ti e contra o nosso irmão José. E o Senhor já nos dá a paga pelas nossas obras. Por isso, nós, teus escravos, te suplicamos: tem compaixão de nós, pobres e miseráveis! Protege-nos da mão dos nossos irmãos! Não caiam eles sobre nós como vingadores pela nossa intenção de aniquilar-te! Não queiram voltar as suas espadas contra nós! Nós bem sabemos que os nossos irmãos são homens tementes a Deus, e que a nenhum homem retribuem o mal com o mal. Protege deles os teus escravos, por piedade, ó tu que és senhora nossa!"
2 Asenath então disse-lhes: "Tende coragem e nenhum receio dos vossos irmãos! Eles são realmente homens piedosos e cheios de temor de Deus. Mas desaparecei agora no fundo do juncal até que eu os converta a vosso favor e acalme a sua ira pelo que ousastes fazer contra eles. Entretanto, seja como a Deus aprouver; será Ele o juiz entre mim e vós".
4 Nisso, Dan e Gad fugiram para o meio do juncai. Mas os seus irmãos, filhos de Lia, já vinham correndo velozes como Cervos, para precipitarem-se contra eles. Asenath, nesse momento, desceu do seu carro coberto e, chorando muito, estendeu para eles a sua mão direita; eles então jogaram-se respeitosamente ao chão, aos pés dela, e prorromperam num choro alto. Perguntaram pelos ir-mãos, filhos das escravas com a intenção de aniquilá-los.
5 Então Asenath falou-lhes: "Eu vos peço: poupai vossos irmãos! Não queirais pagar-lhes o mal com o mal! O próprio Senhor salvou-me deles, Pois Ele destruiu as suas espadas nas suas próprias mãos; elas dissolveram-se e viraram cinzas, como cera diante do fogo; e é suficiente que o próprio Senhor esteja contra eles, a nosso favor. Portanto, poupai vossos irmãos! Eles são afinal vossos irmãos, sangue do vosso pai Israel"
6 Inconformado, retrucou Simão: "Por que nossa ama pronuncia palavras bondosas em favor dos seus inimigos? Não! Preferimos esquartejá-los agora, membro a membro, com as nossas espadas. Eles planejaram algo de gravíssimo contra o nosso irmão José, contra o nosso pai Israel e, hoje, contra ti, nossa rainha."
7 Então Asenath estendeu a mão direita, tocou a barba de Simão, beijou sua face e disse: "De forma alguma, irmão, deverás retribuir ao teu próximo o mal corri o mal. O Senhor haverá de castigar tamanha presunção. Eles são teus irmãos, geração do teu pai Israel. Além disso, já fugiram para bem longe. Perdoa-os, portanto!"
8 Levi adiantou-se e beijou a mão direita de Asenath. Percebeu que ela desejava salvar os homens da ira deles, seus irmãos, evitar que os matassem; e sabia que os traidores estavam ali por perto, escondidos no espesso caniçal. Mas Levi não revelou o que sabia aos seus irmãos, com receio de que estes, em sua grande ira, os matassem.
Capítulo 29
Fim
1 O filho do Faraó recobrara os sentidos e estava sentado no chão a cuspir o sangue que das têmporas lhe escorria aos lábios. Então Benjamim correu na sua direção e tomou sua espada, decidido a atravessar-lhe o peito com ela, já que não portava nenhuma arma consigo.
2 Levi correu-lhe ao encalço, pegou-o pela mão e disse: "De forma alguma, irmão, tu farás isso; pois somos homens tementes a Deus e não convém a um homem temente a Deus pagar o mal com o mal, nem pisotear um homem derrotado, nem massacrar um inimigo até a morte. Devolve-lhe então a espada! Vem e ajuda! me! Vamos curar o seu ferimento e se ele sobreviver será nosso amigo, e o Faraó, seu pai, será nosso pai."
3 Então Levi ergueu do chão o filho do Faraó, limpou-lhe o sangue do rosto, cuidou de suas feridas, colocou-o sobre o seu cavalo, conduziu-o de volta ao seu pai Faraó e relatou a este todo o ocorrido. Surpreso, o Faraó ergueu-se do trono e prostrou-se diante de Levi, prestando-lhe homenagem.
4 Passados três dias, o filho do Faraó morreu, em conseqüência da pedrada de Benjamim. E o Faraó lamentou tão profundamente a morte do seu primogênito que, de tristeza, contraiu uma enfermidade e dela veio a falecer, aos 109 anos de idade.
5 Sua coroa passou ao maravilhoso José, que assim se tornou o senhor plenipotenciário do Egito pelo espaço de quarenta e oito anos. Apos esse período, José passou a coroa ao filho mais novo do Faraó, que à época da morte do pai ainda era um lactente. E José, daí em diante, foi como um pai para o jovem filho do Faraó do Egito. E louvou a Deus e glorificou-o até o fim dos seus dias. Fim